Capítulo 5 Correntes de respeito e desconfiança

Saí da cabine do capitão ainda usando o que parecia ser um lembrete constante de quão deslocada eu estava: meu pijama de cetim vermelho. O tecido macio e cintilante contrastava cruelmente com o ambiente áspero do navio, onde cada detalhe parecia ter sido moldado pela dureza do mar. Era impossível ignorar os olhares fixos dos marinheiros enquanto eu andava pelo convés, tentando me ajustar a uma realidade que parecia um pesadelo.

O peso da desconfiança

Os murmúrios começaram quase imediatamente.

- "É algum tipo de princesa?" sussurrou um marinheiro.

- "Ou uma sereia disfarçada," retrucou outro, os olhos arregalados fixos no brilho suave do cetim.

O calor subiu ao meu rosto, mas continuei andando, tentando não tropeçar no piso irregular de madeira. O tecido do pijama, tão confortável e familiar em outra vida, agora parecia um lembrete gritante da minha vulnerabilidade.

Foi então que ouvi a risada de James. Ele estava encostado em um dos mastros, braços cruzados, observando a cena com um sorriso malicioso.

- "Bem, bem," disse ele, aproximando-se. "Você realmente sabe como chamar atenção, não sabe?"

- "Talvez você devesse tentar se concentrar no que importa," retruquei, sem esconder o tom irritado.

James riu, claramente se divertindo.

- "Relaxe, princesa. A tripulação está apenas curiosa. Eles nunca viram algo como você antes."

- "Algo? Não sou um objeto, obrigada," respondi, cruzando os braços.

- "Não disse que era. Mas, admito, esse pijama... é um espetáculo," provocou ele, inclinando-se para observar melhor, seu sorriso ampliado pelo meu constrangimento.

Antes que pudesse responder, três homens se aproximaram.

Os homens de confiança do capitão

Miguel, o imediato do capitão, liderava o grupo. Ele era um homem alto e imponente, com cabelos grisalhos presos em um rabo de cavalo apertado. Seus olhos escuros me analisaram com uma mistura de curiosidade e cautela.

- "Sou Miguel, imediato do capitão," disse ele, com um sotaque espanhol marcado. "Esses aqui são William e Henry, homens de confiança. Estamos aqui para garantir que você fique longe de problemas."

Eu quase ri. Problemas? Eles estavam realmente preocupados comigo?

- "Não tenho intenção de causar problemas," disse, tentando soar mais confiante do que me sentia.

William, um homem mais jovem com uma cicatriz marcante no rosto, lançou um olhar desconfiado.

- "O capitão não compartilha sua confiança. Até que ele decida o que fazer com você, ficaremos de olho."

Henry, o terceiro, tinha uma expressão mais amistosa. Ele sorriu de canto e acrescentou:

- "Não leve a mal. Os homens aqui são supersticiosos. E, bom, uma mulher usando... isso... só torna as coisas mais complicadas."

Eu não sabia se ria ou chorava.

Miguel, no entanto, não parecia disposto a perder tempo com explicações.

- "Fique fora do caminho. Por seu próprio bem," disse ele antes de se virar e se afastar com os outros.

A influência do capitão

Mais tarde, enquanto estava sentada perto da proa, observando o mar e tentando entender como minha vida havia se tornado isso, vi Edward sair de sua cabine. Ele caminhava com a autoridade natural de alguém que sabia exatamente quem era e qual era seu lugar no mundo.

A tripulação imediatamente endireitou as costas, como se a presença dele fosse uma força gravitacional. O respeito que ele inspirava era evidente. Ele trocou algumas palavras com Miguel, que assentiu antes de se afastar. Então, Edward olhou diretamente para mim.

Por um breve momento, seu olhar foi indecifrável. Havia algo ali - preocupação, talvez? - mas desapareceu rapidamente quando ele se virou e continuou pelo convés.

James, o provocador

Na hora do jantar, quando todos se reuniram em torno da longa mesa improvisada no convés, James se sentou ao meu lado. Ele parecia determinado a me provocar, como sempre.

- "Sabe," começou ele, enquanto espetava um pedaço de carne. "Você é um mistério interessante, Sofia. Mas mistérios podem ser perigosos em um navio como este."

- "E provocações podem ser irritantes," retruquei, lançando-lhe um olhar irritado.

James apenas riu, inclinando-se mais perto.

- "Você tem espírito, eu dou isso a você. Mas cuidado, princesa. Esse espírito pode te colocar em apuros."

Antes que pudesse responder, senti a presença de Edward atrás de mim. Sua voz cortou a conversa como uma lâmina.

- "James, você não tem um turno no leme para cumprir?"

James endireitou-se, mas o sorriso zombeteiro permaneceu em seu rosto.

- "Claro, capitão," respondeu ele, levantando-se lentamente. Antes de sair, lançou-me um último olhar. "Boa noite, minha princesa de cetim."

Quando ele se afastou, Edward permaneceu por alguns segundos, observando-me. Seu olhar era firme, mas não hostil.

- "Espero que você saiba no que está se metendo," disse ele finalmente, antes de sair.

As palavras dele ficaram comigo, como um eco. Eu não sabia no que estava me metendo, mas uma coisa era certa: este navio era um caldeirão de tensão, e eu estava bem no meio disso.

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