Gênero Ranking
Baixar App HOT
Sempre foi Você
img img Sempre foi Você img Capítulo 4 O Ceifador Desperta
4 Capítulo
Capítulo 6 A Marca Que Nunca Irá Sumir img
Capítulo 7 O Lugar Onde Nada é Silencioso img
Capítulo 8 Onde a Sombra Aprende a Andar à Luz img
Capítulo 9 Entre a Máscara e o Sangue img
Capítulo 10 A Sombra que Sempre Esperei img
Capítulo 11 A Sombra que Me Encontrou img
Capítulo 12 Do Outro Lado da Porta img
Capítulo 13 O Homem Que Não Podia Desejar img
Capítulo 14 A Manhã em que Quase Fui Normal img
Capítulo 15 O Homem do Corredor img
Capítulo 16 O Vizinho Que Sorriu Primeiro img
Capítulo 17 Linhas que Não Devem Ser Cruzadas img
Capítulo 18 O Ponto Fraco img
Capítulo 19 O Que Ela Nunca Deve Ver img
Capítulo 20 A Confissão Que Não Deveria Ser Feita img
Capítulo 21 Quando o Corpo Reconhece Antes da Razão img
Capítulo 22 O Homem Que Não Está Aqui Para Ensinar img
Capítulo 23 Entre o Anjo e a Sombra img
Capítulo 24 O Primeiro Olhar img
Capítulo 25 Antes da Colisão img
Capítulo 26 Os Olhos Que Eu Nunca Esqueci img
Capítulo 27 O Controle Entre as Palavras img
Capítulo 28 O Peso de Ser Observada img
Capítulo 29 O nome que me Incomoda img
Capítulo 30 Disciplina é Sobrevivência img
img
  /  1
img

Capítulo 4 O Ceifador Desperta

O Ceifador

Alguns chamados não podem ser ignorados. Alguns destinos não perguntam, ordenam.

E quando o destino fala não importa se você está pronto. Ele não espera.

A paz? As pessoas insistem em chamá-la de abrigo, de alívio, de descanso. Mas eu sei a verdade, uma verdade que não aprendi em livros, nem em templos, nem pela boca de mestres:

Paz é apenas o intervalo entre duas guerras.

E naquele dia, bem antes das sombras caírem por completo, eu soube:

O intervalo havia terminado.

Eu estava na antiga sala de guerra, um lugar onde o tempo parecia se ajoelhar, onde o passado ainda respirava e o futuro parecia estar observando, paciente, inevitável.

As paredes eram feitas de pedra escura, ostentando mapas pintados à mão, rotas de invasões antigas, alianças mortas, nomes que já não existiam, mas ainda aterrorizavam. Espadas ancestrais estavam penduradas como sentinelas adormecidas e havia cheiro de coisas que não desaparecem:

Ferro, incenso queimado, sangue antigo misturado ao pó.

Memória.

Então veio o som de três batidas curtas. Não como um pedido, nem como cortesia, mas era um código. Um sinal de que estavam precisando de mim.

- Entre - disse, sem elevar a voz.

A porta deslizou e Kaito entrou.

Ele caminhava como alguém que sabia exatamente o espaço que ocupava no mundo e como fazê-lo parecer menor do que realmente era. Sua postura era impecável, as mãos firmes, a respiração tão controlada que parecia ter sido ensaiada.

Se existia alguém neste clã que entendia silêncio tanto quanto eu, era ele.

Ele não falou, não precisava. Apenas estendeu o envelope branco.

Nenhum selo, nenhuma assinatura, nenhuma marca externa. Mas tudo ali gritava intenção.

Eu peguei sem hesitar. O papel era fino e caro, escolhido com um propósito. Eu abri e existia apenas uma única frase:

"A flor morrerá primeiro."

Meu maxilar tensionou de imediato, não por medo, mas porque aquilo era familiar. Aquilo não era uma ameaça, nem um aviso, era uma promessa. Uma promessa antiga e eu sabia do que se tratava.

