img

Meu N(ão)morado

jacquesdemol
img img

Capítulo 1 Prólogo

- Amigo, você poderia me ajudar com um negócio? – Eram cinco horas e eu já estava me dirigindo para a minha casa, quando Luís me parou na porta do colégio.

- Depende do que for. – Olhei para ele e percebi que ele estava estranho, até mais do que o normal.

- Bom. Você está vendo aquela menina atrás de mim e provavelmente encarando? – Perguntou, mas não consegui identificar quem era realmente, já que muitas pessoas nos olhavam. Como nunca nos falávamos na saída, era motivo de estranheza. - A de cabelo cacheado com umas partes rosas. – Olhei e a moça estava lá. Tinha a nossa idade e uma altura mediana. Não tenho como não reconhecer ela. Era a minha amiga, ou melhor, ex amiga Luísa. Ele sabia que eu a conhecia, mas não entendo o porquê de ele ter "esquecido" disso.

- Tô sim. Quer ficar com ela e quer minha ajuda? – Perguntei para ele e percebi que ela realmente estava nos encarando.

- Não é bem isso. Na verdade, eu quero dispensar ela, mas não sei como. – Isso definitivamente era um problema. Todo mundo sabe o quanto ela é meio surtada e com crises de "eu sou especial".

Não consegui entender muito bem o que estava acontecendo, mas então não consegui ter tempo de perguntar para Luís, já que a pessoas que era o assunto de nossa conversa havia nos interrompido.

- Oi, Guilherme. – Ela falou me abraçando e sorrindo calorosamente. – Tudo bem? – Estarei melhor se a sua presença sumir daqui. Tentei disfarçar que não gostava do contato com ela.

- Tô sim. – Falei sorrindo, ligando o meu modo mais falso possível. Nada mais foi dito. Um clima pesado pairou. Mas logo ela começou a conversar sobre assuntos aleatórios e eu fingi que estava bem com aquilo. Já Luís, entrava poucas vezes no assunto, assim como eu. Para falar a verdade, aquilo parecia mais uma interação entre ela e ela mesma. Uma longa "auto interação" de uns dois minutos que foram os mais chatos que vivi.

- Enfim... E aí, Luís? O que me diz sobre o que eu te perguntei essa semana? O prazo acabou. – Ela parecia ansiosa. E ele? Bom... ele parecia querer sair correndo a qualquer momento.

- Bom... sinto muito, mas não podemos namorar. – Ele falou olhando para o chão, como se temesse uma reação dela e não era para menos, já que todos sabem que ela odeia quando algo não é como ela quer. Até eu fiquei surpreso com essa rejeição tão direta. Esperava alguma desculpa melhor e mais elaborada.

- Como assim? Você está me dando um fora? Eu sou a menina mais importante desse colégio e você não quer namorar comigo? – Perguntou ela gritando e atraindo a atenção de todos do lado de fora do colégio.

O que diabos eu estou fazendo aqui mesmo? Pra quê me convidar para uma discussão desse assunto? Outra, quem deu o título de "menina mais importante do colégio" para ela? Porque eu só descobri isso agora.

- Luísa. Tá chamando muita atenção. – Falei de uma forma calma. Torcendo para que a fera ficasse mais calma, mesmo sabendo que não iria adiantar. Talvez ela realmente quisesse aquela atenção. Era uma das coisas que ela mais queria e gostava. Não importava se era passando a vergonha da rejeição ou não.

- Não podemos namorar porque eu já estou namorando. – Falou. Eu deveria correr nesse momento ou espero para ver o Luís cair duro no chão?

- Para de mentir, Luís. Todo mundo sabe que você não namora. – O deboche na fala dela era claro.

- É claro que eu namoro. Por que eu mentiria? – Olhou para ela, fingindo incredulidade. Ela era a única que mantinha o de deboche.

- Já que não está mentindo é só me falar com quem você namora. – Ela acha que estamos em algum "meninas malvadas"? Não sei, mas só acho que ela deveria parar de ser tão chata. Talvez eu torcesse para ela cair do meio fio e um carro passar.

- Guilherme. – Agora entendi o porquê dele... Espera. Com quem ele namora? Ele falou que é comigo? – Era segredo, mas estamos prontos para revelar para todos. Não é, amor? – Isso era tão segredo que nem eu sabia.

Isso era só para ajudar ele e agora eu já estou namorando com um garoto e não tem pouco tempo. O que eu faço? Agradeço porque eu tenho uma paixonite nele ou choro por me envolver na treta desses dois? Acho que e vou sentar e chorar mesmo.

