igreja consigo estacionar. Enquanto subo a ladeira sinto olhares sobre mim,
cochichos, e de canto de olho consigo ver que são mulheres de bochechas
coradas e sorrisos bobos.
Estão rindo de mim ou para mim? Cada dia que passa entendo menos
essas mulheres. Minha doce Sheron era tão fácil de lidar, amorosa, gentil,
educada. Nunca irei me conformar de como ela escapou por entre meus
dedos. Ainda me pergunto se eu poderia ter feito algo para evitar sua morte.
Sempre carregarei essa incerteza dentro da minha alma, e jamais me
perdoarei.
- Ouuu está garanhão hein? - Ethan se aproxima, sorrindo e
assobiando.
- E aí, poderia não ficar gritando isso? Já não estou me sentindo
confortável e você não ajuda.
- Ahhhhh qual é? Um delegado fodão com vergonha, cena épica.
- Ethan - resmungo entre dentes.
-OK. OK. - Erguendo as mãos em sinal de rendição, anda ao meu
lado. - Cara acabei de ver Camilly, se eu pego uma mulher dessa esfolo a
cabeça do gandalf.
- Gandalf? - questiono confuso. Ou seria melhor não pensar no que
significa.
- É meu pau, sabe, coloquei um apelido carinhoso.
- Você me assusta. Juro, e muito. - Recuo dois passos criando certa
distância entre nós.
Enfim chegamos à frente e longa da escadaria da igreja. Subimos
pulando de dois em dois, a cada passo tenho a sensação de que essa maldita
borboleta irá me sufocar. Contornamos a entrada principal procurando a
porta da lateral para os padrinhos. Encontramos e mais que depressa a
empurramos para fugir do calor escaldante. Assim que colocamos o pé
dentro da sala o ar gélido toca minha face, me fazendo suspirar de alívio
com os olhos fechados.
Ethan parado ao meu lado, me cutuca com o cotovelo. Observo ao
redor percebo o quanto chamamos atenção irrompendo pela porta daquela
maneira. Envergonhado, balanço a cabeça cumprimentando os demais.
Minha acompanhante disfarça rindo. Os meses em que Dylan
permaneceu no hospital em coma, esbarrei várias vezes com essa mulher, e
uma única vez conseguimos conversar por cinco minutos e para ser sincero
não parecia a mesma pessoa.
- Está charmoso senhor delegado. - Colocando um pé na frente do
outro como se estivesse desfilando, Camilly se aproxima puxando meu
braço para entrelaçar ao seu.
E agora, ferrou tudo. Quem desligou o ar condicionado? Está
esquentando aqui dentro também.
- É... Hum... Você está muito elegante, bonita, sabe. Bonita.
O som da sua gargalhada entra por meus ouvidos, desce por meu corpo
penetrando minha pele, causando arrepios.
- Entendi gracinha. Não precisa ficar envergonhado, sei que me acha
uma tentação. - Piscando, ela sorri com seus lábios carnudos pintado de
vermelho.
Puta merda! Foco Brian, lembre-se que ela não faz seu tipo.
Encaro sua boca, imaginando como seria tê-los em volta de algo
grosso e grande, sentindo a maciez e suavidade. Não, não, agora. Tento
afastar os pensamentos para coelhinhos fofos na fazenda. Engulo em seco,
sem saber o que responder, na verdade sei bem o que gostaria de fazer.
Colocá-la de joelhos e observar sua boca engolindo meu pau. PORRA
BRIAN! Não.
Seus olhos escuros e brilhantes encaram os meus de um jeito profundo
e sensual. E sou salvo pela cerimonialista que surge com a prancheta em
mãos, organizando os casais para a entrada. Seguimos a organizadora até a
porta de entrada e ficamos em fila, aguardando o sinal para cada um entre
com seu par.
Mantenho o olhar firme para frente, mas o perfume de Camilly atingi
em cheio meu nariz. Adocicado, suave.
Qual é Brian? Esqueceu Sheron, sua esposa?
