MEU DELEGADO
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Capítulo 5 MEU DELEGADO- livro 3

Mais que depressa procuro a saída do bloco principal. Só posso estar

enlouquecendo de vez, a angústia e medo eram tanto que nem ao menos me

dei conta que não tinha trocado de roupa. Não tem problema, afinal,

consegui entregar a tese e estou livre dessa disciplina. Com a consciência

tranquila, caminho até o estacionamento em busca do carro. Conforme me

aproximo, aciono o alarme para abrir a porta.

Dirijo pelas ruas de Nova York escutando "Pyro – Kings of Leon". E

para completar a vergonha do dia, desafino cantando junto com o cantor,

com o braço apoiado na janela e uma mão no volante. Em vinte minutos

estaciono em frente do prédio. Sabe aquela música que faz parte da sua

playlist e você passaria o dia repetindo por várias e várias vezes? Essa é

uma delas. Então, contínuo sentada esperando que Kings of Leon termine

seu ícone musical. Fecho os olhos, e encosto a cabeça no banco.

Gritos femininos roubam minha atenção. Imediatamente coloco a

cabeça para fora e vejo Yasmim à vizinha de porta com seu namorado. Ele

está segurando-a pelos braços e chacoalhando o pequeno corpo

violentamente. Yasmim tenta se desvencilhar, mas é inútil. Ainda me

pergunto como uma jovem de dezessete anos pode perder tempo com um

traste. Ela súplica pedindo que ele pare. Lembranças nublam meus

pensamentos, me deixando paralisada. Quero sair do carro e ajudá-la, mas

não consigo me mexer. A mesma voz de cinco anos atrás sussurra que tenho

que reagir ser forte mais uma vez.

Buscando forças internamente, pego o celular dentro da bolsa e disco o

número da polícia relatando a agressão. E como sempre informam que iram

mandar uma viatura, mais em quanto tempo? Uma hora, meia hora? Tempo

suficiente para acontecer uma desgraça. Desligo a chamada, e cogito a

hipótese de descer do carro e ir até lá e esfregar a cara desse cretino no

chão.

Através do retrovisor consigo ter uma boa visão da situação, e sou

surpreendida quando o homem ergue sua grande mão descendo uma tapa no

rosto de Yasmim, fazendo a jovem recuar alguns passos para trás. Sem

pensar em nada e cega de raiva, abro a porta com força, e corro até o cretino

pulando nas suas costas. Assustado, ele cambaleia em seus próprios pés.

Com os braços em volta do seu pescoço aperto para sufocá-lo, infelizmente

não tenho força suficiente.

Desesperado, agarra em meus braços tentando me tirar de cima, nem

um guindaste me tira daqui. Grito vários palavrões em seu ouvido e

continuo pendurada. O agressor xinga, esbraveja, enquanto Yasmim assisti

a cena de longe sentada no chão. A luz vermelha e azul reflete na fachada

do prédio, e a sirene soa alto.

Até que enfim.

- Vou processar essa delegacia.

Ouço vozes alteradas vindo diretamente da recepção. Processar-nos

por qual motivo? Penso comigo mesmo enquanto termino o relatório da

promotora Suzana. Estou atrasado com o prazo de entrega, então, decido

que outros podem muito bem lidar com a situação.

- Eu não fiz nada, ele fez. Bateu nela, e a polícia demorou demais,

alguém podia ter morrido.

- A senhorita é testemunha da agressão. E senão ficar calma, irei

detê-la por desacato, entendeu?

OK. Acho que está na hora de intervir.

Clico em enviar o documento, fecho o notebook. Ajeito minha camisa

deslizando as mãos para tirar as marcas do tecido. Abro a porta da sala, e

quanto mais me aproximo da confusão tenho a ligeira impressão de que

conheço aquela voz.

PUTA QUE PARIU! Camilly?

