A Ruiva do Tráfico
img img A Ruiva do Tráfico img Capítulo 3 Anderson
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Capítulo 6 Uma dose de uísque img
Capítulo 7 Escolhas difíceis img
Capítulo 8 De onde vem o poder img
Capítulo 9 Nunca estaremos prontos para dizer adeus img
Capítulo 10 A missão img
Capítulo 11 Novas amizades img
Capítulo 12 Quanto mais você sabe, mais riscos você corre img
Capítulo 13 As vezes é só questão de olhar de fora img
Capítulo 14 Você é sua própria ponte img
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Capítulo 3 Anderson

Anderson

- Você está fora, Anderson! Anda vai embora daqui.

- Você não pode me colocar pra fora assim!

- Você não pode sair por aí confrontando nossos superiores e achar que não vai sofrer as consequências. Acorda cara! Parece que não sabe com quem estamos lidando.

- São corruptos, aliados de bandidos! Celso, eu que estou errado? É sério isso? Eu estou sendo desligado da corporação por ser honesto?

- Não é por ser honesto. É por ser burro mesmo! Cara, presta atenção. Você é meu melhor amigo, meu melhor policial, tanto que confiei em você para ser o capitão, mas daí a fazer o que você fez... cara, não se sai por aí acusando um tenente coronel de corrupção sem esperar um desligamento.

- Vou falar com o coronel Ramos. Isso não pode ficar assim.

- Acorda Ander! Já parou para pensar que eles podem estar juntos nessa?

- Eu me recuso a acreditar que nossa corporação virou isso. (Anderson fala enquanto da um murro na mesa, se levanta e coloca as mãos na cabeça, demonstrando estar exausto)

- Olha... vai pra casa. Esfria essa cabeça e vê se não faz mais merda. Fica em casa cara, sem entrevistas, sem jornalistas, esquece isso. Deixa que eu me viro aqui, vou ver o que consigo fazer por você.

Anderson sai bravo da sala do seu superior, o major Santos. Ja no corredor, o amigo grita:

- Ei! Eu admiro muito sua lealdade e honestidade. Nunca pense que isso é errado.

- Vou ser punido por isso... Não me parece muito certo.

- Nem tudo que é certo é conveniente, e vice versa.

Anderson sai, ele está muito irritado. A meses Anderson vem investigando um esquema de corrupção dentro da sua corporação, e nessa investigação, muitos caíram, e quem não caiu, quer o derrubar acima de qualquer coisa. O capitão acumulou inimigos dentro e fora da corporação. E suas mais recentes pistas o levam a crer que o tenente Coronel está diretamente ligado ao tráfico. Anderson o confrontou jogando alguns fatos em sua cara, mas sempre mantendo o respeito de um capitão para com seu superior. O tenente não gostou nada da posição de Anderson e resolveu puni-lo, deixando ele e sua equipe fora de uma grande missão, para a qual eles já vinham se preparando a meses. Anderson não se conformava com a punição, não achava justo que sua equipe fosse prejudicada por algo que ele fez, e saiu irritadissimo da sede em um momento ruim. A sede estava cercada por jornalistas pois as recentes notícias de corrupção envolvendo um vereador que foi preso e deixou no ar que o batalhão estava envolvido nisso, fez com que a imprensa viesse com tudo. Quando Anderson saiu, andando rápido e furioso, uma jornalista vem atrás dele e grita:

- Capitão Cunha! Capitão Cunha!

Anderson para e se vira para ela, dizendo:

- Hoje não, desculpa.

- O senhor sempre manteve a população a par de tudo que acontecia aqui, agora não pode ou não quer falar?

- Não quero falar! Não tenho nada a falar. Respeite meu momento!

- O que o senhor acha de todo esse falatório que está sobre sua corporação?

- Acho um desrespeito com os policiais que trabalham de forma honesta! Vocês deveriam esperar que ás notícias verdadeiras saiam antes de correr enfiar câmera e microfone na cara de policiais que não tem nada a ver com essa merda toda!