Como um flash de memória, relembro o dia do nosso casamento. A
empolgação dela era contagiante, a dedicação com cada detalhe. Fez
questão de acompanhar os decoradores, o Buffet, ela era muito detalhista.
Todos amavam minha Sheron. Usando vestido branco de renda, com um
detalhe singelo no cabelo e um simples buquê de flores do campo.
- Brian. Brian. Vamos. - A voz feminina me traz dos pensamentos
perdidos.
- Sim, vamos - respondo, afastando as dolorosas lembranças.
Como todos os casamentos a noiva está atrasada e pude sentir a agonia
de Dylan enquanto aguarda no altar. O clima tenso impregnou o ambiente.
Ando alguns passos sutilmente e me aproximo o suficiente para que
ele possa me ouvir. - Desfaz essa cara, sua mulher está chegando ok. Ou
vou te dar um soco.
Objetivo alcançado com sucesso. Consigo tirar um sorriso tímido do
famoso agente do FBI.
De repente a marcha nupcial soa alto dentro da igreja, as portas se
abrem. Alyssa está maravilhosa usando seu vestido branco. E ao lado da
noiva dona Emilia, a sogra. Não sei como, mas com o passar do tempo Aly
conseguiu convencer Dylan sobre sua mãe ser tão inocente quanto eles, e
aparentemente fizeram as pazes.
Inquieto ao ver sua mãe, o pequeno Dominic se remexe no colo de
uma senhora e estica os braços na direção dos seus pais. O pequeno está
crescendo rápido.
Percorro meus olhos pela igreja enquanto a marcha ainda toca para a
entrada triunfal da noiva, me pego encarando a senhorita encrenca. E para
minha surpresa, ela me encara de volta com um brilho especial no olhar.
Fique longe tentação, bem longe.
Alyssa está maravilhosa em seu vestido especial de noiva. Lembranças
dolorosas invadem meus pensamentos, engulo em seco sentindo o sabor
amargo da saliva. Mas, minha amiga teve sorte, reencontrou seu grande
amor do passado e mesmo com tudo que aconteceu, agora, estão juntos e
serão felizes para sempre ou até que dure. Depois de tudo que passei só
quero viver minha vida em paz, e sozinha. O amor entre um casal é só um
sentimento ilusório da mais plena satisfação. Infelizmente descobri isso de
uma forma cruel, com muita dor e sofrimento. Mudar de nome, país e fugir
das consequências dos meus atos me custaram um alto preço. Com sorte
uma amiga da época da faculdade conseguiu me emprestar um dinheiro, e
pude recomeçar em um país novo, mas como nada vem fácil, por vezes
adormeci sentada no banco da praça por não ter onde passar à noite. Fome,
às vezes uma refeição por dia ou até mesmo nenhuma.
Já tinha perdido minhas esperanças e só desejava que a morte viesse ao
meu encontro, aquele mundo não tinha mais nada para me oferecer. Nunca
acreditei em milagres, mas a senhora Josefy foi um anjo enviado até mim
como um grande milagre. Ela estava caminhando na praça com seus
filhotes, ao me ver praticamente desmaiada no banco, suja, com fome, e
semiviva. Sentou-se ao meu lado. Permaneci com os olhos fechados, não
tinha força suficiente para reagir. Suas mãos enrugadas ergueram uma
garrafa d'água e um sanduíche na minha direção. Relutei por uns minutos
para aceitar a ajuda de um estranho, mas o que mais eu poderia fazer?
Esquecendo quaisquer resquícios de educação, tomei de suas mãos
rapidamente o que estava oferecendo. Sem cerimônias devorei em pouco
tempo o sanduíche.
- Obrigada - agradeci educadamente com a voz trêmula.
- Não precisa agradecer querida. Faz dias que há vejo sentada aqui
nesse mesmo banco. - Seu olhar terno e gentil, aqueceu meu coração.
- Hum... É obrigada novamente. - Abro um sorriso tímido e
envergonhado.
