Capítulo 8 Algoz

Anastácia Ortiz

Meu corpo todo doía, eu sentia que tinha sido triturada, tinha um colchão macio sob mim, mas eu estava temendo pelo que encontraria quando abrisse os olhos.

- Acordou bela adormecida! – Ouvi uma voz vindo de uma distância não muito grande de onde eu estava – Estava aguardando por você – Reconheci imediatamente a sua voz, e a claridade que estava queimando minhas pálpebras me diziam que era dia e agora sem o manto da escuridão eu o veria por completo, o demônio que me tirou a minha liberdade, foi impossível não sentir medo, tentei a todo custo não me mover.

Fingi dormir, quem sabe assim ele desistia de tentar me intimidar, me dando tempo para pensar em alguma rota de fuga, em qualquer merda que pudesse me ajudar, tentei acalmar minha mente que estava agora caoticamente perturbada, algo difícil de lidar visto que quanto mais caóticos estiverem meus pensamentos, mais dificuldade eu tenho de controlá-los e raciocinar com clareza, "Calma Anastácia, não se desespera, para tudo na vida existe solução, respira, fica calma, mantenha a cabeça no lugar e coração frio." Repeti quase como que um mantra a fim de limpar minha mente e tentar manter minha cabeça no lugar.

- Eu sei que você está acordada, então nem pense em fingir dormir! – Ordenou, me tirando dos meus pensamentos.

Vendo que era inútil insistir nisso, resolvi abrir os olhos, sentei na cama e observei meu raptor me olhando, ele estava sentado numa poltrona perto do que parecia ser uma janela, era um homem extremamente assustador, mais ainda agora na luz do dia, tudo nele era aterrorizante, ele era grande demais, seus cabelos eram grandes e ondulados com tons claros nas pontas, seus olhos eram escuros e se curvavam, suas sobrancelhas grossas, e cortadas nas laterais, ele parecia um lobo, seu maxilar quadrado, suas mãos eram tão grandes que pareciam duas pás, possuía ombros exageradamente largos, eu diria que ele tinha pelo menos uns dois metros de altura, facilmente, novamente ele me lembrou o Spaceboy, agora mais ainda do que antes, quando estávamos no escuro.

Ele parecia muito maior pessoalmente do que nas fotos que já tinha visto dele, apesar de ser bem mais bonito nas fotos do que pessoalmente, ao vivo ele tinha um ar tão selvagem que assustaria até um leão. Vendo que o analisava, ele se levantou, as lembranças de não sei quanto tempo atrás vendo apenas reflexos de seu corpo enorme vindo fortemente, seu quadril largo, seu peito imenso, esse cara devia ter o dobro do meu tamanho, por que infernos ele tinha que ser tão grande e tão intimidante assim?

Merda... Tô fodida!

- O que você vai fazer comigo? – Perguntei séria, alinhando meus ouvidos para ter certeza que usei o modo verbal de comunicação, e não apenas pensei na pergunta, saiu firme como eu gostaria, encarando o maldito da melhor forma que eu pude, mas subitamente ciente de que eu estava dentro de um quarto, provavelmente trancado, com um homem enorme que até onde me lembro, roubei algo em torno de duzentos milhões, com uma fama das piores possíveis e sem o mínimo de ética moral, fiz o meu melhor para não aparentar o medo que sentia por dentro.

- Não vou te matar se é isso que pensa – Ele afirmou com um sorriso diabólico, seus olhos brilhavam tanto – Você vai ser muito mais útil para mim viva do que morta, fica tranquila boneca. – Piscou para mim.

- Pretende me prender aqui? – Perguntei ríspida, sem desviar de seus olhos.

Ele andou para perto de mim e por algum motivo que eu não consegui entender baixei os olhos instintivamente, senti meu rosto arder de um modo bem constrangedor. Merda! Não podia demonstra medo, parando a menos de meio metro de distância, ele segurou meu queixo fazendo com minha raiva, até então adormecida, começasse a ferver dentro de mim, ao ponto de quase entrar em ebulição e explodir tudo aquilo, usei toda a minha força de vontade para me manter inerte aquela aproximação, senti quando ele puxou meu queixo para cima a fim de que eu olhasse novamente em seus olhos.

Odeio que me toquem!

