Meu Coração Ficou de Pedra Por Ele
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Capítulo 5

Ponto de Vista: Alice Drummond

O segurança, um homem corpulento chamado Miller, hesitou, seu olhar alternando entre meu marido e Bianca se afastando, e minha forma congelada. "Sra. Drummond?" ele finalmente murmurou, um apelo desajeitado por direção.

Eu não respondi. Meu corpo parecia entorpecido, mas minha mente era um inferno em chamas. Ele me deixou. De novo. No momento em que Bianca apareceu, eu me tornei invisível. Um problema a ser resolvido. Não uma esposa. Não uma pessoa. O ar ao meu redor parecia denso, sufocante, cada respiração uma luta. Cada palavra que ele me disse, cada toque que ele forçou, se repetia em minha cabeça, agora manchado com o gosto amargo de sua verdadeira devoção. Ele chamou de "casa". Ele me chamou de "minha". Mas seu coração, sua lealdade, sua própria essência pertenciam a Bianca. Eu era apenas um substituto, uma solução temporária para um problema que eu nem sabia que existia.

O esgotamento dos últimos dias, o chicote emocional, a traição – tudo desabou sobre mim. Meus joelhos cederam. Eu tropecei, Miller me segurando antes que eu atingisse o concreto frio.

"Sra. Drummond, você está bem?" ele perguntou, sua voz tingida de preocupação genuína.

Eu o empurrei, recuperando o equilíbrio, recusando-me a ser vista como fraca. "Estou bem," eu raspei, minha voz soando estranha. "Apenas... me leve para o meu ateliê. E não deixe ninguém me perturbar." Eu precisava desaparecer, me esconder do peso esmagador de sua traição.

Tranquei-me no meu ateliê, as cores vibrantes em minhas telas zombando da minha turbulência interior. A raiva, a humilhação, a dor pura e agonizante de ser tão absolutamente insignificante em sua vida – era demais. Andei de um lado para o outro, um animal enjaulado, até que a raiva deu lugar a uma resolução arrepiante. Eu não iria apenas deixá-lo. Eu garantiria que ele se arrependesse de cada momento dessa farsa.

De repente, um alarme alto e penetrante soou pelo prédio, cortando o silêncio. Um alarme de incêndio. Ou algo pior. Meu coração deu um salto. Isso não deveria acontecer.

Então, um baque doentio. Um grito. De baixo. De cima. De todos os lugares. Uma cacofonia de caos irrompeu.

Corri para a janela, minhas mãos pressionadas contra o vidro. Abaixo, no pátio do jardim, uma figura jazia amassada no gramado impecável. Era Bianca.

Meu sangue gelou. Ela havia caído. Ou sido empurrada. O pensamento passou pela minha mente: Karma. Mas foi imediatamente seguido por uma onda de horror inesperado. Não. Não assim.

Antes que eu pudesse processar a imagem, outro estalo doentio soou. Uma gárgula de pedra grande e ornamentada do terraço da cobertura acima de nós, deslocada pela comoção, despencou. Estava vindo direto para mim.

Eu congelei, presa na moldura da janela, um cervo nos faróis. O tempo pareceu se esticar, distorcer. A última coisa que vi antes que uma dor ofuscante explodisse na minha cabeça foi a forma pálida e imóvel de Bianca abaixo. E então, escuridão.

Eu flutuava dentro e fora da consciência, uma paisagem embaçada de luzes fluorescentes e vozes abafadas. A dor era uma companheira constante, uma sinfonia latejante na minha cabeça e uma dor surda irradiando pelo meu corpo. O cheiro de antisséptico ardia em minhas narinas. Eu estava em um hospital. Claro.

Vozes, distantes e distorcidas, filtravam-se pela névoa.

"...trauma craniano grave... hemorragia interna... costelas fraturadas..."

"...e Bianca Valente? Como ela está?" Era a voz de Caio. Crua. Desesperada.

"Ela está consciente, Sr. Montenegro. Estável, mas sofreu uma perna quebrada e choque grave. Sorte de estar viva. A queda foi substancial."

"E a Alice?" Sua voz era plana, desprovida da urgência frenética que ele usava para Bianca.

"A Sra. Drummond está em estado crítico. Os destroços que caíram causaram ferimentos significativos. Precisamos operar imediatamente seu trauma craniano. Mas... há uma complicação." A voz do médico era sombria. "A pressão arterial dela está caindo perigosamente. Só podemos priorizar uma cirurgia de cada vez. Os recursos... estão sobrecarregados."

