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Eu sabia que, para sobreviver naquele navio, não bastava trocar de roupa ou confiar no capitão para manter a tripulação sob controle. Precisava provar que não era apenas uma mulher deslocada e inútil.
Na manhã seguinte, enquanto os marinheiros realizavam suas tarefas rotineiras, fui até o capitão Edward. Ele estava inclinado sobre um mapa em sua cabine, o sol iluminando seus traços sérios.
- "Capitão, eu quero ajudar."
Ele ergueu os olhos para mim, claramente surpreso.
- "Ajudar? E o que você acha que pode fazer por aqui?"
Respirei fundo, tentando não deixar o tom desafiador dele me abalar.
- "Me diga o que precisa ser feito. Qualquer coisa. Só me dê uma chance."
Edward estreitou os olhos, avaliando-me. Finalmente, ele assentiu.
- "Muito bem. Fale com Miguel. Ele está organizando os suprimentos no porão. Veja se consegue ajudá-lo."
Eu saí da cabine com o coração acelerado, ignorando os olhares curiosos dos marinheiros. Quando cheguei ao porão, Miguel me explicou o trabalho: organizar barris de água e alimentos, uma tarefa simples, mas que exigia força.
- "Se não aguentar, é só dizer, mocinha," brincou ele, piscando um olho.
Eu dei um sorriso desafiador.
- "Veremos quem não aguenta."
O Teste de Força e o Respeito Conquistado
A primeira hora foi exaustiva. Os barris eram pesados, e o calor do porão não ajudava. Meu pijama de cetim teria sido um desastre para isso, mas as calças e a camisa largas permitiam mais liberdade de movimento. Quando terminei de empilhar o último barril, meu corpo doía, mas uma onda de satisfação tomou conta de mim.
Ao voltar para o convés, suada e com as mãos cobertas de calos, percebi que os olhares da tripulação haviam mudado. Não eram mais apenas risadas ou provocações. Havia um respeito cauteloso ali.
- "Nada mal para uma dama," comentou um dos marinheiros, sorrindo.
Antes que pudesse responder, James apareceu, apoiado no corrimão do convés.
- "Olha só, a princesa resolveu trabalhar. Aposto que nem durou quinze minutos lá embaixo."
Eu estreitei os olhos para ele, sentindo a irritação crescer novamente.
- "Talvez você devesse tentar. Tenho certeza de que não aguentaria nem cinco."
- "É mesmo? Talvez eu devesse," ele retrucou, cruzando os braços e exibindo um sorriso irritante.
Enquanto ele falava, notei algo no braço dele: uma tatuagem intricada que parecia se estender do pulso até o ombro.
- "O que é isso?" perguntei, apontando para a tatuagem antes de me dar conta de que talvez estivesse sendo invasiva.
James olhou para o próprio braço e deu de ombros.
- "Curiosa, hein? É uma sereia. Dizem que traz sorte para quem navega."
Antes que pudesse processar a informação, um dos marinheiros que passava tropeçou em uma corda solta e esbarrou em mim. Perdi o equilíbrio e, no impulso de me segurar, agarrei o braço tatuado de James.
Ele se inclinou para me estabilizar, mas nosso movimento desajeitado me fez tropeçar novamente, batendo a cabeça no mastro.
- "Droga!" murmurei, massageando a testa.
James estava rindo tanto que mal conseguia respirar.
- "Você realmente é um desastre ambulante, sabia?"
- "E você é insuportável!" retruquei, tentando ignorar a dor.
A Intervenção do Capitão e um Momento Inusitado
Antes que pudesse responder à altura, Edward apareceu, atraído pela confusão. Ele olhou para mim, depois para James, e então para o pequeno grupo de marinheiros que começava a se reunir, rindo da cena.
- "Vocês dois de novo?"
- "Foi ela quem tropeçou," disse James, erguendo as mãos em um gesto de inocência.
- "Tropecei porque alguém decidiu me distrair com histórias sobre sereias!" rebati, ainda irritada.
Edward suspirou, esfregando a testa.
- "Chega. James, volte ao trabalho. Sofia, venha comigo."
Ele me guiou até a cabine, onde começou a procurar algo em um baú. Quando se virou, segurava uma pequena garrafa de um líquido transparente.
- "Isso é para a sua cabeça. Pare de se meter em confusões," disse ele, aproximando-se para aplicar o líquido em minha testa.
O toque dele era surpreendentemente gentil, o que me deixou desconfortável. Olhei para ele, e percebi que havia algo nos olhos dele, um brilho de preocupação que parecia raro.
- "Obrigada," murmurei, sem saber o que mais dizer.
Ele ficou em silêncio por um momento, ainda segurando o pano com o líquido.
- "Você está se saindo melhor do que imaginei," disse ele finalmente. "Mas tome cuidado. Não tente provar tudo de uma vez."
Nossos olhares se cruzaram, e por um breve instante, senti meu coração acelerar. Mas então, o momento foi interrompido por uma batida na porta.
- "Capitão, precisamos de você no convés!"
Ele se afastou rapidamente, o profissionalismo voltando à tona.
- "Cuide-se, Sofia. E tente não bater a cabeça em mais nada."
Eu sorri, apesar de tudo, enquanto ele saía. Talvez aquele navio fosse mais do que apenas um desafio. Talvez fosse o começo de algo que eu ainda não conseguia entender.