me obrigou a ser protagonista, então fico surpreso para
caralho quando ela cola os lábios nos meus.
A boca da garota misteriosa é macia e doce como
morangos recém colhidos e eu não quero me afastar.
O que diabos estou fazendo?
Esse é o último pensamento lógico do qual consigo me
lembrar.
Quando meus lábios encostam na quentura dos dela,
tudo o que sei é que preciso de mais um pouco desse mel.
Eu esqueço que estamos em público. Esqueço da minha
candidatura. Esqueço que a história de namorados não é
real.
Segundos depois, ela endurece em meus braços, mas
mantenho a pressão certa, provocando seu lábio inferior
gordo com a ponta da língua e quando finalmente as mãos
em volta do meu pescoço passam a acariciar meu cabelo,
percebo que ela está se rendendo.
Enquanto o beijo continua, digo a mim mesmo que estou
somente castigando-a por ser tão atrevida.
É uma meia-verdade.
Alguma coisa na garota me fez desejar domá-la, mas o
que me instiga a continuar invadindo sua boca é um desejo
cru e inesperado. Uma atração desconhecida para alguém
tão pragmático quanto eu.
Senti-la contra mim faz com que qualquer pensamento
sobre punição se esvaia.
Minha mão escorrega para a curva do quadril e eu
aperto, em uma pegada mais dura.
Ela inicialmente aceita a demanda, mas somente
quando está ficando uma delícia, afasta nossos lábios.
- Já é o suficiente.
Demoro um pouco para entender.
- Suficiente?
-Sim... huh... obrigada. Ele acreditou na nossa
encenação. Eu acho que já vou indo.
Ainda mantenho o braço em sua cintura.
- Eu acho que não. Como namorada, você me deve no
mínimo ficar e compartilhar um drinque.
Suas bochechas adquirem um tom intenso de vermelho.
As mulheres ainda coram? Não as do meu meio, ao
menos.
Ela parece indecisa por um instante, mas então dá um
sorriso sem graça.
- Desculpe por envolvê-lo nessa bagunça. Eu não
sabia como me livrar dele.
Uma mecha do seu cabelo cai por cima do ombro e sem
pensar no que estou fazendo, ajeito-a atrás de sua orelha.
- Seu nome e um drinque.
Ela sacode a cabeça e agora o sorriso é espontâneo.
- Deus, minha mãe me mataria por ter me aproximado
de você dessa maneira - diz, mas depois faz uma pausa
como se estivesse pensando. - Não, na verdade ela
morreria de rir. Eu me chamo Antonella.
- Hudson. - Deixo o sobrenome propositadamente de
fora. - Você prefere beber aqui ou em outro lugar,
Antonella?
Ela se solta totalmente dos meus braços e eu a deixo ir.
- Isso é algum tipo de código para me fazer subir para
o seu quarto?
- Não. - Embora eu queira muito você no meu quarto,
na minha cama. Nua e molhada para mim. - Mas não
quero que fique constrangida por conta do que aconteceu.
Se quiser um pouco mais de privacidade, posso
providenciar um lugar para jantarmos aqui mesmo no hotel.
- Você trabalha aqui?
A pergunta é acompanhada de um vezinho adorável
entre as sobrancelhas.
- Não, eu sou do Wyoming, esqueceu?
Ela gargalha e a seguir cobre o rosto com as duas mãos.
- Eu sou boa em improvisar e quando vi o seu chapéu,
não pensei duas vezes.
- Um drinque - insisto e isso é um terreno totalmente
desconhecido para mim. Nunca precisei de tanto esforço
para convencer uma mulher.
- Tudo bem, mas eu não bebo álcool.
- Sem problema. Aqui ou em outro lugar? - Pergunto
novamente.
- Que lugar seria esse?
- Eles têm umas salas de jantar privativas nos
restaurantes do hotel, o que acha?
- Você é do Wyoming mesmo?
- Texas.
- Tudo bem, Hudson do Texas. Leve-me para esse
lugar especial.
- Um instante.
Não é raro que eu jante em uma sala privativa. Guillermo
disponibiliza esses mini restaurantes em todos os hotéis de
luxo da rede, mas será a primeira vez que compartilharei
uma delas com uma mulher. Nas outras ocasiões, foram
encontros de negócios.
Ligo rapidamente para a concierge[12], que me pede
quinze minutos para organizar tudo.
