O telefone dela foi direto para a caixa postal. De novo. E de novo. Um pavor gelado se infiltrou em minhas veias. Onde ela estava?
Peguei minha cigarreira, uma necessidade desesperada de nicotina. Vazia. Joguei-a do outro lado do carro, uma onda de irritação. Então, lembrei-me de Helena, de seus pequenos gestos atenciosos. A latinha de balas de menta artesanais que ela deixava na minha mesa, um lembrete gentil quando notava que eu estava pegando um cigarro. Ela sempre dizia: "Estas são melhores para seus pulmões, querido."
Querido. A palavra ecoou em minha mente, um fantasma de uma memória. Ela não estava aqui. Ela não deixaria mais balas de menta na minha mesa.
A voz de Larissa, estridente e insistente, cortou meus pensamentos. "Ela é culpada, Arthur! É por isso que não está atendendo! Ela está com medo! Você tem que denunciá-la! Mande prendê-la!" Ela se inclinou, sua voz baixando para um sussurro teatral. "Se você não fizer isso, Arthur, eu juro... eu vou embora. Eu vou embora. Não posso ficar aqui, não com ela tentando me destruir."
Minha cabeça latejava. Ameaças. Sempre ameaças. Da vítima. Daquela a quem eu devia tudo.
"Eu vou resolver isso, Larissa", eu disse, minha voz tensa. "Apenas... volte para a cobertura. Eu vou lidar com isso."
Ela olhou para mim, confusão em seus olhos. "Voltar? Para onde?"
Um estranho mal-estar se instalou em mim. "Para a cobertura, claro. Onde mais?"
Ela olhou ao redor do interior opulento do carro, depois de volta para mim. "Arthur, querido. Eu moro lá. Com você. Há semanas."
Meu sangue gelou. A cobertura. Nossa cobertura. Minha casa com Helena. E Larissa estava morando lá. Há semanas.
Uma onda de náusea me invadiu. Isso não estava certo. Nunca esteve certo.
Chegamos à cobertura. Estava silenciosa, estéril. Silenciosa demais.
"Onde está a Helena?", exigi, minha voz afiada, meus olhos percorrendo os cômodos vazios.
A governanta, uma senhora idosa e gentil que estava com Helena desde o nosso casamento, torceu as mãos. "Sr. Montenegro, a Sra. Montenegro... ela não voltou desde que o senhor a... removeu." Sua voz tremeu ligeiramente. "Ela estava tão fraca, senhor. Depois de ficar naquele quarto..."
Meu coração deu um salto. Aquele quarto. O quarto de isolamento. Eu a tranquei lá. Por três dias. Sem comida, sem água. E eu havia esquecido. Eu realmente havia esquecido.
Larissa, sempre a oportunista, deu um passo à frente, sua voz doce. "Ela só está sendo dramática, Arthur. Tentando chamar sua atenção. Ela vai voltar. Ela sempre volta." Ela olhou para a governanta, um aviso em seus olhos. "Ela provavelmente está apenas emburrada em algum lugar."
Emburrada. A palavra parecia errada. Tão completamente errada.
Lembrei-me dos "humores" de Helena, de suas "birras", de seus "pequenos ataques". As vezes em que descartei sua raiva, sua dor, como petulância infantil. Eu sempre acreditei que ela voltaria, se desculparia, se derreteria em meus braços. Porque ela me amava.
Meu olhar caiu sobre o sofá de pelúcia cor de creme na sala de estar. O favorito de Helena. Larissa estava esparramada nele, um sorriso satisfeito no rosto. Uma raiva súbita e irracional surgiu em mim. Ela estava no lugar de Helena. Na casa de Helena.
Virei-me, a raiva se agitando na minha barriga. Refugiei-me no meu escritório, desesperado pela solidão.
Na manhã seguinte, entrei na sala de jantar, um pingo de esperança no peito. Talvez ela estivesse de volta. Talvez tivesse caído em si.
E lá estava ela. Sentada na cabeceira da mesa, tomando café, o cabelo despenteado, vestindo o roupão de seda de Helena.
Larissa.
Meu rosto se contorceu em um rosnado. "O que você está fazendo com isso, Larissa?" Minha voz era baixa, perigosa.
Ela ergueu os olhos, arregalados. "Estava frio, Arthur. E é só um roupão." Ela sorriu, uma curva fraca e inocente em seus lábios. "Pensei que você me disse para me sentir em casa."
