Ando de um lado para o outro, sentindo agora minhas mãos frias.
- Eu queria antes saber como era, pra depois me apresentar.
Paro de andar e olho pra ele.
- Poxa, que legal! Eu posso enfiar minha cara, engolir minhas inseguranças e medos pra encontrar você, mas o senhor"sou lindo demais e sofro com isso", não pode expor sua beleza de cara?
- Catarina!
Levanta e quando vem se aproximar ergo minha mão.
- Não! Fique a uma distância segura de mim ou te pico em vários pedaços do meu tamanho.
Grito furiosa e não consigo se quer olhá-lo.
- Quer dizer que esse tempo todo me avaliava e via se eu servia pra você?
Deus, isso está doendo tanto quanto imaginar ele com a minha irmã.
- O belo Gustavo decidia see a estranha Catarina supriria suas expectativas?
- Não!
Fala desesperado e passa as mãos pelos cabelos.
- Não sou bom em encontros e sempre acho que as pessoas só estão ali por isso...
Aponta pra ele todo.
- E não pra conhecer isso.
Aponta para o seu peito, especificamente seu coração. Cruzo meus braços e finalmente o encaro.
- Você assim que me viu soltou um "Deus grego".
- Você é um Deus grego, nada vai mudar isso. Te olhar e te admirar é algo impossível de controlar, mas em nenhum momento me joguei ou dei a entender que te queria. Estava ali pelo Osvaldo, o cara que a merda daquele site me apontava como perfeito pra mim.
- Eu sou perfeito pra você!
- Mas parece que eu não sou perfeita pra você, já que me deixou ir embora e nunca me contou isso enquanto nossa amizade crescia.
- Catarina, eu não consegui.
Solta nervoso e se passar mais uma vez as mãos no cabelo, vai ficar careca.
- Você foi incrível aquela noite e fiquei o tempo todo querendo te contar sobre mim, mas não consegui. Quando estava indo embora me desesperei e fui atrás de você.
- Pra me mandar ter encontros na sua cara? Isso significa ir atrás de mim?
- Estava assustado com o fato de gostar de você. Fiquei surpreso por ter me encantado com a mulher de um site de relacionamentos.
Não digo nada, me mantenho nervosa e afastada.
- Na hora eu tive a ideia idiota de tentar te conhecer melhor, enquanto tinha seus encontros.
- Você é um completo idiota, Gustavo!
- Eu sei!
- Enquanto eu procurava o amor, você viria por fora ganhando espaço na minha vida?
- Sim!
- Ideia idiota!
Vou até ele e dou dois tapas em seu braço.
- Com o tempo fui tentando ganhar espaço no seu coração.
- E eu tentando te arrancar de dentro de mim, porque achava errado esse sentimento.
Grito e tento me acalmar.
- Percebeu que a cada dois passos que dava em direção ao meu coração eu recuava três, apavorada de como estava perto dele?
- Eu não sabia que estava fugindo desse sentimento. Achei que quando percebesse, viria pra mim. Achei que em algum momento nos entregaríamos à paixão.
- Você não pensou em nenhum momento que eu poderia encontrar alguém em um dos encontros?
- A forma como nos encaixávamos me fazia achar que logo se apaixonaria por mim. Dentro do meu coração você já estava e acreditava que estava perto do seu. Testei sua reação com o beijo roubado pra saber se estava pelo menos mais entregue a possibilidade da gente junto.
- Aquele beijo foi um teste?
- Sim! E você entrou em choque.
- Queria que eu fizesse o que? Você nunca demonstrou interesse.
- Nunca percebeu nada em meu toque, meus abraços, meus olhares?
- Gustavo eu imaginava tudo, menos paixão. Na minha mente você estava grato por te apoiar na hamburgueria.
Vem se aproximando e recuo, até bater as costas na pia da cozinha.
- Eu sou grato pelo apoio.
Apoia as mãos na pia, uma de cada lado do meu corpo.
- Grato por ser uma companheira incrível pra mim. Catarina eu só conseguia imaginar o quão perfeito seria se a nossa caminhada fosse juntos como homem e mulher e não amigos. Ficava imaginando viver o meu sonho agarrado a um grande amor.
Seus olhos focam nos meus.
- Você!
