A Madrasta e o CEO
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A Madrasta e o CEO

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Capítulo 1 Capitulo 1

Às vezes me pego a pensar em como as coisas poderiam ser diferentes! Bastava que minha mãe ainda estivesse comigo e talvez esse fardo fosse mais fácil de suportar.

Éramos três e as coisas sempre pareciam bem. Mesmo minhas lembranças levando-me à uma época em que eu tinha somente 11 anos de idade, as coisas pareciam perfeitas ao meu ver.

Casa humilde, conforto mínimo, mas vivíamos felizes, isso é algo certo em minhas lembranças, mesmo que há tempos não saiba o que isso signifique.

Depois desta época lembro de consultas, médicos, de minha mãe sempre deitada, fraca, a cabeça não abrigando sequer um fio de cabelo.

Mais tarde descobri que o que a fazia tão debilitada era um câncer. Descobri que minha mãe teve uma forma agressiva de tumor na mama e que, mesmo lutando bravamente por dois longos anos, ela perdeu a luta e sucumbiu a esta maldita doença.

E depois que minha mãe partiu, as coisas nunca mais foram as mesmas.

Tive que aprender a fazer muita coisa sozinha. Tive que aprender a conviver com a ausência de dona Elenice e indiretamente de meu pai.

Sim, no momento que mais precisei, ele se atolou no trabalho, afastou-se fisicamente de mim para curar sua própria dor e com o tempo a distância emocional passou a ser insuperável.

Continuei estudando na mesma escola que frequentava, onde minha mãe era professora. Acho que por pena ou por algum pedido feito por ela, frequentava a escola em tempo integral, o que facilitou para que meu pai dedicasse ainda mais tempo ao trabalho, que de repente passou a ser a

coisa mais importante para ele, mesmo que tivesse uma adolescente para amar, mas de repente parecia que Fernando dos Santos tinha esquecido o que era isso.

E seu esforço no trabalho começou a ser reconhecido, mesmo que neste momento ele quase nem lembrasse de minha existência. Mesmo que os momentos de carinho já não existissem e seu cansaço físico fosse tal, que ele sequer questionasse como tinha sido o meu dia. De repente o alto escalão da Solar Madeireira Paulista percebeu que o contador que trabalhava na filial seria mais proveitoso se fosse trabalhar no escritório central. Que seria mais útil como chefe da equipe, visto que a pessoa que coordenava o serviço anteriormente havia acabado de se aposentar.

E foi aí que iniciou o meu suplício.

Como se perder a mãe e o amor do pai não fosse suficiente. Como se meus dias não fossem difíceis o bastante.

Percebi com o passar dos anos que as coisas poderiam piorar e certamente iriam. Só que naquele momento não imaginava o quanto.

Aos 15 anos já morávamos no apartamento da empresa, localizado próximo ao edifício central, onde os executivos coordenavam o desempenho das filiais e avaliavam os números da empresa que aparentemente só aumentavam.

Digo isso por continuar estudando em tempo integral, na capital paulista, agora não sendo mais um favor e sim pago por papai, que desconfio gastar este dinheiro para não ter que se preocupar com uma adolescente melancólica que foi o que me tornei.

E não foi só a escola em tempo integral que mostrava que as coisas iam bem no trabalho. O carro foi trocado por um modelo atual, suas roupas agora eram basicamente terno e gravata e a imagem que tinha do meu pai desaparecia ainda mais com suas novas vestimentas.

Mais e mais sentia-me distante dele.

Numa das raras vezes que me participou algo do seu trabalho, papai relatou-me que tinha sido promovido a diretor e garantiu-me que era um cargo bem alto e que ele sonhava em alcançar um lugar ainda mais elevado dentro do grupo.

A partir de então começou a participar de jantares de negócios, ter uma vida noturna movimentada e nosso tempo juntos passou a ser inexistente.

Jamais se incomodou em deixar uma adolescente sozinha. Jamais preocupou-se com o meu bem-estar.

Imaginava talvez que bastava deixar a geladeira cheia de comida congelada de supermercado e um cartão de crédito para que eu pedisse comida em um aplicativo desses qualquer.

Talvez o sonho de muita adolescente: cobrança zero e liberdade total.

Mas para mim isso era considerado descaso. Magoava-me sobremaneira essa falta de cuidado.

Sem uma mãe para me aconselhar e um pai ausente, tornei-me uma jovem retraída, que sequer sabia manter um diálogo, sequer tinha vontade.

