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Cheguei ao escritório pouco antes das 9 horas, não gostava de chegar tão tarde assim, a empresa já estava a pleno vapor nessa hora, cada um fazendo seu trabalho. Gosto de chegar cedo e observar meus funcionários chegando, ver como se atrapalham com as primeiras tarefas do dia como ligar o computador ou procurar os documentos que vão usar antes de colocar na mesa...
Enfim, chego ao meu andar e encontro minhas secretárias trabalhando, Andressa está concentrada em seu computador enquanto Eduarda tem uma série de pastas espalhadas a sua frente, com documentos empilhados ao lado delas. Me pergunto o que ela estaria fazendo, ela tem uma certa tendência a se meter no que não é da conta dela.
As duas só me notam quando paro em frente a mesa de Andressa, ela me dá um sorriso bastante profissional e me deseja bom dia, eu repondo ao seu cumprimento com um aceno de cabeça.
- Está tudo bem aqui por aqui?
- Sim, senhor Sinclair. Tudo em ordem.
- Ótimo. Diga a Rosângela para vir a minha sala. - Digo a ela e saio em direção ao meu escritório.
- Senhor Sinclair? - Eduarda me chama, sua voz soando um pouco insegura. Viro pra ela. -A sra Rosângela não se encontra na empresa. Ela esteve aqui há uns 20 minutos e avisou que estava indo para uma reunião com investidores, vai retornar depois do almoço.
Não faço ideia de quem possam ser os investidores com quem Rosângela, minha vice-presidente, tem reunião, mas isso não é de interesse de Olivia, portanto apenas aceno em confirmação e vou pra minha sala fazer meu trabalho.
Há duas semanas atrás, a velha interesseira, também conhecida como a avó de Annabelle, entrou em contato dizendo que minha pequena desapareceu. A desgraçada falou como se estivesse dizendo que perdeu um anel ou a identidade.
Tanto ela como eu, esperávamos que Annie voltasse pra minha casa, ou pelo menos me ligasse. Mas a menina realmente desapareceu. A polícia está fazendo buscas sem sucesso, há dez dias. Meu investigador pessoal e sua equipe, há doze. Até agora nenhum rastro.
Na primeira semana, fui até o sítio da velha, a acompanhei na hora de registrar o desaparecimento, notifiquei todas as autoridades. Telefonei ou visitei cada pessoa que Annie conhecia.
Procurei por ela na antiga casa que os falecidos pais dela moraram. Bati na porta de todos os vizinhos da velha. Acompanhei buscas na mata ao redor do sítio. Foram dias intermináveis, nenhum sinal.
Com a falta de pistas e a certeza que tinha contratado a melhor equipe possível para achá-la, finalmente retornei à minha empresa. Estava atolado de trabalho atrasado.
Por volta das 11 horas, o telefone em minha mesa toca e, só então, percebo que ele não havia tocado a manhã inteira.
- Sinclair. - atendo.
- Sr Sinclair, gostaria de pedir algo para o almoço?
- Não, Andressa. Vou almoçar fora.
- Tudo bem. É um bom momento para passarmos a agenda da tarde?
- Achei que eu estava livre pra trabalhar esta tarde. - Ela ri do meu comentário e eu suspiro frustrado pelos compromissos que terei. - Bem, se temos que fazer isso, por favor traga a agenda.
Dois minutos depois, ela bate na porta de minha sala e entra com um tablet nas mãos, um sorriso condescendente para mim, o que me faz notar o quanto sou odioso com minhas secretárias. Elas são as melhores no que fazem, bem Eduarda nem tanto, mas as duas se esforçam para apresentar um bom trabalho e eu dificultando a vida delas com meus caprichos.
Mas que culpa eu tenho de não gostar de repassar agenda? Tenho mais de meio milhão de funcionários e ainda assim sou obrigado a ir em reuniões com os clientes? Pra que eu pago esse pessoal todo então?
- Então, o que você tem aí pra me impedir de me concentrar no trabalho hoje? - Sorrio para ela com a intenção de amenizar a acidez do comentário, mas ela não se afeta pelo meu sorriso. Uma das razões pela qual ela ainda trabalha comigo.
- O senhor tem duas entrevistas. Businnes e Forbes.
- Por que eu daria duas entrevistas no mesmo dia?
- O senhor disse ao Sam que cederia uma única tarde pra atender o pedido dele de melhorar sua relação com a imprensa. Ele quis aproveitar essa deixa pra atender as duas maiores editoras, como resultado, o senhor tem duas entrevistas.
Sam é o RP da minha empresa, ele deveria se ocupar em divulgação de comunicados a imprensa quando eu fizesse alguma aquisição ou fusão importantes e quando há lançamentos de novos produtos, mas aí ele começou a lidar com as importunices de notas falsas me envolvendo, matérias especulativas sobre fotos tiradas por paparazzi, os rumores sobre o meu casamento, o nascimento do meu filho e quando percebi ele já comandava um departamento inteiro, cujo objetivo é me manter como alvo da atenção de repórteres. Pelo menos dessa vez é pra falar de trabalho.
- Certo, a que horas vão ser as minhas sessões de tortura?
- A primeira entrevista é às 13h30 e a segunda está marcada para 15h.
Fecho a cara pra ela quando me informa os horários, eu pretendia almoçar com o Thomas e fazer ele me explicar porque está demorando para encontrar Annie. Mas eu não vou ter tempo pra fazer isso com um compromisso às 13h30.
Terei que esperar até o fim do expediente, o que significa ir pra casa mais tarde e passar menos tempo com meu filho. Acho que Andressa não é tão eficiente assim afinal.
- Mais alguma coisa que eu deva fazer hoje?
- Não, são seus únicos compromissos.
- Ótimo. De qualquer forma, terei que mudar meus planos pro almoço. Providencie algo pra eu comer aqui. E, por favor, não volte a marcar compromissos entre 11 e 14 horas sem me consultar. Tenho certeza que já pedi isso.
- O que o senhor gostaria de comer?- Ela deliberadamente ignora minha bronca.
- Apenas peça algo, Andressa, não me faça perder tempo com isso.
Viro minha cadeira de volta pro computador e continuo analisando o orçamento de um projeto, dando as costas pra ela que sai discretamente. Mas pra trazer um pouco de diversão pro meu dia, alguma delas esqueceu o ramal ligado e a ouço resmungar com Eduarda quando retorna a sua mesa.
- Me lembre de estrangular o Sam quando eu o ver de novo, não teria que ouvir essas coisas se eu não caísse na conversa dele. Você vai pedir comida?
- Daqui a pouco.
- Peça um a mais do que for comer, o senhor mandão não quis escolher o cardápio hoje.
Eu controlo minha vontade de rir e pressiono o botão no telefone em minha mesa.
- O senhor mandão gostaria de um café enquanto espera o almoço.
Solto o botão e sorrio olhando pro aparelho a minha frente, é o suficiente pra elas saberem que eu escutei.
Meia hora depois Eduarda traz meu almoço, eu como salmão ao molho de maracujá com batatas gratinadas e salada escocesa. Estava delicioso, mas faltou um vinho, eu não consumo bebida alcoólica dentro da empresa, então tive que me conformar com a coca-cola que ela trouxe.
O resto da tarde corre bem e as entrevistas são um sucesso, quer dizer, os dois entrevistadores fizeram praticamente as mesmas perguntas e eu quase morri de tédio durante a segunda.
Não consegui entrar em contato com o Thomas. Então avisei Aaron que desceria pra irmos de volta pra casa.