Capítulo 4 O Grande Roubo

Martin Dolabella

Duzentos milhões, duzentos milhões de reais, foi o valor que foi retirado de diversas contas minhas e distribuídas para outras tantas que não foi possível rastrear todas, pelo que os hackers me informaram, apenas quinze dias bastaram para que eu tivesse um prejuízo milionário. Pelo que parece os roubos foram arquitetados por um único computador, e dele houve uma programação, para que não fossem feitas todas as retiradas de uma única vez das minhas contas, mas em diversas vezes e com valores quebrados.

Eram movimentações estranhas, em diversos horários diferentes porém constantes e organizados, com um pouco de atenção foi encontrado um padrão, uma trama bem arquitetada, mas dois dias depois o roubo foi identificado, usaram alguns sites falsos para conseguir senhas, e essa foi a primeira coisa que fez com que identificássemos o problema. Mas pelo que parece a cereja do bolo foi a bendita da que chamaram de backdoors*, a porta que deixaram aberta e que nos fez encontrar o servidor de onde saíram os comandos, que nos fez descobrir que era a ordem de uma única máquina.

Mas até o momento ninguém tinha sido capaz de localizar o desgraçado, por algum maldito sistema de Gps Fake que os merdas dos hackers que trabalham para mim não conseguiram quebrar, tão pouco impedir os ataques que sucederam após identificarem os roubos, foram malditos treze dias tentando incessantemente encontrar ou ao menos impedir a quantidade de roubos que entravam diariamente a cada hora, e isso era perturbador. O maldito tinha sido tão esperto que ninguém conseguia localizá-lo.

- QUERO SABER QUEM FOI O FILHO DA PUTA QUE TEVE A AUDÁCIA DE ME ROUBAR ASSIM! NÃO IMPORTA O QUE VOCÊS FAÇAM, EU QUERO O MALDITO NA MINHA MÃO OU A CABEÇA DE ALGUÉM VAI ROLAR – Eu gritei com tanta raiva dentro da sala que ninguém ousou olhar para cima, estavam todos desolados de cabeça baixa, podia jurar que aquele bando de marmanjos estúpidos estava borrando as calças, bando de gente inútil.

Duzentos milhões, duzentos fuck milhões, quem foi a porra do filho da puta que teve a ousadia de me causar um rombo desses, não que eu não tivesse dinheiro para cobrir o prejuízo, mas porra, são duzentos milhões, impossível deixar isso barato, se tem algo que eu detesto na vida é queimar dinheiro, assim que eu pegar o desgraçado vou lhe dar uma morte bem lenta. Arrancarei unha por unha, depois dedo por dedo e depois os dentes, língua, ossos, eu vou estraçalhar o maldito.

Eu estava tão nervoso andando de um lado para o outro dentro da sala da minha construtora muito bem localizada no centro da cidade de São Paulo, eu mando na metade dessa porra de país, e ainda assim algum hacker medíocre teve a audácia de invadir o meu sistema e me roubar uma quantia absurda de dinheiro como essa, se eu não sentisse tanta raiva por ter sido passado pra trás, o traria para minha equipe, pois ele com certeza era muito mais inteligente que esses merdas que eu pagava.

- Chefe – Escutei Ross me chamando e me tirando daquele torpor que eu me encontrava – Tenho uma equipe conhecida em Los Angeles, eles são bem experientes, com os dados que temos, acredito que possam encontrar a localização do servidor que promoveu os ataques.

- Contrate-os imediatamente! Visto que esses merdas que eu pago mensalmente são incapazes de fazer o próprio. – Falei furioso – SAIAM! – Não precisei mandar novamente, eles correram igual um bando de filhotinhos assustados. O único que não sentia medo de mim naquela merda de associação era o Ross, também pudera, nos conhecíamos desde que eu me entendo por gente, além do meu primo, ele talvez seja a única pessoa que eu confie nessa vida. No mundo que eu conheço as amizades duram apenas enquanto os contratos são lucrativos, depois disso, tudo acaba, não sou muito diferente disso, é a lei da selva.