Coloco a mão na parte baixa das suas costas e a guio
para a mesa enquanto aguardamos.
- E então, você vai me contar o que foi aquilo?
Puxo a cadeira para que se sente.
- É uma longa história. Deveria ser a comemoração do
meu aniversário.
- Hoje é seu aniversário?
- Não. Foi há alguns dias, mas a minha irmã queria que
eu vivesse uma noite especial.
Ela revira os olhos quando fala isso e nem preciso
perguntar por quê. A última frase do cretino infiel deixou
bem claro que a noite não foi o que qualquer um dos dois
esperava.
Recosto na cadeira e cruzo os braços no peito,
observando-a.
- Quantos anos você tem, Antonella?
Suas bochechas tornam a corar e ela sacode a cabeça
de um lado para o outro.
- Uma dama nunca revela a idade. É rude de sua parte
perguntar.
- Foi uma pergunta simples. Apenas uma verificação se
serei preso amanhã - falo com honestidade.
- Você não será. Sou uma adulta.
- Tudo bem. - Graças a Deus! Seria doloroso recuar
agora. - Então me conte sobre sua noite especial que não
deu certo. Ou melhor. Responda algo antes: você sabia
que ele era casado?
Dependendo do que ela disser, decidirei se quero levar a
proposta de jantar em frente ou não.
- De jeito nenhum. Foi a primeira vez que nos vimos.
Eu o conheci em um aplicativo. - Ela começa a brincar
com o guardanapo em cima da mesa. - Deus, isso é
ainda mais esquisito dito em voz alta, mas a verdade é que
tudo fazia parte do plano doido de Luna.
- Luna?
- Minha irmã mais velha.
- Eu quero ouvir sobre esse plano.
- Por que você continuou me beijando mesmo depois
que Aiden foi embora? - Pergunta, desviando totalmente
o rumo da conversa.
- Porque eu quis.
Vejo os seios subirem e descerem, a respiração ficando
curta.
- E sua avó realmente se chama Mary Grace?
Cristo, como ela conseguiu sair do tópico beijo, que
estava começando a me excitar outra vez, para falar sobre
a minha avó?
Sacudo a cabeça novamente escondendo um sorriso.
Ela tem me feito sorrir mais em meia hora do que sorri no
ano passado inteiro.
- Você sempre faz perguntas aleatórias?
- Eu sou curiosa e analítica. Geralmente há mil coisas
passando pela minha cabeça ao mesmo tempo, então sim,
tenho tendência a fazer perguntas aleatórias. Minha boca
não acompanha meu cérebro.
Ela para e coloca as mãos sobre os lábios que há
menos de dez minutos eu estava provando.
- Eu não deveria contar sobre isso.
- Sobre o quê?
- Que eu penso demais. Geralmente assusta os
homens.
Ela muda sua atenção do guardanapo para os talheres,
a cabeça baixa, mas me olha por entre os cílios.
- Eu pareço assustado?
A sombra de um sorriso aparece enquanto sacode a
cabeça de um lado para o outro, fazendo que não.
- Nós vamos mesmo jantar? - Pergunta.
- Sim.
- Então preciso mandar uma mensagem para a minha
irmã. Dizer que está tudo bem ou ela ficará preocupada.
Aceno com a cabeça e a observo pegar o celular na
bolsa e digitar rapidamente. Instantes depois, ouço o som
de uma mensagem chegando e ela ri enquanto a lê. Então,
finalmente, guarda o telefone.
- Conte-me sobre os planos para sua noite de
comemoração. O que seria uma noite de sonhos para
você, Antonella?
- Fazer coisas que eu geralmente não faria.
- Eu preciso de um exemplo.
- Eu realmente não sei. Conhecer um cara legal era o
item principal - diz e cora novamente. - Conversar...
huh... moderadamente, no meu caso. - Um sorriso
sapeca aparece na boca gostosa. - Dançar.
- E agora seus planos foram por água abaixo.
Ela dá de ombros.
- Não tem problema. Nunca acreditei mesmo nesse
negócio de encontros às escuras. Além disso...
- Além disso? - Estimulo.
- Eu estou gostando de estar aqui com você. Então
meio que deu tudo certo, no fim das contas.
Há muito tempo que eu não aprecio tanto uma
companhia feminina. Ela parece falar tudo o que passa
pela cabeça e isso é como um bálsamo em meu mundo de
pessoas que fingem o tempo todo.
