Minhas mãos se fecharam ao redor do celular, o plástico cravando em minhas palmas. Uma dor surda começou em meu peito, espalhando-se por mim como tinta fria. Não foi surpresa. Eu sabia. Eu sempre soube. Mas ver, testemunhar a paixão crua e desesperada que ele sentia por outra mulher, foi como um golpe físico.
As conversas em grupo agora eram uma enxurrada de fofocas e especulações, capturas de tela do vídeo circulando como fogo em palha. "Meu Deus, Anderson e Esperança? Eu sabia!" "Pobre Ayla, sempre a segunda opção." "Ela realmente achou que tinha uma chance, não é?" Suas palavras, afiadas e venenosas, eram um coro familiar de schadenfreude.
Meu celular vibrou novamente. Kaila. "Ayla, você está bem? Eu vi o vídeo. Você está vendo isso? Aquelas vadias no grupo de conversa..."
Respirei fundo, trêmula, forçando minha voz a ficar firme. "Estou bem, Kaila. Está tudo bem. É exatamente o que eu esperava." A mentira tinha um gosto amargo na minha língua, mas era necessária. Eu não podia deixá-los ver as rachaduras. Eu não podia deixar ninguém ver. Eu era a mulher mantida por Anderson, e este era o preço do acordo. A ilusão tinha que ser mantida até o fim.
Eu era apenas um dano colateral em sua busca contínua e sem esperança por Esperança. Isso não era uma história de amor; era uma transação. E em breve, a transação estaria completa. Em breve, eu estaria livre. Repeti as palavras como um mantra, tentando reassumir o controle sobre a maré crescente de emoção.
Mas meu olhar continuava voltando para a imagem congelada no meu celular. Seus olhos, o anseio cru, a maneira como seu corpo estava totalmente inclinado para ela. Era um desespero que falava de um amor profundo e agonizante. O tipo de amor que eu uma vez, tolamente, esperava inspirar. Fiquei olhando por um longo, longo tempo, até meus olhos arderem e minha cabeça latejar. A tela ficou embaçada, as lágrimas finalmente brotando, indesejadas, não solicitadas. Meu peito parecia apertado, uma pressão sufocante que dificultava a respiração.
Desliguei rapidamente o celular, forçando-me a levantar. Eu tinha aulas, trabalhos, uma tese para trabalhar. Meu futuro, meu futuro real, dependia disso. Mergulhei nos meus estudos, uma rotina implacável que mantinha os pensamentos à distância.
Mais tarde naquela noite, o céu ficou roxo, e um vento frio e cortante soprava pela cidade. Abracei meus livros com mais força, apressando-me para casa da biblioteca. A chuva começou de novo, uma névoa fina e gelada que transformava os postes de luz em halos nebulosos. Este tempo era apenas um mau presságio. Ou talvez apenas um reflexo de como eu me sentia por dentro.
Ao me aproximar do prédio do apartamento, uma melodia fraca flutuou de dentro. Um piano. O piano de Esperança. Meus passos vacilaram. Ele estava em casa. E ela estava aqui. Já? Meu estômago se revirou. Ele não poderia ter voltado ao trabalho depois daquela cena. Ele deve tê-la trazido diretamente para cá.
Abri a pesada porta da frente, as notas melancólicas de um noturno de Chopin me envolvendo. A sala de estar estava banhada pelo brilho suave de uma única lâmpada, e lá, no piano de cauda que eu nunca tive permissão para tocar, sentava-se Esperança Vasquez. Ela estava de costas para mim, seus dedos dançando sobre as teclas, extraindo uma melodia que era ao mesmo tempo bela e comovente.
Minha respiração ficou presa. Era ela, a mulher do vídeo, seu cabelo dourado brilhando sob a lâmpada. Fiquei paralisada na porta, de repente me sentindo uma intrusa em minha própria casa. Minha suposta casa.
Ela era deslumbrante. Seu perfil, iluminado pela luz suave, era etéreo, quase angelical. Ela era tudo o que eu não era - delicada, artística, refinada, nascida em um mundo de privilégio e beleza que eu só podia imitar. Sua elegância parecia preencher a sala, empurrando-me ainda mais para as sombras.
Suas mãos pararam nas teclas. Ela se virou lentamente, seus olhos azuis, grandes e inocentes, encontrando os meus. Um sorriso leve e conhecedor brincou em seus lábios. "Então, você é a Ayla, não é? A... esposa troféu." Sua voz era suave, sedosa, mas cada palavra era um punhal cuidadosamente colocado.
Minhas mãos se fecharam ao meu lado, minhas unhas cravando em minhas palmas. O insulto foi direto, brutal. Forcei um sorriso educado, minha voz calma. "Olá. Sou Ayla Thompson. É um prazer finalmente conhecê-la." Meu coração batia forte, mas eu não a deixaria me ver quebrar.
Ela não reconheceu minha apresentação, seu olhar varrendo a sala, pousando em um pequeno pássaro de madeira esculpido à mão na lareira. Era um presente do irmão de Anderson, uma antiguidade rara que ele valorizava. "Que trabalho intrincado", ela murmurou, quase para si mesma. "Ele sempre teve um olho perspicaz para a beleza."
