Meu Coração Ficou de Pedra Por Ele
img img Meu Coração Ficou de Pedra Por Ele img Capítulo 3
3
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
Capítulo 24 img
Capítulo 25 img
Capítulo 26 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Ponto de Vista: Alice Drummond

O trajeto até a cobertura do meu pai foi um borrão. Minha mente era um turbilhão de fúria e uma clareza arrepiante. As palavras de Bianca, as palavras dele, as ações do meu pai – tudo se fundiu em uma única e brutal verdade. Eu era um peão. Mas não mais.

Invadi a cobertura, o opulento hall de mármore um contraste gritante com a tempestade que se formava dentro de mim. O brilho suave dos lustres, o murmúrio abafado de funcionários invisíveis, tudo parecia sufocante. Ouvi risadas da sala de estar. Família. Minha madrasta, com seu cabelo perfeito e joias brilhantes, minha meia-irmã mais nova, rindo de alguma trivialidade. Um quadro de felicidade doméstica, uma piada cruel.

Meu pai estava sentado em sua poltrona de sempre, um copo de cristal na mão, a imagem do poder satisfeito. Ele ergueu os olhos, sua expressão mudando de diversão para irritação quando me viu. "Alice. O que é agora? Não vê que estamos tendo um momento particular?" Sua voz estava carregada com seu habitual desdém mal disfarçado.

"Momento particular?" eu ecoei, minha voz perigosamente suave. "É assim que você chama? Ou é apenas mais uma transação que você está intermediando, mais um ativo que você está alavancando?"

Ele estreitou os olhos. "Cuidado com o seu tom, mocinha."

Eu o ignorei, meu olhar varrendo as superfícies polidas, a arte cara, os troféus de suas conquistas corporativas. Meus olhos pousaram em um frágil vaso de porcelana, uma relíquia da minha infância, um presente da minha avó. Estava colocado precariamente em um aparador, um símbolo de tudo que era delicado e quebrável na minha vida.

Sem uma palavra, caminhei até ele. Minha madrasta ofegou. As risadas da minha irmã morreram. O rosto do meu pai endureceu. Peguei o vaso, seu peso frio em minhas mãos. Era lindo, ornamentado, totalmente inútil. Assim como eu, aos olhos dele.

"O que você está fazendo?" meu pai exigiu, sua voz de repente aguda.

Eu olhei para ele, meus olhos ardendo. "Estou te mostrando o que acontece quando você trata as pessoas como objetos, pai." E com uma onda de raiva crua e indomável, atirei o vaso do outro lado da sala. Ele se estilhaçou contra a parede oposta, explodindo em mil fragmentos brilhantes. O som foi ensurdecedor, ecoando no silêncio repentino.

Minha madrasta gritou, agarrando suas pérolas. Minha irmã choramingou, enterrando o rosto no lado da mãe. Meu pai, no entanto, permaneceu imóvel, seu rosto pálido de fúria.

"Sua pirralha ingrata!" ele berrou, levantando-se da cadeira. "Você tem alguma ideia de quanto isso custou?"

"Você tem alguma ideia de quanto eu custei?" eu retruquei, minha voz trêmula, mas firme. "Minha dignidade? Minha confiança? Minha vida inteira, embalada e vendida para a sua maldita fusão? É isso que vale, pai? Alguns bilhões de reais e uma vida inteira de mentiras?"

Minha madrasta, sempre a pacificadora, tentou intervir. "Alice, querida, por favor. Você está chateada. Vamos conversar sobre isso mais tarde."

"Fique fora disso, Evelyn," eu disparei, meu olhar não deixando o do meu pai. "A menos que você queira ser a próxima peça de porcelana estilhaçada." Minhas palavras pairaram no ar, uma ameaça arrepiante. Ela recuou, puxando a filha para mais perto.

Os olhos do meu pai brilharam com algo parecido com medo, uma emoção rara em seu rosto impassível. "Evelyn, leve a Clara para cima. Agora." Sua voz não admitia discussão. Elas se apressaram, nos deixando sozinhos na sala de estar coberta de destroços.

"Agora," ele disse, virando-se para mim, sua voz baixa e perigosa. "Explique-se. E é melhor que seja bom."

"Explicar-me?" eu zombei, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "Explique-se você, pai. Caio Montenegro. Bianca Valente. O medicamento experimental. A fusão. Você realmente achou que eu não descobriria? Que sua teia de mentiras cuidadosamente construída não se desmancharia?"

Ele se encolheu, um aperto sutil em sua mandíbula. "Não sei do que você está falando." Ele tentou soar desdenhoso, mas um tremor em sua voz o traiu.