Não consigo evitar que meus olhos percorram seu corpo. Cabelos

soltos, nos pés chinelos de tecido, e de pijama. Na, verdade não posso

considerar isso como pijama. O short é tão curto marcando a bunda que

tenho vontade de arrancá-lo com os dentes, e a parte de cima desperta meu

pau causando os efeitos de uma bomba atômica dentro da calça. Ela não

está usando sutiã? Seus bicos arrepiados marcando o cetim me faz salivar.

Merda. Merda. Merda. A visão de tê-la sobre a mesa com as pernas

abertas, rendida aos meus desejos me enlouquece.

Lembranças da sua boca chupando e engolindo meu pau dentro do

banheiro invadem meus pensamentos. Paralisado, observo de longe

tentando manter o controle para me aproximar. Sheron. Isso, prometi que

não iria ter outra mulher na minha vida e manterei a promessa. Abro dois

botões da camisa para refrescar o calor que está me consumindo. Respiro

fundo, e avanço os passos em direção à confusão.

- Camilly? - chamo por seu nome.

Lentamente ela se virá para trás ao ouvir minha voz. Seus olhos

castanhos se encontram com os meus, e posso ver que ficou tão surpresa

quanto eu. Engolindo em seco, noto que suas bochechas ficam coradas

instantemente. Ergo uma sobrancelha totalmente confuso. Nunca imaginei

que poderia vê-la com vergonha, nem sabia que ela sentia isso.

- Brian? Ah que ótimo você é o delegado, então? - Sua expressão

muda de surpresa para furiosa em fração de segundos.

- Sim, sou. O que está acontecendo? - direciono a pergunta ao

policial responsável.

- Senhor, essa moça é testemunha de uma agressão física. O casal

está prestando esclarecimentos. Mas, não entendo...

- Olha aqui. - Camilly ergue a mão interrompendo o policial. - Ele

bateu na namorada na rua, e eu bati nele. Ele não tem que prestar

depoimento e sim ser PRESO, entendeu? P.R.E.S.O - soletra a palavra

para o policial.

Caralho, como pode ficar ainda mais sexy?

Limpo a garganta atraindo sua atenção, e cruzo os braços fazendo

minha melhor cara de delegado mal.

- Por que está de pijama na rua?

Maldição que porra de pergunta é essa? Perdi a oportunidade de ficar

calado. Foco Brian, a questão aqui é a agressão e não as curvas da meliante.

Inquieto troco o peso do corpo de uma perna para a outra.

- Isso não é da sua conta, delegado - esbraveja entre dentes como

uma leoa furiosa.

Encaro os lábios carnudos, mas não entendo nenhuma palavra, só

consigo lembrar quando esteve envolta do meu membro. Então, tudo

acontece muito rápido. Camilly tem seu corpo girado contra o balcão com

os braços para trás, o policial recita o código penal enquanto pega as

algemas. Avanço sobre ele, seguro seu braço e o empurro para trás.

Cambaleando recua alguns passos e me encara surpreso com a atitude.

- Não toque nela, entendeu? - O som da minha voz em conjunto

com as palavras soa possessivamente. - Dispensado, vou cuidar

pessoalmente da senhorita.

Minhas mãos descem até a cintura de Camilly segurando firme, e

ajudo-a a se recompor, mas não consigo evitar o contato físico. Essa mulher

é como fogo, sempre pronta para incendiar tudo ao redor, o problema é o

estrago que causa no final. Subo suavemente às mãos por suas costas,

acariciando a pele por cima do tecido de cetim. Respirando fundo, seu peito

sobe e desce rapidamente. Sinto a maciez dos seus cabelos nas pontas dos

dedos misturando à fragrância deliciosa de morango. Distraído com a

situação, não notei que atraímos olhares curiosos.

Afasto-me rapidamente, devolvendo aos expectadores uma expressão

cortante e mortal. Camilly permanece calada e encarando o nada a sua

frente.

- Senhor posso registrar a ocorrência? - Catarine empurra a cadeira

e fica em pé atrás do balcão.

- Sim, e você - aponto para a senhorita encrenca. - Vem comigo.