- Perfeito! Já mandei a ordem, até o final do dia teremos o endereço e vamos atrás do desgraçado.

- Ótimo Ross, eu preciso resolver algumas documentações do último empreendimento da construtora, então saia e fique por conta de resolver esse assunto, apenas me atualize quando tiver novidades. – Ordenei começando a me sentir menos irritado com a possibilidade de pegar o maldito, só o pensamento de torturá-lo já me deixava mais calmo.

- Certo chefe, qualquer novidade eu te aviso – Ross falou saindo da sala e me deixando sozinho.

Esse tipo de situação é completamente inaceitável, se esse tipo de informação vaza no submundo do crime, eu tô fodido, ninguém vai me respeitar, e diversos outros babacas vão tentar repetir o mesmo golpe, esse desgraçado está muito, mas muito fodido na minha mão, vai ser a morte mais lenta que eu já tive o prazer de executar. Quando eu puser minhas mãos nele, vai ser o mártir perfeito para mim, vou pendurar sua cabeça na Praça da Sé, foi inevitável sentir o prazer se espalhando pelas minhas veias ao imaginar os noticiários sobre qual psicopata foi tão cruel ao ponto de matar e expor algum outro ser humano dessa forma.

Não foi fácil chegar à posição que eu cheguei, tive que matar muita gente pra estar aqui, não pretendo cair agora que estou no topo, consegui administrar todo um império de drogas, construção civil e prostituição, além de inúmeras empresas de diversos ramos de atuação, fora os acordos com a política suja do Brasil, metade dos políticos eleitos obedecem minhas ordens, eu mando nessa porra.

Fazia tempo que eu não me sentia tão estressado e irritado dessa forma, eu sentia que precisava relaxar, infelizmente a puta da minha secretária estava doente hoje, não teria como me aliviar nela, mandei mensagem para a melhor casa de prostituição que eu sou dono, já programando um quarto e pelo menos umas cinco das melhores putas que trabalham lá para que eu possa me sentir melhor.

Sigo trabalhando pelo resto do dia, aguardando qualquer resposta de Ross, felizmente tenho tantas coisas para resolver que foi relativamente rápido a passagem do tempo, quando me dou conta da hora me retiro para poder ir comer minhas putas e tirar toda essa tensão do meu corpo. Mal chego na garagem e recebo uma ligação de Ross, atendo animado, um bom pressentimento sobre o assunto discutido hoje mais cedo.

Atendi ao telefone prontamente, sentindo muita satisfação ao escutar de Ross que os hackers de Los Angeles conseguiram localizar o desgraçado, pelo que entendi é mesmo um hacker pequeno, deduziram pelo tamanho do servidor que eles conseguiram entrar, porém foi impossível abrir as informações que estavam lá, parece que o danado era realmente bom, tinha uma codificação própria dos arquivos, uma linguagem de programação personalizada, então foi impossível para eles decodificarem as informações existentes no seu servidor em tão pouco tempo, seria necessário estudar essa personalização para depois conseguirem quebrar a segurança, eles garantiram que o sistema dele era mais seguro que o do banco central por exemplo.

Foi impossível não ficar impressionado com esse cara, seria uma aquisição e tanto na minha equipe, se ele tinha um sistema de segurança pessoal tão bem desenvolvido, faria milagres nos meus, era tentador mantê-lo vivo, então achei por bem pensar racionalmente antes de fazer algo irreversível com ele, graças a minha frieza em situações de crise consegui inúmeros aliados, mas as vezes eu era tomado por um ódio descomunal que me fazia agir sem medir as consequências, e autocontrole nesse meio é tudo, um desvio, uma perda de controle pode colocar anos de lealdade ou de construção de imagem em frangalhos, talvez esse cara fosse útil vivo, era melhor eu relaxar para que não fizesse algo que depois me arrependeria.