"Não minta para mim," eu sibilei, dando um passo mais perto. "Não mais. Você sabia que ele só se casou comigo para ter acesso ao medicamento experimental da sua empresa? Para salvá-la? Você sabia que estava vendendo sua própria filha para um casamento transacional, não por amor, não por família, mas por lucro corporativo?"

Ele cruzou os braços, sua fachada de indiferença se quebrando. "Foi uma aliança estratégica, Alice. Um arranjo mutuamente benéfico. Caio precisava do medicamento, sim. E eu precisava da fusão. Foi bom para os negócios. Bom para nossa família."

"Bom para nossa família?" eu zombei. "Você quer dizer bom para o seu lucro. Você me usou como alavanca, pai. Você me trocou como uma opção de ações. Você não se importou com a minha felicidade, meus sentimentos, minha vida. Você se importou com o seu maldito império farmacêutico."

"Eu fiz o que era melhor para todos!" ele berrou, sua voz ecoando nos tetos altos. "Essa fusão garantirá nosso legado por gerações! Proverá inúmeros empregos, desenvolverá tratamentos que salvam vidas! Foi um sacrifício, sim, mas necessário! Para o seu futuro! Para o futuro desta família!"

"Meu futuro?" eu ri, um som oco. "Você chama isso de futuro? Um casamento construído sobre mentiras? Uma vida como uma incubadora glorificada para o 'amor inesquecível' de Caio Montenegro? Você é patético, pai. Você prega sobre legado e progresso, mas não passa de um mestre de marionetes cruel e calculista."

Seu rosto era uma máscara de fúria fria. "Então, o que você quer? Uma festa de piedade? Uma esmola? Você conseguiu seu casamento, não conseguiu? Um marido poderoso, um futuro seguro."

"Eu quero sair," afirmei, minha voz clara e inabalável. "Quero o divórcio. E quero renunciar à minha herança. Cada centavo da fortuna Drummond. Não quero nada de você. Nunca mais."

Ele me encarou, seus olhos arregalados de surpresa, depois um estranho, quase imperceptível brilho de triunfo. Bom. Uma herdeira a menos para se preocupar. Uma reivindicação a menos sobre sua preciosa fortuna. Suas emoções mascaradas eram mais dolorosas que sua raiva.

"Tudo bem," ele disse, sua voz recuperando sua compostura fria. "Se é isso que você quer. Mas há condições."

"Claro que há," eu disse, um sorriso amargo brincando em meus lábios. "Quais são, grande mestre de marionetes?"

"Primeiro, o divórcio será rápido e silencioso. Sem escândalo. Segundo, o medicamento experimental para Bianca Valente será garantido, sem perguntas, indefinidamente. E em troca, você assina a renúncia a todos os direitos ao nome Drummond, a cada ativo, a cada reivindicação futura. Você desaparece. Completamente." Ele apontou para uma pilha de papéis em uma mesa próxima. "O acordo de renúncia. Já redigido."

Meu coração martelou. Ele havia antecipado cada movimento meu. Ele já havia preparado meu exílio. A pura frieza de seu movimento calculado fez minha respiração falhar. Mas também era meu bilhete de saída. Minha liberdade.

Minha mão tremeu quando peguei a caneta. O papel parecia pesado, denso com o peso de sonhos desfeitos e confiança quebrada. Era isso. O corte final. Eu assinei. Meu nome, Alice Drummond, rabiscado na parte inferior, selando meu destino. A tinta parecia sangue. Cada traço era uma ruptura.

Quando terminei, ergui os olhos, encontrando os dele. "Uma última coisa, pai," eu disse, minha voz mal acima de um sussurro. "Se você alguma vez, alguma vez, interferir na minha vida novamente, se alguma vez tentar me controlar, ou me usar, ou mesmo falar meu nome em público, eu não apenas exporei cada segredo sujo desta família, como também desmantelarei sistematicamente todo o seu império. Pedaço por pedaço. Considere este meu aviso final."

Seus olhos se arregalaram, finalmente mostrando um lampejo de medo genuíno. Eu havia atingido um nervo. Eu havia mostrado a ele um lado de sua "rebelde indomável" que ele nunca soube que existia. Eu me tornei a arma que ele havia forjado.

Saí da cobertura, deixando-o parado em meio à porcelana estilhaçada e aos destroços de nosso relacionamento. O ar lá fora parecia fresco, frio e estranhamente revigorante. Eu estava livre. Mas a liberdade tinha gosto de cinzas.

Meu telefone tocou. Era Clara, minha irmã. "Alice! Você está bem? Papai está furioso. E a Evelyn está me fazendo limpar a bagunça. O que aconteceu?"