- E quem você acha que tem haver?

- Eu não sei! Vai perguntar isso para o tenente Coronel, ele deve saber...

A fala de Anderson virou manchete de vários jornais, e não demorou muito para que uma investigação sobre ele fosse pedida. O Tenente Coronel agora sendo foco principal da imprensa e de investigações, ficou com sangue nos olhos e pediu a cabeça de Anderson, ordenando imediatamente seu desligamento da corporação. Alegando ao seu superior, o Coronel Ramos, que mesmo que Anderson tivesse desconfianças sobre ele, deveria ter formalizado uma denúncia, e não sair jogando na mídia coisas sem cabimento. Ramos concordou que a atitude de Anderson foi incabida e inconsequente, gerando assim mais problemas para todos, e desviando talvez, o Real foco das acusações, concordando então com seu desligamento temporário, até que tudo fosse esclarecido.

Após ser noticiado de seu desligamento, por seu major, cunhado e amigo, Anderson sai da sede muito irritado, se sentindo injustiçado. Ele vai até um hospital, onde caminha lentamente pelos corredores, de cabeça baixa, até chegar a um quarto, onde entra. Lá está uma mulher jovem e bonita, em uma cama, cheia de aparelhos, inconsciente. Anderson a olha de longe por alguns instantes, com os olhos cheios de lágrimas, enquanto uma enfermeira finaliza a medicação.

- Boa tarde capitão! Já acabei, pode entrar.

- Como ela está? Alguma novidade?

- Infelizmente não. O doutor pediu que quando o senhor viesse, que fosse procurá-lo para conversar...

Anderson baixou o olhar, respirando fundo e passando as mãos sobre seus cabelos, enquando balançava afirmativamente a cabeça e quase que sussurava um "ok, obrigado" para a enfermeira, que em seguida, saiu do quarto, fechando a porta e deixando Anderson sozinho com a mulher. Ele então se aproximou dela, carinhosamente tocou em suas mãos, passou a mão em seus cabelos e entre lágrimas que já caiam de seus olhos, sussurrou:

- Queria tanto que você acordasse...

Ele então abaixou ao lado da cama, colocando sua cabeça sobre o corpo adormecido da mulher. Seu sofrimento era eminente. Parecia que o mundo a sua volta estava desabando e ele não podia fazer nada para mudar a situação.

Lorena...

Bem longe de toda confusão em que estava Anderson, havia Lorena. Recém saída do presídio feminino e com a cabeça a mil. Lorena estava confusa com o presente que recebeu após sua chegada em casa. Seja quem for que enviou aquilo, ela sabia que deveria ser alguém que a conhecia muito bem, e que sabia a importância de Lucas e de Sofia em sua vida, e mais que isso, era alguém que sabia até demais, para saber dos perfumes. Lorena sabia que essa pessoa deveria ser muito próxima a eles, ou então, uma pessoa que sabe investigar muito bem, e que sabia muito bem o que estava fazendo. Ela comentou sobre isso com seu pai, levantaram juntos muitas hipóteses e possibilidades, mas nenhuma parecia fazer muito sentido.

- E se for a pessoa que está com a Sofia, pai?

- Olha, filha. Tem coisas que, eu não queria te falar, para não te machucar ainda mais, ou não destruir suas esperanças. Mas eu acho, filha, que você precisa virar essa página e começar a pensar em você um pouco...

- O que você quer dizer com isso?

- Me dói dizer isso, Lorena, mas minha netinha pode nem estar viva mais. Ela era o alvo naquele dia. O Lucas só morreu por que entrou na frente. Os tiros eram para ela, e ele a protegeu com sua vida. Então, se a pessoa que pegou ela era da facção rival, eles provavelmente a mataram, pra se vingar de você. Te tiraram as duas coisas com as quais você mais se importava.

- Não pai! Eu não quero pensar assim. Não faz sentido. Veja, se eles queriam matar a Sofi para me atingir, por que não deixar o corpo dela por aí, para que eu vesse minha filha morta? Que sentido faz eles a matarem e não entregarem isso na minha cara?!

