Os Olhos da Herença
img img Os Olhos da Herença img Capítulo 5 O que se perde para sempre
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Capítulo 6 O que nunca voltou img
Capítulo 7 Os olhos que não se esquecem img
Capítulo 8 A verdade não dita img
Capítulo 9 As coisas que não podem ser ignoradas img
Capítulo 10 Mães img
Capítulo 11 Margaret Hale img
Capítulo 12 O anel img
Capítulo 13 Pai img
Capítulo 14 As mulheres Hale e Ferrari img
Capítulo 15 A forma exata do lar img
Capítulo 16 O preço do nome img
Capítulo 17 Aviso img
Capítulo 18 Véspera de Natal img
Capítulo 19 Rotinas frágeis img
Capítulo 20 A primeira linha img
Capítulo 21 O que é nomeado img
Capítulo 22 O ano que não dava medo img
Capítulo 23 Sobrenomes, batimentos e promessas img
Capítulo 24 A Imagem img
Capítulo 25 Controle de danos img
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Capítulo 5 O que se perde para sempre

Isabella levou vários minutos até conseguir se mover.

O corpo tremia, o ar entrava nos pulmões de forma irregular, e a dor no abdômen era profunda, diferente de tudo o que já havia sentido antes. Ela não sabia com o que Margaret a havia atingido. Só sabia que algo estava errado.

Apoiou uma das mãos no chão e conseguiu se erguer lentamente.

Cada movimento era um lembrete lancinante.

Caminhou até o banheiro quase arrastando os pés, com uma sensação viscosa de medo subindo pela espinha.

Sentia pontadas no quadril e um calor entre as pernas que a assustou.

Quando abaixou o olhar, viu.

A calça encharcada de sangue.

O mundo se reduziu àquela cor impossível sobre o piso claro. Isabella se apoiou na pia para não cair. O coração batia com violência.

- Não... -sussurrou-. Por favor, não...

Ela não pensou. Agiu.

Vestiu-se como pôde, limpou o chão - não queria deixar rastros -, pegou as chaves e saiu do apartamento sem olhar para trás.

Não sabia quanto tempo havia passado nem como chegara à clínica. Só lembrava do frio do ar no rosto e do terror instalado no peito.

A médica a atendeu em caráter de urgência.

- O que aconteceu? -perguntou assim que a viu-. Você caiu? Está sentindo dor?

Isabella abriu a boca para responder e parou.

Por uma fração de segundo, compreendeu que dizer a verdade significava se expor.

Significava permitir que Margaret Hale tornasse sua vida impossível. E ela já havia entendido o alcance do poder daquela mulher.

Naquele momento, Isabella só conseguia pensar em proteger aqueles batimentos que havia conhecido naquela mesma tarde. Aqueles batimentos que a haviam preenchido de amor, de alegria e de uma força que jamais sentira.

Então decidiu contar outra história...

- Tropecei -disse por fim-. Ao entrar no apartamento. Bati forte.

A médica não pareceu convencida, mas não insistiu. Isabella foi deitada imediatamente, e prepararam um ultrassom de emergência.

Ela apertou os punhos quando a tela se acendeu.

O silêncio foi longo. Longo demais.

A médica franziu a testa, olhou novamente, ajustou os parâmetros. A enfermeira evitou seu olhar.

- Isabella... -disse, por fim-. Um dos sacos gestacionais se desprendeu.

O mundo se partiu.

- O que... o que isso significa? -perguntou, embora já soubesse.

A médica engoliu em seco.

- A bebê... já não tem batimentos cardíacos.

Isabella fechou os olhos. Um grito mudo atravessou seu corpo. Ela não chorou. Não se mexeu. Algo dentro dela se apagou com aquele anúncio.

- O menino está vivo -continuou a médica-. Mas precisamos intervir agora. Sua vida e a dele estão em risco.

A enfermeira que mais cedo a havia observado com frieza agora exibia um sorriso malévolo no rosto.

Mas não havia tempo para isso. Isabella assentiu. Não tinha forças para falar.

A cirurgia foi rápida. Fria. Necessária.

Quando despertou, havia uma ausência impossível de explicar. Não apenas no corpo. Na alma.

Aurora.

Ela não chegara a conhecê-la, mas já a havia perdido.

Assinou os papéis sem fazer perguntas. Vestiu-se com movimentos mecânicos. Recusou-se a ficar internada. Recusou ligações. Recusou tudo.

Antes de ir embora, tomou uma decisão.

Desaparecer.

Não voltaria ao apartamento. Não estaria ali quando Alexander retornasse. Não daria a Margaret a chance de terminar o que havia começado.

Partiria sem deixar vestígios.

Salvaria o filho que ainda batia dentro de si.

Oito anos depois, em uma joalheria iluminada por luzes natalinas, Isabella Ferrari segurava a mão do filho e erguia o olhar para o homem que um dia havia amado.

- Alexander -disse, controlando cada músculo do rosto-. Vejo que você já conheceu o Dior.

E o passado, que ela tentara enterrar, voltou a abrir os olhos e a roubar-lhe o fôlego, como aquele golpe brutal.

                         

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