Capítulo 2 O Estômago Fofoqueiro

Fato interessante sobre mim, eu não consigo ficar acordado a noite inteira. Bom, eu posso ficar acordado até tarde, mas cedo ou tarde eu irei dormir e bem... foi isso que aconteceu ontem à noite. Mas eu acho que, quando dizem que não dormiram a noite inteira não é bem literal.

Passei a noite toda, ou alguma parte dela, pensando no que faria hoje. Resolvi algo? Que não sei o que fazer. Infelizmente, para eu tomar decisões na minha vida é sem dúvidas horrível. Por isso, geralmente eu deixava todos decidirem por mim.

Ai meu deus. Eu só queria ajudar alguém e a pessoa simplesmente acaba com meu tratado de esquecer um do outro. Porque era um tratado desses que eu tinha com a Luísa. Pelo menos na minha cabeça.

Luísa e eu nos conhecemos desde quando éramos crianças. Nossas mães se conheceram na maternidade, enquanto faziam o pré-natal e assim viraram amigas. Hoje já não é igual, mas antes elas eram bem grudadas.

Nós passamos a infância brincando juntos, a amizade era de simplesmente não desgrudar um do outro. Na quinta série éramos amigos inseparáveis e ganhamos até fofocas sobre nós, foi desde então que tomei traumas com fofocas.

Nós éramos um casal, pelo menos era o que os outros diziam. Luísa? Ela negava. E eu? Bem, eu já era antissocial nessa fase da vida. Como não falava com ninguém, eu simplesmente não fazia nada além de sentar e observar. E não negar fomentou mentirinhas por um tempo.

Fomos crescendo e quando chegamos na oitava série nos separamos mais, acho que tinha que ser assim. Ela arranjou novas amigas e ganhou o título de popular, pelo menos no ensino fundamental todos conheciam ela e eu? Também ganhei um título. O de menino estranho.

As vezes as pessoas do colégio faziam piadinhas, daquelas bem sem noção. Algo do tipo "o menino mais provável de cometer um assassinato" e como eu sei disso? Bom... Eles não fizeram questão de esconder isso. Fato é que uma vez ouvi as amigas de Luísa "brincando" com esse assunto ao seu lado e foi nesse dia que percebi que a nossa amizade tinha virado algo de fachada para os nossos pais. Ela somente riu.

O que eu não entendo é: Por que elas riram disso? Brincar com assassinatos ou rir de alguém com dificuldades em fazer amigos não é engraçado. Eu sou um adolescente normal e faço coisas de adolescente. Se eles me conhecessem saberiam disso.

O ponto que eu quero chegar é que eu e ela não temos mais tanta proximidade e talvez ontem eu tenha chorado pelo fato de que eu e ela tínhamos um tratado de esquecer o que rolou no passado, pelo menos para mim esse tratado existia. Agora que eu mexi com ela sei que vai ser mais difícil passar despercebido de todos.

Deixando de lado esse assunto, vamos começar o nosso dia. Levantei-me de minha cama e fui escovar os dentes. O cabelo? Prefiro não comentar. Eu acho meu cabelo lindo, mas já falei que cachos são algo definitivamente difícil de cuidar? Até para dormir tem um jeito certo e isso me esgota.

- Acordou cedo hoje, hein? – Meu irmão mais velho falou. – Vai arrumando a cozinha e lavando as louças, enquanto eu vou na padaria. – Não. Não sou um burguês que tem empregada e uma mesa de café feita magicamente.

Saí do banheiro e fui lavar as louças e limpar a cozinha. Ao menos a nossa divisão de tarefas é justa. Cinco cômodos na casa, cada um arruma dois e intercalamos para lavar o banheiro.

Como limpamos nossa casa é um assunto importante? Não, mas ainda assim eu quero falar sobre. Porque eu sou o tipo de louco que fala sobre tudo e se você não se identifica comigo, você que é o estranho e não eu.

Meu irmão não demorou muito para chegar e logo eu já tinha lavado as louças. Não estava com fome, então não tomei café e fui para o meu quarto assistir um filme qualquer que eu peguei recomendação na internet, já que não tinha amigos para me recomendar. Sei que é chato repetir que sou solitário, mas me deixa em paz, por favor.

Depois do filme continuei a assistir um anime e, em seguida, fui ler um livro. Quando se está fazendo algo o tempo passa rápido, não é? Tanto é que o tempo passou tão rápido que só percebi que iria me atrasar para o colégio quando eu vi o meu irmão arrumado.

