A Ruiva do Tráfico
img img A Ruiva do Tráfico img Capítulo 4 Sim ou sim
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Capítulo 6 Uma dose de uísque img
Capítulo 7 Escolhas difíceis img
Capítulo 8 De onde vem o poder img
Capítulo 9 Nunca estaremos prontos para dizer adeus img
Capítulo 10 A missão img
Capítulo 11 Novas amizades img
Capítulo 12 Quanto mais você sabe, mais riscos você corre img
Capítulo 13 As vezes é só questão de olhar de fora img
Capítulo 14 Você é sua própria ponte img
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Capítulo 4 Sim ou sim

O chefe da facção era um cara muito reservado, poucos o conheciam, e só quem tinha acesso direto a ele eram os aliados de sua maior confiança. Porém, ninguém nunca soube seu nome verdadeiro, pois todos o chamavam apenas de chefe. Que ele era um cara muito rico e poderoso, isso ninguém podia negar, mas quais seriam os segredos por trás de tanto mistério?

O chefe era um cara alto, meio grisalho, um pouco acima do peso, eu diria. Era cordial, elegante e sempre muito educado. Dificilmente perdia a compostura ou demonstrava ficar irritado, parecia que ele gostava de controlar tudo ao seu redor. Ele nunca marcava os encontros no mesmo lugar, e eram sempre lugares afastados, geralmente fábricas abandonadas ou galpões no meio do nada. Ele usava também uma meia máscara preta na face, diziam que sofreu um acidente quando mais novo e ficou com uma cicatriz muito feia, mas era tudo especulações, pois ele nunca disse seus reais motivos.

Quando Lorena chegou ao local combinado para a conversa, haviam muitos seguranças na entrada, como era de costume. Carlos, o pai de Lorena, era conhecido de alguns dos seguranças que vieram lhes recepcionar. Apenas Lorena havia sido autorizada para entrar. Carlos ficou conversando com os rapazes enquanto a filha era acompanhada por um deles até o chefe.

- Olá, querida! Como vai?

- Indo...

- Ah algum problema?

- Não, só meus monstros mesmo...

- Nenhuma pista sobre sua filha?

- Nada. Como o senhor mesmo já disse, parece que a terra se abriu e engoliu ela.

- Tenho uma proposta para você que pode te ajudar com isso... sente-se. Aceita uma bebida?

- Uma água, por favor.

O chefe entrega o copo de água para Lorena,que estava sentada em uma poltrona, e se serve de uma dose de uísque, enquanto puxa uma cadeira em frente a ruiva.

- Então... Qual o plano? (Disse a ruiva)

- O que você acha do senado?

- Não entendi...

- Bom, como você sabe, temos nossos parceiros em cada canto desse mundo. Em hospitais, tribunais, escolas, batalhões, prefeituras, inclusive em Brasília... o nome que levantariamos para o senado esse ano infelizmente não poderá mais ser o mesmo, e é aí que você entra... jovem, bonita, com fãs, defensoras dos fracos e oprimidos...

- Criminosa, lembra?? Assassina, traficante...

- Isso são só detalhes, não se preocupe com isso.

- Não é só detalhe. Sou inelegível. Mesmo que eu quisesse não poderia. Está na lei. Eu acabei de sair da prisão.

- Ah menina, você tem tanto a aprender comigo ainda... acha que em Brasília só tem pessoas honestas? Pois posso te garantir que tem tanto bandido quanto a prisão que você estava, se não mais!

- Não sou boba. Sei disso. Mas provavelmente nenhum foi condenado e cumpriu pena.

- Tem detalhes desse mundo, minha querida, que as vezes é melhor a gente nem saber.

- Tá, mas supondo que eu pudesse e quisesse ser candidata, como tem tanta certeza que eu ganharia? Sou conhecida como traficante, quem votaria em mim?

- Não me subestime, garota! Você não sabe o poder que temos nesse país. Só confia, se estou te falando que vai dar certo é por que vai. Vou dar jeito em tudo.

- Como? Vai mudar a lei?

- Se preciso for, sim! Afinal, é para isso que estamos em todos os cantos e pagamos tanta propina para os corruptos. É só alguns votos e uma assinatura, e pronto, tudo resolvido!

- As vezes você me dá medo, sabia?

- Ótimo! Assim evita de termos problemas.

- Tá, mas, e se eu não quiser isso?

- Te dei opções? Perguntei se você queria?

Lorena arregala seus grandes e azuis olhos para o tão temido chefe, que pela primeira vez mostra a ela sua verdadeira face, sendo rude com ela.

- Você vai me obrigar?