- Limpo a garganta. - VOCÊS NÃO TÊM O QUE FAZER? - grito

dispersando os policiais.

Enfio as mãos nos bolsos da calça, viro de costas, e com passadas

largas entro na minha sala. Encosto no batente e a espero entrar também.

Assim que atravessa a porta, fecho e tranco passando a chave. Puxo a

cadeira e faço gesto para que se sente. Calada, muda, e sem reclamar, ela

senta cruzando as pernas sensualmente para me atormentar. Aposto que está

fazendo de propósito querendo me desestabilizar, mas dessa vez não.

Desvio o olhar, suando frio. Dou a volta por trás do seu corpo, indo até à

mesa e sento-me. Desconfortável, inquieto, e queimando por dentro apoio

os cotovelos na madeira maciça, e encaro seu rosto diabólico.

Algo está diferente. Por que não ergueu a cabeça ainda? Essa não é

uma atitude típica de Camilly Carter.

- O que está errado? Quer dizer, além do fato de se meter em uma

briga na rua, e estar em uma delegacia só de pijama.

- É só que me lembrei do meu... - Calando-se imediatamente não

termina a frase. - Não é da sua conta, delegado. Vai pegar meu

depoimento ou não? Tenho coisas para fazer. Pode ser?

Agora sim, essa é a Camilly que conheço. Ousada, agressiva,

determinada, gostosa. BRIAN. FOCO.

- Conte como aconteceu, quero detalhes. - Digito o código do

sistema, e anoto cada palavra minuciosamente.

Erguendo os braços, ela puxa seus cabelos para cima e faz um coque,

prendendo-os. Alguns fios escapam contornando o rosto, deixando-a ainda

mais sensual. Engulo em seco, observando seus movimentos. Como se

notasse o efeito que causa sobre mim, desliza as mãos pelo pescoço.

PALAVRAS, DEPOIMENTO, SISTEMA.

Tento ao máximo voltar minha atenção para a tela do computador, mas

meus olhos são traidores e não desviam dessa tentação. É isso, estou sendo

colocado a prova, só pode.

- Pronto isso é tudo pode ir - concluo o mais rápido possível.

- Já acabou?

- Sim - respondo.

- Então, vou indo. Obrigado Brian.

O som do meu nome saindo dos seus lábios arrepia os pelos da minha

nuca. Levanto da cadeira, e passo por ela para abrir a porta.

- Por favor, não entre em mais confusão.

- Olha aqui, você não manda em mim, ok? - responde nervosa.

Que caralho é esse? Só quero ajudar essa ingrata. Avanço alguns

passos em sua direção enquanto ela recua para trás até encostar-se à parede.

Espalmo uma mão de cada lado da parede, encurralando-a no meio dos

meus braços. Aproximo o rosto do seu para que possa sentir minha

respiração. Encaro dentro dos seus olhos, e agora quem está engolindo em

seco não sou eu.

- Você não vai se meter em encrenca de novo, senão te coloco em

uma cela e deixo dormir lá. Entendeu?

- Eu não...

Interrompo-a.

- Entendeu Camilly Carter? - digo entre dentes.

Como não reparei antes que suas irises têm rajadas de cor verde? E

assim de perto seu perfume é ainda mais gostoso. Mas essa demônia

consegue puxar a merda para fora do meu controle.

- Si... Sim... Entendi - gagueja.

Abro um sorriso de canto, e desço o nariz até a curva do seu pescoço,

roço suavemente contra a pele, inalando seu cheiro. Ofegante, sinto Camilly

se remexer.

PORRA! PORRA!

Subo os lábios até sua orelha, e sussurro.

- Ótimo. - Para brincar de gato e rato é preciso de dois indivíduos,

senhorita Carter. - Agora vai, tenho coisas importantes para fazer.

Puxo os braços e inclino o corpo para trás, mas Camilly agarra a frente

da minha camisa me puxando de encontro ao seu corpo. Esfregando os

seios no meu peito, ela sorri descaradamente.

