Os Olhos da Herença
img img Os Olhos da Herença img Capítulo 4 O dia em que tudo se quebrou
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Capítulo 6 O que nunca voltou img
Capítulo 7 Os olhos que não se esquecem img
Capítulo 8 A verdade não dita img
Capítulo 9 As coisas que não podem ser ignoradas img
Capítulo 10 Mães img
Capítulo 11 Margaret Hale img
Capítulo 12 O anel img
Capítulo 13 Pai img
Capítulo 14 As mulheres Hale e Ferrari img
Capítulo 15 A forma exata do lar img
Capítulo 16 O preço do nome img
Capítulo 17 Aviso img
Capítulo 18 Véspera de Natal img
Capítulo 19 Rotinas frágeis img
Capítulo 20 A primeira linha img
Capítulo 21 O que é nomeado img
Capítulo 22 O ano que não dava medo img
Capítulo 23 Sobrenomes, batimentos e promessas img
Capítulo 24 A Imagem img
Capítulo 25 Controle de danos img
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Capítulo 4 O dia em que tudo se quebrou

No dia seguinte, Isabella foi consultar sua médica.

Não contou a Alexander porque não lhe pareceu importante. Ainda não. Ele estava na Rússia, fazendo um estágio intensivo em uma das empresas associadas ao grupo familiar. Chegaria naquela mesma noite, cansado, com o jet lag marcado no corpo. Isabella achou melhor esperar, ter algo concreto para lhe contar, não apenas uma suspeita.

A clínica era clara e tranquila. O tipo de lugar onde a gente se sente segura.

- Você não tem nada de errado -disse a médica, depois de examiná-la-. Na verdade, está perfeitamente saudável.

Isabella suspirou, aliviada.

- Então... por que me senti assim?

A médica sorriu antes de responder.

- Porque você está grávida, Isabella. E não há pouco tempo. Doze semanas.

O mundo pareceu inclinar-se levemente para o lado.

- Grávida...? -repetiu, incrédula.

- Grávida -confirmou a médica-. E há mais.

Pediu que preparassem o exame de ultrassom. Isabella se deitou, ainda tentando processar a informação. No consultório havia também uma enfermeira jovem, discreta, silenciosa. Observava com atenção - talvez atenção demais.

A tela se iluminou.

- Aqui estão -disse a médica, apontando-. É uma gravidez múltipla.

Isabella levou a mão à boca.

- Dois...?

- Uma menina -continuou a médica, com doçura- e um menino. Olhe para eles... estão perfeitos.

As lágrimas começaram a cair sem que ela conseguisse impedir. Não eram de medo. Eram de uma emoção pura, inesperada, avassaladora.

- São lindos -murmurou-. Eu não sabia... não senti nada estranho até ontem.

- Às vezes acontece -respondeu a médica-. Principalmente em mulheres ativas como você. Mas eles estão bem. Muito bem.

A enfermeira olhava para a tela e depois para Isabella. Sua expressão não era de ternura. Era dura. Fria.

Isabella não percebeu.

Saiu da clínica com uma mistura de vertigem e felicidade. Pensou em Alexander. No rosto dele quando contasse. Em como ele seguraria sua mão, em como riria, nervoso. Pensou em uma casa maior. Em berços. Em nomes.

Não viu a mensagem que a enfermeira enviou assim que a porta do consultório se fechou.

> "É verdade. Ela está grávida. Gêmeos. Doze semanas."

Margaret Hale recebeu a mensagem minutos depois.

Quando Isabella voltou ao apartamento, o silêncio lhe pareceu estranho.

Deixou a bolsa sobre a mesa, tirou o casaco devagar.

- Alexander? -chamou.

Não houve resposta.

- Isabella.

A voz de Margaret veio da sala.

O coração deu um salto seco.

- Senhora Hale? -disse, avançando-. Eu não sabia que...

Margaret estava de pé, impecável, rígida. Não havia traço algum de cortesia em seus olhos.

- Você achou que eu não ficaria sabendo? -perguntou.

Isabella levou um segundo para compreender.

- Eu... ia contar ao Alexander hoje à noite -respondeu-. Acabei de voltar da clínica.

- Da clínica? -repetiu Margaret, com uma risada sem humor-. Claro.

O ar ficou pesado.

- Não sei o que lhe disseram -continuou Isabella, nervosa-, mas eu estou grávida. É uma surpresa, eu sei, mas-

Ela não terminou a frase.

O golpe foi rápido, inesperado. Um impacto seco no abdômen que lhe roubou o ar. Isabella caiu de joelhos, a dor se espalhando como fogo.

- A senhora é louca! -conseguiu dizer, entre arfadas.

Margaret a observava de cima, com desprezo.

- Não -respondeu-. Louca é você se achou que ia amarrar meu filho com isso.

Isabella tentou se levantar, trêmula.

- São bebês -disse-. São filhos dele.

Margaret se inclinou levemente, o suficiente para que Isabella visse seu rosto de perto.

- Isso não deveria existir -cuspiu-. Nem você, nem essa coisa que carrega dentro de si.

Outro empurrão. Mais ameaças. Palavras que Isabella jamais esqueceria.

- Se você aparecer de novo -disse Margaret, com a voz baixa e perigosa-, se Alexander souber dessa imundície que você está planejando... eu te mato. Você primeiro. E depois essas aberrações.

O silêncio que se seguiu foi absoluto.

Margaret se endireitou, ajeitou o casaco como se nada tivesse acontecido.

- Desapareça -ordenou-. É a melhor coisa que você pode fazer se quiser continuar respirando.

A porta se fechou atrás dela com um som seco.

Isabella ficou sozinha, abraçando o ventre, chorando em silêncio, com uma única certeza atravessando o peito:

Nada jamais seria igual.

Seu coração congelou.

E sua mente só conseguia permanecer em alerta.

            
            

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