- Eu vou te ajudar, querida. Não veja as coisas pelo lado negativo. Aprenda a ter visão. Quando em sua vida você sonhou que teria tanto dinheiro e tanta gente a sua disposição? Quando você imaginou que se tornaria uma senadora?

- Nunca sonhei, pois nunca quis nada disso. Tudo que eu queria foi tirado de mim.

- E você vai se lamentar por isso para o resto da vida, ou levantar a cabeça, seguir em frente e aproveitar as oportunidades que surgirem?

- Eu queria falar sobre isso com o senhor mesmo... Eu estava pensando em me afastar um pouco de tudo isso, descansar, sabe? Queria ir para um lugar calmo, sem riscos a todo momento. Um lugar de onde eu pudesse continuar no comando do morro da Perpétua, mas sem estar no centro do furacão.

- Então! Agarra essa oportunidade. Essa é a sua chance de deixar tudo isso para trás, ser vista como uma heroína, que se arrependeu dos caminhos errados que passou. Vai poder continuar ajudando os menos favorecidos, como você já faz. Vai poder contar sua triste história de superação ao mundo e ser vista com admiração. E além disso, vai ter muito mais recursos e condições para procurar sua filha. Você vai ter muito poder.

- Mas não mais que você, certo?

- Digamos que estaremos no mesmo nível.

- Não sei... preciso pensar sobre isso.

- Acho Que você não está entendendo. É sim ou sim, Lorena! Pega isso aqui (entregou a ela um portfólio) aqui estão listadas todas as suas ações, apartir de hoje. Muitos eventos sociais, entrevistas... Você vai começar a aparecer na mídia contando sua história de superação e como vem trabalhando para melhorar a vida do pessoal da comunidade. Logo você tira essa imagem de bandida e passa a ser a mocinha novamente. E assim, vamos construindo seu futuro, junto com o nosso, claro.

- Eu moro na favela. Você acha que alguém vai acreditar que eu não trabalho mais para o tráfico?

- As pessoas só acreditam no que a mídia quer que acredite. E a mídia quase sempre faz acreditarem no que é conveniente para eles... e eu tenho muito do que convém, acho que você me entende, né?

- Claro! (Disse Lorena pegando o portfólio das mãos do homem, enquanto o olhava com raiva e desprezo)

- Não fique assim, querida. Não quero estragar nossa relação. Sempre nos demos tão bem. Mesmo que você não acredite em mim agora, por causa dessa conversa, um dia você vai saber o quanto você foi especial para mim. Eu confiei em você desde o primeiro dia que o Leandro te trouxe até mim. Eu vi algo especial em você. Vi potencial. Vi uma menina cheia de vontade de vencer, que venceu, que se transformou em uma mulher capaz de conquistar o mundo.

- Queria conseguir me ver dessa forma também. Eu não venci, eu perdi tudo que tinha.

- Olhe para o que você ganhou, não só para o que você perdeu. Você acabou com o porco do Thomas. Você encontrou seu pai. Seja mais grata pelas coisas boas. Você tem tudo que quiser, mora super bem, come bem, se veste bem, nada te falta.

- Me falta o amor da minha filha e meu marido.

- Vire essa página. Você está viva, pode amar de novo, pode ter mais filhos, quantos quiser. E vai ter ainda mais poder para ir atrás do paradeiro da sua filha.

- Tudo bem. Eu aceito a proposta. Já que não tenho outra opção mesmo, ne? Fique tranquilo, farei tudo como você quiser, como sempre fiz.

- Isso aí, garota esperta! Por isso você é minha preferida e sei que juntos vamos conquistar o mundo!

- Só tenho um pedido. Para onde tiver que ir, quero meu pai comigo.

- Seu desejo é uma ordem! Farei ainda melhor, vou retirar os B.Os do nome do seu pai, e assim, ele também será um homem livre. Só quero que você me ajude a encontrar alguém muito confiável para deixar no comando do morro.

- Eu não posso continuar?

- Se acha que dá conta de tudo, pode sim. Só é melhor ter alguém de fachada, de qualquer forma.

- Ok. Encontrarei alguém. Mas não vou me afastar da comunidade, acho que agora mais do que nunca viu precisar do apoio deles, e não será virando as costas que chegarei ao senado.

- Você aprende rápido, garota! É isso mesmo, a população pobre é muito maior que a rica, então você já sabe a quem agradar. Já temos um grande número de pessoas da alta classe que fecha com a gente. Alguns pelo tráfico, outros pela corrupção, ou apenas pelo medo, mas se tiver pessoas fechadas pelo amor, admiração e gratidão, será ainda melhor!

            
            

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