- Onde foi encontrado? - perguntei.

- No corredor próximo ao salão cerimonial - respondeu Kaito. - Foi Akio quem o viu primeiro.

Claro.

Não foi deixado escondido, foi deixado para ser visto, para gerar reação, para acender o medo, antes da lâmina.

- O patriarca já foi informado? - perguntei.

- Não. - respondeu ele. - Esperamos sua ordem.

Eu continuei encarando o papel por longos segundos, memorizando cada traço da caligrafia. Não apenas lendo as palavras, mas estudando a mente por trás delas.

A flor...

Não era um símbolo aleatório. Eles sabiam exatamente quem ela era.

A última Takayama.

A herdeira.

A promessa que o clã jurou proteger, mesmo antes de ela nascer.

E agora...

Ela era o alvo.

Eu dobrei o bilhete com precisão matemática, como se estivesse movendo uma peça de xadrez que já sabia que derrubaria reis.

- Avise o patriarca - ordenei. - Precisamos decidir o que vai ser feito.

Kaito assentiu apenas uma vez sem hesitar e deixou o cômodo.

Quando voltei a ficar sozinho, o silêncio retornou, mas já não era o mesmo silêncio.

Era o tipo que antecipa tragédia, aquele que grita sem fazer som. Que indica que em breve a lâmina vai ser levantada e o sangue estará prestes a cair.

A reunião aconteceu antes do pôr do sol.

Não havia salão cheio, nem velhos sentados sob bandeiras de séculos, ou discursos longos, e rituais formais.

Apenas quatro homens se reuniram na antiga sala de decisões, o lugar onde, na nossa linhagem, verdadeiras guerras começavam sem jamais serem anunciadas.

O patriarca estava sentado à cabeceira, silencioso, firme, com o peso de gerações estampado na postura. Seus olhos observavam tudo e diziam pouco. Era assim que ele governava, com silêncio que valia mais do que qualquer decreto.

À direita dele estava Akio, ainda com tensão no maxilar, e as mãos fechadas em punhos discretos. Ele tentava parecer contido, mas seu corpo denunciava outra coisa: sentimentos, aquilo que o cargo exigia que ele suprimisse. Ele nunca gostou de mim, e isso pouco me importa, porque para mim ele não era ninguém.

À esquerda, o General Hayato e escondido nas sombras, estava eu.

O último a entrar, a sombra do clã, a arma que nunca deveria existir à luz, mas que agora era necessária.

Ninguém desperdiçou tempo com formalidades. Foi o patriarca quem falou primeiro:

- Isso é oficial.

Ele tinha o bilhete nas mãos dobrado de forma perfeita, como se fosse mais testemunho do que papel. O general completou:

- O inimigo não está apenas testando limites. Está nos avisando que já atravessou.

Akio respirou fundo e o som pareceu um estalo dentro da sala.

- Se conseguiram entrar no templo, poderiam ter chegado até ela. - disse com a voz baixa, carregada de uma ameaça silenciosa.

O patriarca o olhou não para repreender, mas para conter. Depois, voltou-se para mim:

- Sua leitura?

Eu mantive a postura reta, e a voz impecavelmente controlada.

- Eles estão provocando. Querem que ajamos emocionalmente.

O general concordou com um movimento sutil da cabeça.

- Concordo. É uma estratégia antiga, desestabilizar antes de atacar.

Akio, porém, não aceitou tão facilmente.

- Então o que sugere? Que esperemos? Que façamos nada enquanto ameaçam a herdeira do clã? Yuna já perdeu demais, pai você precisa fazer alguma coisa.

Sua voz era um golpe emocional num ambiente onde a emoção era considerada fraqueza.

O patriarca ergueu uma mão e Akio silenciou. Então olhou pra mim. E a pergunta caiu como sentença.

- Ela precisa partir?

