- Senhor? - Catarine bate na porta.
- Sim. - A policial pede que a acompanhe até a recepção, e assim o
faço.
Sentada no banco uma jovem mulher segura seu braço repleto de
hematomas, assim como o rosto. Os lábios vermelhos manchados com
sangue da agressão.
Engulo em seco. Meu sangue se agita nas veias fervendo de fúria.
Tantos anos presenciando vítimas de violência doméstica, mas ainda não
consigo ser indiferente. Quero ir até o desgraçado e ensinar que não se bate
em uma mulher, fazê-lo sangrar do mesmo jeito que sangrou uma pessoa
indefesa. Esfrego disfarçadamente as mãos suadas na calça. Peço para que
Catarine prossiga com o protocolo e em seguida a leve até minha sala.
Em poucos minutos tenho a Jeniffer sentada em frente à minha mesa.
Ao lado sentado no canto em frente ao computador outro policial tomando
nota do depoimento da vítima para inclusão nos autos do processo. Ouço
atentamente cada palavra que sai de sua boca.
- Sim, trabalho em dois empregos e ele sempre rouba meu dinheiro.
Não compra comida para casa, e quando não tem cerveja. Bom, acontece
isso. Seu delegado, eu e meus filhos passamos fome, não sei mais o que
fazer, depois de tantos anos, só criei coragem agora, por favor, nos ajude -
implora, soluçando e chorando.
- Podemos emitir uma medida protetiva para a senhora, impedindo
que ele se aproxime novamente. Mas tenho que ser sincero. Muitos casos
essas medidas são inúteis. Aconselho à senhora morar com algum parente
por um tempo, até pegarmos seu marido e tudo isso se resolver.
Mentir para as vítimas que medidas protetivas são eficazes, é como
entregá-las na mão do agressor novamente. E não posso permitir. Peço para
dois policiais acompanhá-la ao hospital para realizar o exame de corpo de
delito, e depois até a residência para que possa recuperar seus bens e os
filhos que se esconderam na vizinhança.
- Só mais uma coisa. A senhora por acaso sabe onde ele está nesse
momento? -questiono de forma desinteressada.
- Acho que deve estar no bar de um amigo dele.
- Qual o endereço, por favor?
Anoto cautelosamente o endereço. Irei levar a comunicação da medida
protetiva pessoalmente para esse desgraçado.
Aproximando-me do bar, desligo o farol do carro para não o alertar.
Confiro quantas balas tenho no pente da pistola, e a encaixo novamente no
coldre peitoral em seguida visto o casaco. Enfio as mãos no bolso da calça e
faço minha melhor expressão de policial bonzinho, afinal sou representante
da lei, não é?
Conforme me aproximo ouço o som de música alta, risadas
extravagantes. Piso dentro do bar, encarando tudo ao redor. Homens
bêbados discutem sobre futebol mal notando que entrei no estabelecimento.
Meus olhos procuram uma única pessoa, e mais ao canto com uma mulher
bêbada sentada no colo se encontra o agressor.
- Josef? - chamo.
- Quem é você? Não enche meu saco, babaca.
Puxo o casaco para trás expondo a arma e faço sinal com a cabeça para
a mulher sair. Correndo, ela se levanta e passa por mim de olhos
arregalados.
- Estou aqui para entregar a medida protetiva de sua esposa Jeniffer,
sabe o que significa?
- Ah ah... Sei... Grande merda. Aquela piranha foi reclamar de mim?
Cadê as provas que foi eu, poderia ter sido o amante, vai saber. - Respiro
fundo contando até cem, mas não funcionou dessa vez.
Avanço sobre ele fechando minhas mãos na sua camiseta, o ergo da
cadeira e bato seu corpo contra a parede com força. Aproximo a boca do
ouvido, para que sinta meu hálito quente no seu cangote.
- Escuta aqui desgraçado. Se chegar perto dela de novo, vou te caçar
até no inferno e meter uma bala nessa cabeça podre. Você entendeu? -
Espero uns segundos a mais e a resposta não vem. - ENTENDEU? -
digo cerrando os dentes.
- Si... Sim - gagueja.
Sorrindo satisfeito, me afasto soltando-o. As pessoas observam de
longe sem se intrometer. Deixo o documento em cima de uma mesa.
- Isso que acontece quando se é um agressor covarde. - Pisco para
eles, batendo o dedo com força no papel.
Viro-me de costas saindo do bar, e antes de sumir, ergo a mão e aceno
um tchau debochado. Cretino não se cria na minha área.
Desligo o chuveiro, empurro a porta de vidro do box e alcanço a tolha
pendurada no suporte da parede. Deslizo o tecido de algodão enxugando
minha pele. Levemente seca enrolo meu corpo, e pego outra para o cabelo.
Ando pelo banheiro até ficar em frente ao espelho. O reflexo de uma
mulher forte, madura e autossuficiente reflete diante dos meus olhos. Por
vezes me pego pensando como o destino pode ser cruel e jogar com a vida
das pessoas. Massageio minhas bochechas com as pontas dos dedos. E o
som do celular tocando me puxa de volta do momento de reflexão.
