A manhã começa estressante para Lorenzo. Impacientemente bate os dedos na mesa de madeira branca, recostado em sua cadeira alta e confortável, de couro também branco, em sua sala recém redecorada toda em branco. Ele tem bom gosto, escolheu e decidiu cada detalhe, desde os quadros com emoldurados negros, até o carpete debaixo de seus pés.
Estar estressado ou irritado é, basicamente, para aqueles que o conhece, sua marca natural, faz parte de sua personalidade implacável. E quando algo não lhe agrada, sua expressão, que já não é muito amigável, consegue ficar ainda pior.
O motivo de estar mais irritado que o normal é que no setor de fotografia, coordenado por sua irmã, o fotógrafo e a modelo de uma campanha em que estão trabalhando haviam discutido seriamente e Lorenzo precisou intervir para resolver a situação. Sem paciência para brigas fúteis, acabou demitindo o fotógrafo.
Nesse momento, Annie entra nervosa em sua sala.
- Não estou acreditando que você demitiu o fotógrafo em uma véspera de desfile, Lorenzo!
- Para começo de conversa, Annie... - Lorenzo fala com a voz firme, olhando com fúria para irmã. - Sou eu quem manda nessa merda e nessa cidade há muitos fotógrafos desempregados. Você vai conseguir outro fotógrafo logo. - fala com convicção. "Existe tanta gente desempregada nessa cidade, impossível que ela não consiga uma competente", pensa, querendo logo dar um fim naquela discussão. - pensa contrariado.
- Você está insuportável! E desse jeito ninguém vai aceitar trabalhar aqui!
- Olha o respeito comigo, garota!
- Ah! Logo você querendo respeito! Logo você que não respeita ninguém aqui!
- É aqui mesmo que não devo respeito a ninguém. Muito pelo contrário, me devem respeito e obediência. E quem não estiver satisfeito, a porta da rua é serventia da casa. - Lorenzo responde, levantando da sua cadeira e apontando para a porta.
- Nosso pai não tratava as pessoas assim, Lorenzo! - diz Annie, encarando o irmão, ainda de pé em frente a sua mesa.
- É mesmo? É por isso que essa empresa virou essa bagunça! E trate de se acostumar logo, porque eu não sou o nosso velho. - debocha, pois achava que seu pai dava confiança demais aos funcionários.
- Sinceramente, não te conheço mais! - fala encarando o irmão, furiosa. Sua vontade é voar no seu pescoço e lhe ensinar boas maneiras.
- Que bom, porque aqui eu sou seu chefe e exijo respeito! - declara Lorenzo, passando as mãos nos cabelos e sentando na cadeira novamente.
- Ah! Quer saber? Que se dane se você é o chefe! Para mim, isso não interessa! Não tinha o direito de demitir ninguém do meu setor, principalmente em minha ausência!
- Então avisa ao seu pessoal para, na sua ausência, não me chamar para resolver seus problemas.
- Vá se ferrar, Lorenzo! E não se meta mais no meu setor!
Annie sai da sala do irmão batendo a porta e totalmente irritada. "O que vou fazer agora sem o fotógrafo? ", se pergunta, quase entrando em desespero. Porém consegue pensar em uma pessoa que pode ajudá-la nesse momento. O único problema é que terá de convencê-la a lhe quebrar esse galho.
Lorenzo ainda está bastante irritado. Passa as mãos várias vezes em seus cabelos compridos e na barba, tentando acalmar a frustração. Pensa que se sua irmã não contratasse pessoas incompetentes estaria livre de problemas como esses. Não é porque Annie é sua família que tem que tratá-la com regalias na empresa. E decidiu que, quando se acalmar, conversará seriamente com ela.
Lorenzo assumiu a agência há seis anos, quando seu pai ficou muito doente. Sua filosofia de trabalho é a de que se não tratar todos com mão de ferro, virará uma completa bagunça. Se tornou, além de um dos donos, o presidente e não permite intimidades com os funcionários, pois, se o vissem como amigo, poderiam confundir as coisas. Alguns amigos lhe dizem que ele só vive para o trabalho. É sempre o primeiro a chegar e o último a sair do escritório e, apesar de pensarem o contrário, nas horas vagas, se diverte do seu jeito.
Horas mais tarde, a empresa já se encontra quase vazia. Cansado e com fome, Lorenzo sai em direção a garagem, a procura de sua "menina", uma moto Ducati Panigale de 1.299 cilindradas, uma de suas paixões, além de alguns esportes radicais. Sai do edifício rumo à noite fria e solitária de Londres, tendo, como sua única companhia, a adrenalina correndo em suas veias.
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