- Você não é minha mãe, Gabriela! Você nunca fez esse papel, não vai me impedir de ir para minha faculdade! -Falo.
Pego minhas malas, empurro a mesma liberando espaço para passar. Escuto ela bufar atrás de mim, abro a porta da frente e vejo Lavínia esperando com o carro dela.
-Demorou! - Reclama pegando uma das malas.
- Tive que aturar a minha suposta "mãe", não me deixando vir. - Falo colocando minhas malas em seu porta mala.
- Pelo menos, só vai ver a cara deles no sábado e domingo. -Fala e em seguida fecha o porta mala.
Entramos no seu carro, Lavínia dá partida e começa a seguir em direção da faculdade.
- Já falei para você, eu quero ter meu próprio apartamento, não precisar ser grande. Cuidar do meu próprio nariz, sem ver aquela mulher na minha frente! -Falo e solto um suspiro.
- Seu trabalho é em qual bar? - Perguntou ela.
- Um que abriu recentemente. Irei começar hoje a tarde, até às sete da noite. - Explico.
Chegamos na faculdade, pegamos minhas malas e entramos. Uma garota de cabelos loiros, olhos azuis e um jeitinho de fofa se aproxima de nós.
- Bom dia meninas, aqui está, - Disse ela nos entregando um convite. -Sempre fazemos um baile de boas-vindas, apareçam lá! Vestidos de galã hein! - Termina saindo sem falar mais nada.
- Mal chegamos e já vai ter baile? -Pergunto olhando o convite prateado.
Subimos as escadas.
- Se acostume, geralmente faculdades são cheios de festas e bailes. -Fala Lavínia quando paramos em frente ao meu quarto.
Pego a chave, destranco e entramos logo em seguida.
- Eu não vou participar. - Falo deixando minhas malas no meio do quarto e me jogando na cama.
- Ah! Mais você vai sim! Eu vou não vou participar de nada sem a minha melhor amiga. - Fala ela cruzando os braços.
- Você sabe cuidar do seu próprio nariz. - Falo me sentando.
-Amiga, você vai comigo! Precisa se enturmar, depois de tudo aquilo você nunca mais se enturmou... nunca mais se apaixonou. - Fala ela se sentando na minha frente.
Meu pequeno bloqueio que vaga comigo. Lavínia tinha razão, desde que meu pai se foi não sou mais a mesma garota, que faz amizades fáceis, faz tempo que não me abro a nenhum garoto, não olho nenhum homem com outros olhos.
- Você sabe do meu bloqueio. - Falo tocando na cicatriz do meu ombro.
- Eu tenho aula agora e você também, mas não deixe seu bloqueio te impedir de ter amizades, de amar. -Fala pegando sua bolsa e saindo do meu quarto.
Solto um suspiro, pego meu celular e vejo serem mais de dez da manhã, minhas aulas iriam começar às onze. Arrumo minha bolsa, amarro meus cabelos em um rabo de cavalo. Mesmo com o rabo de cavalo alto, meus cabelos ainda ficavam um pouco a baixo dos ombros.
Saio do quarto. Quando vou me virar acabo esbarrando em alguém que segura minha cintura, não me deixando cair.
- Opa, cuidado boneca. - Escuto uma voz masculina.
O garoto ainda não soltava minha cintura, ergo meu olhar e me deparo com um par de olhos cinzas claros. Nunca vi um olho assim pessoalmente, era realmente encantador essa cor.
-Se machucou? - Perguntou.
Saio do meu transe, me afasto, fazendo ele soltar minha cintura. Passo a mão em meu rabo de cavalo.
- Me desculpa, não prestei atenção onde estava indo. - Respondo dando um leve sorriso.
- Se você sempre esbarrar em mim, eu vou passar mais vezes aqui! - Fala dando uma piscada.
Solto uma risada sem graça. Um garoto parecido com esse a minha frente, se aproxima. Seus olhos também eram cinzas, mais desta vez, escuros.
- Mal começou o ano e já está tentando agarrar as meninas, Domínic? - Perguntou o outro garoto.
Dominic, deu nome combinava com sua aparência. Os dois rapazes lembravam muito um ao outro, a grande diferença é que Domínic tinha um estilo mais solto, tipo aqueles garotos de filme que não cuidam do seu próprio nariz. Já o garoto ao seu lado, cujo ainda não sei o nome, tem um estilo mais intelectual, mais 'nerd', mais isso não o deixava menos bonito.
