mais velha convencional. Até porque, nossa diferença de
idade é de apenas três anos. Segundo, você não é mais
uma adolescente. Acaba de se tornar uma adulta. - Ela
pausa e olha o relógio em seu pulso fino. - Bem,
tecnicamente se tornará uma adulta, daqui a vinte minutos.
- Respondendo à sua afirmação anterior, minha vida
não é chata. Ela é como eu gostaria que fosse, Luna. Sou
feliz com pouco. No próximo outono iniciarei a faculdade e
quando terminar, vou ficar rica. Até lá, sua saúde estará
ótima e nós poderemos sair de férias pelo mundo. Ir à
Itália, como você sempre sonhou.
- No momento, eu me contentaria em poder ter meu
emprego de volta. O trabalho de hostess[7] me agradava.
Eu adorava ver as celebridades desfilando lá no
restaurante.
Seu olhar se perde por um instante, como se estivesse
recordando algo que a fizesse sorrir.
Ela estica a mão magrinha para mim.
- Antonella, eu amo você e tenho certeza de que todos
os seus sonhos vão se tornar realidade, mas só se tem
dezoito anos uma vez. A comemoração é obrigatória.
- Estamos juntas. É celebração suficiente.
- Eu não acredito que disse isso. Por mais que me
ame, precisa aproveitar um pouco. Você é tão linda. Faça
por mim. Se eu pudesse, sairia com você e nos
divertiríamos para valer, mas não acho que seria uma boa
ideia. Tenho me sentido fraca. Então, você precisa ir. Ou
vai querer estrear sua vida adulta tendo na memória uns
poucos beijos babados daquele seu namoro relâmpago do
ano passado?
- Não eram tão babados. O problema maior era que eu
não podia respirar, ele sempre tentava enfiar a língua na
minha garganta.
Ela joga a cabeça para trás e gargalha. Só de vê-la feliz
já compensa ter aquela conversa incômoda.
- Essa é a sua chance de se arriscar por uma noite.
Saia, beije, converse, ria. Tudo o que eu gostaria de fazer
no momento e não posso.
- Você está jogando sujo. Além do mais, se aceitasse
embarcar em sua loucura, eu nem saberia como conversar.
Eu falo muito e os rapazes não gostam disso.
- E quem disse alguma coisa sobre rapazes? Eu
pensei em encontrarmos um homem de verdade.
- Perdeu o juízo, Luna? Se não consigo manter uma
conversa decente com um cara da minha idade, o que diria
para um homem adulto?
- Claro que consegue. Você é linda e inteligente. Eles é
que são uns idiotas medrosos. Temem uma mulher que
poderia superá-los.
Olho para minha irmã, minha companheira e a pessoa
por quem me levanto da cama todos os dias e fico tentada
a brincar de Cinderela, só para fazê-la feliz.
- Por favor, Antonella. Podemos marcar o encontro em
um bar, assim você não correrá risco algum.
- Nós não devemos gastar dinheiro com bobagens. O
orçamento já é bem apertado sem fazermos
extravagâncias. Além disso, não tenho idade para beber.
Estou fazendo dezoito anos, esqueceu[8]? O que iria fazer
em um bar?
Ela revira os olhos.
- Não precisa beber, irmã. Basta fingir. E ninguém
pensará que tem somente dezoito. Você é um mulherão.
- Vou tentar levar isso como um elogio - falo meio
sorrindo, apesar de saber que ela tem razão. Com um
metro e setenta e oito e mais curvas do que precisaria para
ser feliz, ninguém me dá a minha idade real.
- E foi mesmo. Queria ser como você.
- Você é linda.
- Tudo bem. Concordo que sou agradável de se olhar,
mas do que adianta, se não posso me divertir? Enquanto
eu não conseguir estabilizar a minha saúde, viverei presa
nesse apartamento.
Ando até onde está e seguro as mãozinhas frias.
