- Nunca imaginei que alguém de Economia pudesse se interessar tanto por cores -brincou ela, enquanto olhava o cardápio.
- Nunca pensei que alguém de Design pudesse me explicar o mundo com tanta clareza -respondeu ele.
Naquela noite, não houve promessas. Não foi preciso.
Quando Alexander a acompanhou até a porta do apartamento e a beijou pela primeira vez, ambos souberam que não havia mais volta.
O romance cresceu com a naturalidade das coisas destinadas. Estudavam juntos, escapavam do campus sempre que podiam, compartilhavam madrugadas longas entre livros, risadas e planos que ainda não tinham forma, mas já tinham convicção.
Isabella se apaixonou pelo Alexander que ninguém mais via: aquele que duvidava, que escutava, que se permitia descansar quando estava com ela.
Alexander se apaixonou pela maneira como Isabella habitava o mundo: com sensibilidade, firmeza, sem pedir permissão.
Algumas semanas depois, ele a apresentou como sua namorada. Primeiro aos amigos. Depois, inevitavelmente, à mãe.
Margaret Hale os recebeu em seu apartamento com um sorriso impecável e um olhar que avaliava tudo. Era uma mulher elegante, de modos precisos, sempre vestida como se estivesse pronta para uma reunião importante.
- Então você é a Isabella -disse, estendendo a mão-. Prazer.
- O prazer é meu, senhora Hale -respondeu ela, educada.
O jantar transcorreu sem sobressaltos aparentes, embora Isabella sentisse desde o primeiro momento que estava sendo examinada minuciosamente. Margaret fazia perguntas envoltas em cordialidade.
- E seu sobrenome? Ferrari... italiano?
- Sim -respondeu Isabella-. Minha família é de origem europeia. Venho de uma linhagem de artistas.
- Artistas? -repetiu Margaret, arqueando levemente a sobrancelha-. Que interessante.
O tom não era de admiração. Era de distância.
Isabella explicou, com simplicidade, que sua família tinha dinheiro havia gerações, que crescera cercada de arte, viagens e educação. Não disse aquilo para impressionar. Disse porque haviam perguntado.
Margaret sorriu, mas não mudou de postura.
- Imagino que talento seja algo... pitoresco -comentou-. Embora nem sempre seja suficiente.
Alexander cerrou o maxilar.
- Mãe...
- É só um comentário -respondeu ela, com uma risada suave-. Uma brincadeira.
Isabella compreendeu, mesmo antes de conseguir colocar em palavras, que Margaret Hale não a considerava adequada para o filho. Não importava o dinheiro, o sobrenome ou a educação. Ela simplesmente não se encaixava no molde que Margaret havia desenhado.
Depois daquela noite, os comentários continuaram. Sempre disfarçados de humor. Sempre ambíguos o bastante para não serem confrontados diretamente.
Isabella os suportou com dignidade. Alexander, com um desconforto crescente.
Ainda assim, o amor não se abalou.
Passaram dois anos juntos.
Dois anos de viagens curtas, da mudança para um apartamento maior, de imaginar futuros possíveis. Alexander avançava na carreira com passos firmes. Isabella começava a se destacar na universidade e, depois, em pequenos projetos fora dela.
Eles eram felizes. Ou, ao menos, pareciam ser.
Até que, numa manhã de domingo, tudo saiu do lugar.
Isabella acordou cedo, como de costume, vestiu roupas esportivas e saiu para correr. O ar fresco encheu seus pulmões, mas, após alguns quarteirões, precisou parar.
Sentiu uma tontura súbita.
Um vazio estranho no estômago.
Apoiou as mãos nos joelhos, respirou fundo e pensou que talvez estivesse cansada. Que tivesse treinado demais. Que não fosse nada.
Mas não se sentia normal.
Voltou para casa com uma inquietação nova, uma sensação que ainda não sabia nomear...
E, sem saber, acabava de cruzar o limiar de algo que não teria mais volta.