Engoli em seco, minha garganta de repente seca. "Sim, ele tem", consegui dizer, minha voz uniforme. Ele era Anderson. O pássaro era um presente do irmão de Anderson para Anderson. Eu sabia o quanto ele valorizava aquele passarinho. Ele o limpava meticulosamente toda semana, seu toque surpreendentemente gentil.
Lembrei-me da vez, no início de nosso acordo, em que eu o peguei distraidamente, admirando seu delicado artesanato. Anderson apareceu silenciosamente atrás de mim, sua voz um rosnado baixo e perigoso. "Não toque nisso, Ayla." Seu olhar era de gelo, um aviso severo. Eu o deixei cair, meu coração batendo forte, desculpando-me profusamente. Ele apenas me encarou, depois pegou o pássaro com cuidado, polindo-o com um pano macio, como se meu toque o tivesse profanado de alguma forma.
Mas agora, ela estava falando sobre isso, quase acariciando-o com os olhos, e não houve repreensão dura de Anderson. A percepção me atingiu como uma onda fria: ela tinha o direito de tocá-lo. Ele não se importaria. Ela era quem pertencia aqui, sempre pertenceu. Eu era apenas a presença passageira. A amargura subiu, afiada e acre. Eu era apenas a substituta. Sempre.
Esperei, com a respiração presa, antecipando seu próximo movimento, outro golpe verbal. Mas ela apenas se virou para o piano, um sorriso fraco e condescendente brincando em seus lábios. Seus dedos encontraram as teclas novamente, a melodia de Chopin enchendo a sala, abafando o som do meu coração batendo. A música, antes bela, agora parecia zombeteira, sufocante. Meu peito apertou, uma dor surda se espalhando por mim.
De repente, a porta da frente se abriu com um estrondo. Anderson estava lá, seus olhos varrendo a sala, seu olhar pousando em Esperança. Ele congelou, todo o seu corpo rígido. A máscara fria que ele geralmente usava parecia rachar, revelando uma vulnerabilidade crua e assustada. "Esperança? O que você está fazendo aqui?" Sua voz era um sussurro tenso, uma coisa frágil que eu nunca tinha ouvido dele.
Esperança levantou-se do piano, seus olhos baixos, uma imagem de delicada tristeza. "Eu... eu precisava te ver, Anderson. Não consegui dormir." Ela parecia tão frágil, tão completamente perdida.
Um choque percorreu meu corpo. Minha mente disparou. Ela era sua cunhada. Casada com seu irmão. O 'único amor verdadeiro' pelo qual Anderson nutria uma paixão desde a infância. E aqui estava ela, no meu apartamento, sendo consolada pelo meu sugar daddy.
A expressão de Anderson suavizou, a frieza derretendo, substituída por uma preocupação profunda e dolorosa. "Esperança, você não deveria estar aqui. É tarde." Sua voz era gentil, carregada de uma ternura que fez meu estômago revirar.
"Eu só... eu só queria esperar por você", ela sussurrou, seus olhos cheios de lágrimas não derramadas. "Eu não sabia para onde mais ir." Ela parecia tão pequena, tão perdida, tão completamente inocente.
O olhar de Anderson piscou para mim, depois rapidamente se desviou, como se eu fosse uma sombra, uma presença inconveniente. Ele se moveu em direção a Esperança, sua mão alcançando o braço dela. "Você deve estar com fome. Vou preparar algo para você." Ele a conduziu em direção à cozinha, sua postura protetora, seu foco inteiramente nela.
Meus olhos se arregalaram enquanto eu o observava. Ele ia cozinhar para ela? Para ela? Lembrei-me da primeira vez que ele cozinhou para mim, uma rara, quase chocante demonstração de domesticidade. Tinha sido seu ensopado de carne, meu favorito. Eu fiquei tão comovida, tão tolamente esperançosa. Mas agora, enquanto o observava guiar Esperança, notei a maneira como ele estava preparando os ingredientes. Da mesma forma que ele preparou para mim. Os mesmos ingredientes exatos para o ensopado de carne.
Esperança olhou para mim, um sorriso doce e inocente nos lábios. "Ayla, querida, o que você geralmente prefere? Anderson conhece tão bem os gostos de todo mundo, não é?"
Anderson finalmente olhou para mim, seus olhos frios, distantes. "Ayla, vá fazer uma mala. Você vai ficar no St. Regis esta noite." Sua voz era monótona, uma demissão. Meu coração afundou.
"Mas Anderson", comecei, tentando manter minha voz uniforme, "minhas aulas começam cedo amanhã. Seria muito mais fácil se eu ficasse aqui." Eu sabia que era uma batalha perdida, mas tinha que tentar.
Ele me interrompeu, sua voz mais afiada agora. "Eu disse o St. Regis, Ayla. Não me faça repetir." Não havia espaço para discussão, nem espaço para negociação. Apenas um comando frio e duro.