"Acabou, Clara," eu disse, minha voz plana. "Tudo. Estou livre."

"Livre? O que isso significa?"

"Significa que não sou mais uma Drummond. E você não terá que se preocupar comigo te envergonhando no seu próximo baile de debutantes." Tentei injetar um pouco de leveza na minha voz, mas saiu oca.

"Alice, não. Você não pode!"

"Eu já fiz." Encerrei a chamada antes que ela pudesse protestar mais. Eu não queria mais falar sobre isso. Eu só queria desaparecer.

Fui ao meu bar de sempre, as luzes fracas e os rostos familiares um pequeno conforto. Meus amigos, um grupo heterogêneo de artistas e espíritos livres, já estavam lá. Eles olharam para mim, seus rostos marcados pela preocupação.

"Alice? O que aconteceu?" Léo perguntou, colocando a mão no meu braço. "Você parece que viu um fantasma."

"Pior," eu disse, virando um shot de tequila. "Eu vi a verdade." Contei tudo a eles. A fusão. Bianca. O medicamento. A mentira. A escolha. A traição do meu pai. Minha decisão.

Seus rostos se transformaram de preocupação para incredulidade, depois para raiva crua. "Aquele canalha!" Maia, minha amiga mais próxima, bateu com o punho na mesa. "Ele te usou! Todos eles!"

"Eu sei," eu disse, as palavras com gosto de veneno. "Mas está feito. Estou fora. Estou livre."

"E o Caio?" Léo perguntou, sua voz gentil. "E ele?"

Olhei para o meu copo de shot, girando o líquido claro. "Ele fez a escolha dele. Ele sempre fez. Eu que fui estúpida demais para ver." A dor no meu peito era uma dor surda agora, uma companheira constante. "Ele não vai sentir minha falta. Ele tem seu 'amor inesquecível' agora."

Maia me abraçou. "Estamos aqui por você, Alice. Sempre."

"Eu sei," sussurrei, agarrando-me a ela. "Isso é tudo que importa agora."

Mas uma voz minúscula e insidiosa no fundo da minha mente sussurrou: Será? Será que ele vai notar que eu fui embora? Ele virá atrás de mim? Eu a reprimi. Ele não viria. Ele não podia. Ele tinha tudo que queria.

Fiquei com meus amigos naquela noite, bebendo até o mundo se tornar um borrão. Quando o sol da manhã invadiu as persianas, pintando o quarto em tons suaves, eu sabia o que tinha que fazer. Eu precisava ir embora. Deixar esta cidade, este país, esta vida. Desaparecer completamente, assim como meu pai havia exigido.

Enquanto arrumava uma pequena mala, minhas mãos se moviam mecanicamente. Meus materiais de arte, algumas roupas, meu passaporte. Era isso. Eu estava deixando tudo para trás. Mais do que apenas posses, eu estava deixando para trás a garota que eu costumava ser. A rebelde indomável, a contestadora. Ela tinha sido tola. Ela tinha acreditado em uma mentira.

Saí do apartamento de Maia, a cidade ainda quase adormecida. O ar estava fresco, com um leve cheiro de chuva. Chamei um táxi, meu coração um espaço oco no peito. Um novo capítulo. Uma tela em branco. Mas primeiro, eu tinha que garantir que estava realmente sozinha.

Assim que o táxi parou, uma SUV preta parou com um guincho ao meu lado. Era o carro de Caio. Meu sangue gelou. Ele me encontrou. Como? Eu nem tinha comprado a passagem ainda.

A porta se abriu. Um homem que reconheci como um dos seguranças de Caio saltou, seu rosto sombrio. "Sra. Drummond, o Sr. Montenegro exige seu retorno imediato."

"Não vou a lugar nenhum," eu disse, minha voz firme, tentando passar por ele. Mas ele foi muito rápido, muito forte. Ele agarrou meu braço, seu aperto como ferro.

"Me solta!" eu lutei, mas ele me segurou firme.

"O Sr. Montenegro insiste. Ele sabe sobre o divórcio. Ele quer conversar."

"Não há nada para conversar." Eu me torci, tentando me libertar. Minha mala caiu na calçada, seu conteúdo se espalhando. Meu passaporte. Ele viu.

"Indo a algum lugar?" uma voz fria e calma arrastou-se do banco de trás da SUV. Caio. Ele saiu, alto e imponente, seus olhos como gelo. Ele parecia absolutamente enfurecido, uma fúria que eu nunca tinha visto dirigida a mim. "Acredito que temos um casamento para discutir."

Ele estava aqui. E o olhar em seus olhos prometia uma tempestade.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022