Capítulo 4 A Agência de Modelos

Danúbia combinou, para o dia seguinte, encontrar com Helena numa agência de modelos masculinos. A expectativa não era encontrar, já de cara, algum homem que pudesse fazer parte daquela empreitada.

- Nós vamos só analisar, pessoalmente, biotipos. Só isso! Uma primeira análise, até porque, não parece muito simples essa coisa de abordar alguém como fizeram comigo. Parece muito mais fácil para eles fazerem isso com as mulheres. É machista de minha parte? - Danúbia descia do carro enquanto conversava com Helena, agora muito mais à vontade.

- Não, minha querida, você só está fazendo uma constatação da realidade. Você tem toda... - Ela se desconcentrou totalmente do que falava, por um momento, ao passarem por elas dois homens incrivelmente lindos - ... razão! Minha nossa e que razão! - Ela se abanou, realmente sentindo um calor vindo debaixo pra cima, a respiração ficou ofegante. Não era algo que ela já tivesse sentido, não daquele jeito, não naquela proporção.

- Helena, você está bem? Não está infartando, não, né? - Danúbia perguntou, entre irônica e realmente preocupada. - Sabe que essa sua idade é a mais perigosa, não é? Aquele momento em que você começa a deixar de ser jovem e sua consciência ainda não conseguiu entender e seguir o mesmo caminho do corpo...

- Olha, não me chame de velha que tão fácil quanto te chamei aqui eu te mando embora. - Helena respondeu usando o mesmo tom de Danúbia, deixando no ar que podia ser uma brincadeira ou mesmo uma ameaça.

- Você jamais faria isso, porque fui eu quem te trouxe nesse lugar! - Ela abriu a porta dupla de entrada daquela casa comercial que mais parecia uma mansão e deu de cara com toda a estrutura do lugar. O salão de entrada, com o pé direito alto, dava a visibilidade total dos dois andares do local e a visão delas foi ainda mais intensa do que Danúbia imaginava.

- É um ensaio... Um ensaio de moda praia? - Helena engoliu seco vendo uma quantidade sem fim de homens musculosos, de sunga, com seus corpos besuntados de óleo. - Quem será que foi a pessoa sortuda que foi contratada para passar isso neles?

- Na verdade, mais do que moda praia, é uma anúncio de uma marca de sunga. E sobre esse assunto, euzinho sou aquele que deixa esses corpos desse jeito, perfeitos para as fotos, muito prazer, eu sou Nacho. Sou o responsável por toda essa bagunça, aliás. As senhoritas são...

- Eu me chamo Helena, já sou uma senhora viúva, na verdade, mas agrade o pelo senhorita e essa é Danúbia. Sou a nova presidente da Nacional Integrated e ela minha principal assistente. Não marcamos horário, mas viemos pedir encarecidamente para assistir esse ensaio, como caça-talentos para uma grande campanha que planejamos fazer.

- Ora, mas é claro, uma caça-talentos, como eu iria impedir tal situação. Você me dá apenas um minuto, de minha parte isso é maravilhoso, mas preciso de autorização do nosso cliente, você entende, não é mesmo?

- Claro, claro!

- Aguardem aqui, por favor! - Nacho indicou uma cadeiras do lado direito da entrada, que parecia uma pequena sala de espera, mas muito bem construída, com design moderno, quadros, uma estátua, livros numa prateleira, máquina de café. As duas não chegaram sequer a entrar no recinto. Pararam ao ver quem Nacho encontrou, poucos passos à diante.

- Não acredito no que meus olhos veem. Aquele... Aquele é Cláudio Heinze? - Danúbia puxou Helena que não sabia de quem se tratava, mas entendeu a surpresa dela. Para um homem se destacar vestido no meio de um cardápio tão delicioso e variado, dentre todos vestindo sunga ou sem camisa, ele tinha realmente que ser alguém relevante. Era moreno de olhos claros, seu cabelo era muito bem penteado, daqueles que parecia ter ficado um bom tempo entre escova e secador, mas com um resultado que valia a pena o esforço. Alto, esbelto, parecia musculoso debaixo daquele terno num tom de azul que não era comum, mas que combinava com seus olhos. Usava uma barba cheia, mas muito bem feita, um charme. - Nem consigo imaginar no estrago que o roçar dessa barba deve fazer! - Danúbia parecia ter lido o pensamento de Helena, que sentia o estômago borboletando. Quer dizer, nem sabia precisar ao certo se era o estômago ou se era reflexo de partes mais abaixo.

- Se realmente é ele, me conte, quem é?

- Você não conhece Cláudio Heinze? Em que mundo você vive?

- Eu vivia no mundo da esposa fiel que trabalhava como uma louca dentro e fora de casa e não tinha tempo mais para nada, sendo que o marido era multimilionário...

- Tá... certo... - Danúbia exclamou pausadamente, entendendo que não tinha sido a melhor pergunta a se fazer. - Cláudio é um ator. Fez novelas, filmes, no último inclusive foi protagonista de uma indicação ao Oscar de melhor Filme Estrangeiro. Foi casado com aquela atriz maravilhosa, a Ellen Ramos, mas acabaram de se separar... Ele tá vindo, ele tá vindo pra cá...

- Bom dia, muito prazer! Como vão! - Ele aproximou-se com um sorriso largo, daqueles que era capaz de iluminar o dia de qualquer pessoa. Cumprimentou Danúbia inclinando-se diante da mão dela, aproximando-a de sua boca, como se fosse beijá-la, mas sem tocá-la. Fez o mesmo gesto com Helena, mas nesse caso, deixou sua inspiração absorver o perfume dela, que havia passado em seu pulso e prolongou um pouco mais o movimento. Ainda levantou os olhos e encarou-a, o que quase fez o coração dela finalmente sair pela boca. - Eu me chamo Cláudio, não sei se me conhecem...

- Claro que sim, Cláudio, quem não te conhece! - Respondeu Danúbia, eufórica. Ele sorriu, mas em seguida retomou seu olhar para Helena.

- Eu resolvi criar uma linha completa de vestuário masculino com meu nome e fui um pouco apelativo, iniciando pelas roupas de baixo, então meus anúncios serão de sungas e cuecas. Seria muito bom tê-las aqui para ouvir a opinião de vocês, já que eu espero conquistar com essa campanha não o público masculino, mas o feminino que pretende presentear quem quer que seja, afinal o bom gosto das mulheres é muito maior que o dos homens. Portanto, não sei o que pretendem anunciar, como devem ter visto essa agência é realmente muito boa, mas se puderem unir a análise de interesses de vocês com uma boa interpretação do meu objetivo, eu seria profundamente agradecido. - O interesse de Cláudio em Helena gritava através de seu olhar. Dessa vez, Danúbia conteve seu ímpeto e deixou que ela respondesse o pedido.

- Claro, Cláudio. Um pedido desse, feito de maneira tão encantadora, nem precisaria de tanto esforço, afinal, você quem estará nos fazendo o favor de nos permitir assistir seu ensaio - ela respondeu, disfarçado a falta de fôlego.

- Não foi esforço não, foi espontânea minha grata surpresa em ver vocês aqui. Se precisarem de algo, não hesitem em pedir. - Ele acenou com a cabeça e saiu, com o mesmo charme que chegou.

- Posso pedir ele na cama? - Danúbia sussurrou e Helena parecia imaginar tudo que ela dizia, pois fincou o olhar em seu dorso, enquanto andava, como se tivesse fincada nele próprio com sua alma sendo carregada, presa a ele.

Como poderia agora prestar atenção em mais alguém, quem quer que fosse?