- Andei pensando no que fazer com você boneca, acho que você pode ser muito útil para mim, é inteligente, e extremamente gostosa, mesmo que por alguma insanidade tente esconder isso debaixo de tanta roupa larga que usa, se você for esperta o bastante pode viver ainda por muito tempo.

Se ele era assustador antes, agora então ele parecia o próprio demônio, eu não era dada a qualquer tipo de aproximação física, e tê-lo tão perto de mim era completamente perturbador, minha bolha pessoal sendo invadida de forma tão brusca era dolorosamente humilhante. Estava cada vez mais difícil me manter indiferente a sua proximidade, a vontade de gritar e pular em cima dele era quase palpável, senti minhas mãos formigarem de ódio.

- Se afasta de mim! – Antes que eu pudesse processar meus pensamentos, as palavras já haviam saído da minha boca.

- Acho que não boneca, tive o prazer de escolher uma roupa tão especial para você, quer ver seu corpo mais uma vez. – Falou estendendo as mãos para o lençol, tencionando puxá-los, sua ação me deu imediatamente a consciência de que eu estava praticamente nua por debaixo daquela coberta, e com um reflexo que eu não sei como tive naquele instante, segurei firmemente o lençol contra meu busto, sentindo uma vontade absurda de chorar por estar naquela situação bizarra.

- Solta! – Ordenou suavemente, olhando em meus olhos – Eu não testaria a minha paciência se eu fosse você!

Analisando brevemente minhas possibilidades, foi claro como água para mim que se eu teimasse ele provavelmente faria o mesmo que se eu colaborasse, apenas eu sofreria as consequências de uma possível rebeldia, mas mesmo assim foi impossível obedecer, minhas mãos fincaram mais fortemente no lençol, enquanto eu fechava inconscientemente meus olhos, implorando para que um milagre impedisse aquilo que eu tinha certeza que aconteceria em breve.

Como eu não o obedeci, não me espantei quando ele segurou minha mão com força, fazendo com que ela se abrisse, sem grandes esforços, e puxasse o lençol que me protegia dos seus olhos carnívoros.

- Você é uma delicia que estava muito bem escondida debaixo de tanta roupa que usava, mal vejo a hora para provar todas as partes de você! – Ele respondeu malicioso

- Podemos resolver tudo de forma civilizada – Comecei, tentando não perder a razão, merda, merda, merda, odiava implorar o que quer que fosse, mas essa era uma situação única e merecia, eu não tinha muita saída, e agora definitivamente eu estava apavorada. – Eu posso ser útil, eu já disse, eu sei roubar, consigo invadir qualquer sistema que você quiser, posso trabalhar para você, dobrar suas finanças, e ...

- Está com medo boneca? Finalmente vejo algo parecido com medo nos seus olhos, você deveria ter pensado nas consequências dos seus atos antes de mexer com alguém como eu – Ele respondeu com ironia

- Me deixa ir! Ou melhor - Me corrigi, sabendo que obviamente eu não iria embora, provavelmente nunca mais, a não ser que eu encontrasse um meio de fugir - eu posso ficar, e dou um jeito de te devolver o dinheiro, eu sou inteligente, posso hackear o que você quiser, consigo invadir qualquer sistema, em qualquer lugar do mundo, eu consigo te pagar, se me der um pouco de tempo... - O vi passando a mão em meus cabelos, puxando uma mexa e enrolando em seus dedos, e depois tocando suavemente minha bochecha, precisei me esforçar ao máximo para não me encolher nesse momento - Você não precisa fazer isso...

Nesse momento a mão dele pousou em meu pescoço, interrompendo bruscamente minhas falas, e sem o menor esforço me ergueu quase que de pé na cama, e mesmo assim ele ainda parecia muito maior do que eu, ele sentia um prazer imenso em me ver naquela posição, era tão latente. Saulo sempre me instruiu, me avisou o que acontecia com mulheres que eram capturadas nesse meio sujo em que vivemos, sempre me alertou ao cuidado que eu deveria ter para não ser capturada, e mesmo saber de tudo que poderia me acontecer, nada me preparou para viver essa realidade dura e cruel de ser mulher e ficar a mercê de um homem.

- Odeio que me digam o que fazer! - Rosnou suavemente, soprando seu ar quente perto dos meus lábios, deixando claro que contrariá-lo não era a atitude mais inteligente que eu poderia tomar.

- Des..cul..pe – Disse engasgada

- Senhor! – Ele completou, "babaca arrogante".