- Merda. – Gritei e fui correndo para o banheiro. – Eu vou te matar Eduardo. Aqui não tem rodo para tirar a água do banheiro não? – Gritei quando percebi o banheiro molhado. Odeio homens, mesmo que eu seja um.

- Tu vais molhar de novo, para que puxar a água, então?

O banheiro molhado acabou me estressando, mas como eu não tive escolha, acabei tendo de usar ele assim mesmo. Sei que molhei de novo e podem pensar que é frescura minha, mas eu não ligo. Entenda que se não é do meu jeito, então está fazendo errado.

Sai do banheiro pouco tempo depois e nem me dei ao trabalho de arrumar meu cabelo, já que tinha lavado ele antes e ele estava arrumado ainda. Assim que terminei, fui diretamente para o colégio.

E aqui estou eu, digo, no colégio. Hoje a sala está com um clima meio pesado e quase ninguém falou, pelo menos não do jeito de sempre, já que eles nunca se calam. Era bem sútil, mas ali estavam os olhares em minha direção. Não era tão explícito, mas ainda assim dava para perceber quando eles estavam falando de mim ou discutindo mentalmente sobre mim. Sendo assim logo que o professor havia entrado, acabou o meu desconforto.

- Eita. Entrei na sala errada. – O professor falou e alguns alunos deram risada e o acompanharam na brincadeira. É. Realmente estava diferente o clima. – Aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo?

Eles tentaram não virar todos ao mesmo tempo e isso foi até engraçado, mas falharam. Depois que ninguém havia se virado, um virou, depois outro e no final todos me olhavam. Eu como um ótimo adolescente marquei a cara de cada um. Assassinatos são uma ideia ruim, mas bater em alguém é menos ruim, não é? Pelo menos na minha visão de mundo. Estou brincando, crianças. Bater em coleguinhas não é legal.

- O que você fez, Guilherme? – Perguntou o professor rindo, ainda não entendeu que eu não queria falar sobre isso e que o clima estava pesado porque ninguém em sã consciência me perguntaria isso?

- Você veio dar aula ou saber de fofocas? – Olhei para ele. Ele fechou a cara imediatamente, mas não disse nada depois disso. Aí sim o clima tinha ficado pesado. Vocês têm que entender que eu não sou rude de propósito com as pessoas, as vezes sim, mas o que importa e que eu não gosto de ser rude com as pessoas. Ele que provocou isso.

Depois disso a aula foi bem tranquila. Mas aí entraram mais professores e acho que o professor avisou que o clima estava pesado e que eu fui rude. Os outros dois professores entraram e já me olharam de primeira. Será que eu sou tão mal assim por estar de mal humor?

Diferente do que eu achava, as aulas passaram mais devagar do que eu podia esperar e o relógio parecia nem se mexer. Acho que toda aquela situação era desconfortável para todos.

Talvez eu não devesse ter saído de casa sem comer nada. É a terceira aula e isso está se tornando um verdadeiro inferno. Entenda que eu quase nunca como, mas hoje o meu estômago está revoltado querendo comer. O que eu faço? Se eu sair da sala vão ter pessoas falando de mim sem o menor pudor ou vergonha. Meu humor não está bom para isso.

Passar mal de fome ou ser alvo de fofocas e julgamento? Que decisão difícil, mas acho que vou ficar com o passar mal. Mesmo que a outra seja bastante tentadora. Sim, isso foi a minha ironia. Mas tenho uns minutos para pensar melhor.

O bom de uma aula de sociologia são os debates que o professor propõe. Porque eu olho as pessoas falando asneiras e penso o quanto sou feliz por saber de algumas coisas. O professor tocou no assunto pena de morte e isso é algo que ainda gera bastante discussão, pelo menos no meu colégio.

Pensa comigo. Se alguém sabe que o quê ela vai fazer pode acarretar em uma punição, nesse exemplo, com a morte. Ela tomou o risco, certo? Ela sabia e fez, logo está disposto a correr o risco de ser pego. Exemplo prático: Luís sabia que teriam consequências, mas ainda assim acabou fazendo tudo aquilo. Ele aceitou os riscos e fez por querer.

O único problema da pena de morte aqui é que vivemos no Brasil, onde as pessoas são presas por engano todos os dias, imagina só se eles condenarem alguém a morte por engano. Seria, no mínimo, péssimo. E o problema de Luís foi não ter me consultado.

