Sinto minhas bochechas esquentarem enquanto Oliver cacareja para mim como uma galinha protegendo seus pintinhos. A expressão no rosto dele... ele bem que poderia estar se preparando para me repreender por estar na rua até tarde em uma noite de aula.
Outro carro para do outro lado da rua do Oliver, e eu solto um longo suspiro de alı́vio. Desculpa, cara. Eu ia te jogar debaixo do ônibus. A forma alta de André desce do SUV, me olhando com cautela enquanto os cantos da minha boca se erguem num sorriso.
"Ei, Oliver?" Inclino a cabeça com falsa preocupação. "Você provavelmente deveria conversar com o André sobre ter icado fora até tarde ontem à noite, antes do treino de hoje cedo."
Oliver olha duas vezes para mim e para o André. "Vocês dois saı́ram juntos?"
O tom insinuante da voz dele faz minhas bochechas corarem. Estava tão ocupada planejando minha escapada que não parei para pensar em como soaria a minha voz, sabendo que André também tinha icado fora até tarde ontem à noite.
"Não estávamos juntos; simplesmente nos encontramos por acaso", explico.
André dá um sorriso de canto, claramente gostando da reação do seu companheiro de equipe. "E, a gente se encontrou e a gente se divertiu bastante. Não se deixe enganar por ela, essa garota dança muito bem."
A boca de Oliver se fecha numa linha reta enquanto ele lança um olhar acusador na direção de André. Palavras infelizes à parte, consegui exatamente o que queria. Distração.
"Hum... vejo vocês lá dentro!"
Dou um aceno completamente desnecessário enquanto começo a me afastar. Os dois ainda estão presos em uma estranha disputa de olhares, então dou meia-volta e aproveito a oportunidade para fugir. Meu pobre cérebro de ressaca não consegue lidar com uma confrontação sobre meus hábitos fora do horário de trabalho.
Os rapazes podem estar em con inamento durante a prétemporada, mas eu não.
Dou uma risadinha ao entrar no prédio. Talvez o Oliver seja a 'mãe' do time, e não eu.
Consigo chegar ao meu escritório ilesa. A manhã está bem tranquila, já que os rapazes estão treinando em vez de jogar-o que signi ica que não há motivo para me chamarem, a menos que haja alguma lesão.
O que, felizmente, não acontece.
No inal da manhã, a ressaca ainda estava me castigando. Fechei os olhos e deitei a cabeça na mesa por alguns minutos, tentando aliviar a dor de cabeça latejante e a sensação de enjoo que pareciam ter se instalado para icar.
Permaneço nessa posição por mais tempo do que deveria, mas é a primeira vez que sinto um mı́nimo de alı́vio desde que saı́ da cama esta manhã. Começo a perder a noção do tempo enquanto a madeira fria da escrivaninha me embala quase de volta ao sono.
Sinto arrepios nos braços ao ter a súbita sensação de estar sendo observada. Minhas costas se endireitam completamente enquanto me sento, paranoica de que um dos treinadores esteja prestes a me encontrar meio adormecida na minha mesa.
Não é um treinador, porém. E Cyrus. Um Cyrus sem camisa e muito, muito suado.
Ele parece ter vindo direto da sala de musculação. Cruzo as pernas debaixo da mesa enquanto observo uma linha de suor escorrer pelo seu corpo, rolando sobre os músculos abdominais bem de inidos. Quase não me controlo antes de soltar um gemido baixo e passar uma vergonha enorme.
Já faz muito tempo que não tenho um momento a sós com meu namorado, isso é fato. Se eu não conseguir um alı́vio logo, até os pôsteres de atletas no meu escritório vão acabar sendo demais para mim.
E todos aqueles caras estão completamente vestidos.
"Você precisava de alguma coisa?" Pergunto, torcendo para que Cyrus não perceba o jeito que minha voz falha.
"Ouvi dizer que você saiu com o André ontem à noite." Ele fecha a porta do meu escritório com o quadril, e eu mordo o lábio para não pedir que ele a deixe aberta.
Os homens fofocam pior do que as garotas.
Eu balanço a cabeça negativamente. "Não, nós apenas estávamos na mesma boate."
Ele passa a mão pela barba por fazer enquanto caminha para dentro do meu escritório como se fosse o dono do lugar. Ele é assim em todos os lugares. Se move como se o mundo inteiro lhe pertencesse-e sua con iança faz com que a maioria das pessoas o trate como tal.
Pessoalmente, tento não deixar que ele me manipule muito, mas é mais fácil falar do que fazer quando ele está seminu e me encarando como se estivesse planejando me devorar no almoço.
"Não diria que é do tipo que curte baladas", ele pondera. Começo a corrigi-lo, Cara adora a vida noturna, mas então percebo que não é dessa amiga que ele está falando. Cyrus talvez seja a única pessoa no mundo que parece gostar ainda menos do meu namorado do que a própria Cara.