Eu não hesitei.

- Sim.

Akio se virou para mim com fúria, incredulidade e medo misturados.

- Escondê-la?

- Protegê-la. - corrigi, sem elevar a voz. - Não confunda uma coisa com a outra.

Akio parecia prestes a protestar, mas o general interveio, firme:

- Se ela permanecer aqui, a guerra começará dentro dos nossos muros.

O patriarca respirou fundo, não como quem reflete, mas como quem aceita o inevitável.

- E quem irá com ela? - perguntou.

Eu já tinha essa resposta antes mesmo de ser chamado à sala.

- Eu.

Akio deu um meio passo à frente, num reflexo possessivo, protetor.

- Por quê você? - a pergunta saiu entre dentes. - Pai, ele é um estrangeiro, nem faz parte do nosso clã.

- Akio, se contenha. E lembre-se aqui dentro, eu não sou seu pai, sou seu mestre.

Meu olhar permaneceu nele estável, impenetrável e finalmente respondi a sua pergunta:

- Porque sou eu quem pode mantê-la viva.

O silêncio que veio depois não foi de discordância. Foi o silêncio do entendimento.

O patriarca virou o bilhete entre os dedos e então falou com precisão de uma lâmina:

- Então está decidido.

Ninguém discutiu, não havia espaço para isso. A decisão não era escolha, era destino.

Mas uma verdade silenciosa pairou no ar:

Se alguém podia mantê-la viva, era aquele que o clã escondia do mundo.

A arma invisível.

A sombra treinada para matar.

O monstro criado para proteger.

Eu.

Hayato e eu saímos da sala e antes de tomarmos nossos rumos, ele disse:

- Ela não sabe quem você é.

Eu ergui o olhar direto no dele.

- Ela sabe - respondi. - Só não lembra de onde.

Kaito então perguntou com uma calma que só pessoas que viram morte de perto conseguem ter:

- E quando ela lembrar?

Eu não respondi.

Porque a resposta, a única possível, mudaria tudo. E não era hora. Ainda não.

Enquanto o conselho se dissolvia e os guerreiros assumiam suas posições no templo, uma lembrança rompeu minha mente nítida, afiada, impossível de esquecer.

Eu criança, com não mais que seis anos. Coberto de sangue, sangue que não vinha só de mim.

Kaito me encontrou e quando me viu não recuou, não temeu ou tentou me acalmar. Ele olhou diretamente para aquilo que eu era e aquilo que eu ainda seria. E disse uma frase:

- Se levante.

Eu levantei e nunca mais caí.

Horas depois, quando o templo dormia, caminhei até o jardim. Não por hábito, mas porque alguém sempre me chamava.

E lá estava ela.

Yuna.

A lua desenhava sua pele como porcelana viva, seu vestido fluía como água. Seus cabelos longos tão negros quanto o céu sem luar, dançavam ao vento.

Ela parecia parte do templo. Parte da noite. Parte do destino.

Ela não falou com a água, falou com o vazio entre nós.

- Onde você está... meu anjo?

Meu peito apertou, mas eu não me movi. Porque se ela me enxergasse agora se me reconhecesse antes da hora, todo o meu controle ruiria.

Ela respirou fundo e continuou:

- Eu sei que não estou sozinha - disse.

Antes de partir, deixei algo sobre sua cama.

Um bilhete e uma frase que lembrava de uma promessa antiga:

"Durma. Enquanto eu vigio, nada a tocará."

Depois deixei o templo enquanto o ar ainda carregava perfume de sakura e destino. E enquanto caminhava silencioso pela noite, uma verdade cortou a escuridão:

A paz acabou e agora o jogo começou. Mas não era o inimigo o que mais ameaçava meu controle.

Era ela.

A flor marcada para ser destruída ou a única capaz de destruir o Ceifador.

Anterior
            
Próximo
            
Baixar livro

COPYRIGHT(©) 2022