- Vai dar tudo certo. Você vai ficar boa em breve. Tenha
fé em Deus.
- Vou sim porque eu quero muito viver. Sonho com uma
viagem pela Toscana há mais de dois anos. - Antes que
eu consiga ficar triste com o que disse, completa. - Vamos
lá, querida. Uma tentativa ao menos. Vai ser divertido
encontrar um homem para ser seu príncipe por uma noite.
- Divertido para quem? Para mim tenho certeza de que
não. Só de pensar em me inscrever nesse tal aplicativo de
namoro, já fico enjoada de nervoso.
- Será que dá para agir como uma garota da sua idade
ao menos uma vez? Você não é um bebê. Não pense
tanto. Aproveite. Faça por mim. Divirta-se sem medida. Eu
nunca peço nada - a chantagista diz. - Mas hoje estou
implorando para que você seja feliz no meu lugar.
- Não. - Nego de uma maneira menos convicta dessa
vez porque sei que acabarei cedendo.
- Por favorzinho! - Ela implora de novo, já sorrindo e
eu sacudo a cabeça.
- Tudo bem. Vamos instalar o tal aplicativo e dar uma
olhada, mas mesmo que encontremos alguém que valha a
pena, darei a palavra final.
Ela sorri muito excitada.
- Você é a melhor irmã do mundo!
No dia anterior ao encontro às
escuras
- E então? Martelo batido? É esse?
- Sim - respondo, tentando mostrar segurança,
enquanto olhamos juntas a tela do celular. Na verdade
estou com vontade de sair correndo.
- Ele é bonito.
- É, mas parece muito sofisticado também.
- Seu primeiro encontro na vida adulta será com um
cara refinado, Antonella. O quão legal é isso? - Diz.
- Foi uma pergunta retórica ou espera mesmo que eu
elabore a respeito?
- Não seja mala. Joguei o endereço que ele enviou no
Google Maps. O cara a convidou para tomar um drinque no
piano-bar do hotel mais chique da cidade.
- Não achou estranho ele marcar em um restaurante de
hotel? Tipo, parece meio sugestivo, até mesmo para mim
que sou inexperiente.
- Não acho. É inclusive mais seguro, já que o Caldwell-
Oviedo Tower[9] é muito bem localizado. Além disso, por ser
luxuoso, deve estar cheio de seguranças. Ele não se
arriscaria a fazer algo contra a sua vontade. - Ela me dá
um sorriso malicioso. - A não ser que você queira visitar a
suíte dele. Pelo que colocou aqui, não é de Boston, mas de
Nova Iorque.
- Vamos esclarecer uma coisa: não pretendo conhecer
a suíte dele e nem mesmo beijar esse cara. Só estou indo
para satisfazer sua vontade. Prometo tentar me divertir,
mas de verdade não acredito nesse encontro às escuras.
- Eu tenho uma amiga que conheceu o amor da vida
dela em uma sala de bate-papo.
Seguro a vontade de revirar os olhos para não magoá-la.
- Olha, não estou dizendo que seja impossível, mas
para me fazer beijar um cara em um primeiro encontro ou ir
em qualquer direção além de um beijo, ele teria que fazer
meus joelhos tremerem, meu coração acelerar e meu
cérebro virar manteiga de amendoim. Aquele tipo de
homem que rouba o fôlego da mulher nos romances.
- Então vamos torcer para que Aiden seja assim. Já
passou da hora de você encontrar um amor.
- Falou a experiente - digo e imediatamente me
arrependo. - Luna, eu sinto muito. Não quis ser cruel.
- Não se preocupe com isso. Você não foi. - Ela dá
um sorriso enigmático. - Além do mais, quem disse que
eu já não me apaixonei? Pode ser que meu coração já seja
tomado há anos e ninguém desconfie.
- Você não está falando sério.
Ela não responde por alguns segundos, mas seu sorriso
aumenta.
