Tornei-me a aranha sentada no centro da teia, esperando uma mosca se contorcer.
Caio não tolerou meu silêncio por muito tempo. Ele invadiu meu quarto dois dias depois.
Ele não bateu. Ele não pediu. Ele apenas usou sua força de Alfa para estilhaçar o mecanismo da fechadura.
"Você está envergonhando a Alcateia", ele rosnou, andando de um lado para o outro no meu quarto como um tigre enjaulado. "Escondendo-se como um animal ferido."
"Saia", eu disse calmamente, observando-o pelo espelho da minha penteadeira.
Ele parou atrás de mim, seu olhar fixo no meu reflexo. Seus olhos se suavizaram, mas era uma performance - uma suavidade praticada e oleosa, projetada para desarmar.
"Helena, olhe. Eu sei que o leilão foi... duro. Mas eu tenho que manter a ordem. Lia é frágil. Você é forte. Você pode lidar com isso."
Ele colocou as mãos nos meus ombros. O peso delas fez minha pele arrepiar. Eu me encolhi.
"Eu posso te fazer Luna", ele sussurrou, sua voz caindo para um zumbido sedutor. "Mas você tem que aceitar Lia. Ela é minha família. Ela é parte de mim."
"Família?", eu ri, um som seco e quebradiço que arranhou minha garganta. "Caio, você é estúpido? Ou apenas cego?"
Ele franziu a testa, sua máscara escorregando. "O quê?"
"Ela não é sua irmã. Você não sente o calor nela? Você não sente o cheiro de Companheira que ela mascara com aquele perfume enjoativo de baunilha?"
Caio enrijeceu como se eu o tivesse esbofeteado. "Não seja nojenta. Ela é minha protegida."
"Ela é sua amante", corrigi, minha voz se tornando gelo. "E você quer que eu seja a esposa troféu enquanto ela aquece sua cama."
"Ela é minha prioridade!", Caio gritou, batendo a mão na minha penteadeira. A força do golpe fez uma fratura em forma de teia de aranha percorrer o espelho. "Lia precisa de mim. Você tem tudo. Por que você é tão egoísta?"
Egoísta.
Antes que eu pudesse responder, seus olhos ficaram vidrados. O sinal revelador de um elo mental.
"Estou indo, Lia", ele sussurrou, sua raiva instantaneamente substituída por servidão.
Ele olhou para mim uma última vez, zombando do dano que causou. "Limpe isso."
Ele saiu. Ele correu para ela como um cão treinado porque ela provavelmente quebrou uma unha.
Olhei para o espelho rachado, meu reflexo fraturado em uma dúzia de pedaços.
Olhei para o colar na minha cômoda - um pingente de rubi barato que ele me deu de aniversário anos atrás. Foi o único presente que ele se deu ao trabalho de me comprar.
Eu o peguei. O metal parecia frio e pesado na minha palma.
Caminhei até a lareira.
Joguei-o nas chamas.
Observei o metal escurecer, enrolar e finalmente derreter em nada.
Afastando-me do fogo, peguei meu tablet. A tela piscou e acendeu.
A câmera escondida no quarto de Lia a mostrava rindo ao telefone, enrolando uma mecha de cabelo no dedo.
"Ele é um idiota", Lia dizia, sua voz pingando diversão. "Ele realmente acredita que estou doente. Eu só não queria que ele falasse com aquela vadia."
Apertei Gravar.
"Eu vou fazer você perder sua reputação", sussurrei para a tela, meu dedo traçando seu rosto digital. "Vou te despir por completo."