Talvez não sejam as pessoas que são presas por engano, é mais parte de todo o preconceito. Porque no final, nunca vão desconfiar de um cara branco de terno, mesmo que sejam eles que mais roubam o nosso país.

Sabe? Bem que podia ter uma pena de morte mesmo, mas para os casos de corrupção que nós temos certeza que são cometidos pela pessoa acusada. Talvez eu devesse parar de argumentar comigo mesmo.

- Na próxima aula vamos falar sobre aborto. – Na próxima aula vai escorrer sangue de alguém, professor. Acho bom não tocar nesse assunto.

Assim acabou-se a minha terceira aula, dando início ao intervalo. As pessoas da minha sala nem esperaram direito para poder sair da sala de aula. E eu já havia tomado realmente a decisão de não comer. Prefiro ouvir meu estômago reclamando do que os outros fofocando.

Tentei não focar no meu estômago implorando por comida e fiz uma tentativa de tirar pelo menos um cochilo, algo que quero fazer desde a primeira aula, mas se eu fizesse antes com certeza iriam chamar minha atenção, eu xingaria alguém, daria uns socos e seria expulso. Não quero isso, pelo menos não até a última semana do ano, que ainda estava meio longe, mas não tanto.

- Você está sempre tão sozinho assim? – Luís falou comigo. Esse menino deve ter fetiche em ser odiado. Não é possível que ele não tenha percebido que eu quero distância dele ou de qualquer outra pessoa daqui da sala. Fora que ele sabe que sempre foi assim.

- Você não percebeu ontem que não quero te ver nem pintado de ouro? – Falei lhe olhando nos olhos. – Você me conhece bem para saber que sempre foi assim.

- Eu só queria pedir desculpas, não precisa me esfaquear mentalmente.

- Como você adivinhou que eu estava fazendo isso? – Revirei os olhos.

- Muito engraçado você. – Ele sorriu e não foi falso, ele realmente achou graça. Credo. Depois eu sou o estranho.

- Então o pedido de desculpas vem com um "Vou falar para todos que eu sou um grande mentiroso e medroso."

- Olha, eu gostaria, mas não posso. Minha irmã estuda aqui, esqueceu? E meus pais meio que já sabem que eu estou "Namorando". – Era só o que me faltava. – E eles disseram que meu namorado é lindo. – Por que ele tinha que falar como se tivesse orgulho? Por que ele tem que falar isso? Ele sabe que não sei lidar com elogios.

O problema é que eu me sinto envergonhado quando alguém me elogia, então eu não aguentei e sorri bobo. Eu odeio isso, porque apesar de tudo sou um adolescente bobo.

- Mal sabem eles que o filho é um mentiroso. – Disse fechando a cara novamente. Não posso deixá-lo pensar que me tem nas mãos só por um elogio bobo, mesmo que ele me tivesse antes disso.

- Bom. Eles disseram que querem conhecer você, mas eu dei uma desculpa qualquer. Enfim, vai me ajudar na minha mentirinha do bem?

Ele tinha que falar mais asneiras, né? Não é para o bem. É uma mentira para ajudar ele. E é exatamente por isso que eu não gosto de interagir com pessoas. No fim, tudo é sobre elas mesmas.

- Não. Adeus. – Falei e me levantei. Prefiro as fofocas do que ficar perto dele.

Não consegui um muito além que duas cadeiras. Acho que a falta de comida me fez ficar tonto por uns milésimos de segundo. Acabei me apoiando na carteira ao meu lado.

- Você tá bem? – O bom samaritano chegou perto e me abraçou pela cintura, provavelmente para evitar que caísse se desse mais alguma coisa errada. Então meu estômago reclamou. Maldito corpo humano que só te faz passar vergonha. – Você comeu algo antes de sair de casa?

- Não te interessa, me larga. – Falei e fui me sentar de novo. – Sabe de uma coisa? Você quer fazer de algo que me ajudaria agora?

- Sim. Você parece meio pálido desde quando eu cheguei. – Tô tão ruim assim? Peguei o celular do bolso para ver. Bom, eu estava aparentado estar mal, mas ainda assim não era para tanto. Eu acho.

- Vai embora. E de preferência esquece a minha existência. – Acho que não deveria ter dito isso. Ele tinha uma aparência leve e boa no começo, agora ficou meio triste. Sem dizer nada ele saiu e eu segui para a minha mesa e deitei nela para finalmente dormir e esquecer que meu estômago é um belo fofoqueiro.

