Lianne ainda nem mesmo havia contado à sua irmã gêmea sobre seu problema. Analise iria dirigir até a casa e se unir a ela assim que soubesse da notícia, mas, no momento, Lianne não queria ninguém por perto.
Nesse instante, seu celular tocou. O aparelho já havia tocado uma dúzia de vezes nesse dia. A cada vez, o animado som a alarmava, tirando-a dos devaneios por alguns segundos. O celular estava repousado no balcão da cozinha. Lianne podia ouvi-lo, mas não estava disposta a deixar seu aconchegante casulo para entrar na casa a fim de atender a ligação.
A contínua agitação do mar deixava-a hipnotizada. A brisa fria soprava contra seu rosto.
O celular parou de tocar. Ninguém sabia onde ela estava. Lianne telefonara para o escritório após sair do consultório da médica e informara à assistente que iria viajar por alguns dias. Sem parar para avisar qualquer membro da família ou amigos, ela havia dirigido direto para a praia. Cedo ou tarde teria que telefonar para alguém ou todos iriam ficar preocupados. Mas ainda não era o momento.
O celular tocou novamente. Por um momento, Lianne pensou ter ouvido um som furioso. Suspirando, ela se ergueu da poltrona situada na varanda e entrou na casa. Suas cólicas estavam controláveis, mas ela encurvou o corpo levemente para frente. Deveria ser Traynor Elliott, ela pensou. Seu chefe era persistente. Se ele decidisse que precisava falar com ela, era melhor que ela atendesse a ligação ou quem sabe o que ele poderia fazer a seguir. Lianne apanhou o celular e abriu o flip.
-Sim?
-Onde diabos você se encontra e por que a pasta dos Schribner não está onde deveria estar? -Tray resmungou.
-Estou tirando uns dias de folga, e a pasta está com Jenny. Peça a ela. -Lianne respondeu contrariada. Ela não estava disposta a acalmar seu chefe. No momento, estava com seus próprios problemas. -Você tem um prédio cheio de funcionários, chame um deles e encontre sua maldita pasta.
O silêncio do outro lado da linha durou apenas um segundo.
-Está doente? -ele quis saber. -Você não costuma faltar ao trabalho e muito menos sem dar qualquer aviso.
Lianne inspirou profundamente. Ela não era amiga do chefe, embora eles trabalhassem juntos há anos. Quanto mais ela trabalhava na empresa, mais os dois se complicavam. Por um momento, ela desejou que pudesse confiar um segredo a ele. Tray era bom em resolver problemas. Mas, da forma que os dois eram fechados no trabalho, eles preferiram manter suas vidas pessoais reservadas.
-Voltarei dentro de alguns dias. Você pode cuidar das coisas até lá. -Lianne encerrou a ligação e fechou o flip.
Ela precisava telefonar para a irmã. Uma vez que aceitasse a situação, ela iria querer o sábio conselho de Analise. Mas, por enquanto, queria se esconder e não conversar com ninguém... Principalmente com sua irmã. Não que ela estivesse precisamente com inveja de sua irmã gêmea.
Certo, talvez estivesse um pouco.
Analise e Dominic haviam se casado há cinco anos. Eles moravam em um adorável apartamento próximo ao Dupont Circle, no Distrito. Ambos eram bem-sucedidos em suas respectivas profissões e viajavam com frequência para lugares exóticos. Algumas vezes, as viagens estavam ligadas ao trabalho de Dominic, que era técnico de uma empresa de computação. As outras vezes eram apenas por diversão.