- É bem sexy seu lado mandão. Mas, não preciso de você, cuide da

sua vida, Brian.

Ficando nas pontas dos pés, ela roça os lábios nos meus

delicadamente. Em segundos me segurando, em seguida me empurrando

para longe.

- Adeus!

Sem dizer nenhuma palavra a vejo sair da sala rebolando a bunda, os

cabelos escapando do coque e cobrindo suas costas.

Essa mulher vai ser minha perdição.

Atravesso a porta de saída da delegacia, e sinto os raios de sol tocando

minha pele. Fecho os olhos e respiro fundo em uma tentativa de acalmar

meu coração que bate acelerado. Minhas mãos tremem em conjunto com o

resto do corpo, esse delegado é louco. Como se atreve a me tratar daquele

jeito? Primeiro se faz de difícil, depois se rende por inteiro, mas corre igual

diabo foge da cruz, e agora, quer bancar o preocupado? Senhor Delegado

Brian Garcia está precisando de tratamento psicológico, maluco.

Flashs de consciência atingem meus pensamentos, e noto que acabei

vindo até o lugar que mais tenho receio e medo, a polícia. Assassina,

fugitiva, e com identidade falsa, no mínimo trinta anos de reclusão. Quando

decidi que iria cursar a faculdade de direito, Josefy não entendeu o porquê,

já que seria sua herdeira e responsável por administrar seus bens, mas uma

mulher prevenida vale por duas, precisava saber tudo sobre leis e os riscos

que corro caso me encontrem. Por fim, gostei do curso.

Caminhando rapidamente me afasto do prédio da polícia.

Sem carteira, dinheiro, carro, e de pijama, ando pelas ruas de ova York.

Devia ter pedido carona para os policiais, mas não iria dar o gostinho para

aquele ogro rir de mim logo após dizer que não preciso de cuidados. Pelo

menos estou fazendo o exercício da semana inteira, nota mental, nada de

academia.

Depois de uma hora andando a pé, algo me diz que deveria ter

engolido meu orgulho. Meus pés estão em bolhas e as pernas latejando.

Força Camily, você já passou por coisas muito pior que isso. De longe vejo

uma praça, acelero os passos e sento no primeiro banco que encontro.

Exausta tombo a cabeça para trás apoiando na madeira, e encaro o céu

estrelado. Recordo-me das noites que adormeci ao relento sentindo frio,

fome e medo. Acho que nunca serei grata o suficiente a Josefy. Às vezes me

questiono por que demorei tanto tempo para fugir daquele monstro? Medo?

Covardia? Não ter dinheiro? Apoio? Família? Spencer sempre jogava na

minha cara que não tinha como sobreviver sem ele, suas agressões verbais

eram tão fortes quanto às físicas. Para ser sincera acho até que eram as

verbais que doíam mais, minando minha capacidade como ser humano. Dia

após dia, a pessoa falando o quanto se é inútil, imprestável, indesejável, se

torna sua verdade. Infelizmente. Sinto lágrimas rolando por minha face.

Ainda posso ouvir sua voz asquerosa embriagada gritando e me

chamando de vadia inútil. Como em um filme as lembranças da nossa

última noite invadem minha cabeça.

- Camilly? - Levanto a cabeça ao ouvir uma voz grossa e máscula

chamando meu nome.

Meus olhos sobem lentamente encarando um par de tênis, subindo as

panturrilhas a mostra que por sinal são grossas e definidas, e continua

percorrendo as coxas escondidas atrás de um shorts de tecido leve, seguido

de um abdômen marcado na regata justa ao corpo, até chegar ao rosto.

UAU! Luca Ricci - Professor? - questiono boquiaberta com o que

vejo em pé na minha frente.

- Luca, por favor. Estamos fora da faculdade, e você já está em fase

de conclusão do curso. Acredito que tais formalidades não são necessárias

no momento.

- Ok. Desculpe.

                         

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