O Cientista Oculto: A Vingança da Esposa Traída
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Capítulo 2

O barulho de panelas e frigideiras vindo do andar de baixo me arrancou de um sono superficial e sem sonhos. A luz do sol, fraca e aguada, filtrava-se pelas cortinas pesadas, fazendo pouco para dissipar o frio que se instalara fundo em meus ossos. Guilherme estava na cozinha. Era um som incomum. Ele raramente cozinhava, preferindo refeições de buffet ou meus próprios pratos cuidadosamente preparados.

Arrastei-me para fora da cama, cada movimento rígido e pesado. Quando entrei na cozinha, ele estava perto do fogão, virando algo em uma frigideira com um ar de domesticidade teatral. Ele usava um avental com estampa de chefs de desenho animado, uma imagem absurda que quase me fez rir se meu coração não estivesse tão vazio. A cena parecia encenada, uma tentativa desesperada de normalidade.

Ele se virou, seu rosto se abrindo em um sorriso largo, quase brilhante demais. "Bom dia, bela adormecida! Olha o que seu marido incrível fez para você!" Ele gesticulou orgulhosamente para um prato empilhado com o que parecia suspeitosamente com panquecas queimadas e salsichas mal cozidas.

Meu estômago se contraiu, não de fome, mas da pura falsidade de tudo aquilo. "Parece delicioso, Guilherme", eu disse, minha voz cuidadosamente neutra, uma máscara praticada de afeto. A mentira saiu facilmente, um testemunho dos anos que passei aperfeiçoando esse papel.

Ele sorriu, claramente satisfeito consigo mesmo. Ele se inclinou, depositando um beijo rápido e possessivo em minha têmpora. "Viu? Eu te disse que conseguiria quando me dedicasse. Você só precisa ter fé em mim, amor." Ele deu um tapinha na minha cabeça, um gesto que antes eu achava cativante. Agora parecia condescendente.

Ele se sentou em sua cadeira, pegando o celular. Eu o observei, um nó frio se formando em meu peito. Ele rolava pelas redes sociais, um leve sorriso brincando em seus lábios, alheio à oferenda queimada que acabara de apresentar. Ele estava esperando por algo. Ou alguém.

Alguns minutos depois, ele se desculpou, murmurando algo sobre uma "ligação de trabalho muito importante" e desapareceu em seu escritório. Meu garfo tilintou contra o prato, o som ecoando alto no silêncio repentino. Mexi na comida, um leve cheiro metálico pairando no ar. Não estava apenas queimado. Cheirava mal.

Esperei até ouvir o murmúrio baixo de sua voz vindo do escritório, então me levantei silenciosamente. Meu treinamento me dera uma audição aguçada, uma habilidade que aprimorei para precisão em laboratórios silenciosos. Isso também significava que muitas vezes eu conseguia captar trechos de conversas que não eram para meus ouvidos. Aproximei-me da porta do escritório, pressionando meu ouvido contra a madeira polida.

"...sim, meu amor", a voz de Guilherme era suave, tingida de uma intimidade que pareceu um soco no estômago. Não era o "amor" casual que ele usava comigo. Era algo mais profundo, mais possessivo. "Eu também sinto sua falta. Muita."

Meu sangue gelou.

"Claro que me lembro daquela noite", ele riu, um som que me irritou. "Como eu poderia esquecer? Você foi incrível."

Uma pausa. Então, sua voz baixou, conspiratória. "Não, não, a Elisa está perfeitamente alheia. Meio lentinha, para ser sincero. Ela só... faz o que eu mando. Ela está muito envolvida em seu mundinho de estudante de pós-graduação para notar qualquer coisa."

Uma risada amarga escapou dos meus lábios. Alheia? Lentinha? Ele não tinha ideia da extensão do meu "mundinho de estudante de pós-graduação". E não tinha ideia de quão devastadoramente ciente eu estava.

"Mas ela é útil", ele continuou, um tom calculista em sua voz. "O investimento na pesquisa dela foi uma jogada inteligente. A mantém ocupada, a mantém quieta. E ela é... cooperativa. Exatamente o que eu preciso agora."

Minha visão embaçou. Útil. Cooperativa. Era tudo o que eu era para ele. Um meio para um fim.

"Me encontre no nosso flat amanhã", ele sussurrou, a excitação colorindo sua voz. "A Elisa vai estar no laboratório o dia todo. Teremos o lugar todo para nós. Como nos velhos tempos."

Meu coração, já fraturado, parecia estar se transformando em gelo. O flat. Nosso santuário. O lugar que ele jurara ser "nosso".