- Querida, por que está morando na rua? - Calada, encaro o rosto da
senhora. - Desculpe minha intromissão, mas uma mulher jovem e bonita,
assim na rua.
- Tudo bem, é complicado. Problemas familiares. - Colocando sua
mão marcada pela idade por cima, me surpreendi. E pela primeira vez, sinto
vontade de contar o que aconteceu para alguém.
Comecei a história desde o primeiro dia que conheci o Spencer, as
agressões, o cárcere privado, a perda do bebê, mas pulei a parte do
assassinato. Não queria que essa senhorinha bondosa sentisse medo de
mim, a assassina do próprio marido.
Então, um milagre chamado Josefy Carter surgiu na minha vida. Sem
filhos, irmãos ou parentes, ela era uma pessoa sozinha. Comovida, abriu seu
grande coração e as portas de sua casa para mim. Ajudou-me a mudar de
nome acrescentando seu sobrenome, assim me tornando sua filha. Durante
três anos pude sentir como era ter o amor de uma mãe, infelizmente Josefy
morreu com câncer de pulmão. O que tinha em abundância de bondade
tinha em teimosa. Pedi inúmeras vezes para fazer o tratamento e largar o
vício do cigarro, mas ela só respondia.
"Filha estou velha e cansada, quero morrer feliz fazendo algo que
gosto."
Como sua única herdeira, sou responsável pelo dinheiro e seus
investimentos. Camilly Carter, dona de uma pequena fortuna.
Só posso agradecer por ter encontrado um anjo em meu caminho,
graças a ela tive um recomeço. Confesso que tenho medo, sinto como se a
qualquer momento a polícia fosse invadir o apartamento e me prender pela
morte daquele cretino. Quando deito na cama e fecho os olhos, ainda posso
vê-lo com o cinto na mão. O ódio queimando em seus olhos, suas mãos
estrangulando meu pescoço enquanto me violentava. Já se passaram cinco
anos, mas tenho a impressão de que mesmo morto aquele desgraçado nunca
irá me dar paz.
Ergo a cabeça e sinto o olhar do delegado Brian sobre mim. Como não
iria notar um Deus em formato de homem? Moreno, alto, forte e com um
sorriso que molharia a calcinha de qualquer mulher. Seu único defeito é ser
policial. Impossível se envolver com aquilo que venho fugindo por anos, e
sei como esses policiais podem ser persuasivos quando querem descobrir
algo. Então, melhor manter distância e torcer a calcinha no banheiro.
Minha nova personalidade é descontraída, apaixonada pela vida. E
sim, descobri a sensação de gozar, coisa que o Spencer jamais conseguiu. É
típico a mulher fingir que está satisfeita para agradar o companheiro, mas se
tem algo que aprendi nisso tudo, jamais finja um orgasmo, deixe o homem
saber que ele fode mal, quem sabe assim aprende não pensar só no prazer e
satisfação pessoal.
Encaro os olhos escuros do delegado que desconfortavelmente se
remexe desviando sua atenção. Sinto um calor crescente percorrendo meu
corpo, não consigo evitar percorrer os olhos desde a ponta do seu sapato
másculo até o último fio de cabelo.
Como dizia Josefy: Filha tem que transar muito. Porque depois a
terra vai comer mesmo. Homem é objeto de prazer filha, o deixe pensar
que está te usando, mas na verdade quem está usando alguém é você.
Acatei cada conselho, Josefy era sábia. Em pouco tempo aprendi muita
coisa com ela, desde como investir o dinheiro até como ser feliz na vida
sexual, sem me machucar.
Dominic inquieto estica seus pequenos braços para os pais a todo o
momento, o que faz o padre acelerar os votos matrimoniais. Meus pés doem
dentro do sapato apertado, e logo ouvimos o sonoro SIM do casal de
pombinhos e o DECLARO MARIDO E MULHER. Aplausos seguidos de
gritos de felicitações ecoam dentro da igreja.