Ansiosa e com passos rápidos, chego rapidamente na escrivaninha e
com o aparelho em mãos confiro o nome que salta na tela.
"Luca Ricci"
Não era isso que queria ver na tela do celular. Droga esqueci
completamente do trabalho de tese relativas à pena. Era para ter entregado
hoje, mas tinha compromisso importante com o responsável por gerenciar
minha conta no banco. Recusar a chamada ou não? Pensando bem, o senhor
Luca é o professor mais rígido e exigente do curso de direito. Sempre sério
com a expressão fechada, impossibilitando qualquer aproximação. Respiro
fundo, e decido atender.
- Boa tarde. - Mantenho a voz firme, mas por dentro tremendo de
medo.
- Senhorita Carter? - Sua voz fria e penetrante faz minha pele
arrepiar.
- Sim. Desculpe prof... - Não termino de falar.
- Não quero saber das suas desculpas, guarde para quem realmente
irá acreditar nelas. Sabe o quanto estimo as notas dos meus alunos, todos se
graduam com louvor e não aceito menos. Dessa vez vou dar uma colher de
chá, tem até amanhã para entregar a tese, caso contrário irei reprová-la na
minha disciplina. Boa tarde.
Em seguida só ouço o som da finalização de chamada. Não esperou
nem que me despedisse. Isso só pode ser falta de sexo, apesar de que ouvi
boatos que várias mulheres o assediam pelos corredores da universidade.
Para um homem com quarenta e cinco anos, ele é bem gostoso. Mas com
aquela cara sempre amarrada duvido que saia com alguém. Tenho medo só
de imaginar, ou o professor Luca pode ser o famoso come quieto. Bom, isso
não é da minha conta. Deito na cama de costas, jogo o celular no meio dos
travesseiros, e encaro o teto azul pálido. Preciso terminar esse trabalho, não
posso reprovar nessa matéria.
"Suas mãos ásperas deslizam por minha barriga lentamente. Fecho os
olhos absorvendo o calor do seu toque. Ansiosa, mordo os lábios esperando
por mais. Pouco a pouco, suavemente, suas mãos abrem o botão da calça.
Apoio o corpo com os cotovelos levantando o tronco. Quero vê-lo.
Contorço-me quando seus dedos roçam meu clitóris, esfregando. Em
seguida sinto-os dentro de mim, fodendo minha boceta úmida. Entrando,
saindo, entrando, saindo, com ferocidade. Um dedo, depois dois, três,
alargando o centro para ele. - Brian - sussurro. Erguendo a cabeça seus
olhos castanhos se encontram com os meus em uma conexão intensa e
excitante. Os bicos dos meus seios se arrepiam de tesão marcando em
evidência no tecido da regata. Selvagem, cru, meu delegado me fode com
os dedos de um jeito dolorosamente prazeroso. A cada investida só quero
mais, mais, mais..."
Assustada, e suando frio, sento na cama. O que foi isso? Não Camilly,
esse homem não é para você, nem mesmo nos sonhos. Esqueça e siga em
frente. Além do mais, aquele ogro nem mesmo mandou uma mensagem
para saber como ficou após nosso flagra e sua saída temperamental. E
Alyssa ainda tem a cara de pau de dizer que Brian Garcia é um homem
honesto, sensível, ótimo partido. Aonde? No mínimo deve estar achando
que sou descartável, só porque paguei um boquete para ele. É como todos
os outros só mudam a profissão. Quer saber? Nunca mais quero olhar para
esse cretino, insensível. Pode viver em eterno luto pela esposa perfeita dele,
já que nenhuma mulher se iguala ao patamar de perfeição da falecida. Fala
sério.
Ainda enrolada na toalha, levanto, abro o armário em busca do
notebook. Enquanto ligo o note, vou até a cozinha e preparo uma xícara de
café. Cafeína será minha única companheira por hoje.
Atravesso o hall de entrada da universidade correndo como louca.
Tenho dez minutos para entregar a tese que virei à noite escrevendo. A
bolsa no ombro escorrega várias vezes ameaçando ir para o chão. Esbarro
em algumas pessoas no caminho, mesmo tentando desviar ao máximo,
sempre tem aqueles que ficam dormindo no corredor, e especialmente hoje
não estou com paciência.
Bato na porta da sala do senhor Luca, e aguardo. Sinto os pulmões
arderem a cada vez que respiro fundo, engulo em seco controlando a
vontade de vomitar meus órgãos. Definitivamente preciso praticar
exercícios físicos.
Após alguns minutos, a porta se abre revelando o professor gostosão.
Arrumo a bolsa novamente, e abro um sorriso amarelo. É difícil se
recompor instantaneamente quando você sentiu como se a sua alma tivesse
fugido do corpo.
Arrogante como sempre e com seu olhar de superioridade, estende a
mão para mim sem dizer nenhuma palavra. Entrego trabalho, e balanço a
cabeça positivamente. A sensação de alívio é maravilhosa. Sinto que estou
atraindo olhares, e só então, percebo que estou de pijama e chinelo.
- Droga - resmungo baixo, envergonhada.