Fecho meus olhos pra tentar me acalmar, mas não consigo. Estou decepcionada demais pra me acalmar.
- Quando você descobriu que se apaixonou por mim?
Pergunto e abro meus olhos, encarando os do Gustavo.
- Quando se deu conta que sua caminhada pra me conquistar acarretou em uma paixão?
- Eu já queria ter uma chance com você desde que conversamos no bar, no nosso primeiro encontro.
- Não chame aquilo de primeiro encontro. Chame do que quiser menos disso. Encontro pra mim é quando as duas pessoas marcam e as duas aparecem, mostrando quem são. Ficar ali comigo me analisando, me julgando, vendo se eu presto pra você não é encontro.
O empurro pra longe de mim e saio da pia, indo pra outro canto.
- Quando descobriu que se apaixonou?
Mesmo em lados opostos na cozinha, ainda nos olhamos profundamente.
- Quando me disse que o Miguel te beijou e me contou como foi.
Passo a mão em meu rosto e respiro fundo.
- Vai me dizer que nunca pensou nessa possibilidade?! Um encontro com alguém que me fizesse bem e que poderia render mais.
- Desejei que não chegasse a esse ponto. Quis acreditar que antes disso você estivesse apaixonada por mim.
Ficamos em silêncio e encosto na parede fria de azulejo, sentindo que minha cabeça vai explodir com tudo isso.
- Você chegou a se apaixonar pelo Miguel também?
Sua voz sai baixa demais e nos olhamos mais uma vez.
- Miguel é um homem incrível, que me fez um bem enorme. Ele merecia e merece um amor de verdade e não o resto de alguém apaixonado por outro. Cheguei a pensar em tentar com ele, eliminar você de dentro de mim, mas não seria justo com o Miguel.
Seus olhos estão ainda mais tristes.
- Então não... eu não me apaixonei por ele. Mesmo sendo perfeito pra merecer esse sentimento.
Abaixa a cabeça e agora é a minha vez de perguntar.
- Quando descobriu que se apaixonou por mim na hora que também percebeu que poderia me perder para o Miguel, o que pretendia fazer? O que pensou em fazer sobre tudo isso?
Ergue a cabeça e vejo lágrimas em seus olhos.
- Você parecia feliz! Deixou claro que o Miguel te fazia muito bem e que tentaria.
- Não perguntei sobre o que achava que eu iria fazer ou me sentia. Quero saber o que o Gustavo pretendia fazer sobre mim, sobre o sentimento dele.
Ando até ele e paro a sua frente.
- Me responde!
- Pela sua felicidade, estava disposto a guardar esse sentimento só pra mim.
- Você não lutaria por mim?
Agora sou eu quem tem os olhos cheios de lágrimas.
- Você simplesmente me entregaria ao Miguel sem lutar?
- Eu não sabia dos seus sentimentos por mim.
- Não importa meus sentimentos, mas sim o quanto eu sou importante pra você.
- Você é importante pra mim!
- Não parece!
Limpo minhas lágrimas na manga do pijama.
- A gente luta pela pessoa quando ela é importante e não entrega de mão beijada pra outro. Quando descobri meus sentimentos por você, me afastei de todos e morri por dentro com a possibilidade de te perder. De perder meu amigo, o homem por quem havia me apaixonado.
Minhas mãos tremem e tento controlar o misto de sentimentos que me consomem agora.
- Depois de entender que eu não poderia lutar contra o que sinto, decidi te contar. Estava disposta a te dizer o que eu sentia.
- Você me entregou pra sua irmã sem lutar, sem ao menos nos ouvir.
- Vai embora, Gustavo!
- Não é diferente, Catarina! Assim como você achou que eu seria mais feliz com a Cassandra, achei que você seria mais feliz com o Miguel.
- São situações diferentes.
Ando em direção à sala e ele me segue. Entro na sala e paro perto da porta, segurando a maçaneta.
- Eu nunca seria capaz de lutar por um homem com a minha irmã.
Abro a porta e respiro fundo.
- Agora por favor, vai embora.
- Catarina, eu...
- Por favor! Eu realmente preciso ficar sozinha.
Apenas vejo seu corpo passar pelo meu e quando já está fora da porta, a fecho com tudo e sinto meu corpo desmoronar no chão.