- E se eu puder lhe dar essa noite dos sonhos? -
Ofereço impulsivamente.
- Como se eu fosse a Cinderela? - Ela me presenteia
com outro sorriso torto.
- Você é muito mais bonita.
Não estou flertando. Não tenho hábito de soltar elogios
de graça, não importa se para homem ou mulher. Ela é
fascinante para cacete.
- Por que faria isso? Essa coisa de me dar a noite dos
sonhos, quero dizer.
- Porque quero passar mais tempo com você.
Ela morde o lábio inferior e eu lembro que disse que é
analítica. Eu pensei que também era até encontrá-la.
- Uma noite? - Pergunta.
- A princípio, sim.
Tento não demonstrar o quanto sua beleza mexe
comigo. Ela tem uma pele leitosa que me faz desejar
marcá-la com chupadas e mordidas.
Os seios cheios não estão à mostra em um decote
exagerado, mas eu consigo identificar um perfeito formato
de pêra por baixo do tecido.
Porra, ela me atrai demais.
Subo o olhar para o pescoço longo e perfeito. Paro nos
olhos que, agora sei, não têm uma cor definida.
- Nós começamos ao contrário - diz, ao invés de me
responder o que quero ouvir.
- Não acho que a ordem importa muito.
Ela agora roda o copo de água.
- Talvez você esteja certo e o que eu precise no
momento é não pensar tanto. Eu quero a minha noite de
sonhos, Hudson.
Capítulo 5
Antonella
- Isso é gostoso - digo, sentindo o gosto do salmão
cru na língua. Eu já vira alguns restaurantes japoneses
pela cidade, mas nunca tive coragem de provar. Hoje, no
entanto, estou totalmente no modo aventureira.
- É sim. - Ele dá uma resposta curta, parecendo
concentrado na minha boca.
Ele quase não tocou na comida, somente me observou.
Por todo o tempo que entramos na sala luxuosa e
privada para jantar, ele fez perguntas, deixando que eu
falasse sobre mim mesma, mas quase não contou nada
sobre si.
Fico tentando adivinhar quantos anos tem. Eu chutaria
uns trinta. Hudson não é como um dos rapazes com quem
já tive flertes inocentes ou até mesmo o que tentava me
sufocar com a língua.
O pensamento me faz dar uma risada e noto uma
sobrancelha dele se erguer.
- O que é engraçado?
- Eu não acreditava que pudesse me sentir bem
passando a noite ao lado de um estranho.
- Eu também não.
- O que isso significa?
- Você não estava planejada.
- E você planeja tudo?
- Normalmente sim.
- Parece a história da minha vida. Planos, cálculos. -
Dou um gole no suco de laranja. Ele também não quis
álcool, pedindo somente água com gás, gelo e limão. -
Mas estou achando divertida a minha noite de sonhos sem
planos definidos. O que mais faremos?
- Você falou em dançar. Ainda quer?
- Em uma boate?
- Pensei em algo mais privado.
Olho para ele sem entender se está me convidando para
ir ao seu quarto, mas parece que sou mais transparente do
que supunha porque um sorriso começa a despontar no
rosto másculo.
- Não tão privado quanto você está pensando.
Responda o que eu perguntei. Ainda quer dançar?
- Você não tem que ir dormir?
- Não. Quero mais tempo ao seu lado.
Engulo em seco com a resposta honesta, que é somente
reflexo dos meus desejos. Ainda não estou pronta para
encerrar a noite.
- Sim. Quero que minha noite especial seja completa.
Ele pega o celular e digita uma mensagem. Em seguida,
torna a me encarar.
- Por que você me olha tanto?
- Porque você é linda, Antonella.
Fico envergonhada com a resposta, mas satisfeita
também. Alguns rapazes já me disseram isso, mas ouvir da
boca de alguém como ele faz meu corpo formigar. A julgar
por sua aparência, Hudson já deve ter saído com mulheres
perfeitas.
- Obrigada. Você também é. - Devolvo e enfim crio
coragem para perguntar o que estou pensando desde que
começamos a conversar. - Por que me faz perguntas,
mas não fala quase nada sobre si?
- Não sou muito de compartilhar o que penso.
O celular dele vibra antes que eu tenha chance de dizer
que aquele não é um jogo justo. Estou curiosa sobre ele
também.