Depois que ele falou isso me abraçou pela cintura e sorriu. Esse garoto quer acabar com a minha vida? O resto de vida social que eu tinha, porque ele pode bater de frente com a Luísa e continuar a ter amigos, mas se eu faço isso corro o risco recebo o castigo do afastamento, de novo. Aquela época foi tensa.

- Isso é verdade, Guilherme? – Meu deus. O que eu falo? Estou nervoso. – Por que você não me contou? Eu não era sua amiga? – Era, mas depois descobri que é uma cobra.

- Eu... - Falei olhando para ela e Luís alternadamente. - É que... - Eu estar nervoso mais o calor do momento é igual a? Isso mesmo! Eu gaguejando sem parar.

- Quer saber? Você é uma pessoa tóxica. – Ok. Agora eu sou tóxico? Namorava sem saber, agora sou um mal amigo. E por querer ajudar um outro amigo eu sou tóxico? Só vai piorar se eu apanhar. Outra é que ela é a única pessoa que não tem o direito de chamar alguém de falso ou tóxico. Todos podem, menos ela.

Não consegui falar nem mais uma letra. Luísa já havia saído. O que eu faço agora? Já consigo ver o inferno que minha vida vai virar.

- Preciso ir embora. – Falei segurando o choro que eu estava prendendo.

- Você vai aonde? Eu posso ir com você. Precisamos convencer. – Convencer quem e do quê? Que no momento eu estou ferrado? Porque disso eu já estou bastante convencido. E nem estou aumentando demais as coisas. Aquela dali faz de tudo pra acabar com alguém. E nem falo fisicamente, porque psicologicamente ela me destruiu uma vez e garanto que nenhum dor física foi tão ruim.

Me virei para ele com lágrimas nos olhos e ele me olhou, mas o olhar que demonstrava preocupação, o que me fez chorar no ombro dele mesmo, que me abraçou. Já que estamos na merda vamos nos afundar, certo?

- O show acabou. Vão cuidar de suas vidas. – Ele gritou. Talvez eu tenha esquecido que tínhamos uma plateia e ter passado ainda mais essa vergonha me fez querer chorar. Isso mesmo, ainda mais. Suicídio seria uma saída, né? Digo o físico, porque o social acabou de ocorrer.

Ele me guiou para dentro do colégio e sentamos em um banquinho, embaixo de uma árvore. Ele me pediu para me acalmar e não saiu do meu lado. Tentei me acalmar, pois acredito que ficar estressado não vai ajudar muito no momento. Mas ainda passei longos minutos derramando lágrimas.

Chorar por antecipação é burrice. Vou chorar mais quando tudo começar de verdade. Sequei minhas lágrimas, peguei minha mochila e me levantei andando em direção a saída.

- Aonde você vai? Você está bem? – Perguntou preocupado.

- Claro. Estou ótimo. Mas sabe de uma coisa? Estaria melhor se você tivesse feito o favor de não me envolver nisso. – Olhei para o mesmo com um olhar de ódio. Ele ia falar algo, mas eu o interrompi. – Não. Você não sente muito em estragar o resto de vida social que eu tinha, se é que eu tinha uma. Eu já não tinha amigos, agora quero ver quem vai me defender daquela merda de novo. – Falei e ele abaixou a cabeça. - Eu achei que você entre todos se importaria, mas vejo que eu estava enganado. – Falei demonstrando que estava realmente magoado. Ele processou um pouco a informação e já iria falar algo.

Senti que não deveria ter sido tão rude com ele, mas eu não consigo entender que ele, dentre todos, foi capaz de me expor e me colocar contra a Luísa. "Do lado dela" eu já tinha me machucado e nem quero saber como é do outro lado ela. Eu gostava dele e ele me mete nessa confusão, então ele me olhou e tentou falar, mas o interrompi mais uma vez.

- E não. Eu não te perdoo e eu quero mais e que você vá para o inferno. - Disse o olhando nos olhos, usando minha pior voz de nojo possível. Sem derramar nenhuma lágrima. – Com licença, meu namorado.

Ao menos tinham poucas pessoas na frente do colégio, mas ainda assim recebi os olhares e pude sentir que era o principal assunto daquelas conversas. Não liguei para isso, ou pelo menos fingi que não havia dado atenção. Mesmo que, por dentro, eu não queira mais sair do meu quarto. Eu já não fazia isso com muita frequência mesmo.

Só vou seguir a minha vida, ou melhor, tentar seguir a minha vida e esperar para conseguir ter um pouco de paz amanhã. Já vou me preparar psicologicamente para todos os insultos também? Com certeza. Anotação mental.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022