Outra breve pausa. "Muito bem. Nosso endereço será enviado para você. Estamos ansiosos para conhecê-la, Sra. Mendes."
Sra. Mendes. O nome parecia uma marca, um selo de propriedade. Mas em breve, não me definiria mais.
Desliguei, minha mão tremendo. O endereço chegou momentos depois, uma mensagem discreta sem identificação de remetente. Era para um prédio no centro de São Paulo, um pelo qual eu passara inúmeras vezes sem nunca notar seus segredos ocultos.
Minha mente voltou para cinco anos atrás, para o dia em que me tornei a Sra. Almeida. Minha família, afogada em uma dívida de cinco milhões de reais de um negócio falido, estava desesperada. Heitor Almeida, então uma estrela em ascensão da tecnologia, apareceu como um anjo sombrio. Ele se ofereceu para quitar a dívida, para salvar minha família da ruína. O preço? Eu.
Ele não fingiu que era amor. Ele chamou de "fusão", uma aliança estratégica que beneficiaria ambas as nossas famílias, embora estivesse claro que apenas a dele realmente prosperaria. Eu era um ornamento, um rosto bonito para enfeitar seu braço, um símbolo de seu poder crescente. Minha família, cega pelo alívio, me incentivou a aceitar. Eu aceitei. Por eles.
Agora, eu estava entrando em um tipo diferente de transação.
O táxi me deixou a uma quadra do endereço, um prédio discreto espremido entre duas imponentes estruturas de vidro. Meu coração martelava contra minhas costelas enquanto eu empurrava a porta pesada e sem identificação. Lá dentro, uma área de espera luxuosa e mal iluminada me recebeu. Jazz suave tocava, e o ar cheirava a perfume caro e algo sutilmente floral.
Uma mulher com olhos aguçados e inteligentes e roupas impecavelmente cortadas emergiu de uma porta lateral. "Flora Mendes?" ela perguntou, sua voz a mesma voz sedosa da ligação. Ela era Madame Sofia, a proprietária, presumi.
"Sim", consegui dizer, minha voz ainda pequena.
Ela gesticulou para que eu a seguisse até seu escritório. Era opulento, mas de bom gosto, cheio de móveis antigos e plantas exóticas. Ela se sentou atrás de uma grande mesa de mogno, seu olhar penetrante, avaliador.
"Você parece... deslocada", ela afirmou, não de forma indelicada. "Você está realmente apta para este tipo de trabalho, Sra. Mendes?"
Minhas mãos, firmemente entrelaçadas no meu colo, estavam úmidas. "Eu preciso do dinheiro", eu disse, minha voz ganhando um tom desesperado. "Mais do que você pode imaginar." Meu maxilar se contraiu. "Eu farei o que for preciso."
Ela se recostou, me observando por mais um longo momento. "Nossos clientes são exigentes. Eles valorizam discrição, beleza e... companhia. A compensação é substancial. Uma única noite pode render dezenas de milhares, às vezes até centenas de milhares, dependendo do cliente e da natureza do encontro."
Dezenas de milhares. Centenas de milhares. Minha mente girou. Esse tipo de dinheiro poderia me libertar.
"Eu aceito", sussurrei, as palavras saindo antes que eu pudesse pensar duas vezes.
Um leve sorriso tocou seus lábios. "Muito bem. Nós a prepararemos. Primeiro, um exame médico, depois treinamento em etiqueta, conversação e... intimidade. Você será conhecida como 'Jasmim'."
Enquanto eu era levada por uma de suas assistentes, meu celular vibrou na minha bolsa. Heitor. Meu estômago se contraiu.
Atendi, tentando manter minha voz firme. "Alô, Heitor?"
"Onde você está?" ele exigiu, sua voz afiada e exigente. "A Célia disse que você não estava em casa. Você realmente tentou ir a alguma entrevista de emprego ridícula?"
"Não, claro que não", menti, as palavras com gosto de metal. "Eu... eu só fui dar uma volta. Precisava de um pouco de ar. Estou voltando agora."
"Não minta para mim, Flora", ele disse, e eu ouvi a rispidez em seu tom. "Acabei de transferir mil reais a mais para sua conta. Vá comprar as bugigangas que quiser. Apenas fique onde você pertence."
Mil reais. Uma ninharia, um suborno para me manter quieta, para manter sua ilusão de controle. E o desprezo em sua voz, a implicação de que qualquer coisa que eu desejasse era "boba".
"Eu não preciso", eu disse, minha voz mais forte do que eu esperava. "E eu não quero." Encerrei a ligação antes que ele pudesse responder. A audácia dele, depois do que eu tinha acabado de concordar em fazer.
A assistente, uma mulher de rosto gentil chamada Clara, me conduziu por um corredor adornado com ricas tapeçarias. Paramos diante de uma pesada cortina de veludo. "Além daqui é onde você encontrará seus clientes", ela explicou suavemente. "Lembre-se do seu treinamento. Seja você mesma, mas... aprimorada."
Eu assenti, minha respiração presa. Através de uma pequena fresta nas cortinas, vi um grande salão mal iluminado. Sofás de pelúcia, mesas baixas e alcovas discretas. Várias mulheres, primorosamente vestidas, misturavam-se com alguns homens cujos rostos estavam obscurecidos pela sombra ou pela distância. Um ar de opulência silenciosa, um lugar onde desejos eram atendidos e segredos eram guardados.
Um dos homens, uma figura alta e de ombros largos sentada sozinha em uma alcova, olhou para cima. Mesmo à distância, senti a intensidade de seu olhar. Ele levantou a mão levemente, um gesto para Clara.
Clara sorriu. "Parece que você tem seu primeiro encontro, Jasmim." Ela me conduziu para frente. "Ele pediu especificamente um rosto novo esta noite."
Senti-me como uma peça de exposição, uma obra de arte sendo revelada para um conhecedor anônimo. Meu coração batia forte, mas sob o medo, um estranho sentimento de desafio floresceu. Esta era a minha escolha. Meu caminho para a liberdade.
A primeira noite foi um borrão de sorrisos forçados e conversas tensas, contato físico que parecia clínico e distante. Eu aguentei, focando nos números que piscavam na minha cabeça. Cada toque, cada hora, me aproximava do meu objetivo. Os homens eram na maioria educados, alguns solitários, outros apenas buscando uma fuga. Eu reprimi a maré crescente de vergonha, lembrando a mim mesma que isso era simplesmente um meio para um fim.
Depois, Clara me entregou um envelope. A pilha de notas dentro era mais grossa do que eu já tinha visto. Minhas mãos tremeram enquanto eu contava. O suficiente para um mês. Mais do que a mesada de Heitor por um ano.
"Fica mais fácil", disse uma colega 'acompanhante', uma loira deslumbrante chamada Lara, enquanto trocávamos de volta para nossas roupas de rua. "O dinheiro ajuda a esquecer o resto."
"Meu marido", comecei, depois hesitei. "Ele... ele não sabe."
Lara assentiu, sua expressão se suavizando. "A maioria não sabe. Ou não se importam o suficiente para perguntar. Você está fazendo o que precisa fazer, Flora. Não deixe ninguém te julgar por tentar respirar."
Ao sair para a noite, as luzes da cidade não mais se borravam através das lágrimas, mas brilhavam com uma promessa fria e dura. Entrei no táxi, exausta, mas estranhamente eufórica. Eu estava ganhando minha liberdade, uma noite de cada vez.
Quando o táxi parou na calçada, eu o vi. O sedã preto de Heitor, estacionado ameaçadoramente em frente à nossa mansão. Ele estava esperando.