Capítulo 3 Tristan Slater

Tristan

Quando ela voltou ,segundos depois, tinha uma toalha úmida na mão

Quando ela voltou ,segundos depois, tinha uma toalha úmida na mão.

- Deite aqui . Vou limpar o corte e tentar conter o sangramento. -Ela puxou o colchão até deixá-lo do meu lado e ficou de joelhos ao lado dele , esperando eu fazer o que ela pediu.

Eu fiz. Me deitei no colchão.

Erguendo a minha camisa para expor o ferimento , ela passou a toalha úmida com cuidado sobre ele.

-Droga. Tem muito sangue aqui. -Ela descartou a toalha de lado e se levantou para pegar alguma coisa em uma mochila que logo vejo que se trata de mais uma toalha e uma camisa de manga longa.

-Será que você pode erguer um pouco o quadril ? Vou fazer uma compressão para conter o sangramento. -Ela perguntou ao enrolar a camiseta até fazê-la parecer uma corda.

Novamente, eu fiz o que ela pediu ,ergui o quadril e no segundo seguinte , ela passou a camiseta por baixo do meu corpo e antes de amarrar, dobrou a toalha e colocou no corte . -Agora , se puder , aperte a toalha sobre o corte com o máximo de pressão que puder para que eu possa amarrar a camiseta.

-Ela orientou concentrada e séria e eu não consigo deixar de pensar no quanto é uma garota linda. Linda , frágil e sozinha no mundo , à mercê de todos os tipos de perigo. Esse pensamento, estranhamente , me incomoda pra caralho.

-Ei , você consegue fazer o que eu pedi ? -ela perguntou me olhando com a testa franzida.

Inspirei fundo e cerrando os dentes, apertei a toalha dobrada no corte. Ela foi ágil e rápida ao fazer o nó. E depois caiu sentada ao meu lado como se a tarefa tivesse a deixado exausta.

-Obrigado. -eu disse.

Ela deu de ombros pro meu agradecimento e foi se sentar do outro lado do cômodo ,bem longe de mim.

- Então, fale sobre você. O que aconteceu pra você ter vindo parar nas ruas? -Eu pergunto e digo em seguida que só estou insistindo no assunto porque isso vai ajudar a distrair a dor e a me manter focado , mas não é toda a verdade. Eu quero saber mais dela.

- Quer que eu fale sobre mim só pra te distrair? - Ela franziu um olho, o que acabou transformando seu lindo rosto numa careta engraçada. E antes que diga algo em resposta ,ela acrescentou : - Deseja que eu cante e faça uma dancinha também ,ou só isso mesmo ?

Oh ,porra. Por essa eu não esperava.

Eu começo a rir e noto que ela também está rindo. Timidamente , mas está.

-Bom ,eu não pensei nisso, mas já que deu a ideia ... - Finjo analisar o assunto por alguns segundos e então com um olhar sério eu digo a encarando :- Claro , vá em frente. Mostre-me do que é capaz.

Ela arregalou os olhos e as suas bochechas ficaram vermelhas como fogo e então, ela balançou a cabeça se negando. -Não vou fazer isso .

Rindo eu a tranquilizei. -Tudo bem ,vou deixar passar a coisa da dança. Mas quero saber o que aconteceu com você. E não, não é só pra me distrair ,eu realmente quero saber. - digo e estou sendo sincero. Eu quero muito saber a história dela.

Algo nesta garota tirando o fato de achá-la linda , me intriga , me cativa e me atrai. E não é nada sexual. Por que de atracão sexual eu entendo muito bem porque é a única coisa que me atrai nas mulheres , e o interesse se evapora assim que a foda termina. É algo diferente. Não sei o que é , mas sei que nunca senti antes.

- Pra quem não fala nada sobre si mesmo ,você faz muitas perguntas. -disse ela,puxando os joelhos contra o corpo e os abraçando em seguida enquanto me olha meio ressabiada.

-Você não me perguntou nada. -sorrio.

Ela parece surpresa.

-Me responderia se eu perguntasse?

- Claro , porque não?

Ela assente e fica em silêncio por alguns segundos como se estivesse pensando o que perguntar primeiro.

-Você está fugindo da polícia ? É por isso que não pode ir para o hospital ?

- Não , não estou fugindo da polícia.

Ela franze a testa.

- Então , porque não quer ir pro hospital ?

- Porque certamente ,vai ser um dos primeiros lugares onde as pessoas com quem tive uma briga vão me procurar pra tentar terminar o que começaram. -respondo .

- Eles são o que ,uma gangue criminosa ?

- Quase isso. Na verdade, mais que isso. São de um grupo ligado a uma máfia poderosa.

-E você ? Também faz parte desse mundo criminoso ?

Sorri pelo fato de ela parecer envergonhada por ter feito a pergunta.

-O que você acha ?

Ela engoliu em seco ,mordeu o lábio inferior e só então respondeu num tom baixo:

- Que sim.

- Touché. -digo e noto que novamente , ela engoliu em seco.

-Você é, ..-ela hesita e olha para as mãos. E após um suspiro fundo , ela termina a pergunta.

