Durante uma rara pausa, entrei em contato com meus contatos nas instituições acadêmicas que Keyla listara orgulhosamente em seu currículo fabricado. Uma série de perguntas frias e precisas. As respostas confirmaram minhas suspeitas: Keyla Neves nunca fora empregada, ou mesmo matriculada, em nenhum dos programas de prestígio que ela alegava. Minha família, com sua vasta rede e equipe jurídica, já havia compilado um dossiê devastador sobre o verdadeiro histórico de Keyla: uma série de má conduta acadêmica, um programa de doutorado abandonado e uma história de autopromoção construída sobre mentiras elaboradas. Sua persona de "cientista prodígio" não passava de um castelo de cartas cuidadosamente construído.
Meu pesquisador principal, Dr. Mendes, aproximou-se de mim, seu rosto gravado de preocupação. "Elisa", ele disse, sua voz baixa. "O prazo para a apresentação pública está se aproximando. Os dados estão estáveis, sim, mas ainda temos tantas perguntas sem resposta. E a condição de Guilherme... está se deteriorando rapidamente. A terapia genética precisa ser implementada em breve, ou pode ser tarde demais."
Olhei para ele, meus olhos duros. "Estará pronto, Dr. Mendes. E será perfeito." Fiz uma pausa, depois continuei: "Mas vamos apresentá-lo de forma diferente. Vamos expor a verdade. Toda ela."
Os olhos do Dr. Mendes se arregalaram. "Elisa, você tem certeza? Isso pode ser um escândalo enorme para o instituto."
"A verdade sempre aparece", respondi, minha voz fria. "E é hora de Guilherme escolher. Ele pode reconhecer a verdade e usar os dados corretos, ou pode continuar a viver sua mentira. Sua vida depende disso."
Uma hora antes da apresentação, fiz duas ligações. A primeira foi para Guilherme.
"Guilherme", eu disse, minha voz desprovida de emoção. "A apresentação está prestes a começar. Não se atrase."
Ele resmungou algo em resposta, uma mistura de aborrecimento e vaga curiosidade. Desliguei.
A segunda ligação foi para Caio. "Reserve meu voo", ordenei, minha voz enérgica. "Para esta noite. Depois da apresentação. E diga à família para preparar os papéis da anulação. Isso acaba esta noite. Tudo."
"Você tem certeza, Elisa?" Caio perguntou, sua voz tingida de preocupação. "Você não precisa se esforçar tanto."
"Tenho certeza", respondi, meu olhar fixo nos preparativos agitados ao meu redor. "Já passou da hora."
Guilherme chegou exatamente na hora, entrando no auditório com um ar de confiança arrogante. Ele usava um terno impecável, sua expressão indiferente. Ele me viu no palco, uma leve surpresa em seus olhos. Ele foi para a primeira fila, Keyla o seguindo, seu braço entrelaçado possessivamente com o dele. Ela também parecia deslumbrante, sua falsa persona acadêmica irradiando um ar de superioridade intelectual.
Ele tirou uma pequena caixa de madeira primorosamente esculpida. "Elisa", ele disse, estendendo-a para mim. "Nosso presente de aniversário. Mandei fazer especialmente. É uma réplica do primeiro laboratório em que você trabalhou. Um símbolo de nossa jornada compartilhada."
Olhei para a caixa, depois para o rosto dele. Ele estava sorrindo, um brilho triunfante em seus olhos. Ele ainda achava que me enganara.
"Ah, e sabe", ele continuou, olhando para Keyla com um sorriso presunçoso, "Keyla graciosamente concordou em se juntar à nossa apresentação esta noite. Ela vai compartilhar algumas de suas brilhantes percepções sobre a terapia genética. Não é maravilhoso?"
"Maravilhoso", repeti, minha voz plana. Peguei a caixa, meus dedos roçando os dele. Ele se inclinou, tentando beijar minha bochecha, mas eu sutilmente virei a cabeça, seus lábios roçando apenas o ar. Ele não pareceu notar. Ele apenas riu, uma satisfação presunçosa em seus olhos.
"Bom. Eu sabia que você mudaria de ideia. Afinal, você sempre me escuta, não é, minha cientistazinha?" Ele apertou minha mão, depois foi se sentar ao lado de Keyla, sussurrando conspiratoriamente em seu ouvido.
Eu os observei, uma profunda sensação de calma me invadindo. Não havia mais raiva, nem amargura. Apenas uma resolução fria e clara. As luzes do palco estavam quentes, a plateia um mar de rostos. Caminhei até o pódio, meus passos firmes, meu olhar inabalável.
"Boa noite a todos", comecei, minha voz clara e forte, ecoando pelo auditório lotado. "Esta noite, estou aqui para discutir os últimos avanços na terapia genética para a Síndrome de Harvey." Iniciei uma visão geral concisa e profissional do projeto, detalhando o complexo processo científico, os desafios que enfrentamos e os avanços que alcançamos.
De repente, a grande tela atrás de mim, que exibia diagramas científicos complexos, piscou. Uma nova imagem apareceu: uma comparação lado a lado de dois conjuntos de dados. Um, meticulosamente anotado e verificado, era o nosso. O outro, cheio de discrepâncias sutis, mas críticas, era o que Keyla havia adulterado.
Uma ondulação percorreu a plateia. Guilherme, na primeira fila, enrijeceu. O rosto de Keyla ficou branco.
"Como podem ver", continuei, minha voz inabalável, "houve uma tentativa deliberada e maliciosa de corromper nossos dados principais. Essas falsificações, se implementadas, não apenas tornariam a terapia genética ineficaz, mas também poderiam ter consequências catastróficas para qualquer paciente que a recebesse." Meu olhar, frio e firme, pousou diretamente em Keyla. "Acredito que a pessoa responsável por essa sabotagem está presente nesta sala. E exijo que ela entregue imediatamente os dados originais e não corrompidos. Vidas dependem disso."
