Isabella levou vários minutos até conseguir se mover.
O corpo tremia, o ar entrava nos pulmões de forma irregular, e a dor no abdômen era profunda, diferente de tudo o que já havia sentido antes. Ela não sabia com o que Margaret a havia atingido. Só sabia que algo estava errado.
Apoiou uma das mãos no chão e conseguiu se erguer lentamente.
Cada movimento era um lembrete lancinante.
Caminhou até o banheiro quase arrastando os pés, com uma sensação viscosa de medo subindo pela espinha.
Sentia pontadas no quadril e um calor entre as pernas que a assustou.
Quando abaixou o olhar, viu.
A calça encharcada de sangue.
O mundo se reduziu àquela cor impossível sobre o piso claro. Isabella se apoiou na pia para não cair. O coração batia com violência.
- Não... -sussurrou-. Por favor, não...
Ela não pensou. Agiu.
Vestiu-se como pôde, limpou o chão - não queria deixar rastros -, pegou as chaves e saiu do apartamento sem olhar para trás.
Não sabia quanto tempo havia passado nem como chegara à clínica. Só lembrava do frio do ar no rosto e do terror instalado no peito.
A médica a atendeu em caráter de urgência.
- O que aconteceu? -perguntou assim que a viu-. Você caiu? Está sentindo dor?
Isabella abriu a boca para responder e parou.
Por uma fração de segundo, compreendeu que dizer a verdade significava se expor.
Significava permitir que Margaret Hale tornasse sua vida impossível. E ela já havia entendido o alcance do poder daquela mulher.
Naquele momento, Isabella só conseguia pensar em proteger aqueles batimentos que havia conhecido naquela mesma tarde. Aqueles batimentos que a haviam preenchido de amor, de alegria e de uma força que jamais sentira.
Então decidiu contar outra história...
- Tropecei -disse por fim-. Ao entrar no apartamento. Bati forte.
A médica não pareceu convencida, mas não insistiu. Isabella foi deitada imediatamente, e prepararam um ultrassom de emergência.
Ela apertou os punhos quando a tela se acendeu.
O silêncio foi longo. Longo demais.
A médica franziu a testa, olhou novamente, ajustou os parâmetros. A enfermeira evitou seu olhar.
- Isabella... -disse, por fim-. Um dos sacos gestacionais se desprendeu.
O mundo se partiu.
- O que... o que isso significa? -perguntou, embora já soubesse.
A médica engoliu em seco.
- A bebê... já não tem batimentos cardíacos.
Isabella fechou os olhos. Um grito mudo atravessou seu corpo. Ela não chorou. Não se mexeu. Algo dentro dela se apagou com aquele anúncio.
- O menino está vivo -continuou a médica-. Mas precisamos intervir agora. Sua vida e a dele estão em risco.
A enfermeira que mais cedo a havia observado com frieza agora exibia um sorriso malévolo no rosto.
Mas não havia tempo para isso. Isabella assentiu. Não tinha forças para falar.
A cirurgia foi rápida. Fria. Necessária.
Quando despertou, havia uma ausência impossível de explicar. Não apenas no corpo. Na alma.
Aurora.
Ela não chegara a conhecê-la, mas já a havia perdido.
Assinou os papéis sem fazer perguntas. Vestiu-se com movimentos mecânicos. Recusou-se a ficar internada. Recusou ligações. Recusou tudo.
Antes de ir embora, tomou uma decisão.
Desaparecer.
Não voltaria ao apartamento. Não estaria ali quando Alexander retornasse. Não daria a Margaret a chance de terminar o que havia começado.
Partiria sem deixar vestígios.
Salvaria o filho que ainda batia dentro de si.
Oito anos depois, em uma joalheria iluminada por luzes natalinas, Isabella Ferrari segurava a mão do filho e erguia o olhar para o homem que um dia havia amado.
- Alexander -disse, controlando cada músculo do rosto-. Vejo que você já conheceu o Dior.
E o passado, que ela tentara enterrar, voltou a abrir os olhos e a roubar-lhe o fôlego, como aquele golpe brutal.