- Matou alguém hoje ?

- Sim, mas, não me pergunte quantos matei porque eu não me lembro. Só sei que foram muitos. - eu disse e logo em seguida, perguntei :-Está com medo de mim agora?

- Não. -ela respondeu , mas ela está mentindo. Sei disso porque está tremendo. Ela tenta esconder os tremores ao abraçar os joelhos com mais força , mas os lábios trêmulos a denunciam.

O medo dela me incomoda. E saber que é de mim é pior.

Por que ?

Inferno ,eu não tenho ideia. Só sei que não gosto de vê-la ali ,encolhida e tremendo porque está com medo de mim.

Eu não devia ter dado tantos detalhes. merda. Eu não deveria ter falado nada pra começar. Eu nunca falo das minhas atividades ou qualquer assunto do clube senão com os meus irmãos. É uma umas das nossas regras não falar sobre os assuntos do clube com qualquer pessoa de fora dele.

Contudo aqui estou eu,

quebrando as regras. Falando pelos cotovelos e ainda com uma garota. Eu nunca falei tanto com uma garota em toda a minha vida. Geralmente, os meus diálogos com as mulheres são curtos e breves e sempre é antes das fodas. Nada de perguntas pessoais e menos ainda de cobranças depois de foder. Simples assim.

Então, porque diabos eu estou falando tanto com essa garota ? E por que diabos eu me sinto tão confortável com ela ? Isso não é bom. Ou é ?

Merda ,acho que o inferno está abrindo a passagem pra mim e é por isso que a minha mente está tão bagunçada.

-Eu esfaqueei um cara uma vez. -disse ela de repente.

Que porra ?

-Eu sei , parece meio inacreditável que eu tenha feito algo assim considerando que sou pequena e minha estrutura corporal parece delicada e frágil. Mas eu fiz. -disse ela.

-Eu não disse que duvidava. Só estou surpreso e admirado. -eu digo ,aliviado por ela estar falando comigo de novo.

Aliviado por estar falando comigo ? Mas que porra é essa ?

Eu desvio os meus olhos dela porque eu acabo de constatar que eu tenho outro problema aqui. Eu gosto de olhar pra ela. Olhar pra ela me trás um tipo de paz do qual eu desconheço , mas é bom. E é por ser bom que isso é um problema.

-Porque está me contando isso, afinal ? -uso um tom de desinteresse.

-Sei lá, achei que se você soubesse que não é o único que saiu matando por aí , não ia se sentir mais tão desconfortável como pareceu ficar depois que me contou. Bom, eu não matei , mas queria ter matado. Acho que Isso deve contar.

Oh ,porra, definitivamente, essa garota não é real. E estou me sentindo um idiota de novo. O arrependimento por eu ter tentado ignora-la chega a dar nó no meu estômago.

Que se foda se isso é ou não uma boa ideia.

Eu olho para ela.

- É , isso conta. Me sinto melhor.

Quem era o infeliz ?

- Um cara pra quem a minha mãe viciada me entregou pra ser estuprada para pagar as suas dívidas de drogas. - Um ar de dor pairou sobre o rosto dela.

Puta que pariu.

O meu sangue aqueceu subitamente a vários graus em minha veias , substituindo o cansaço que sentia por fúria.

-Ele ...- Fode -se ,eu mal consigo terminar a frase.

-Não. -Ela explicou rapidamente. -Eu consegui fugir depois que enfiei a faca no estômago dele.

Quando se tem uma mãe como a minha , viciada e negligente, que na maioria do tempo estava trocando sexo por drogas e não se lembrava que tinha uma filha , seria muito burrice da minha parte não pensar em me proteger. Então, sempre tinha uma faca comigo.

Além de linda é esperta e corajosa.

-E o que aconteceu depois? -Perguntei.

-Quando sai do trailer, desesperada pedindo por socorro , eu encontrei a minha mãe sentada no capô do carro de Santiago fumando um cigarro tranquilamente como se não tivesse escutado os meus gritos.

Até então , eu não acreditava que ela teria coragem de fazer aquilo comigo.

Eu sabia que uma hora ou outra, os homens com quem ela estava envolvida e devendo drogas ,iam tentar alguma coisa comigo , mas não que seria ela que me daria pra um deles.

Mas aí vendo ela ali ,tão tranquila ,eu soube que Santiago não tinha mentido . E pra piorar , quando ela me viu e viu o sangue nas minhas mãos ,veio até mim e me deu um forte tapa.

Disse que eu era uma vadia ingrata e que não ia se ferrar por minha causa. E que estava na hora de eu recompensá-la por me sustentar.

Pegou-me pelo cabelo e começou a me arrastar para dentro do trailer de novo para Santiago ter o seu pagamento. Eu lutei com ela e fugi. Dois dias depois , eu voltei no trailer. Esperei ela sair e entrei.

Peguei algumas mudas de roupas e os meus documentos e nunca mais voltei depois disso.

Então ,sem dinheiro e sem

ter qualquer pessoa para pedir ajuda, acabei ficando nas ruas mesmo.

Fode-se ,eu estou muito furioso.

-E o seu pai ?