Um silêncio pesado desceu. Minha respiração falhou, mesmo em meu estado semiconsciente. Um de cada vez. Ele tinha que escolher.

"Sr. Montenegro," o médico continuou, sua voz mais suave, "precisamos da sua decisão. Quem tem prioridade?"

O silêncio se estendeu, agonizante, sufocante. Prendi a respiração, uma parte minúscula e tola de mim esperando contra toda esperança. Ele escolheria sua esposa? A mulher que ele jurou proteger? Ou seu amor inesquecível? Aquele por quem ele quase morreu dias atrás?

"Bianca," a voz de Caio finalmente veio, clara e inabalável, cortando o silêncio como uma faca. "Salvem a Bianca primeiro. Ela é... frágil. Ela já passou por muita coisa."

As palavras me atingiram como um soco, mesmo através da névoa de dor. Meu coração, já estilhaçado, se partiu em um milhão de pedaços microscópicos. Ele a escolheu. De novo. Mesmo quando eu estava morrendo, ele a escolheu. Minha vida, minha própria existência, era secundária. Sempre.

Uma risada amarga e sem humor borbulhou, mas morreu na minha garganta, sufocada pelos tubos e monitores. Frágil? pensei, um fantasma de sorriso tocando meus lábios. Ela é uma mestre manipuladora. E eu sou a descartável. A ironia era uma piada cruel. Ele a chamou de frágil. Eu era a que estava sangrando, agarrando-me à vida por um fio.

Meus olhos se abriram por um breve momento. Eu o vi, de pé ao lado da maca de Bianca, sua mão segurando a dela. Seu rosto estava marcado pela preocupação, mas toda ela por ela. Nenhuma por mim. Ele estava de costas para mim, literalmente virando as costas para o meu corpo moribundo.

Tudo bem, pensei, uma aceitação fria se instalando no fundo da minha alma. Se é isso que você quer. Então eu lhe darei exatamente o que você quer. A escolha havia sido feita. E naquele momento de profunda traição, eu fiz uma escolha própria. Eu sobreviveria a isso. E então, eu desapareceria. De verdade desta vez. Para sempre.

A escuridão me reivindicou mais uma vez, desta vez com uma determinação sombria.

Dias depois, acordei de verdade. A dor na minha cabeça ainda era imensa, uma dor surda que irradiava para fora, mas a névoa havia se dissipado. Meu corpo parecia pesado, fraco, enfaixado em vários lugares. Meu braço esquerdo estava em uma tipoia. Eu estava viva. Contra a vontade dele, eu estava viva.

Caio estava sentado ao lado da minha cama, em uma cadeira de aparência estéril que parecia pequena demais para sua estrutura imponente. Ele parecia exausto, o cabelo despenteado, os olhos vermelhos. Ele ainda usava o mesmo terno caro, embora mais amassado agora. Ele devia ter acabado de voltar do quarto de Bianca. Ele segurava um pequeno copo de plástico branco, uma colher de purê de frutas em frente aos lábios de Bianca. Não, espere. Isso era uma memória. Ele estava apenas sentado ali, olhando para as próprias mãos.

Ele ergueu os olhos quando me ouviu mexer, sua cabeça se virando para mim. Um lampejo de algo, surpresa? Alívio? cruzou seu rosto. Ele se levantou, caminhando até minha cama.

"Alice," ele disse, sua voz rouca. "Você está acordada. Como está se sentindo?" Ele estendeu a mão, como se para tocar minha testa, mas eu me encolhi, meu maxilar rígido.

Sua mão caiu. Ele parecia magoado, mas eu não me importei. "Não," eu disparei, minha voz rouca, fraca, mas cheia de uma fúria fria e latente. "Não finja que se importa agora."

"Alice, eu-"

"Você a escolheu," eu o interrompi, meu olhar queimando nele. "Você escolheu a Bianca. Você me deixou sangrar, Caio. Você me viu morrer, e você a escolheu." As palavras eram uma acusação, uma marca que eu pressionei em sua alma.

Ele enrijeceu, seu rosto se fechando. A máscara estava de volta. "Eu não escolhi que você morresse, Alice. Eu escolhi salvar quem tinha a menor chance de sobrevivência. A condição de Bianca é muito mais crítica, mais delicada que a sua. Você é forte. Eu sabia que você conseguiria."

"Forte?" eu ri, um som amargo e quebrado. "É assim que você chama? Ou é apenas conveniente? Conveniente para você assumir que eu sobreviveria para que você pudesse correr para o lado dela. Conveniente para você manter o fluxo do medicamento. Conveniente para você manter sua mentira."

