Capítulo 2 1 - Dimitri.

2 anos depois.

Meu despertador se manifesta às 6:00 com as notícias do tempo, desligo-o me sentando na cama. Sinto um movimento atrás de mim e olho nesta direção. Leila me encara sonolenta. Sorrio e faço um carinho no rosto de minha esposa.

- Durma mais um pouco, querida. Eu peço pra Amélia te acordar às oito.

Ela faz um gesto com a cabeça concordando e se ajeita na cama, se encolhendo toda sob a coberta. Eu me levanto, mal dou dois passos longe da cama, ouço um choro de criança. Um sorriso involuntário surge em meu rosto. Olho para Leila e a vejo jogar o cobertor por cima da cabeça, tentando ignorar o choro. Eu rio dela e saio deixando a porta aberta.

Abro o quarto em frente ao meu e acendo a luz encontrando meu garotão de pé no berço chorando. Assim que me vê ele para de chorar e fica me olhando, esperando eu pegá-lo.

- Oi garotão, acordou cedo hoje.

Ele pisca pra mim coçando os olhinhos e estende os bracinhos para cima, para eu pegá-lo. Tiro-o do berço e ele deita a cabeça no meu ombro enquanto saio do quarto. No corredor, sigo na direção da escada e Thedy levanta a cabeça e bate em meu rosto, fazendo eu olhar pra ele.

- O que foi filho?

Ele olha para trás e aponta o corredor.

- Naniie, Naniie.

Sinto uma tristeza me atingindo.

- Ela não está aqui.

Volto a caminhar na direção da escada e ele se debate no meu colo, chorando.

- Nani, papa. Naniie! Qué Naniie...

- A Annie não tá aqui, bebê.

Desço a escada indo em direção a cozinha, para fazer o mingau dele, ele ainda chora e repete o nome dela, esticando a mão na direção do seu quarto, mexendo os dedinhos como se estivesse a chamando. Eu o entendo, até tenho um pouco de inveja, por não ter menos de dois anos, eu queria gritar como ele. Também sinto falta dela, muita. Digo isso a ele quando entro na cozinha.

- Eu também estou com saudade da Annie, Thedy. Mas não sei onde ela está.

Meu filho me encara em silêncio por alguns segundos. Seus olhos cinzas presos nos meus e sinto algo acontecer entre nós dois. Acho que ele entendeu o quanto eu também sinto falta dela, o quanto estou preocupado. Então ele pisca, desvia o olhar e volta a chorar dizendo que quer a Annie. Caminho pela cozinha o balançando em meu colo tentando acalmá-lo. Amélia, minha governanta, aparece e se oferece para segurá-lo.

- Bom dia, Amélia. Deixe ele comigo. Você pode fazer o mingau, por favor?

- É claro, sr Sinclair.

Abraço meu filho bem apertado, ele vai se acalmando e deixa de gritar, agora chora baixinho, soluçando com o rosto apoiado no meu ombro. Passo a mão em sua cabeça vezes seguidas, alisando seu cabelo e me vem várias lembranças de vezes em que fiz o mesmo com a Annie. Será que eu a perdi? Uma lágrima escorre por meu olho e rapidamente a enxugo. Que droga Sinclair, você não é uma criança para chorar.

Coloco Theodore na cadeirinha dele. Amélia traz o mingau e começa a alimentá-lo. Sorrio vendo ele batendo as mãozinhas no suporte da cadeira, brincando como se não estivesse fazendo manha a 2 minutos atrás.

- Alguma chance de você dormir depois de comer garotão?

Ele vira para mim, parece me estudar por um momento, então volta a bater no suporte e dá um gritinho infantil. Eu e a senhora Jones rimos. Levanto os braços como se estivesse me rendendo.

- Ok, entendi. Considere minha corrida cancelada.

- Pode ir, sr Sinclair. Eu fico com ele. - Minha governanta se oferece, mas sei que não é o trabalho dela, não quero abusar ainda mais de seus serviços.

- Não se preocupe, Amélia. Eu não queria sair neste frio.

Ela sorri e continua dando o mingau pro Thedy. Quando ele termina de comer ela recolhe o potinho e me pergunta o que eu quero pro café. Digo que só vou comer mais tarde. Meu filho olha de um para o outro e percebo que está ficando inquieto. Pego ele no colo.

- Vamos tocar?

Levo-o para a sala e me sento ao piano com ele sentado em minha perna. Começo a tocar e perco a noção do tempo. Quando paro, vejo Leila a alguns passos de mim. Ela já está vestida e maquiada, se aproxima mais, pega Thedy sorrindo pra mim e o cobre de beijos. Ele dá gargalhadas me fazendo sorrir feito bobo.

- Acho que está atrasado, senhor. – Ela me diz.

Olho o relógio e vejo que são mais de 7:30, tenho que correr pro trabalho. Subo e tomo um banho rápido, coloco meu terno azul marinho e desço para o café. Leila está a mesa, não vejo Thedy por perto. Sento-me de frente a ela. Amélia me traz um copo de suco de laranja e um pedaço de bolo. Enquanto eu como, vejo que minha esposa está muito quieta.

- O que há de errado, querida?

- Jéssica me ligou mais cedo. - ela diz meio hesitante.

Sinto uma onda de preocupação me atingir, Jéssica não costuma acordar cedo, muito menos ligar para alguém a essa hora.

- O que aconteceu? – digo me preparando para uma noticia ruim.

- Ela teve um sonho com a Annie, ligou para saber se há notícias .

- Nenhuma. Mas vamos encontrar ela logo.

Leila me olha como se eu fosse um louco, como se fosse absurdo eu pensar assim.

- O Thedy estava chamando por ela hoje quando acordou. - digo meio que me explicando - A Jéssica sonhou com ela. Quem sabe não é um sinal de que vamos achá-la?

- Não vejo relação entre estas coisas - responde Leila - Eu quero que ela apareça bem e logo. Mas não acho prudente descartamos a possibilidade de que talvez ela não volte.

- Entendi. - falo encerrando o assunto. Não consigo sequer cogitar o que ela está insinuando. Termino de comer e levanto. - Você vem comigo?

- Não, eu vou visitar alguns clientes hoje. Preciso do carro.

Recebo um daqueles sorrisos lindos que só ela tem. Acho que quer se desculpar pelo comentário infeliz. Vou até ela e a beijo carinhosamente, depois lhe desejo um bom trabalho, ela me diz o mesmo.

Vejo Aaron à porta, me esperando com minha pasta na sua mão, vamos juntos em direção ao elevador na entrada. No caminho passo por Thedy, que está andando pela sala segurando a mão da babá, dou um beijo na testa dele e entro no elevador com Aaron.

- Alguma notícia de Anabelle? – pergunto a ele.

- Não tenho nenhuma, senhor.

- Me diga, caso fique sabendo de alguma coisa.

- Claro . Vou entrar em contato com o investigador e saber se surgiu alguma pista.

- Faça isso. - respondo friamente. Em meu íntimo faço uma prece desejando que ela esteja bem.

            
            

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