Os Olhos da Herença
img img Os Olhos da Herença img Capítulo 3 O que parecia para sempre
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Capítulo 6 O que nunca voltou img
Capítulo 7 Os olhos que não se esquecem img
Capítulo 8 A verdade não dita img
Capítulo 9 As coisas que não podem ser ignoradas img
Capítulo 10 Mães img
Capítulo 11 Margaret Hale img
Capítulo 12 O anel img
Capítulo 13 Pai img
Capítulo 14 As mulheres Hale e Ferrari img
Capítulo 15 A forma exata do lar img
Capítulo 16 O preço do nome img
Capítulo 17 Aviso img
Capítulo 18 Véspera de Natal img
Capítulo 19 Rotinas frágeis img
Capítulo 20 A primeira linha img
Capítulo 21 O que é nomeado img
Capítulo 22 O ano que não dava medo img
Capítulo 23 Sobrenomes, batimentos e promessas img
Capítulo 24 A Imagem img
Capítulo 25 Controle de danos img
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Capítulo 3 O que parecia para sempre

O primeiro encontro não teve nada de extraordinário.

E, ainda assim, foi perfeito.

Alexander escolheu um restaurante pequeno, longe dos lugares que costumava frequentar com os colegas da universidade. Isabella chegou usando um vestido simples, sem pretensões, os cabelos soltos e uma segurança tranquila que o deixou hipnotizado.

Conversaram como se já se conhecessem há muito tempo. Não houve silêncios constrangedores nem frases ensaiadas. Apenas a sensação compartilhada de estar no lugar certo, com a pessoa certa.

- Nunca imaginei que alguém de Economia pudesse se interessar tanto por cores -brincou ela, enquanto olhava o cardápio.

- Nunca pensei que alguém de Design pudesse me explicar o mundo com tanta clareza -respondeu ele.

Naquela noite, não houve promessas. Não foi preciso.

Quando Alexander a acompanhou até a porta do apartamento e a beijou pela primeira vez, ambos souberam que não havia mais volta.

O romance cresceu com a naturalidade das coisas destinadas. Estudavam juntos, escapavam do campus sempre que podiam, compartilhavam madrugadas longas entre livros, risadas e planos que ainda não tinham forma, mas já tinham convicção.

Isabella se apaixonou pelo Alexander que ninguém mais via: aquele que duvidava, que escutava, que se permitia descansar quando estava com ela.

Alexander se apaixonou pela maneira como Isabella habitava o mundo: com sensibilidade, firmeza, sem pedir permissão.

Algumas semanas depois, ele a apresentou como sua namorada. Primeiro aos amigos. Depois, inevitavelmente, à mãe.

Margaret Hale os recebeu em seu apartamento com um sorriso impecável e um olhar que avaliava tudo. Era uma mulher elegante, de modos precisos, sempre vestida como se estivesse pronta para uma reunião importante.

- Então você é a Isabella -disse, estendendo a mão-. Prazer.

- O prazer é meu, senhora Hale -respondeu ela, educada.

O jantar transcorreu sem sobressaltos aparentes, embora Isabella sentisse desde o primeiro momento que estava sendo examinada minuciosamente. Margaret fazia perguntas envoltas em cordialidade.

- E seu sobrenome? Ferrari... italiano?

- Sim -respondeu Isabella-. Minha família é de origem europeia. Venho de uma linhagem de artistas.

- Artistas? -repetiu Margaret, arqueando levemente a sobrancelha-. Que interessante.

O tom não era de admiração. Era de distância.

Isabella explicou, com simplicidade, que sua família tinha dinheiro havia gerações, que crescera cercada de arte, viagens e educação. Não disse aquilo para impressionar. Disse porque haviam perguntado.

Margaret sorriu, mas não mudou de postura.

- Imagino que talento seja algo... pitoresco -comentou-. Embora nem sempre seja suficiente.

Alexander cerrou o maxilar.

- Mãe...

- É só um comentário -respondeu ela, com uma risada suave-. Uma brincadeira.

Isabella compreendeu, mesmo antes de conseguir colocar em palavras, que Margaret Hale não a considerava adequada para o filho. Não importava o dinheiro, o sobrenome ou a educação. Ela simplesmente não se encaixava no molde que Margaret havia desenhado.

Depois daquela noite, os comentários continuaram. Sempre disfarçados de humor. Sempre ambíguos o bastante para não serem confrontados diretamente.

Isabella os suportou com dignidade. Alexander, com um desconforto crescente.

Ainda assim, o amor não se abalou.

Passaram dois anos juntos.

Dois anos de viagens curtas, da mudança para um apartamento maior, de imaginar futuros possíveis. Alexander avançava na carreira com passos firmes. Isabella começava a se destacar na universidade e, depois, em pequenos projetos fora dela.

Eles eram felizes. Ou, ao menos, pareciam ser.

Até que, numa manhã de domingo, tudo saiu do lugar.

Isabella acordou cedo, como de costume, vestiu roupas esportivas e saiu para correr. O ar fresco encheu seus pulmões, mas, após alguns quarteirões, precisou parar.

Sentiu uma tontura súbita.

Um vazio estranho no estômago.

Apoiou as mãos nos joelhos, respirou fundo e pensou que talvez estivesse cansada. Que tivesse treinado demais. Que não fosse nada.

Mas não se sentia normal.

Voltou para casa com uma inquietação nova, uma sensação que ainda não sabia nomear...

E, sem saber, acabava de cruzar o limiar de algo que não teria mais volta.

            
            

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