Isabella suspirou, aliviada.
- Então... por que me senti assim?
A médica sorriu antes de responder.
- Porque você está grávida, Isabella. E não há pouco tempo. Doze semanas.
O mundo pareceu inclinar-se levemente para o lado.
- Grávida...? -repetiu, incrédula.
- Grávida -confirmou a médica-. E há mais.
Pediu que preparassem o exame de ultrassom. Isabella se deitou, ainda tentando processar a informação. No consultório havia também uma enfermeira jovem, discreta, silenciosa. Observava com atenção - talvez atenção demais.
A tela se iluminou.
- Aqui estão -disse a médica, apontando-. É uma gravidez múltipla.
Isabella levou a mão à boca.
- Dois...?
- Uma menina -continuou a médica, com doçura- e um menino. Olhe para eles... estão perfeitos.
As lágrimas começaram a cair sem que ela conseguisse impedir. Não eram de medo. Eram de uma emoção pura, inesperada, avassaladora.
- São lindos -murmurou-. Eu não sabia... não senti nada estranho até ontem.
- Às vezes acontece -respondeu a médica-. Principalmente em mulheres ativas como você. Mas eles estão bem. Muito bem.
A enfermeira olhava para a tela e depois para Isabella. Sua expressão não era de ternura. Era dura. Fria.
Isabella não percebeu.
Saiu da clínica com uma mistura de vertigem e felicidade. Pensou em Alexander. No rosto dele quando contasse. Em como ele seguraria sua mão, em como riria, nervoso. Pensou em uma casa maior. Em berços. Em nomes.
Não viu a mensagem que a enfermeira enviou assim que a porta do consultório se fechou.
> "É verdade. Ela está grávida. Gêmeos. Doze semanas."
Margaret Hale recebeu a mensagem minutos depois.
Quando Isabella voltou ao apartamento, o silêncio lhe pareceu estranho.
Deixou a bolsa sobre a mesa, tirou o casaco devagar.
- Alexander? -chamou.
Não houve resposta.
- Isabella.
A voz de Margaret veio da sala.
O coração deu um salto seco.
- Senhora Hale? -disse, avançando-. Eu não sabia que...
Margaret estava de pé, impecável, rígida. Não havia traço algum de cortesia em seus olhos.
- Você achou que eu não ficaria sabendo? -perguntou.
Isabella levou um segundo para compreender.
- Eu... ia contar ao Alexander hoje à noite -respondeu-. Acabei de voltar da clínica.
- Da clínica? -repetiu Margaret, com uma risada sem humor-. Claro.
O ar ficou pesado.
- Não sei o que lhe disseram -continuou Isabella, nervosa-, mas eu estou grávida. É uma surpresa, eu sei, mas-
Ela não terminou a frase.
O golpe foi rápido, inesperado. Um impacto seco no abdômen que lhe roubou o ar. Isabella caiu de joelhos, a dor se espalhando como fogo.
- A senhora é louca! -conseguiu dizer, entre arfadas.
Margaret a observava de cima, com desprezo.
- Não -respondeu-. Louca é você se achou que ia amarrar meu filho com isso.
Isabella tentou se levantar, trêmula.
- São bebês -disse-. São filhos dele.
Margaret se inclinou levemente, o suficiente para que Isabella visse seu rosto de perto.
- Isso não deveria existir -cuspiu-. Nem você, nem essa coisa que carrega dentro de si.
Outro empurrão. Mais ameaças. Palavras que Isabella jamais esqueceria.
- Se você aparecer de novo -disse Margaret, com a voz baixa e perigosa-, se Alexander souber dessa imundície que você está planejando... eu te mato. Você primeiro. E depois essas aberrações.
O silêncio que se seguiu foi absoluto.
Margaret se endireitou, ajeitou o casaco como se nada tivesse acontecido.
- Desapareça -ordenou-. É a melhor coisa que você pode fazer se quiser continuar respirando.
A porta se fechou atrás dela com um som seco.
Isabella ficou sozinha, abraçando o ventre, chorando em silêncio, com uma única certeza atravessando o peito:
Nada jamais seria igual.
Seu coração congelou.
E sua mente só conseguia permanecer em alerta.