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A Apatia Dele, A Aurora da Liberdade Dela
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Capítulo 2

Ponto de Vista: Helena

Meus dedos doíam de tanto apertá-los. Eu estava relendo as postagens antigas de Larissa nas redes sociais, um buraco se formando no meu estômago. Tudo era público, exposto para o mundo ver, mas eu tinha sido cega.

Suas postagens eram uma crônica de um amor perdido, um anseio por algo que ela havia abandonado. Havia fotos borradas de um Arthur mais jovem, o braço em volta dela, um sorriso genuíno no rosto. As legendas falavam de um futuro compartilhado, de sonhos desfeitos.

Uma postagem, com data de quatro anos atrás, chamou minha atenção. Uma foto dela em um avião, o rosto manchado de lágrimas, mas resoluta.

"Deixando tudo para trás. Pelo futuro dele. Mesmo que signifique sacrificar o meu. Algumas dívidas nunca podem ser pagas."

Dívida? Que dívida?

Outra postagem, da mesma época: "Ele se meteu em tantos problemas por minha causa. A família dele... eles ficaram furiosos. Mas ele me defendeu. Ele sempre me defende."

Um pavor gelado se infiltrou em minhas veias. Isso não era apenas uma amizade de infância. Era algo muito mais profundo, muito mais emaranhado. Ela falava de sua felicidade sendo sacrificada pelo potencial dele, uma mártir no amor.

Então, as postagens mudaram. Um ano atrás, uma enxurrada de atividades, todas centradas em um divórcio conturbado. "Meu coração dói, não pelo que perdi, mas pelo que ele pode perder por minha causa. Ele merece muito mais."

E então, o golpe final. Um comentário de um amigo em comum, respondendo ao lamento de Larissa: "Fica tranquila, seu Arthur vai casar logo. Faz parte do plano. Você vai ficar segura."

Meu sangue gelou. O meu Arthur? Casando logo?

Rolei a tela mais para baixo, meu polegar um borrão. Uma semana depois, outra postagem de Larissa. "Livre. Mas a que custo? Ele escolheu outra. Eu deveria estar feliz. Mas me sinto... vazia."

A data. A data do divórcio dela. Era exatamente o mesmo dia do meu casamento com Arthur.

Uma dor lancinante, aguda e súbita, rasgou meu peito. Não era uma metáfora. Foi um rasgo físico, um horror visceral. Eu não era casada com Arthur porque ele me amava. Eu era um peão. Uma condição. Ele se casou comigo para que Larissa pudesse se libertar de um casamento ruim, um casamento que aparentemente tinha algo a ver com os "problemas" em que Arthur se meteu por ela.

Eu era o preço. A ferramenta. A solução conveniente para a culpa dele e a fuga dela.

Levei as mãos à boca, abafando um grito. Senti-me usada, barata, descartada. Cada gesto grandioso, cada ato aparentemente amoroso, se transformou em uma zombaria grotesca.

Minha mente girava. Saí de casa, sem nem me lembrar de pegar as chaves do carro. Apenas andei. Minhas pernas se moviam sozinhas, me levando pelas ruas desconhecidas de Lisboa, o vento frio cortando minha pele exposta. Eu estava entorpecida. Desorientada.

Tentei chamar um táxi, mas minha voz não saía. Eu não tinha nada. Nem carro, nem carteira, nem senso de direção. Eu estava verdadeiramente perdida. Dependente.

Naquele momento, um carro preto elegante parou ao meu lado. O carro de Arthur. Ele e Larissa estavam dentro, seus rostos iluminados pelos postes de luz. Larissa olhou para mim, um sorriso fugaz, quase imperceptível, em seu rosto, antes de virar rapidamente a cabeça e pressionar a mão na testa.

"Arthur", ela murmurou, com a voz fraca. "Minha cabeça... está latejando."

A expressão de Arthur mudou imediatamente de preocupação para alarme. "Larissa? O que foi? Você está bem?" Ele a puxou para mais perto, sua mão acariciando seu cabelo.

"É só... um pouco de tontura", ela sussurrou, encostando-se nele. "Todo esse... drama. Eu só quero ir para casa."

Os olhos de Arthur, cheios de uma ternura profunda e protetora, encontraram os meus por um breve e fugaz momento. Ele parecia dividido, mas apenas por um segundo.

"Claro", disse ele, sua atenção de volta em Larissa. "Vamos para casa. Não se preocupe com nada." Ele olhou para mim então, sua expressão endurecendo. "Helena, vou mandar um motorista para você. Apenas espere aqui."

Ele não esperou minha resposta. Nem mesmo olhou para mim de verdade. Ele apenas puxou Larissa para mais perto, sussurrou garantias e depois partiu, me deixando parada na calçada.

Larissa virou a cabeça enquanto eles se afastavam, a mão ainda pressionada na testa, mas seus olhos, frios e triunfantes, encontraram os meus. Uma mensagem silenciosa. Ela havia vencido.

Uma risada amarga escapou dos meus lábios. Ele havia mandado um motorista para mim. Como se eu fosse um pacote a ser entregue. Fiquei ali, a fumaça do escapamento ardendo em meus olhos, observando as luzes traseiras deles desaparecerem na distância.

Finalmente consegui chamar meu próprio táxi, muito mais tarde. O motorista que Arthur prometera nunca apareceu. Ele havia esquecido. Assim como havia me esquecido.

Paguei o motorista e entrei em casa. Risadas. A risada dele. Ecoava pelos corredores, quente e genuína.

Ele estava na sala de estar, abraçando Larissa, acariciando seu cabelo. Ela estava aninhada contra ele, um cobertor em volta dos ombros. Ele murmurava palavras reconfortantes, sua voz tão gentil, tão cheia de cuidado.

"Você deveria descansar um pouco, Lena", disse ele, sem nem virar a cabeça quando passei. "Você parece cansada."

Eu apenas assenti, meu coração uma concha oca. Eu não pertencia aqui. Não mais. Subi a grande escadaria, cada degrau um testemunho da ilusão em que eu havia vivido.

No meio do caminho, um arrepio percorreu meu corpo. Espirrei, um som fraco e patético. Eu estava com frio. Tão completamente fria.

Abri a porta do nosso quarto, o santuário que nunca foi verdadeiramente meu. Minha decisão estava tomada.

"Arthur", eu disse, minha voz cortando a calma forçada da casa. Ele ergueu os olhos, surpreso. "Eu quero o divórcio."

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