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Capítulo 6: Tempestade de Olhares e Confrontos
O convés estava movimentado quando desci das escadas que levavam ao porão. A presença dos marinheiros sempre era evidente, mas parecia que cada movimento meu atraía mais atenção do que eu gostaria. Eu me sentia como um animal raro sendo observado.
Depois de horas sob o sol e com o sal do mar grudando na pele, uma única necessidade martelava minha cabeça: eu precisava de um banho. Mas a ideia de me despir em um navio cheio de homens que claramente não tinham muita interação com mulheres era aterrorizante.
Encontrei Miguel, que parecia ser o mais sensato dos marinheiros. Ele estava perto da proa, verificando alguns barris.
- "Miguel," chamei, tentando parecer calma.
Ele levantou o olhar, surpreso por eu ter falado diretamente com ele.
- "Sim?"
- "Eu... preciso de água para me lavar. Há algum lugar no navio onde eu possa fazer isso... em privacidade?"
Ele franziu o cenho, como se nunca tivesse considerado essa questão antes.
- "Privacidade é algo escasso aqui, senhora," respondeu. "Mas posso providenciar um barril com água fresca e uma lona para cobrir. É o melhor que podemos fazer."
Eu assenti, grata, mas também ciente de que isso não impediria olhares curiosos.
Cerca de uma hora depois, Miguel havia organizado tudo. Ele colocou um grande barril de madeira em um canto isolado do convés e prendeu uma lona ao redor para criar uma espécie de cortina. Não era ideal, mas era melhor do que nada.
Enquanto eu me aproximava do improvisado "banheiro", percebi que James estava encostado no mastro mais próximo, claramente me observando com aquele sorriso insolente.
- "Planejando um espetáculo, princesa?" perguntou ele, cruzando os braços.
Eu parei no meio do caminho e lancei-lhe um olhar que poderia cortar aço.
- "Você poderia, por um momento, agir como um ser humano decente?"
Ele riu, o som ecoando pelo convés.
- "Ah, eu sou decente. Só não sei se o resto da tripulação será."
Meu sangue ferveu. Antes que pudesse responder, Edward apareceu, como se tivesse surgido do nada.
- "James, você tem algo mais útil para fazer do que incomodar os outros?"
James ergueu as mãos em um gesto de rendição, mas o brilho provocador em seus olhos não desapareceu.
- "Apenas tentando ajudar a nossa hóspede a entender as... peculiaridades da vida no mar," disse ele antes de se afastar lentamente.
Com Edward ainda por perto, entrei na "cortina" improvisada, tentando ignorar o calor subindo pelo meu rosto. O som da água caindo no barril parecia absurdamente alto no silêncio que reinava ao redor. Eu tinha certeza de que todos estavam ouvindo.
- "Você ficará segura," disse a voz de Edward do lado de fora.
- "Obrigada," murmurei, surpresa pela gentileza.
Tentei me lavar o mais rápido possível, mas não pude evitar o desconforto. Era como se o peso de dezenas de olhares invisíveis estivesse sobre mim. Quando terminei, vesti rapidamente o pijama vermelho - o único traje que eu tinha - e saí.
Enquanto caminhava de volta para a cabine, ainda molhada e desconfortável, James apareceu do nada, como se estivesse esperando.
- "Foi divertido?" perguntou ele, inclinando a cabeça.
- "Você é insuportável," rebati, sem paciência para lidar com ele.
Ele sorriu, mas havia algo diferente em sua expressão agora. Algo mais sério.
- "Você acha que isso é um jogo, não é? Que pode simplesmente aparecer aqui, exigir coisas, e nós apenas obedeceremos."
- "Eu não pedi para estar aqui, James," retruquei, sentindo minha voz se elevar.
- "Talvez não," disse ele, se aproximando. "Mas você está. E se quiser sobreviver, talvez devesse parar de agir como se o mundo girasse ao seu redor."
O fogo no meu peito se acendeu.
- "Eu não acho que o mundo gira ao meu redor! Mas talvez você devesse parar de agir como se eu fosse uma ameaça só por estar aqui!"
Houve um momento de silêncio tenso. Seus olhos azuis perfuraram os meus, e eu pude ver algo além da provocação habitual. Algo mais profundo, talvez raiva ou medo.
Antes que qualquer um de nós pudesse dizer mais alguma coisa, Miguel apareceu novamente.
- "O capitão quer vê-la, senhorita Sofia," disse ele, quebrando a tensão.
James deu um passo para trás, balançando a cabeça como se estivesse se livrando de um pensamento indesejado.
- "Boa sorte com isso," murmurou ele antes de se afastar.
Quando entrei na cabine de Edward, ele parecia mais cansado do que antes, mas ainda mantinha aquele ar de autoridade implacável.
- "Você está bem?" perguntou ele diretamente.
- "Sim," respondi, embora meu coração ainda estivesse acelerado.
Ele me observou por um longo momento antes de falar novamente.
- "Você está causando um impacto aqui, Sofia. Alguns para melhor, outros... nem tanto."
- "Eu não pedi por isso," murmurei, sentindo lágrimas surgirem inesperadamente.
Edward suspirou e se levantou, caminhando até a janela.
- "Eu sei. Mas está aqui agora, e precisamos encontrar uma maneira de fazer isso funcionar."
Sua voz era mais suave do que eu esperava, e, por um momento, pensei ter visto um vislumbre de quem ele era além do capitão.
Quando saí de sua cabine, uma coisa ficou clara: este navio era um caldeirão fervente de emoções, e eu era o ingrediente que ninguém sabia como lidar.