Suas palavras, afiadas e cruéis, pareceram mil pequenos cortes. Ele agarrou meu braço, seus dedos cravando em minha pele. "Sabe, a Keyla estava certa. Você não passa de uma fraude." Ele me empurrou contra a parede, minha cabeça batendo no gesso. Uma dor estonteante explodiu atrás dos meus olhos. Meu corpo, já fraco, desabou no chão.
Nesse momento, a porta do quarto se abriu com um estrondo. Keyla estava lá, radiante, um tablet em sua mão. "Guilherme, querido! Adivinha? Meu artigo acabou de ser aceito pela Nature! Vou ficar famosa!" Ela praticamente saltitou para dentro do quarto, alheia à minha forma encolhida no chão. "Ah, e sabe, minha equipe de relações públicas acha que uma aparição conjunta seria incrível para minha imagem de 'gênio acadêmico'. Você poderia me apresentar, falar sobre nossa colaboração inovadora."
Guilherme, ainda respirando pesadamente de sua explosão, olhou para mim deitada no chão. Seus olhos, por um segundo fugaz, continham um lampejo de algo parecido com preocupação. "Elisa? Você... você está bem?" Ele deu um passo hesitante em minha direção. "Talvez eu devesse chamar um médico."
Keyla revirou os olhos, um gesto desdenhoso com a mão. "Ah, por favor, Guilherme. Ela está apenas sendo dramática. De novo. Você sabe como ela fica. Provavelmente fingindo para conseguir simpatia. Ela está apenas com ciúmes do meu sucesso." Ela chutou suavemente meu pé. "Levante-se, Elisa. Pare de fingir."
Guilherme parou, seu olhar vacilando entre o olhar insistente de Keyla e meu rosto machucado. "Ela parece um pouco pálida", ele murmurou, um lampejo de dúvida em seus olhos.
"Besteira!" Keyla zombou. "Ela está sempre pálida. É a configuração padrão dela. Apenas a ignore, querido. Ela vai se recuperar quando perceber que ninguém está prestando atenção." Ela puxou seu braço. "Vamos, vamos comemorar! Quero contar a todos sobre minha notícia incrível."
Guilherme hesitou por mais um momento, então, com um balançar de cabeça, permitiu que Keyla o levasse para fora do quarto. Ao saírem, ele me lançou um último olhar frio. "Fique aqui, Elisa. E não cause mais problemas." As palavras foram uma demissão, um abandono final.
A porta se fechou com um clique, deixando-me sozinha no silêncio opressivo. A dor em minha cabeça latejava no ritmo do meu corpo dolorido. Minha visão embaçou. O mundo girou. A escuridão, mais uma vez, me reivindicou.
Acordei com um sobressalto, desorientada. O quarto era desconhecido, mas estranhamente reconfortante. Eu estava em um pequeno e aconchegante quarto de hóspedes, a luz do sol entrando por cortinas de renda. Um copo de água e um prato de frutas estavam na mesa de cabeceira. Alguém havia cuidado de mim.
A porta se abriu e Guilherme entrou, carregando uma bandeja cheia de comida. Ele se aproximou da cama, seus movimentos rígidos. "Elisa", ele disse, sua voz mais suave do que nos últimos dias. "Você está acordada. Como está se sentindo?" Ele colocou a bandeja no meu colo. "Fiz uma sopa para você. Você precisa comer."
Olhei para a tigela fumegante, depois para o rosto dele. A preocupação em seus olhos parecia genuína, por um momento. Mas então me lembrei da voz de Keyla, de suas palavras desdenhosas, da crueldade casual. Era uma farsa. Outra performance.
"Onde está meu celular?" perguntei, empurrando a bandeja para longe. Minha voz estava fraca, mas firme.
Ele suspirou, seu olhar vacilando. "Seu celular? Ah, foi danificado na queda. Completamente estilhaçado. Encomendei um novo para você, claro. Chegará amanhã." Ele estendeu a mão, sua mão pairando sobre a minha. "Por favor, Elisa. Não seja assim. Vamos apenas deixar tudo isso para trás."
Puxei minha mão para trás, um arrepio de repulsa percorrendo meu corpo. Seu toque parecia uma violação. "Meus dados, Guilherme. Eu te perguntei sobre os dados da minha pesquisa. Onde estão?"
Ele pigarreou. "Estão... seguros. Não se preocupe com isso. Estou cuidando de tudo. O instituto está muito animado com o progresso da terapia genética. Estamos no caminho certo para os testes em humanos no próximo trimestre." Ele sorriu, um sorriso presunçoso. "É tudo graças à minha gestão brilhante, claro. Aquele velho, o Dr. Mendes, ele era muito lento. Precisava de um verdadeiro visionário para impulsionar as coisas."
Dr. Mendes. Meu mentor. Meu confidente. Ele havia sido um bode expiatório, outra vítima da arrogância de Guilherme.
"E sabe", Guilherme continuou, inclinando-se mais perto, "assim que a cura for comercializada com sucesso, podemos finalmente começar a pensar em nosso futuro. Um futuro de verdade. Uma família." Ele alcançou minha mão novamente, seus olhos suplicantes. "Imagine, Elisa. Uma família perfeita. Assim como sempre conversamos."