Mal tive tempo de fechar os olhos e o intervalo havia acabado. Não sei se eu realmente cochilei profundamente e não vi o tempo passar ou eu perdi tempo demais com Luís sem perceber. Talvez tenha sido o cochilo, porque aquilo não foi nem dez minutos, ao menos não na minha percepção.

Tentei fechar os olhos novamente e abaixar a cabeça. Logo a escuridão começou a tomar conta de mim, por um breve segundo fechei os olhos.

- Guilherme? – Perguntou alguém me balançando. Eu vou cometer um assassinato.

Levantei a cabeça e percebi que todos me olhavam. Do meu lado estava o professor de história. Percebi que alguns viraram depois rindo. Acho que, ou eles têm medo de mim, ou eu sou muito feio. Talvez os dois? Mas pendia mais para o lado do feio mesmo.

- Você poderia me acompanhar? – Pronto. Vou levar uma advertência por tentar descansar. – Traga seus materiais. – E isso é um clássico sinal de que eu vou tomar naquele lugar.

Saindo da sala ele me levou até coordenação. Ao longo do caminho, minhas pernas já não estavam respondendo bem eu tentei ao máximo fazê-las funcionarem. Andei poucos metros e já estava assim, na volta pra casa eu vou desmaiar. Quando chegamos e o professor abriu a porta, vi que Luís estava lá com um cachorro quente e um copo de suco.

- Luís me contou que você não comeu nada, então comprou um cachorro quente e um suco. – Eu estaria surpreso, se não estivesse me sentindo mal por ter tratado ele com o meu pior lado quando ele retribuiu com uma ajuda. O pior é que ele não parecia estar feliz, não que nem ele sempre estava pelo colégio, já que desde quando nos conhecemos ele vive com um sorriso por aí. Isso me fez sentir um lixo de ser humano, mas não é como se eu não tivesse o direito. Eu não sou uma pessoa sem coração, okay? Isso é a famosa inversão de papéis. Eu que sou a vítima, não ele.

Aparentemente eu poderia ir embora mais cedo, claro que com Luís, já que ele se "responsabilizou" de me levar em casa. Logo, o professor havia saído da sala e me deixou sozinho com Luís, para que eu pudesse comer. Não sei o que sentir. Sinceramente, só quero sumir de vergonha.

Eu queria pedir desculpas por ter tratado ele mal, mas eu não sei puxar assunto, ainda estava magoado e ele estava com a cara enfiada no celular. Estava digitando algo, provavelmente falando com alguém. Então eu tratei de comer rápido para sairmos logo dessa situação desconfortável e me retirar da presença dele.

Eu estou confuso, então não me julgue. Sou adolescente, tenho desculpas para isso. Eu tenho raiva da vergonha que ele me fez passar, mas me sinto uma pessoa horrível por ter tratado ele mal. Ele provavelmente não queria "Estragar a minha vida". Provavelmente toda a razão que eu tinha nessa história foi por água abaixo.

Pode ser que ele tenha planejado isso da comida só para me fazer sentir mal. Se foi, está dando certo. Eu sei que ele não faz o tipo manipulador e é super gente boa. Ele é só ele. Simples.

Logo que terminei de comer saímos do colégio. Ele havia pego a minha mochila antes mesmo de eu me levantar, colocou a sua na costa e levou a minha na mão. Algumas turmas ficavam nos olhando de dentro das salas de aula e dando risinhos uns para os outros.

No caminho todo para a minha casa ele foi calado com seus fones de ouvido, coisa bem atípica dele. Ele geralmente falava demais e por isso todo mundo gostava dele. Era simpático e vivia de bem com a vida.

Luís ia na frente e eu logo atrás. Deveria estar surpreso com o fato dele saber onde é minha casa? Já que nem temos um contato assim para ele saber onde moro, mesmo que o conheça a anos. Isso é no mínimo assustador.

Quando chegamos, ele parou na minha casa e eu realmente achei estranho. Então, ele me entregou a minha mochila e me olhou nos olhos. Eu o esperei falar algo, mas ele se manteve calado por todo o tempo e aquela tensão estava me angustiando.

- Luís. Desculpa. Eu não deveria ter te tratado mal, mas é que eu ainda estou magoado. – Falei quando ele seguia para a direção de onde viemos.