Tropecei para trás, apoiando-me na parede fria para me sustentar. Meus olhos pousaram em uma pequena foto emoldurada na mesa do corredor – uma foto do dia do nosso casamento. Estávamos sob uma chuva de pétalas de rosa, sorrindo, os olhos cheios de promessas. Era uma bela mentira.

Uma raiva súbita e incontrolável me invadiu. Minha mão disparou, varrendo a moldura da foto da mesa. Ela caiu no chão, o vidro se estilhaçando. O som ecoou pela casa silenciosa, agudo e violento.

O murmúrio de Guilherme parou abruptamente no escritório. Um momento depois, a porta rangeu ao se abrir. Ele apareceu, seus olhos arregalados, depois se estreitaram ao ver a moldura quebrada.

"Elisa! O que aconteceu?" Ele correu, não para mim, mas para o vidro quebrado. "Minha avó nos deu isso! Você está bem? Se cortou?"

"Estou bem", eu disse, minha voz plana, desprovida de emoção. Gesticulei vagamente para os cacos. "Escorregou."

Ele suspirou, balançando a cabeça. "Bem, teremos que consertar. Era uma peça vintage, sabe. Muito valiosa." Ele olhou para mim, um traço de aborrecimento em seus olhos. "Tenha mais cuidado, amor."

Ele estendeu a mão, tentando me puxar para um abraço. Dei um passo para trás, meus olhos fixos nos dele. Um leve tremor percorreu meu corpo.

"Guilherme", eu disse, minha voz quase um sussurro. "Quem vem aqui hoje à noite?"

Seus olhos se arregalaram, depois se estreitaram rapidamente. "Do que você está falando, Elisa? Ninguém vem aqui hoje à noite." Ele forçou um sorriso. "Só você e eu, comemorando minha ligação bem-sucedida!"

Meu sangue gelou. Ele estava mentindo. Na minha cara. A pura audácia.

"Na verdade", ele continuou, seu tom mudando, "a Keyla vai passar por aqui. Só para uma conversa rápida sobre o instituto. Sabe, coisas profissionais."

Minha respiração falhou. Keyla. Aqui? Em nossa casa? O desrespeito flagrante, a afronta aberta. Foi um tapa na cara.

"Ela é uma cientista tão brilhante", Guilherme entusiasmou-se, completamente alheio à tempestade que se formava dentro de mim. "E ela sabe tanto sobre pesquisa genética. Pensei que seria bom para você conhecê-la. Você poderia aprender uma ou duas coisas."

Aprender uma ou duas coisas com a Keyla? A "cientista prodígio" que abandonou a pós-graduação e construiu uma persona falsa? A ironia era um gosto amargo na minha boca.

Nesse momento, a campainha tocou, um som alegre e brilhante que parecia cruelmente fora de lugar. O rosto de Guilherme se iluminou. Ele praticamente saltou até a porta, abrindo-a com uma avidez que não me mostrava há meses.

Na nossa porta estava Keyla Neves. Ela era ainda mais deslumbrante pessoalmente, uma imagem de elegância impecável. Seus olhos, idênticos aos meus, brilhavam com uma diversão quase predatória enquanto me examinavam. Ela usava um vestido de seda, um vermelho vibrante que se agarrava às suas curvas. Era o mesmo vestido que Guilherme me comprara em nosso primeiro aniversário. Eu nunca o usei, considerando-o "chamativo demais".

"Guilherme, querido!" Keyla ronronou, sua voz escorrendo uma doçura artificial que fez meus dentes doerem. Ela o abraçou, um abraço demorado e íntimo que dizia muito.

Guilherme, ainda a segurando, virou-se para mim, seu sorriso fixo. "Elisa, esta é a Keyla. Keyla, esta é minha esposa, Elisa."

Keyla finalmente se soltou de Guilherme, seu olhar percorrendo-me, uma avaliação silenciosa. "Ah, sim. A adorável Sra. Harvey. Ouvi falar muito de você." Seu sorriso se apertou nas bordas. "Guilherme mencionou que você é uma... estudante de pós-graduação, acredito? Que bonitinho."

Minha mandíbula se contraiu. Bonitinho. Ela descartou toda a minha existência com uma única palavra.

"Talvez", Keyla continuou, sua voz doce como xarope, "você pudesse nos fazer um chá, querida? Toda essa conversa acadêmica deixa a gente com uma sede terrível."

Uma veia latejou em minha têmpora. Fazer um chá para eles? Na minha própria casa? A audácia era de tirar o fôlego.

"Acho que vou passar", respondi, minha voz perigosamente calma. "Não estou me sentindo particularmente hospitaleira esta noite."