Keyla congelou, seus olhos arregalados de terror. Ela tentou balbuciar uma negação: "Não... eu... eu apenas corrigi alguns erros menores... foi para o bem do projeto..."
"Erros?" eu a interrompi, minha voz afiada. "Ou falsificação deliberada para encobrir sua própria incompetência? Para roubar o crédito por um trabalho que você é incapaz de realizar?"
"Ela está mentindo!" Keyla gritou, sua voz falhando. Ela apontou um dedo trêmulo para mim. "Ela está tentando me sabotar! Ela está com ciúmes do meu sucesso! Ela quer o Guilherme morto!"
As sobrancelhas de Guilherme se franziram. Seu olhar, cheio de confusão e decepção, encontrou o meu. "Elisa", ele disse, sua voz baixa, um apelo por explicação. "O que é tudo isso? Você está realmente tentando machucar a Keyla? Me machucar?"
Olhei para ele, realmente olhei para ele, parado ali, agarrado às mentiras. "Guilherme", eu disse, minha voz ecoando na sala silenciosa. "Em qual verdade você escolhe acreditar? Na que pode salvar sua vida, ou na que a destruirá?"
Ele hesitou, seus olhos dardejando entre mim e Keyla. Então, ele se virou para Keyla, pegando sua mão. "Eu acredito na Keyla", ele disse, sua voz firme, resoluta. "Ela é uma cientista brilhante. Ela nunca faria nada para prejudicar minha pesquisa. Você, Elisa, está apenas com ciúmes. Você está chateada porque ela é melhor que você."
Meu coração, que eu pensei já ter se transformado em pedra, sentiu uma rachadura final e agonizante. Melhor que eu. Ele ainda pensava isso. Eu não senti nada. Nenhuma raiva, nenhuma tristeza. Apenas um vazio profundo e libertador.
Olhei para ele, depois para Keyla, agarrada a ele como um parasita. Virei-me, o microfone clicando enquanto o colocava no lugar. Meu trabalho aqui estava feito. Eu havia apresentado a verdade. A escolha era dele.
Saí do palco, meus passos firmes, minha cabeça erguida. Não olhei para trás.
Caio estava me esperando no fundo do auditório, seu rosto sombrio. Ele pegou meu braço, seu aperto firme e reconfortante. Saímos do salão de festas, deixando para trás o silêncio atordoado, as acusações sussurradas e os pedaços estilhaçados do meu passado.
Uma semana depois, Guilherme estava na suíte opulenta do Hotel Emiliano, arrumando meticulosamente pétalas de rosa na cama. Ele verificou o celular pela décima vez, uma carranca se aprofundando em seu rosto. Nenhuma resposta de Elisa. Ele enviara a ela uma enxurrada de mensagens, uma mistura de acusações e apelos velados.
`Guilherme: Ainda de mau humor, Elisa? Os dados da Keyla foram um ajuste menor. Nada com que se preocupar. Você está exagerando. Venha para o Emiliano. Tenho uma surpresa para você.`
`Guilherme: Eu sei que você está tentando me deixar com ciúmes. Está funcionando. Mas você está sendo ridícula. A Keyla sabe o que faz. Ela é um gênio.`
`Guilherme: Venha para o Emiliano, Elisa. Podemos conversar sobre isso. Tenho uma noite especial planejada para nós. Como nos velhos tempos.`
Ele largou o celular, um sorriso presunçoso se espalhando por seu rosto. Ele havia editado meticulosamente uma pequena montagem de vídeo, uma coleção de suas "memórias felizes" juntos. Nosso casamento. Aniversários. Feriados. Ele assistiu, um suspiro sentimental escapando de seus lábios. Ele pensou em Elisa vendo aquilo, seus olhos se enchendo de lágrimas, seu coração derretendo. Ela cederia. Ela sempre cedia. Ele riu, imaginando-a entrando pela porta, pronta para se desculpar, pronta para implorar por seu perdão.
As horas passaram. Elisa não apareceu. A confiança de Guilherme erodiu lentamente, substituída por uma ansiedade roedora. Ele tentou ligar para ela, mas o celular dela ia direto para a caixa postal. Andando de um lado para o outro na suíte, ele finalmente pegou as chaves. Ele iria ao laboratório. Ele a encontraria.
Ele invadiu o instituto de pesquisa mal iluminado, o silêncio um contraste gritante com a energia vibrante que ele esperava. Os laboratórios estavam vazios. O escritório de Elisa estava escuro. Seus pertences pessoais, antes arrumados, haviam sumido. Um pavor frio se infiltrou em seus ossos.
Ele encontrou um dos pesquisadores juniores ainda guardando alguns equipamentos. "Onde está a Elisa?" Guilherme exigiu, sua voz tensa de desespero. "Onde está todo mundo?"
O pesquisador olhou para cima, seus olhos arregalados. "Dra. Morton? Ah, ela... ela aceitou uma bolsa de estudos internacional. Ela saiu esta tarde. Levou toda a sua pesquisa pessoal com ela." Ele hesitou, depois acrescentou: "Ela se tornou a mais jovem diretora de um novo instituto altamente financiado no exterior. Você não sabia? Ela é uma lenda no campo, até seu ex-professor, o Dr. Mendes, a elogia como um gênio."
Guilherme encarou, sua mente girando. Dra. Morton? Diretora mais jovem? No exterior? As palavras o atingiram como um golpe físico, estilhaçando sua realidade cuidadosamente construída.