A corda de cânhamo áspera queimou minhas palmas, rasgando a pele não acostumada a tal trabalho. O suor ardia em meus olhos, embaçando minha visão.
Pelo canto do olho, eu os vi.
Caio e Lia.
Ele estava "ensinando" arco e flecha a ela. Ele estava posicionado bem atrás dela, o peito pressionado firmemente contra suas costas, suas mãos grandes guiando as dela no arco.
Era íntimo. Era revoltante.
Engolindo a bile que subia pela minha garganta, concentrei-me na travessia de arame. Prendi meu arnês e me lancei.
O vento passou zunindo por minhas orelhas. Por um segundo fugaz, senti-me livre.
Então - SNAP.
O som foi como um tiro rasgando o silêncio. O cabo de suporte principal cedeu.
A gravidade me reivindicou.
Caí seis metros, colidindo com a terra batida com o peso de uma pedra.
O impacto arrancou o ar dos meus pulmões em um chiado violento. Um estalo doentio ecoou da minha perna.
Dor. Branca, ofuscante, nauseante.
Eu ofeguei, arranhando a terra, tentando inalar, mas meu peito parecia esmagado. Através da névoa de agonia, olhei para o campo de tiro com arco.
Caio havia se virado ao som.
Mas ele não estava olhando para mim.
Ele estava olhando para Lia, que havia tapado os ouvidos e enterrado o rosto na camisa dele, agindo aterrorizada com o barulho.
"Está tudo bem, shh", vi seus lábios se moverem. Sua mão acariciava o cabelo dela.
Ele a estava confortando.
Ele não veio. Ele não correu para sua Companheira que estava caída e quebrada na terra.
Minha loba uivou um som lúgubre e moribundo dentro da minha mente.
Levante-se, eu disse a mim mesma. Não deixe que eles te vejam chorar.
Eu me arrastei pela terra.
Minha perna quebrada se arrastava atrás de mim, um peso morto de fogo. Eu arranhava o chão, centímetro por centímetro, as unhas quebrando contra as pedras, movendo-me em direção à enfermaria.
"Ajuda", eu grasnei, mas o som era fraco. Ninguém ouviu. Ou ninguém se importou.
Finalmente, os Curandeiros da Alcateia correram. Eles me levantaram em uma maca, seus rostos pálidos.
"Este cabo...", um Curandeiro murmurou, examinando a corda desfiada. "Isso foi cortado. Há vestígios de prata nas fibras."
Prata.
A fraqueza de um lobo. Queimava a pele e impedia a cura. Alguém havia sabotado a corda com uma lâmina de prata.
Mais tarde, na ala médica, eu estava deitada em uma névoa de analgésicos.
Caio finalmente veio.
Ele ficou ao pé da cama, parecendo mais irritado do que preocupado. Como se eu fosse uma tarefa que ele não havia terminado.
"Você não deveria estar na pista avançada", ele disse friamente. "Você é desajeitada."
Ele não perguntou se eu estava bem. Ele não sentiu o cheiro da queimadura de prata em minhas mãos ou o cheiro da minha angústia.
Naquela noite, meio adormecida, ouvi vozes no corredor.
"Você colocou prata demais na lâmina, Lia", a voz baixa de Caio chegou. "Se ela morrer, o Conselho vai investigar."
"Eu só queria assustá-la", Lia riu, o som leve e cruel. "Além disso, ela precisa aprender seu lugar. Aquele fio de prata era caro."
"Ela não vai morrer", Caio disse com desdém. "Isso só vai ensiná-la quem é a verdadeira Luna."
Meus olhos se abriram no escuro.
Ele sabia.
Ele sabia que ela sabotou a corda. Ele sabia que ela usou prata - uma arma letal contra nossa espécie - e ele permitiu.
Ele estava protegendo sua tentativa de assassinato.
O último fio do meu amor por ele não apenas se partiu. Ele se incinerou, virando cinzas.
Encarei o teto, a dor na minha perna latejando no ritmo do meu coração. Mas a dor no meu peito havia sumido.
Foi substituída por um vazio frio e duro.
Fechei os olhos.
Chega de dor, prometi à minha loba. Apenas poder.