Ele ficou em silêncio por um longo momento, seus olhos examinando meu rosto, procurando por algo. Mas ele não encontraria. A garota que ele conhecia se foi. Substituída por uma casca endurecida.

"Eu voltei por você," ele finalmente disse, sua voz mais baixa, quase suplicante. "Eu me certifiquei de que você tivesse os melhores cirurgiões. Eu estive aqui, Alice. Desde a sua cirurgia. Eu só saí para ver a Bianca, brevemente."

"Brevemente?" eu zombei. "Você esteve lá por dias, não foi? Torcendo as mãos, murmurando doces nadas para sua namoradinha 'frágil'. Enquanto eu lutava pela minha vida, sozinha." Fechei os olhos, uma onda de cansaço me invadindo. "Não se incomode, Caio. Suas desculpas não significam nada para mim."

Meus olhos se abriram novamente. "Diga-me, Caio," eu disse, minha voz perigosamente calma. "É por isso que você se casou comigo? Por ela? Pelo medicamento? Eu era apenas um meio para um fim, uma ponte conveniente para o seu verdadeiro amor?"

Ele ficou em silêncio novamente. Seu silêncio era ensurdecedor. Era toda a resposta que eu precisava.

"A fusão," continuei, erguendo-me ligeiramente, ignorando a dor lancinante nas minhas costelas. "Meu pai. Ele estava nisso, não estava? Outra de suas 'alianças estratégicas'. Ele vendeu a própria filha para salvar sua empresa e financiar sua devoção eterna a Bianca."

Ele finalmente falou, sua voz mal um sussurro. "Ele sabia. Ele aprovou."

Uma raiva fria e dura se instalou no meu peito, substituindo a dor. Meu próprio pai. O homem que deveria me proteger. Ele havia orquestrado minha traição, de mãos dadas com o homem que havia prometido me amar.

"E a Bianca," eu pressionei, minha voz plana. "Ela sabia? Ela sabia que você se casou comigo por causa dela? Ela gostou de me ver fazer papel de boba, a 'rebelde indomável' que você estava tão galantemente 'domando'?"

Ele hesitou, um sinal claro de sua culpa. "Ela... ela estava doente, Alice. Ela estava desesperada. Nós dois estávamos."

"Desesperados o suficiente para me manipular? Para mentir para mim? Para me sacrificar no altar do seu amor imortal?" Minha voz se elevou, crua com lágrimas não derramadas. "Você me jurou, Caio. Você jurou no dia do nosso casamento que não havia mais ninguém. Nenhum 'amor inesquecível'. Você me olhou nos olhos e mentiu. Você mentiu, e me deixou acreditar que eu estava realmente construindo algo real com você."

Ele deu um passo em minha direção, sua mão se estendendo. "Alice, eu sei que cometi erros. Eu sei que te machuquei. Mas na época, eu realmente acreditava que era o único jeito."

"O único jeito?" eu ecoei amargamente. "De me destruir? De me fazer questionar cada memória que eu tinha de nós? De me fazer sentir como um objeto descartável, assim como meu pai sempre fez?" Senti uma onda aterrorizante de clareza. Cada emoção confusa, cada ação contraditória dele, de repente fazia sentido. Sua polidez distante, suas explosões repentinas de possessividade, sua necessidade constante de limpar minhas bagunças, não porque ele se importava comigo, mas porque eu era uma peça crítica de seu plano.

A ternura que ele mostrou quando cuidou da minha ferida, o momento que me convenceu a dizer "sim" – foi tudo um ato calculado. Um meio para um fim. Não era sobre a minha dor. Era sobre controlar a peça do quebra-cabeça que era eu.

Olhei para ele, meus olhos vazios de tudo, exceto de uma resolução fria e dura. "Você me quebrou, Caio Montenegro. Você e meu pai. Vocês quebraram cada pedaço de confiança que me restava. Então não finja que se importa agora. Não finja que se arrepende."

"Eu me arrependo, Alice," ele disse, sua voz tensa. "Mais do que você imagina."

Mas era tarde demais. As palavras não tinham sentido. O dano estava feito. Meu coração estava morto. E eu sabia, com certeza absoluta, o que tinha que fazer. Eu iria embora. E desta vez, ninguém me impediria. Ele havia garantido que eu não tivesse mais nada a perder. E uma mulher sem nada a perder é o tipo mais perigoso de liberdade.

            
            

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