- O teu sofrimento. Era isso que eles queriam. Te ver sofrendo, te ver em uma busca eterna, te fazer se sentir culpada.

Lorena respira fundo e anda até a sacada, que tem uma linda vista de toda a cidade, limpa as lágrimas que escorrem em seu rosto e diz:

- Eu não sei o que fazer, pai. Não sei nem quem eu sou mais.

- Você tem que voltar a viver, filha. Isso aqui... sua vida não pode se resumir só a isso.

- Eu não tenho mais outra vida, pai. Eu não tenho mais o Lucas e a única coisa que me manteve viva durante esses anos, foi a ideia de reencontrar minha filha e me vingar de quem fez isso com o Lucas.

- Esquece essa vingança. Eu sei que não sou a melhor pessoa pra te falar isso, que não tenho nenhuma moral para te dar esse conselho, mas ainda assim sou seu pai e só quero o seu bem. Por isso, filha, te peço. Tira do seu coração esse sentimento de vingança, você é jovem, ainda pode viver muita coisa bonita.

- Você está me dizendo para viver minha vida, ter novos amores, talvez novos filhos, e esquecer que o Lucas e a Sofia existiram?! E se ela estiver viva? Se ela estiver em algum canto desse mundo precisando de mim? Como que faz isso, pai?!

- Não, Lorena. Você me entendeu errado. Não disse para você abandonar as investigações. Vamos continuar, temos muitos aliados, se ela estiver viva, um dia vamos encontrá-la sim. E eu te prometo que enquanto estiver vivo, vou procurar por ela também. Mas o que quero dizer, é que você precisa desencanar disso. Precisa esquecer essa ideia de vingança, que nunca te fez bem e que sempre vai levar a outra vingança e outra... E esse ciclo nunca terá fim. Quero que você volte a viver, que seja feliz, filha. Se permita isso. Você merece.

Lorena abraçou seu pai enquanto deixava as lágrimas escorregam por seu rosto, seu pescoço e entre seus seios. Ela não sentia que merecia ser feliz, ela nem sabia como fazer isso. Passou tanto tempo pensando em vingança, investigando o paradeiro de Sofia, que nem se lembrava mais de si mesma, e nem sabia como poderia deixar tudo para trás.

- Eu não sei como seguir em frente, pai. Não posso simplesmente dizer adeus, pedir demissão e ir embora. Você sabe, melhor do que eu como as coisas funcionam.

- Eu sei. Não estou te falando para fazer isso. Sabemos como isso acaba. Mas podemos achar uma forma de você não precisar se expor tanto. Você já provou que consegue comandar tudo de longe. Você pode ir embora daqui. Pode morar em Esmeralda, voltar a trabalhar com maquiagem. Duvido muito que alguém de lá tenha ficado sabendo sua história. Mas se não quiser ir pra lá, Pode ir para onde quiser, você tem dinheiro pra isso. Pode levar uma vida normal, sem precisar sair disso. Acredito que o chefe não vá se importar, sabendo tudo que você passou, e o quanto você é competente.

- Você e o Gaby são tudo que eu ainda tenho, pai. Não quero ficar longe do senhor, nunca mais.

- Eu posso ir com você. Podemos treinar alguém para ficar no nosso lugar e permaneceremos no comando de longe. Temos muitas pessoas de confiança aqui.

- Resta saber se o chefe aceitaria outra pessoa também, né... Não é tão simples assim. Você ficou por que é meu pai, e eles já confiavam em você também.

- Eu sei, mas você sabe como convencer ele a fazer o que você quer. Aquele cara tem adoração por você.

- Não sei, pai. Preciso pensar sobre isso. Falando nisso, ele me ligou mais cedo e pediu que eu fosse até ele, disse que tinha algo importante pra tratar comigo. Vou mais tarde, mas queria que você fosse comigo.

- Claro, filha. Te acompanho.

            
            

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