"Tire isso. Agora." Minha voz era um rosnado suave. "Helena tem uma alergia delicada a certos perfumes. Ela não gostaria que suas roupas ficassem contaminadas." Era mentira. Helena não era alérgica a nada. Mas o pensamento do cheiro de Larissa no roupão de Helena, na pele de Helena, me revirava o estômago.
Larissa fez beicinho. "Arthur, você está sendo tão mesquinho! É só um roupão. Além disso, você me disse que eu poderia ter qualquer coisa. Você me disse que esta era minha casa. Que finalmente ficaríamos juntos, como sempre quisemos." Seus olhos se encheram de lágrimas. "Você disse que se casaria comigo, Arthur. Quatro anos atrás. Antes de se casar com ela."
Congelei. As palavras pairaram no ar, densas com história não dita. A promessa. A dívida. A razão de tudo.
Esta também era a casa de Helena. O pensamento, nítido e claro, perfurou a névoa da minha obrigação. Minha casa com Helena.
Tirei minha carteira, pegando um cartão preto. "Vá às compras, Larissa. Compre o que quiser. Um guarda-roupa novo. Um apartamento novo. Qualquer coisa."
Ela pegou o cartão, os olhos arregalados de ganância, suas lágrimas imediatamente esquecidas. Ela me observou sair, um brilho triunfante em seus olhos.
Dias se transformaram em semanas. Todas as noites, eu entrava na cobertura, meus olhos percorrendo os cômodos vazios, uma ansiedade roendo minha barriga. Nenhuma Helena. Meus dedos pairavam sobre o contato dela no meu telefone, noventa e nove vezes, mas nunca disquei. Eu não sabia o que dizer.
Então, Larissa ligou, sua voz estridente e em pânico. "Arthur! Me ajude! Ela está aqui! Ela vai me matar!"
Meu coração pulou para a garganta. Helena. Minha mente pintou um quadro aterrorizante: Helena, louca de raiva, finalmente perdendo o controle. Peguei minhas chaves, saindo correndo da cobertura. Eu tinha que encontrá-la. Eu tinha que detê-la. Eu tinha que vê-la.
Corri para o endereço que Larissa me dera. Um distrito de armazéns abandonados. Encontrei-a amarrada a uma cadeira, os olhos arregalados de medo. E então, eu o vi. O homem mascarado, de pé sobre ela.
"Helena!", rugi, minha voz rouca de desespero. "Onde ela está?!"
Larissa gritou: "Arthur! Ela estava aqui! Ela tentou me matar! Ela me ameaçou!"
Corri para Larissa, cortando suas amarras. O homem mascarado, agora subjugado pela minha segurança, soltou: "Ela me pagou! A que te ligou! Ela me pagou para forjar o sequestro dela!"
Encarei-o, depois Larissa, que agora chorava dramaticamente em meus braços. Uma certeza fria e arrepiante se instalou em mim. As mentiras. A manipulação. O drama constante. Era tudo ela.
Olhei para Larissa, olhei de verdade para ela. Seu rosto, desprovido de emoção genuína, era uma máscara de medo calculado. A verdade, nua e brutal, me atingiu com a força de um maremoto.
"Levem-na", ordenei, minha voz plana, apontando para Larissa. "E me tragam a Helena. Agora."
Eu tinha que vê-la. Eu tinha que falar com ela. Eu tinha que me desculpar. Meu coração doía com uma saudade que eu não percebera que existia, uma necessidade desesperada de sua presença.
Cheguei à casa dos pais dela, ajeitando a gravata, tentando parecer composto. Era a primeira vez que me importava com minha aparência em semanas. Uma risada irônica e autodepreciativa me escapou. Que patético. Totalmente patético.
A governanta, ao me ver, ofegou, os olhos arregalados de choque. "Sr. Montenegro? O senhor está aqui?"
Lembrei-me das inúmeras noites em que deixei Helena aqui, sozinha, nesta casa grande e vazia, enquanto eu perseguia minhas próprias ambições. Minha barriga se revirou de culpa.
Os pais de Helena, geralmente tão solícitos, me cumprimentaram com olhares frios e distantes.
"Onde está a Helena?", perguntei, minha voz tensa. "Preciso falar com ela."
A mãe dela olhou para o pai, uma comunicação silenciosa passando entre eles. Então, o pai dela, com o rosto sombrio, disse: "Ela não está aqui, Arthur. E, francamente, não é mais da sua conta." Ele fez uma pausa, sua voz cheia de uma dignidade silenciosa. "Você e Helena estão divorciados."
Meu mundo inclinou. "Divorciados? Do que vocês estão falando? Não! Isso não é possível! Ela só... ela só está com raiva. Ela sempre diz isso quando está com raiva."