Logo dei a ordem para buscá-lo e pegar todo o servidor do rapaz, achei por bem não destruir seu equipamento, pois se era tão seguro poderia ter informações valiosas ali, porém ordenei que fizessem parecer que estivesse tudo destruído e armassem uma emboscada para pegá-lo, visto que quando alguns capangas foram espionar descobriram que a casa estava vazia. Ross me informou que o endereço era do rio de janeiro, então já estava pegando o jatinho para capturar o imbecil, que se eu pensar bem, não era tão imbecil assim.

- Assim que chegar lá me avise, quero estar a par de tudo! – Ordenei e desliguei o telefone, aliviado em saber que os dias dele estavam contados, agora a vida dele ia me pertencer, o que eu faria, só na hora mesmo eu ia decidir. Eu precisava desesperadamente de alívio, então agora era a minha hora de comer minhas putas e aliviar todo o estresse que esse roubo me causou. Mais tranquilo ao saber que o problema estava a vias de ser solucionado, segui meu caminho, sendo recebido no meu quarto particular por cinco gostosas desesperadas para agradar o patrão, hoje eu ia me divertir bastante.

***

Depois de algumas horas fui interrompido de minhas distrações com uma ligação de Ross, haviam chegado na casa do tal ladrãozinho, então dispensei as vadias e fiz uma ligação de vídeo para poder observar o espaço onde morava o desgraçado. Pelo visto não era tão simples invadir a casa dele, o cara era realmente bom, haviam trancas digitais nas portas e as janelas também estavam lacradas digitalmente, o que garantiria uma segurança a distância, se rompêssemos algumas delas nunca veríamos o desgraçado.

Ross foi esperto ao avaliar isso antes de invadirem, ele fazia jus a posição que o dei como meu braço direito. Foi necessário utilizarmos um anulador de sinal, para cancelar qualquer informação que pudesse ser enviada daquela casa, depois conseguiram cortar toda rede elétrica do local, a esperança era que essa informação ficasse presa na casa e o desgraçado retornasse, se ele soubesse da emboscada dificilmente voltaria, como não tínhamos como prever, as medidas tomadas foram as melhores, só nos restava esperar.

Talvez fosse por arrogância ou vaidade, mas o rapaz voltou, pela forma que ele se encaminhou para a casa não sabia de nada, nosso plano tinha dado certo, Ross me ligou contente quando o avistou entrando em casa, me enviou algumas fotos para que eu pudesse ver como ele era, e qual não foi a surpresa em ver um cara nanico e magrelo, todo envolto em moletom e roupas largas, claramente maiores do que ele, era o perfil completo de um nerd, usava um capuz que tampava seu rosto todo, mal dava pra ver sua boca, além de ter um sistema de segurança forte, ainda protegia sua imagem de todos, eu estava ficando cada vez mais curioso sobre ele.

Aguardei mais um pouco, sabia que estava perto de captura-lo, e devido as poucas informações que eu tinha conseguido sobre ele estava começando a considerar deixa-lo vivo e obriga-lo a trabalhar para mim, apesar de todo o ódio que eu sentia pelo abuso do roubo, tinha que confessar que poderia conseguir muito mais com ele vivo do que morto, então enviei uma mensagem para Ross ordenando que apenas o capturassem e o dopassem, não o queria morto por hora, eu decidiria depois se faria isso, também pedi que não quebrassem nem um dedo ou braços, são ferramentas muito úteis para hackers, então preferi mantê-las intactas, porém se ele lutasse muito permiti que quebrassem suas pernas, elas não eram tão necessárias assim.

Depois de cerca de vinte minutos Ross me liga novamente, corro para atender o telefone e vejo que é uma chamada de vídeo, pelo jeito conseguiram pegar o cara, e agora eu ia conhecer o seu rosto. Atendo com um sorriso, e ao ver a expressão de Ross, eu tinha certeza que ele tinha cumprido bem a sua função, ele era o melhor em caçar as pessoas, nunca me decepcionou, precisava fazer um depósito gordo em sua conta, como agrado pelos serviços bem prestados.

- Chefe, tu não vai acreditar no que encontramos na emboscada que armamos para o ladrãozinho que te deu aquele baita prejuízo. Ou eu deveria dizer, "ladrazinha" – O escutei atentamente, e por um momento fiquei em choque, era mesmo isso que ele estava dizendo ou eu estava entendendo errado.