Os olhos de Keyla se arregalaram em falsa surpresa. Ela se virou para Guilherme, seu lábio inferior tremendo ligeiramente. "Oh, Guilherme. Sua esposa é... tão direta. Eu só queria uma simples xícara de chá."

O rosto de Guilherme escureceu. Ele me lançou um olhar furioso. "Elisa, isso é incrivelmente rude! Keyla é nossa convidada." Ele se virou para Keyla, sua voz suavizando. "Não ligue para ela, Keyla. Ela está apenas um pouco estressada com os estudos. Eu pego um chá para você."

Ele caminhou em direção à cozinha, deixando-me ali, exposta e humilhada. Ele sempre a escolhia. Sempre ficava do lado dela, mesmo contra mim. Meus ombros caíram. A raiva foi rapidamente substituída por uma constatação arrepiante: ele não me defenderia. Ele nunca o faria.

De repente, Keyla se aproximou, seus olhos brilhando com satisfação maliciosa. "Sabe", ela sussurrou, sua voz quase inaudível. "Guilherme só se casou com você porque você se parece muito comigo. Ele me contou. Ele disse que você era uma substituta conveniente."

Meu estômago despencou. Era verdade. Tudo. A confirmação foi uma ferida nova, se contorcendo em minhas entranhas.

Antes que eu pudesse reagir, Keyla se lançou, sua mão disparando em direção ao meu celular, que eu segurava inconscientemente. "O que tem aí? Provas, talvez? Algo para arruinar minha reputação?"

Apertei meu aperto, recuando. "Não é nada que lhe diga respeito."

"Oh, mas diz!" ela sibilou, seu rosto contorcido em uma máscara de fúria. "Você acha que pode simplesmente gravar as coisas e sair impune? Eu vou te destruir!" Ela arranhou minha mão, suas unhas cravando em minha pele. A dor foi aguda, mas o choque foi maior. Ela estava realmente me atacando.

Nesse momento, Guilherme voltou para a sala de estar, uma bandeja com xícaras de chá nas mãos. Ele parou abruptamente, seus olhos se arregalando ao ver Keyla lutando comigo.

"Keyla! O que está acontecendo?" ele exclamou, deixando a bandeja cair com um estrondo. A porcelana se quebrou contra o chão de mármore. Ele correu para frente, não para mim, mas para Keyla, puxando-a protetoramente para seus braços.

"Ela me atacou, Guilherme!" Keyla lamentou, segurando a mão e fazendo beicinho dramaticamente. "Ela tentou me bater! E ela tem algo no celular! Ela está tentando me incriminar!"

Guilherme se virou para mim, seus olhos ardendo de fúria. "Elisa, que diabos há de errado com você? Atacando nossa convidada? Você enlouqueceu completamente?" Ele olhou para a mão de Keyla, onde uma leve marca vermelha já se formava. "Oh, minha pobre Keyla! Ela te machucou?"

Ele embalou a mão dela, seu rosto gravado de preocupação. Minha própria mão latejava, um corte profundo sangrando livremente de onde a unha de Keyla rasgara minha pele. Mas ele nem olhou para mim. Ele não se importava.

Uma sensação fria e morta se espalhou pelo meu peito. A traição era absoluta. Minha visão nadou, minha cabeça girando. Eu não podia estar aqui. Nem mais um segundo.

"Preciso sair", eu disse, minha voz plana, distante, como se pertencesse a outra pessoa. Virei-me, tropeçando em direção à porta.

"Sair? Onde você pensa que vai?" Guilherme retrucou, sua voz afiada com comando. "Você não vai a lugar nenhum até pedir desculpas à Keyla!"

Eu o ignorei, minha mente um borrão. Eu só precisava escapar desta sala sufocante, desta mentira sufocante. Quando cheguei à porta da frente, Guilherme parou na minha frente, bloqueando meu caminho.

"Elisa, pare com esse comportamento ridículo!" ele exigiu, sua voz endurecendo. Ele estendeu a mão para pegar meu braço.

"Não me toque", avisei, meus olhos faiscando. A dor crua estava dando lugar a algo mais frio, mais duro.

Ele parou, depois suspirou, sua expressão suavizando ligeiramente. "Olha, amor, eu sei que você está chateada. Mas não vamos fazer uma cena. Vamos, vamos conversar sobre isso mais tarde. Aqui, beba um pouco de água." Ele me ofereceu um copo da bandeja de chá quebrada, recuperado do chão.

Minha garganta estava seca e, sem pensar, tomei um grande gole. A água tinha um gosto estranhamente doce, enjoativo. Uma onda de tontura me atingiu, desorientadora e súbita. O quarto girou. Meus joelhos cederam. A escuridão me envolveu, rápida e absoluta.

            
            

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