- Eu não! Essa boneca acabou esbarrando em mim e eu só quis ajudar. -Fala e ergue sua mão para me tocar.
O garoto ao seu lado segura sua mão e revira os olhos.
- Por que não vai ao seu time de futebol americano, fica se achando para as líderes de torcida e deixa que com os alunos novos eu me resolvo? - Perguntou ele. Parecia estar acostumado com o jeito de Domínic.
- Estraga prazeres! Até mais tarde, baby! -Diz.
Quando passa por mim, deixa um beijo na minha bochecha e sai correndo.
Escuto o outro garoto que ainda estava ali comigo, soltar um suspiro.
- Me desculpe! Meu irmão pensa que pode ter todas as garotas do mundo, só por ser o capitão do time. - Ele explica.
Agora tudo faz sentindo.
- Tudo bem! De qualquer forma, badboy, "playboy" não faz meu estilo. - Falo ajeitando minha bolsa em meu ombro.
Ele dá um leve sorriso e acena com a cabeça.
- Sou Jonathan. Estudo gastronomia e sou representante da faculdade. - Diz e estende sua mão.
- Sou Melissa, estudo Medicina. Pensei que em faculdade não tinha essa coisa de representante. -Falo dando um leve aperto em sua mão.
- Tem sim! Mais aqui é complexo o trabalho do representante. Sou eu quem organizo passeios e viagens, sou eu quem dou advertências e entrego a diretora, entre essas coisas.
- Nossa! Você é quase um vice-diretor.
- Bom, não irei tomar mais seu tempo. No intervalo, eu te mostro algumas coisas que você pode fazer aqui na escola. Até mais, Melissa. -Se despede ele indo em direção as escadas.
Logo em seguida, também desço e procuro minha sala. Entro na mesma, me sentando na terceira fileira, bem no centro. Já haviam vários alunos ali e todos pareciam bem animados.
Com a medicina vem também, ciências, inglês e a própria medicina. Hoje seria o início de tudo, com a aula de inglês.
Três garotas entram na sala, como se estivessem desfilando na sala, às três eram loiras, inclusive a garota que entregou os convites da festa estava com elas. Às três tinham olhos azuis e pele branca, mais não pareciam nada uma com a outra, então descarto que poderiam ser irmãs.
Logo em seguida, um garoto entra, meu vizinho, o portador dos olhos verdes mais intensos que já vi. Ele passa por elas, mais a suposta líder agarra seu braço, o fazendo parar de andar.
- Oi gatinho! Sou Alexa e você? -Perguntou ela passando a mão no pescoço dele.
Alexa, eu bem que estava reconhecendo ela. Fiz jardim de infância com ela, até o quarto ano do ensino fundamental. Sofria 'bullying', ela sempre teve um grupinho em seus pés e era a famosinha da sala.
O garoto de olhos verdes segura a mão dela, fazendo a mesma o soltar, assim virando de costas para ela e andando para as arquibancadas. O mesmo passa por mim, deixando seu perfume no ar. Era forte, marcante e bem no final, um cheiro suave. Ele sabia deixar sua presença registrada.
Às três garotas começam a subir, quando passam por mim param e voltam até ficar bem a minha frente.
- Hora, hora, hora! Se não é a Órfã do quarto ano! Que surpresa tê-la aqui! Você mudou muito em, está até mais... bonitinha, não, bonitinha não, aceitável! Você é muito pálida, isso estraga você.
Sem falar que sim, seu corpo é bonito, mais falta definição aí. Talvez algumas plásticas te deixe mais atraente. - Fala se sentando em uma das mesas.
Todos estavam olhando, uns cochichavam. Ela tinha que falar para todos escutarem que sou órfã.
- Bom vê-la novamente, Alexa! Você não mudou nada. - Falo baixo.
- Bom dia! Todos em seus lugares! -Fala o professor entrando na sala.
A mesma sai da minha mesa, deixando meu estojo cair no chão.
- Opa, sem querer! -Fala e passa pisando por cima.
Abaixo-me e pego o mesmo. Sinto minhas costas queimaram, quando olho para trás, aqueles olhos verdes estavam me observando. Fico sem graça, minha bochecha esquenta, tenho certeza que estou vermelha no momento.
Ajeito-me na mesa, olho para o professor e solto um suspiro.