A Esposa de Sapatos Rotos do Bilionário
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Capítulo 3

Ponto de Vista de Flora Mendes:

O arrepio que percorreu minha espinha não tinha nada a ver com o ar da noite. Heitor estava esperando. Meu coração martelava contra minhas costelas, ecoando a batida frenética da minha recém-adquirida independência.

Empurrei a pesada porta da frente. A casa estava silenciosa, exceto pelo tique-taque de um relógio de pêndulo. Heitor estava perto da janela na sala de estar, uma silhueta escura contra o luar.

"Onde você esteve, Flora?" Sua voz era baixa, cortando o silêncio como uma navalha. Ele não se virou.

"Eu te disse", falei, minha voz mais firme do que eu me sentia. "Fui dar uma volta. Perdi a noção do tempo." Uma mentira, tão fina que quase evaporou no ar.

Ele finalmente se virou, seus olhos perfurando a penumbra. "Uma volta? Até depois da meia-noite? Você espera que eu acredite nisso?"

Eu sabia que ele não se importava com a verdade. Ele se importava com o controle. Ele se importava com as aparências. Ele só queria que eu admitisse minha transgressão, que implorasse por perdão, que reafirmasse seu domínio sobre mim.

"Peço desculpas", eu disse, as palavras com um gosto amargo na língua. "Não vai acontecer de novo."

Ele me encarou por mais um longo momento, seu olhar me gelando até os ossos. "Vá", ele ordenou, seus olhos se voltando para a porta do banheiro. "Tome um banho. Um banho longo. Não quero que você traga o fedor do mundo exterior para a minha casa."

A implicação era clara. Eu estava suja. Sua propriedade, mas manchada pela minha breve incursão na liberdade.

Entorpecida, caminhei até o opulento banheiro. A água quente ardia na minha pele enquanto eu me esfregava, cada vez mais forte, como se tentasse apagar não apenas o cheiro persistente de perfume e homens estranhos, mas a vergonha, o desespero, a própria essência de minhas ações. Apoiei-me no azulejo frio, vomitando no vaso sanitário até minha garganta queimar.

Quando finalmente saí, envolta em um fofo roupão branco, Célia, a assistente, estava esperando com uma pequena balança digital.

"Hora da sua verificação semanal, Sra. Almeida", ela disse, sua voz desprovida de calor, seus olhos demorando-se em meu rosto por tempo demais.

Isso era rotina. Toda sexta-feira de manhã, uma pesagem. Percentual de gordura corporal, massa muscular, até mesmo uma verificação do comprimento das minhas unhas e da qualidade do meu cabelo. Outra faceta de seu controle. Eu tinha que ser perfeita, um troféu impecável.

Lembrei-me da vez em que ganhei um quilo após uma semana particularmente estressante. Ele me colocou em uma dieta líquida rigorosa por três dias, sem desculpas. Meu corpo tinha um preço, e estava constantemente sendo avaliado.

Subi na balança. Célia rabiscou furiosamente em sua prancheta. "Satisfatório", ela anunciou, seu tom seco. "Por pouco."

Então, a voz de Heitor do quarto. "Flora. Venha aqui." Uma ordem, não um pedido.

Entrei no quarto, os lençóis de seda um mar de branco. Ele estava apoiado nos travesseiros, os olhos fixos em mim.

"Estive pensando", ele começou, sua voz surpreendentemente suave. "Talvez sua mesada seja um pouco... restritiva. Que tal mil reais a mais por mês?"

Minha respiração engasgou. Mil reais. Mais de dez vezes minha mesada atual. Era uma oferta tentadora, uma corrente de ouro dourada com mais ouro. O dinheiro pelo qual eu tinha acabado de arriscar tudo.

"Não", eu disse, a palavra surpreendendo até a mim mesma. "Obrigada, Heitor. Mas não."

Ele franziu a testa, uma leve ruga entre as sobrancelhas. "Você ainda está com raiva por causa desta noite? Não seja tola, Flora. É pelas aparências."

Ele estendeu a mão, me puxando para a cama ao lado dele. Sua força era inegável. Sua mão roçou minha bochecha, depois apertou minha mandíbula. "Você é minha esposa. Minha propriedade. Você não precisa de mais dinheiro do que eu julgo adequado. Este valor extra é um privilégio, não um direito."

Ele me beijou então, um beijo duro e possessivo que deixou meus lábios machucados. Fiquei ali, rígida, meu corpo uma paisagem estranha.

"Não, Heitor", tentei murmurar, virando a cabeça.

Ele não ouviu. Seu toque era áspero, exigente. Fechei os olhos, mas não adiantou. Sua voz, rouca de desejo, sussurrou um nome.

"Letícia."

Meus olhos se abriram bruscamente. Letícia. Sempre Letícia. Mesmo agora, envolto em mim, seu corpo pressionado contra o meu, era ela que ele queria.

Uma onda amarga de compreensão me invadiu. Ele não se casou comigo por amor, ou mesmo por prazer. Ele se casou comigo para magoar a Letícia. Para mostrar a ela o que ela havia perdido. Eu era um peão em seu jogo distorcido de vingança, um escudo contra sua própria dor.

O ato foi rápido, brutal e desprovido de qualquer ternura. Quando acabou, ele se afastou, de costas para mim. Como sempre.

Fiquei ali, o espaço vazio ao meu lado um vasto abismo. Esta era a minha vida. Um eco oco de uma mulher, usada e descartada.

Na manhã seguinte, ele já tinha saído quando acordei. Como sempre.

Caminhei até meu livro-caixa escondido, o pequeno caderno gasto onde eu registrava meus ganhos do Campos Elíseios. Eu não me importava com os mil reais extras que ele ofereceu. Eu precisava escapar.

Ganhos atuais: R$ 375.000

Meta de pagamento da dívida: R$ 5.000.000

Agarrei a caneta, minha mão firme. Eu deixaria esta mansão. Eu deixaria esta cidade. Eu construiria uma nova vida, longe de sua sombra, longe dos sussurros e do julgamento. E eu faria isso nos meus próprios termos. Minha liberdade tinha um preço, e eu estava finalmente pronta para pagá-lo.

            
            

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