Sem amigos, nem sequer confidentes para desabafar toda a tristeza que preenchia-me a alma.

E cada vez afastava-me mais, cada vez habitava um mundo em que somente lembranças boas existiam. Lembranças de uma família feliz e esses devaneios impediam-me de ceder a dor que me maltratava.

E o tempo foi passando e meu pai aparentemente saía-se cada vez melhor e galgava cada vez mais rápido ao topo e mais distante ainda do pai que outrora foi.

E um infortúnio do destino somente tornou impossível o que já era péssimo.

O grande presidente do grupo Solar Madeireira Paulista faleceu em um acidente de trânsito. Uma fatalidade.

Um bêbado invadiu a contramão, colidindo de frente com o veículo do presidente da empresa.

Leandro Rodrigues faleceu ainda no local, sendo noticiado em todos os meios de comunicação.

No momento em que tudo isso aconteceu, meu pai era o braço direito dele, por administrar as finanças da empresa.

Percebi que meu pai já não habitava o corpo daquele homem que morava comigo quando o vi vibrar com a chance de ser promovido a presidente interino, visto que o herdeiro tinha somente 21 anos e sequer tinha experiência, pois preocupava-se mais com festas do que com qualquer outra coisa.

- Esta é a grande chance que eu estava esperando!

O homem que conheci jamais estaria tão feliz com esta possibilidade de promoção. Não quando para usufruí-la uma pessoa tenha perdido a vida, uma pessoa que sabidamente reconheceu seu trabalho.

E a distância entre nós tornou-se um abismo intransponível.

De repente completei 18 anos e meu pai sequer se lembrou de me parabenizar.

Ele estava mais preocupado em se manter no cargo. Estava mais preocupado em consolar a viúva.

Sim, meu pai aparentemente comoveu-se com a situação dela, aparentemente condoeu-se com sua dor.

E qualquer tempo livre que restava era destinado a ela e a família. Aos órfãos do pai morto, sem sequer preocupar-se com a órfã de um pai vivo.

Era assim que me sentia. Órfã. Desamparada.

E isso tornou-me ainda mais reservada, talvez até antissocial.

E todo cuidado e amparo talvez tenham surtido o efeito desejado. De repente meu pai estava sendo apresentado como namorado da socialite e herdeira Virgínia Rodrigues.

Talvez o homem que um dia chamei de pai não fosse capaz disso, mas a pessoa que dividia o apartamento comigo era capaz disso e muito mais.

Acho sim que tudo foi planejado, que o cuidado dispensado tinha esse intento, agora atingido.

Ele passou de presidente interino a presidente efetivo e visto com bons olhos por toda a diretoria e pelos familiares.

Finalmente ele está onde sempre quis estar.

Finalmente ele está a anos-luz de distância de sua única filha, mais próximo de todo poder e dinheiro que parece tanto lhe agradar, que parece ser tão importante para o homem que um dia conheci.

E claro que se mudou para a mansão nos Jardins, claro que ele queria usufruir de todo o conforto e glamour.

E infelizmente levou-me com ele.

- Até os 21 anos você fica comigo, Clara.

E era um ultimato. Era já um aviso que nosso tempo juntos tinha prazo para acabar.

E jamais achei que esperar três anos me pareceria um tempo longo demais. Que vinte e um anos talvez fosse uma idade longe demais para ser atingida.

E confirmei isso segundos após pisar meus pés naquela casa.

Ostensiva de todo o luxo que o dinheiro podia comprar, mas que não transmitia a mim outro sentimento que não fosse vazio, que não fosse solidão.

E infelizmente isso era o mínimo que me esperava, isso era talvez a parte boa do pesadelo que se iniciava.

Percebi que meu pai talvez tenha ganhado uma nova esposa, mesmo que ela se recusasse a oficializar a situação deles e isso por si só já dizia muita coisa sobre este relacionamento, que para mim mais parecia com um contrato comercial, onde ele ocupava o cargo que sempre almejou, mas estava mais do que vigiado pelos herdeiros, mais precisamente a vigilância era feita até quando ele dormia.

Como não sou boba, sei que ela se sujeitou a estar com um homem da classe social de meu pai, tão distante da de si própria, para ter alguém competente à frente da empresa. Sei também que se ele não tivesse essa serventia, sequer pisaria na calçada da sua casa, quiçá deitaria em sua cama.

E como sei disso?

Pelo olhar que dirige a mim.

Como não tenho importância para a manutenção da empresa no patamar que alcançou, sou vista como um ser indesejado, inferior.

            
            

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