- Tudo bem. Se cuida. – Ele falou sorrindo sem os dentes. Para de me fazer me sentir mal. Eu sou a vítima, não você!

Assim ele tinha ido para casa. Cabisbaixo e praticamente se arrastando. Quanto a mim, eu fui para a minha casa, passar o resto do meu dia debatendo comigo mesmo se sou mau ou se estou certo de estar magoado com ele. Talvez seja drama, mas ainda assim eu me sinto lesado.

Minha mãe já havia chegado do trabalho, então eu não fiquei sozinho. Ela geralmente tentava interagir comigo, mas até dentro de casa eu era antissocial.

- Eu trouxe um pedaço de pudim. – Ela falou. Minha mãe trabalhava como confeiteira numa loja de doces, e sempre que podia, trazia algo para nos agradar. Acho que chegou a um ponto que nem eu e nem Eduardo nos sentimos mais bem comendo doces. Acho que quando o doce é liberado e constante ele perde a graça.

Acabei ainda assim pegando um pedaço do pudim, ou ele estragaria dentro da geladeira, e comi. Sei que não é bom comer essas coisas quando não se teve nenhuma refeição decente no dia, mas eu pelo menos estou comendo. Isso é bom, não? Sei que não, mas finja que é.

Quando chegou em casa, meu irmão me olhou como se eu fosse um estranho. Ele sabia de algo, mas eu sei que ele não queria realmente falar. Quando isso acontecia, ele sabia de coisas demais e eu tinha até medo do que Eduardo poderia dizer quando quisesse conversar. Acho que eu vou fingir que ele me olhou daquele jeito por ter saído mais cedo.

Me sentei numa poltrona da sala e, enquanto Eduardo assistia, eu fiquei olhando o celular sem saber o que realmente fazer. Eu poderia falar com minha mãe, mas não sei se ela vai realmente gostar do assunto. Nem eu gosto de pensar nisso, quem dirá ela.

Para compensar a falta de comida, acabei exagerando no jantar e minha mãe e irmão me olharam estranho, já que eu geralmente não comia muito. Eduardo já tinha um olhar de quem faria alguma piada e sei que minha mãe é igual ele.

- Estava preso? – Eduardo perguntou e eu debochei dele fazendo caretas. Minha mãe, como eu disse, acabou tomando a dianteira e também fez piadinha.

Eu sou magro e alto, então não sou das pessoas que mais comem. Meu irmão também, mas aquele ali era magro de ruim mesmo. Acho que o metabolismo dele pode ser acelerado. Não entendo como ele pode comer mais do que eu e no fim, ter praticamente o mesmo tipo físico, tirando os gominhos, é claro. Porque eu tenho preguiça demais para fazer exercícios, já ele adorava dizer que fazia isso para as meninas do colégio. Segundo ele, era muito pegador, mas até onde eu sei, ninguém ligava muito para existência dele.

É como dizem, né? Quem come calado, come em dobro. Na verdade, eu nunca o vi dizendo sobre relacionamentos no colégio, somente aqui em casa. E acho que a culpa de não ouvir isso é o fato de que eu nunca o vejo no colégio. E nós estudamos no mesmo turno. O colégio nem é tão grande, mas é incrível que ele nunca foi avistado por mim.

Resolvi pegar o meu computador e ir jogar, já que naquela casa ficava tedioso depois do jantar. Minha mãe dormia mais cedo do que Eduardo e eu, então ficávamos tentando nos entreter. Seja no computador ou na televisão, que também não passava nada interessante.

Acabei passando aquela noite estudando, depois de terminar o meu jogo e ficar mais entediado. Assim tentei ao máximo esquecer de tudo que estava acontecendo no colégio, eu poderia pegar um livro para ler? Poderia, mas está escuro e acabei ficando com sono, logo eu não entenderia nada do livro e teria que reler tudo de novo.

- Menino, você ainda não foi dormir? – Perguntou meu irmão e eu olhei sem entender.

- Tá me vendo deitado? – Fui irônico.

- Nossa! Engole logo. – Falou. Então olhei para o relógio do computador e percebi que já se passava e 11:00 PM, eu geralmente estaria no décimo primeiro sono a esse horário, mas estou aqui.

Depois de um tempo acabei me decidindo que finalmente iria me entregar nos braços hipnos, logo escovei os dentes e quando voltei, Eduardo já dormia. Me deitei na cama e finalmente consegui dormir.

            
            

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