Eles se encontraram algumas vezes ao longo dos anos- principalmente em eventos bene icentes do time-e os dois entraram em con lito todas as vezes.
Colin jura que é porque Cyrus se sente ameaçado por ele, mas, para ser sincera, não consigo imaginar Cyrus se sentindo ameaçado por ninguém. Colin pode ter dinheiro, mas Cyrus tem um fı́sico que permite levantar meu namorado no supino sem o menor esforço. E para alguém como Cyrus, um verdadeiro atleta de corpo e alma, isso vale muito mais do que qualquer coisa.
"Saı́ com minha amiga Cara."
Cyrus acena lentamente com a cabeça. "Sua amiga alta."
E claro que ele se lembra de quem ela é. Cara é linda e con iante-o tipo de mulher que caras como Cyrus simplesmente não esquecem. Porque ela é basicamente a versão feminina dele. Então sim, é claro que ele se lembra da minha linda amiga, apesar de tê-la encontrado apenas algumas vezes quando ela aparece de surpresa-sempre na esperança de lagrar os caras exatamente no mesmo estado de nudez em que
Cyrus está agora.
Ela morreria se soubesse que ele está sem camisa no meu escritório agora mesmo.
Meus dedos se movem lentamente em direção ao meu celular, imaginando o quão bravo o capitão do time icaria se eu pegasse o celular no meio da conversa para mandar uma mensagem. Talvez eu até conseguisse mandar uma foto...
"O que aconteceu com o seu encontro?"
A pergunta é como um balde de água fria jogado na minha cabeça. Meus olhos automaticamente se voltam para o porta-retratos na beira da minha mesa. Meu aniversário de seis meses com Colin-e a única viagem que izemos juntos.
Percebo que Cyrus ainda está esperando minha resposta, então digo simplesmente: "Surgiu um imprevisto".
"Isso é uma grande besteira." Fecho a boca com força para evitar dizer algo que só me colocaria em apuros. Não que importe, já que aparentemente ele não terminou. "Que tipo de homem deixa a
namorada sair para dançar com outro homem?"
"Eu já te disse que não estava lá com o André."
"Mas você dançou com ele."
Cruzo os braços sobre o peito em um gesto defensivo. "Era só uma dança."
"Não é assim que ele conta." Um canto do lábio dele se curva num sorriso irônico. As vezes, Cyrus me irrita profundamente. Se mete na minha vida, me dá trabalho porque sabe que a última coisa que eu quero é ter um relacionamento conturbado com o capitão do nosso time.
"Você realmente precisava de alguma coisa? Porque se você já terminou de me importunar..." Minha voz some, sem nenhuma desculpa plausı́vel em mente.
Cyrus percorre a distância entre o centro da sala e minha mesa com dois passos. Imponente, sentado na cadeira da escrivaninha, seus olhos percorrem cada centı́metro do meu corpo que conseguia ver. Estou realmente muito feliz por estar posicionada embaixo da mesa de forma que ele não consiga ver o quão apertadas estão minhas pernas neste momento.
Seu sorriso irônico se transforma em um sorriso preguiçoso.
"Algumas mulheres gostam quando eu as importuno." "Mas eu tenho namorado", respondi de repente.
Ora, Gemma. Ele sabe disso. Ele não está dando em cima de você.
"Não me esqueci dele nos últimos trinta segundos, desde que falamos sobre ele." Não consigo decidir se estou imaginando ou se realmente ouço irritação em sua voz-ela desaparece um instante depois. "Os caras estão terminando, e depois vamos assistir à gravação."
"Certo, então provavelmente vou sair mais cedo?" Odeio o jeito como isso soa como uma pergunta-como se eu estivesse pedindo permissão a ele.
Ele acena com a cabeça lentamente.
Cyrus começa a sair, mas para com a porta entreaberta. Ele não olha para trás enquanto diz: "Não se esqueça que hoje é a noite de asas de frango no Midtown."
"Eu estarei lá."
Estou sempre presente.
Cervejas e asas de frango. Nunca perco um encontro com o time. E um evento e tanto, com todos os vinte e cinco juntos e eu, bem no meio. No começo, Cyrus chamava isso de integração da equipe, mas na verdade acho que ele só gostava da atenção que recebia por estarem todos juntos. Principalmente no Midtown, o point deles, onde até hoje existe a possibilidade de garotas fazerem ila na esperança de chamar a atenção de algum dos Storms.
Talvez não ganhem tanto dinheiro quanto estrelas do futebol americano ou do basquete pro issional, mas os jogadores do Strudford Storms conseguem contratos nada desprezı́veis e todos eles são tão incrivelmente atraentes que a maioria das mulheres simplesmente se derrete na presença deles.
Mas eu não.
Esse time? Somos amigos. Não importa quantas vezes eu quase babe ao ver um deles sem camisa. A noite das asas de frango no Midtown pode muito bem ser a representação fı́sica da friendzone. E você pode me encontrar lá com a equipe toda quinta-feira à noite, religiosamente.