- Chega de falar de mim - diz. - O foco agora é fazer
da celebração dos seus dezoito anos inesquecível.
Capítulo 3
Antonella
Hotel Caldwell-Oviedo Tower
Ai, meu Deus. Com o que fui concordar?
Eu não deveria ter aceitado participar desse plano doido
de Luna.
Uma noite de Cinderela inesquecível - ela disse.
Sim, sei.
Por uma vez que seja, esquecer de todas as minhas
responsabilidades, os planos para o nosso futuro
meticulosamente alinhados e somente viver.
Por mim, estaria em casa assistindo televisão e tomando
sorvete.
Eu não preciso de um encontro, mas não volto atrás com
a minha palavra e também não quero desapontar minha
irmã. O sorriso dela quando fui até seu quarto e mostrei o
que estava usando, faz valer qualquer risco de passar
vergonha.
Tenho que reconhecer que o vestido preto de alcinhas
valorizou meu corpo, apesar de que eu dispensaria as
sandálias altas. A produção me deixou com um ar menos
jovem. Acho que passaria tranquilamente por uns vinte e
poucos anos.
Ela estava tão feliz quando me entregou o envelope com
o dinheiro que corresponderia ao meu presente de
aniversário!
Nele, havia um bilhete explicando o que eu deveria
comprar - roupa e acessórios. Eu ri e perguntei por que
somente não me disse o que eu deveria usar ao invés de
escrever e ela respondeu que eu adoro um manual de
instruções, então, que decidiu agir de acordo.
Realmente amo. Montar e instalar coisas é comigo
mesmo. De aparelhos eletrônicos a móveis, se tem um
manual, estou dentro.
A alegria de Luna foi tanta que parecia que o encontro
era dela. Vibrou quando nós finalmente escolhemos o tal
Aiden no aplicativo e eu fiquei com vontade de usar uma
câmera escondida para mostrar os detalhes da minha noite
- apesar de não acreditar que ela resultará em um
namoro, como minha irmã sonha.
Costumo assustar os homens por saber conversar um
pouco de tudo. Luna até ensaiou comigo que eu não
deveria demonstrar entender alguns assuntos que ele
tocasse. Acho que vou tentar falar o menos possível. É a
única maneira de não meter os pés pelas mãos.
Dou passos incertos para dentro do saguão do hotel
luxuoso. Aos meus próprios ouvidos, as sandálias de salto
alto ecoam no chão de mármore, atraindo atenção.
Jesus, que vontade de sair correndo.
Repasso mentalmente todas as dicas que Luna me deu
de como me comportar. Como ela pode saber tanto da
vida? Nunca saiu muito ou namorou a sério. Quando
estava entrando na fase de poder se divertir como uma
adulta, adoeceu.
Afasto o pensamento, caso contrário a noite estará
perdida e eu só vim a esse encontro por causa dela.
Deus, eu não deveria estar aqui. Mesmo que tenha sido
um presente dado de coração, não podemos desperdiçar
dinheiro.
Paro na entrada do bar com as pernas bambas. O lugar
é sofisticado demais. Não tenho condições de frequentar
um dos hotéis da rede Oviedo. Na verdade, nem passar na
calçada.
Puxo algumas respirações para acalmar o mini ataque
de pânico que ameaça me dominar.
Um drinque. Isso não deverá fazer um rombo tão grande
em nossas economias.
Beberei um coquetel sem álcool e não pedirei nada para
comer.
De qualquer modo, não acredito que esse encontro
durará mais do que uma hora. Algumas das perguntas do
homem quando conversamos pelo aplicativo me irritaram
- e acreditem, ele era o menos pior. Um chegou até a me
pedir uma foto nua.
Agora que estou aqui, é torcer para que a noite passe
rápido para que eu possa voltar para o meu quarto.
Piano-bar do Hotel Caldwell-Oviedo
Tower
Uma hora depois