"Onde se enfiou o seu pai de merda ? Era o que eu queria ter perguntado.

- Eu não sei dele . Eu tinha uns cinco ou seis anos quando ele nos deixou e nunca mais apareceu. E a minha mãe odiava que eu perguntasse por ele. Então ,eu parei de fazer perguntas.

- Que filhos da puta !

Ela arregalou os olhos diante do meu tom exaltado e brusco.

-Eu sinto muito. É que estou muito puto agora. Não com você. -Justifiquei a minha ira pra ela não pensar que é com ela que estou bravo. -Se eu encontrasse esse tal Santiago agora , antes de matá-lo eu cortaria o pau dele e o faria comer. E a sua mãe ... É melhor eu não dar os detalhes do que ela merece.

Ela curvou lentamente os lábios num sorriso ,e em seguida, olhou para o meu ferimento com um ar preocupado.

- Parece que o que eu fiz aí não adiantou muito coisa. Está sangrando de novo.

-Eu mesmo costuraria se você tivesse linha e agulha de costura disponível , mas você não tem , não é ?

Os olhos dela se arregalaram para mim.

-Você faria isso ? Custaria a si mesmo ?

Sorri com o espanto na voz dela.

- Sim ,e não seria a primeira vez.

Ela pensou por um momento e então disse :

-Eu não tenho ,mas se você me der dinheiro para comprar, sim. -disse ela lançando um olhar aflito na direção da porta. Quando ela percebeu o meu olhar sobre ela , rapidamente desviou os olhos para as mãos e engoliu em seco. Ela está desesperada pra dar o fora.

Quer saber? Fode-se! De qualquer maneira, se eu morrer alguém vai ficar com todo o dinheiro que eu tenho na carteira e no compartimento da minha moto mesmo. Então, que seja ela essa pessoa.

- Se eu deixar você ir , promete que não vai contar pra ninguém sobre mim ?

Os olhos dela se elevaram ,não sei se é de surpresa ou empolgação.

- Eu prometo que não vou falar nada pra ninguém e prometo que vou fazer o possível para não demorar muito pra voltar , está bem ? Enquanto isso, evite se mover para não sangrar muito.

Mas ,que porra ?Por que diabos ela está se esforçando tanto pra mentir pra mim se já conseguiu o que queria ? De qualquer maneira, finjo acreditar nela. Ela se aproxima e meio sem jeito ,joga um cobertor sobre mim.

- Vou confiar em você , pequena. E obrigado por me ajudar. -Eu segurei a mão dela e foi como se eu tivesse tocado em brasa.

Oh ,porra.

Ela livrou a mão do meu aperto com um puxão brusco , mas eu agarrei novamente. -Você está quente pra caralho . -Soltei a mão dela para sentir seu rosto que confirmou a minha suspeita. Ela estava com febre. Com muita febre.

Porra fodida ,eu sou um egoísta do caralho. Era por isso que ela estava tremendo e não porque estava com medo de mim como pensei.

-Eu estou gripada. -disse ela é neste mesmo instante, seu estômago roncou alto.

Se eu já estava me sentindo um fodido egoísta por não ter notado que ela está doente , saber que ela está com fome sabe lá desde quando só piorou a merda toda.

Tirei a carteira do bolso da minha jaqueta e dei pra ela. - Leve todo dinheiro que tiver aí com você.

Ela tirou duzentos dólares da carteira e guardou no bolso. -acho que é mais que suficiente para comprar tudo que preciso. -disse ela me devolvendo a carteira.

- Pegue tudo. -Eu disse.

Ela me olhou quase espantada.

- Porque eu pegaria tudo ? Deve ter o que aqui ? Dois mil dólares?

- Porque eu estou mandando você pegar. E sim , provavelmente deve ter isso. Eu não contei.

Ela franziu a testa e mordeu fortemente os lábios.

-Está bem. Já que insiste. - Pelo nervosismo na voz dela , eu estou certo. Uma vez que ela sair daqui não vai voltar. E eu nunca mais vou vê-la de novo.

Por que diabos isso me incomoda tanto ?

-Eu não demoro. -Ela parece tão verdadeira . Mas parecer não significa ser. Ela se levanta e se move ao redor do cômodo atrás de alguma coisa que logo vejo que se trata do tênis. Ela os calça apressada.

-Como é o seu nome? -Eu perguntei.

Ela sorriu.

-O que foi ? -Franzi a testa.

- Essa pergunta deveria ter sido a primeira que devíamos ter feito um pro outro , não é? Isso é, depois que a gente se entendeu.

Sorri , dando-me conta que não consigo resistir ao sorriso dela ,mesmo estando chateado por ela estar fazendo parecer que é não é despedida.

- Meu nome é , Alyssa. - As bochechas dela coraram lindamente.

-E o seu ?

-Tristan.

-Eu já volto ,Tristan. - Ela volta a garantir , sorrindo docemente.

-Sim , sra. Não vou sair daqui.

- Acho bom mesmo. - sorrindo ,ela

puxou o capuz sobre a cabeça , e se foi.

Adeus , doce Alyssa.

            
            

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