Meu estômago se revirou. Uma família? Depois que ele descartou nosso filho como um produto da minha imaginação? Depois que ele ficou parado enquanto Keyla me atacava, fazendo-me perder tudo?
"Sabe", ele ponderou, quase para si mesmo, "aquele velho diretor da USP, o Dr. Dantas? Ele é tão arrogante. Acha que sabe tudo. Não percebe que os verdadeiros cérebros estão trabalhando nos bastidores. Ele está sempre tentando levar o crédito pelo trabalho dos outros."
Meus olhos se arregalaram ligeiramente. Dr. Dantas. Ele era a figura de proa, o rosto público do instituto. Aquele que havia encoberto minha verdadeira identidade, permitindo-me trabalhar em segredo enquanto eu buscava a cura para Guilherme. Guilherme, em sua arrogância sem limites, estava zombando das mesmas pessoas que trabalhavam incansavelmente para salvá-lo.
Pensei nas noites intermináveis, nos fins de semana sacrificados, nos anos que dediquei à sua cura. Minha identidade, minha família, meu futuro – tudo em espera por ele. E ele não via nada disso. Ele via apenas uma "distração conveniente", uma "estudante de pós-graduação ingênua".
"Meus dados, Guilherme", repeti, minha voz plana, oca. "Diga-me onde estão."
Ele suspirou, exasperado. "Elisa, eu te disse, está tudo bem! Pare de ser tão obcecada com aquele projetinho de pesquisa bobo. Eu te comprei um celular novo! É melhor que o seu antigo de qualquer maneira." Ele tirou um aparelho elegante e caro do bolso. "Aqui. Uma oferta de paz. Todo novo, todo brilhante. Assim como você merece."
Meu olhar endureceu. Ele achava que um celular novo poderia apagar tudo. Ele achava que bens materiais poderiam me aplacar. Peguei o celular, meus dedos roçando os dele. O calor de sua pele parecia estranho, repulsivo.
Ele sorriu, triunfante. "Viu? Agora, vamos esquecer toda essa desagradável. Temos uma festa para nos prepararmos esta noite. Uma celebração do sucesso da Keyla. É um evento muito importante no mundo acadêmico. E você, como minha esposa, precisa estar no seu melhor."
Minha mandíbula se contraiu. "Uma festa? Para a Keyla?" A amargura em minha voz era inconfundível.
"Claro", ele disse, alheio. "Ela é uma estrela em ascensão. E eu, como seu... associado próximo, preciso estar lá para apoiá-la. E você, minha querida, precisa estar ao meu lado. É importante para as aparências." Ele parou, seus olhos se estreitando ligeiramente. "Certifique-se de usar algo apropriado. Algo elegante. Precisamos apresentar uma frente unida."
Ele saiu, a porta se fechando atrás dele. Fiquei sentada, o novo celular pesado em minha mão. Uma resolução fria e dura se solidificou em meu coração. Uma frente unida, ele queria? Ele teria uma frente, tudo bem. Só não a que ele esperava.
Abri o armário, meus olhos percorrendo meu guarda-roupa cuidadosamente selecionado de trajes despretensiosos de estudante de pós-graduação. Então, meu olhar pousou em uma caixa guardada no fundo. Dentro, um vestido preto simples e elegante. Era uma peça clássica, atemporal, não chamativa, mas impecavelmente cortada. Era o vestido que usei quando apresentei meu primeiro grande artigo de pesquisa, aquele que chamou a atenção da Fundação Morton. Era um vestido de poder silencioso.
As palavras de Guilherme ecoaram em minha mente: "Certifique-se de usar algo apropriado. Algo elegante." Eu sorri, uma curva arrepiante e sem humor em meus lábios. Oh, eu usaria.
Ele voltou uma hora depois, segurando um vestido verde-esmeralda vibrante. "Aqui, Elisa", ele disse, sua voz animada. "Eu escolhi isso para você. É a cor favorita da Keyla. Vai ficar perfeito."
Olhei para o vestido, depois para ele. Meu sorriso se alargou, frio e perigoso. "Não, obrigada, Guilherme. Já tenho algo em mente."
Seus olhos se estreitaram em confusão ao olhar para o meu simples vestido preto. "Isso? Mas é tão... simples. Este é um grande evento, Elisa. Você precisa causar uma impressão."
"Oh, eu pretendo", eu disse, minha voz doce como veneno. "Uma impressão muito grande."
Ele olhou para mim, um lampejo de suspeita em seus olhos, mas depois deu de ombros, um sorriso presunçoso voltando ao seu rosto. "Bem, se você insiste. Suponho que um pouco de elegância discreta possa ser charmoso. Certamente fará Keyla se destacar ainda mais." Ele deu um tapinha na minha cabeça. "Você sempre foi tão teimosa. Mas é bom, mostra que você tem espírito. Do jeito que eu gosto. Talvez esta pequena lição finalmente tenha te domado." Ele riu, virando-se para sair. "Agora, apresse-se. Não queremos nos atrasar."
Ele achava que tinha me domado. Ele achava que tinha me quebrado. Ele não tinha ideia do que estava por vir.