Capítulo 3

"Nós procuramos por você, Elisa. Por meses. Nada." A voz de Caio era calma, quase desdenhosa, como se meu desaparecimento fosse apenas um inconveniente. Ele estava ali, no meu quarto minúsculo e malcheiroso, em seu terno impecável, um monumento vivo a tudo que eu havia perdido. "Até fizemos uma missa em sua memória. Uma de verdade."

Uma missa. A palavra ecoou na minha cabeça, uma risada oca e amarga ameaçando escapar. Eles haviam lamentado um fantasma, celebrado uma mentira. A audácia pura daquilo, a ironia doentia, fez meu estômago revirar. Meus punhos, pendendo ao meu lado, se fechavam e abriam, uma batalha invisível travada dentro de mim.

Os olhos de Caio percorreram o espaço sufocante, um lampejo de algo que poderia ser pena, ou talvez apenas desprezo, cruzando suas feições. "Já se passaram sete anos, Elisa. Catarina e eu... estamos juntos todo esse tempo." Ele gesticulou vagamente para Catarina, que estava na porta, os olhos fixos em mim com uma expressão indecifrável. "E agora... estamos esperando um filho." Um sorriso orgulhoso, quase presunçoso, tocou seus lábios.

Eu levantei a cabeça, encontrando seu olhar diretamente. "Já acabou?" Minha voz era plana, sem qualquer inflexão.

Dei um passo para trás, abrindo mais a porta, um convite silencioso para que saíssem. Ambos pareceram surpresos, claramente esperando uma reação diferente. Os olhos de Catarina ainda estavam arregalados, seu rosto pálido. A postura confiante de Caio vacilou ligeiramente.

"Elisa, por favor," sussurrou Catarina, a voz rouca, "eu só quero ajudar. Nós dois queremos."

Caio pegou sua carteira de couro cara, tirando um maço grosso de notas. Ele o enfiou na minha mão, junto com um cartão de visita. O cartão liso e pesado parecia estranho na minha palma calejada. "Sabemos que você era uma advogada brilhante, Elisa. Eu tenho meu próprio escritório agora. Você pode trabalhar para mim." Ele fez uma pausa, um sorriso condescendente brincando em seus lábios. "E podemos resolver sua documentação, sua identidade. Chega de viver assim."

Ele se inclinou, sua voz baixando para um tom baixo e ameaçador. "Não vamos dificultar as coisas, Elisa. Para ninguém." Ele então se virou, pegando o braço de Catarina, pronto para sair.

Catarina hesitou, olhando para mim por cima do ombro. "O Arthur também sente sua falta," ela disse, sua voz mais suave, quase melancólica.

Slam!

O som da porta barata batendo no batente reverberou pelo quarto apertado, cortando as palavras de Catarina, selando-a do lado de fora. Eu não queria a pena deles. Eu não queria a ajuda deles. Não agora. Não depois de tudo.

Meus olhos caíram sobre o cartão de visita, impecável e branco, na minha mão. Caio Mendes, Advocacia. Um homem de sucesso, construído sobre a minha ruína. Com um movimento lento e deliberado, rasguei-o ao meio, depois em quartos, depois em pedacinhos de confete, deixando-os cair no chão imundo.

Ajuda? Eles chamavam isso de ajuda? Era um suborno. Uma forma de comprar meu silêncio, de aliviar a culpa deles. Mas a culpa deles não era suficiente, não pelo que tiraram de mim. Não pelo que fizeram. Sete anos se passaram, mas as feridas ainda estavam frescas, ainda sangrando. E a chamada caridade deles era um curativo em uma ferida aberta e infeccionada.

Eu não precisava mais da ajuda deles. Eu só precisava sobreviver.

            
            

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