- O que? Você quer dizer que? – Falei em dúvida, esse desgraçado não parava de me surpreender, não era possível que... – Me mostra! – Ordenei.

Ross virou imediatamente a câmera do celular, me mostrando algo que eu realmente não esperava, sentada no chão uma mulher, ela abaixou a cabeça imediatamente, talvez por instinto de proteção, Ross foi até ela e puxou seu cabelo preso acima da cabeça para trás, me dando visão total do seu rosto, e naquele momento eu a vi, não sabia seu nome, mas era uma mulher curiosa, não usava nenhuma maquiagem, tinha pele morena, e olhos negros, cabelos também escuros, uma boca bem carnuda, não parecia usar batom, não pude negar que na hora que olhei em seus olhos a desejei.

Se me falassem que eu tinha sido roubado por uma mulher, eu acreditaria, realmente não acho que mulheres são burras por serem mulheres e homens são inteligentes por serem homens, não que eu não adore fazer uso de seus corpos, mas nunca duvidei da capacidade intelectual que elas tem, e uma mulher que sabe usar o cérebro e o corpo consegue dominar qualquer homem, saber disso fez com que eu sempre fosse bem cuidadoso ao me relacionar com elas, porém eu realmente não esperava que fosse uma mulher que tivesse feito algo tão perigoso assim, ainda mais sozinha.

Apesar de aparentar nervosa ela tinha um olhar firme, daqueles que sabe que vai conseguir fugir, se ela fez tudo que fez, e pelo que conseguimos descobrir antes, sozinha, então a danada realmente era brilhante, seria uma aquisição e tanto para mim, naquele momento decidi que ela não morreria, e também não queria nenhum osso de seu corpo quebrado, poderia fazer muito mais com ela, dobrá-la seria algo que eu teria imenso prazer em fazer, e ainda poderia usar seus conhecimentos para enriquecer muito mais, de quebra ter mais controle sobre o país, era quase como ganhar na loteria.

Farei com que pague por cada centavo que me roubou, já estava planejando tudo que faria com ela na minha mente suja e perversa. Você está fodida garota, irá se arrepender amargamente por ter mexido comigo.

- Então foi você que me deu um prejuízo de 200 milhões de reais. – Vi seus olhos se arregalaram ao ouvir o valor, percebi na hora que ela tinha cometido um erro, senti vontade de rir, não sei o que ela fez, mas com certeza não foi isso que tinha planejado, internamente agradeci por isso, pois foi o que me levou até ela. – Traga ela para mim, ela vai me pagar cada centavo que me roubou, tenho outros planos para essa mocinha ai. – Ordenei a Ross, satisfeito com a captura, o vi dopá-la e logo mandei que ela fosse mantida intocada, não queria que tocassem em nenhuma parte de seu corpo, isso seria realizado por mim, e eu faria com todo prazer.

- Ela já está apagando chefe, não oferece mais resistência. – Ross disse satisfeito, imediatamente abri um app bancário no meu celular e fiz uma transferência bem robusta para a conta de Ross.

- Tem uma recompensa para você na sua conta Ross, traga ela para minha casa de campo, reforce a segurança, e prepare uma sala bem especial para ela, ela será minha prisioneira, então prepare a tudo para recebê-la, avise aos funcionários de lá e deixe tudo pronto, estarei pegando um jatinho e nos encontramos por lá.

- Certo chefe! Pretende ficar com ela? – Ross perguntou curioso.

- Sim! – Afirmei, pois a resposta veio imediatamente a minha boca – Vou adestra-la primeiro, e dependendo de como for vejo o que farei com ela.

- Beleza chefe, até logo.

Despedi-me dele enviando em seguida uma mensagem para Rodrigo, meu piloto particular, solicitando que preparasse meu jatinho para viajarmos o mais rápido possível, logo iria encontrá-la pessoalmente, e incrivelmente me senti tão empolgado como não me sentia há séculos.