- Desculpe senhor! – Repeti com dificuldade.

- Acho bom deixar as coisas bem claras desde o começo, vou te falar como isso vai funcionar, você vai me obedecer, e fazer absolutamente tudo que eu mandar, sem questionamentos, sem implorar, sem brigar, principalmente sem chorar, apenas me obedecer e ponto. Entendeu? – Ele perguntou olhando dentro dos meus olhos, eu apenas consegui assentir com a cabeça, tentando concentrar minha atenção a minha respiração quase nula naquela posição – Toda desobediência será punida, e não pense que eu terei misericórdia de você, - sua boca pousou em meu ouvido, senti sua barba arranhar meu rosto e sua voz ficar mais baixa e sombria - eu não sou bom, eu não sou legal, e eu não tenho misericórdia de ninguém.

- Sim Se-senhor – As lágrimas queriam escorrer dos meus olhos de tanta frustração que eu sentia por não estar no controle, esse homem ia acabar comigo, como eu faria para impedir o que estava prestes a acontecer.

Sempre fui boa em planejamento, mas improvisar em situações de perigo que eu e meu irmão nos metíamos, isso sempre foi tarefa do Saulo, na verdade ele sempre foi altamente imprudente, o que o ensinou a agir rápido em situações diversas, muitas delas comigo em seu encalço, porém na maior parte das vezes eu estava em casa, manuseando um computador, e não de frente com um inimigo, então quando eu estava fisicamente com ele, eu seguia todas as instruções de seus planos loucos desenvolvidos quase que na velocidade com que corríamos, só que dessa vez a situação estava muito contra mim e eu não tinha mais Saulo para me ajudar, eu estava completamente sozinha.

- Como eu disse antes, você pode viver ou não, depende do quanto você é capaz de fazer por mim, quero que tire sua roupa e se deite comigo sem resistência, depois disso poderemos conversar sobre como você vai me pagar – Ordenou soltando o meu pescoço me deixando de pé, me dando a confirmação que eu não queria ter do que ia acontecer a seguir.

- Mas senhor, eu... – PLAFT! Mal consegui formular as palavras, o tapa no meu rosto veio me fazendo desestabilizar e cair na cama, fiquei zonza na hora.

- O que eu disse sobre me questionar? Você vai fazer o que eu mandar, desobediência gera consequência – Fez uma pausa - E eu vou adorar disciplinar você! – Ele disse sorrindo, sentindo prazer em me torturar – Estou esperando! – Ordenou novamente, baixo, lento, saboreando as palavras e as minhas reações, sem pressa.

Imbecil!

Sabendo o que poderia acontecer, e meio atordoada pela bofetada refleti brevemente sobre o quanto aquilo poderia ser ruim, ou poderia apenas ser tolerável, foi quase impossível segurar as lágrimas nesse momento, a humilhação de estar sendo subjugada, o medo da antecipação, a dor no meu rosto, a mão dele era tão pesada, eu tinha certeza que ele não usou metade da força que tinha, e mesmo assim me deixou tonta, um soco desse homem era capaz de me fazer desmaiar na hora. "Como você vai sair dessa Anastácia? Pensa!"

Coloquei as mãos na calcinha pequena que eu vestia e desci a mesma num único impulso para não perder a coragem, nesse momento ele nem esperou que eu deitasse, me puxou de modo que meu corpo caísse deitado na cama, agarrando meu tornozelo me arrastando para a ponta da cama, posicionou minhas pernas dobradas, abertas, ele era tão alto e tão grande, me olhando ele abriu o zíper da calça e tirou seu membro de dentro dela, logo meu medo só triplicou, ele não era só grande, ele era gigante, tudo aquilo dentro de mim ia fazer um estrago, não dava, eu precisava sair dali pra já!

Enquanto ele se ajustava para libertar sua ereção, dei um chute em sua barriga, pegando-o de surpresa, até eu mesma fiquei surpresa com minha própria ação, o vi se desestabilizar e tombar para trás, numa velocidade que eu não sabia que tinha saltei para fora da cama, a porta do quarto estava perto, corri até ela, pouco me importando com a minha semi nudez, só queria fugir dali, minhas mãos alcançaram a maçaneta da porta, senti uma alegria ao pensar que dali eu poderia pular de alguma janela ou alcançar a saída, qualquer coisa que pudesse me tirar daquele lugar. Era a minha chance de escapar, era agora.