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Giovanni: O que foi ?
Narrador: Giovanni perguntou olhando para ela.
Tainá: Meu nome é...
Narrador: Ela para, respira fundo, pensando se conta ou não seu segredo.
Giovanni: Você pode confiar em mim, não lhe farei mau.
Tainá: Meu nome é Tainá Caroline, tenho 24 anos, o dia que o senhor me encontrou tinha três dias que cheguei do Brasil, estava indo assinar um contrato do apartamento que ia alugar.
Giovanni: E sua família ?
Tainá: Fui diagnosticada com início de depressão, quando cheguei em casa achei que ia ter o apoio da minha família pra me cuidar, mas não sei porque achei isso, nunca tive, não seria diferente naquele momento. Comecei a discutir com minha mãe e ela me bateu. Naquele momento percebi que nada mudaria, decidi abandonar tudo aquilo e cuidar de mim.
Narrador: Eles ficaram algum tempo conversando, ela explicou todos os detalhes. Giovanni com jeito pergunta.
Giovanni: Você falou que seria a quarta vez que aquilo iria acontecer com você, se eu te fizesse mal, aquela não foi a primeira vez que passou por isso ?
Narrador: Ela respira fundo e responde.
Tainá: A primeira vez eu tinha 5 anos de idade, não me lembro do rosto, mas do resto me lembro de cada detalhe,quando ele me soltou fui correndo até minha mãe, e ela me bateu até hoje não sei porque, minhas lembranças desse episódio vão até ai . Não sei se eles sabem, ninguém nunca tocou no assunto. A segunda vez, não melhor falando, a segunda pessoa.
Narrador: Giovanni a observa atentamente sem falar nada.
Tainá: É um irmão da minha avó, tive que dormir algumas vezes na casa dele, acordava durante a noite com ele mexendo em mim, eu segurava a dor e fingia que estava dormindo, com medo dele fazer alguma coisa comigo.
Giovanni: Você não falou pra ninguém ?
Tainá: não.
Giovanni: Porque você não pediu ajuda ?
Tainá: Eu tinha 8 anos de idade, e ele era o homem mais importante da cidade naquela época e frequentava uma igreja evangélica, todos o respeitavam. Senhor Giovanni, você acha que alguém iria acreditar em mim, eu só servia pra trabalhar no sitio, ninguém me daria ouvidos e ainda eu poderia apanhar e muito. E a última vez, o senhor viu com seus próprios olhos.
Narrador: Giovanni não conseguia responder, imaginava se fosse a sua filha Anna que tivesse passado por isso, ele destruiria o mudo, e não sabe como essa pobre moça tinha aguentado tudo isso.
Giovanni: Sua família tem uma situação boa ? Você estudou ? Você precisaria de dinheiro para chegar até aqui. Desculpa, são muitas perguntas né (falou sorrindo).
Tainá: Não, tudo bem. Eles não são ricos, mas tem uma situação confortável, eu não fui para a universidade, mas tenho muita facilidade para aprender oque me interessa, entendo um pouco de tecnologia, faço alguns trabalhos na internet e consegui juntar algum dinheiro, usei pra chegar aqui.
Giovanni: Entendi. Seu italiano é ótimo por sinal, você sabe mas algum idioma ?
Tainá: Obrigado. Sim, sei falar inglês e alemão também.
Giovanni: Uau, você é tão nova e tão inteligente.
Tainá: (Com um meio sorriso) Como já falei para o senhor, tenho muita facilidade para aprender se o assunto me chamar atenção. Se o senhor precisar de alguma coisa, pode contar comigo.
Narrador: Giovanni deu uma risada, quebrando aquele clima triste do quarto.
Tainá: Senhor Giovanni, Obrigado por me salvar e me acolher. O senhor e o Doutor Mario, foram os primeiros a me verem chorar em anos.
Giovanni: Porque, você não chorava antes ?
Tainá: Chorava, e muito, tomava cinco banhos se necessário, a água levava minhas lágrimas, mas nunca deixei os outros ver. Não deixava eles perceber que me machucava, nunca mostraria a minha fraqueza a ninguém.
Narrador: Giovanni ficava admirado com aquela força que ela possuía.
Tainá: Nunca, ninguém tinha me protegido, até agora.