Harém Reverso - Mulheres no Poder
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Capítulo 2 2

DELILAH

Seus olhos são de um incrível azul cerúleo com riscas de um tom mais escuro, que fazem com que ele pareça esperto e inteligente, apesar da idade. Olhos que se fixam intensamente em você e encantam sua alma. O tipo que deixará qualquer garota de pernas bambas...

... daqui uns quinze ou dezesseis anos.

-- Oi, fofinho!

O garoto loiro sorriu, de seu lado das arquibancadas. Ele corria de um lado ao outro da escada de concreto, em uma espécie de esconde-esconde entre eu e o que parecia ser uma outra menina de sua idade.

-- Onde está sua mamãe?

A pergunta pareceu confundi-lo. Ele hesitou por um momento, deixando escapar uma risadinha antes de sair correndo novamente.

Uau. Muito fofo ele.

Voltei a prestar atenção no show dos leões-marinhos, que estava prestes a começar. Eu sabia disso porque a domadora, uma morena bonita na casa dos vinte e poucos anos, tinha começado a andar pela plataforma, reunindo todo o material necessária para entreter o público. Incluindo um balde de peixes molengas.

Pude sentir outra onda de tristeza me invadindo, mas me apressei a afastá-la. Normalmente eu estaria apontando e sorrindo.

Partindo pedaços iguais de algodão doce azul e rosa e distribuindoos para minha sobrinha e meu sobrinho.

Só que agora, pela primeira vez na vida, eu estava sozinha no aquário.

-- SENHORAS E SENHORES!

A voz da domadora faz um barulho ensurdecedor com a estática em algum ponto entre seu fone bluetooth e os alto-falantes. Era preciso melhorar o velho sistema de som com urgência.

-- Sentem-se, por favor. O show já vai começar!

Quase na mesma hora, o menininho veio correndo novamente até mim. Ele estava chegando cada vez mais perto, me vendo menos como uma estranha e mais como uma companheira de brincadeira. Acenei novamente para ele, desejando ter comprado algum algodão doce. Por outro lado, alimentar o filho de outra pessoa não era exatamente uma boa ideia.

-- Olhe. -- Apontei para o tanque de vidro. -- É melhor ir se sentar, os leões-marinhos estão chegando!

Ele encarou o tanque por um momento e então voltou a me olhar, com os olhos arregalados.

-- Vai! -- disse, fazendo sinal para ele ir. -- Volte para os seus pais!

Meu mais recente crush riu para mim e então correu de volta para perto da menininha. Um homem grande e atraente, trajando um casaco preto de couro cravejado, está erguendo-a agora em seus braços musculosos. Seu peitoral é tão longo que ele parece maior do que eu, mesmo sentado.

Caralho.

Outro homem insanamente bonito, com um cavanhaque escuro, se senta ao lado do primeiro, cutucando a menina até ela rir. Eu me perco por alguns instantes admirando o momento de diversão que eles parecem estar tendo, entre outras coisas.

Rory ri do mesmo jeito.

Ela certamente ri, pensei amargamente. Minha sobrinha tinha o mesmo riso estridente, enquanto que o de seu irmão, Luke, era mais baixo, como uma metralhadora. Eu conhecia bem a risada dos dois, depois de tê-los feito rir um milhão de vezes.

Agora mesmo, se estivessem aqui, eles estariam encarando fixamente o lado esquerdo do tanque, esperando a abertura dos portões submersos. Os dois leões-marinhos viriam como duas balas, girando e cortando a água cristalina de um lado para o outro em velocidade máxima.

Suspirei, deixando as mãos caídas em meu colo. Em cinco anos, essa era a primeira vez que eu não os trazia aqui para comemorar o aniversário deles. Bem, não exatamente. Quando eles fizeram três anos, nós tentamos o museu infantil em Bridgehampton. E embora o lugar colorido fosse divertido, não chegou nem perto da magia do Riverhead aquarium.

Não, minha dupla preciosa amava esse lugar tanto quanto eu. Da exibição de borboletas e joaninhas até o tanque circular perto da saída, onde podíamos alimentar e tocar as pequenas arraias. Uma vez por ano eu os roubava de minha irmã mais velha, dirigindo para o Leste, para que pudéssemos caminhar pela caverna escura junto ao tanque dos tubarões, admirar os polvos, os cavalos-marinho e, claro, assistir ao show dos leões-marinhos na arena externa.

E claro, eu os mimava o máximo que podia, enviando-os de volta para casa com as barrigas cheias de doces e três ou quatro criaturas marinhas em pelúcia, cortesia da lojinha do Aquarium.

Mas agora...

Agora, Patrícia e o marido John tinham se mudado para Maryland, levando as crianças com eles. E ainda assim, aqui estava eu, visitando o Aquarium neste dia tão especial. Só que dessa vez, sozinha.

Meu coração dói. Eu tinha achado que vir até que aqui poderia fazer eu me sentir melhor. Imaginei que um lugar como este só poderia trazer boas memórias, e que eu poderia fazer uma chamada de vídeo com as crianças no meio do show dos leões-marinhos.

No entanto, eu estava me sentindo mais triste e saudosa do que nunca.

-- Certo -- a domadora gritou de modo animado no microfone. Felizmente a estática tinha passado --, eu quero que todo mundo se prepare para receber animadamente...

E então, tudo aconteceu tão rápido que eu mal tive tempo de reagir. O menininho passou correndo à minha frente, com os braços erguidos no ar, esgueirando-se pela abertura da grade de aço, para voar como o Super-Homem...

NÃO!

Meu coração veio à boca. Sem pensar, minha reação foi imediata, pulando de onde eu me encontrava e me jogando pela mesma abertura estreita. Meu corpo mal cabe ali. O único modo é ir na horizontal, deixando-me totalmente vulnerável aos efeitos da gravidade, enquanto fecho os braços ao redor do garotinho, para protegê-lo da queda inevitável.

Meu Deus!

Estávamos na quarta ou quinta fileira, a uns bons dois ou três metros do chão. Enquanto caímos em queda livre, girei meu corpo para protegê-lo, embalando-o em meus braços enquanto esperava o inevitável choque contra o cimento.

A última coisa que vi foram os dois pais do menininho, olhando horrorizados para baixo enquanto corriam para a borda, agarrando a grade. Logo em seguida senti uma explosão de dor nas costas, ao mesmo tempo que pontos prateados surgiam em meu campo de visão, antes da escuridão total.

LIAM

-- Rápido, vire à direita!

Duncan girou o volante tão rápido que pareceu que estávamos sob duas rodas. O que, considerando o modo como ele estava dirigindo, não seria totalmente impossível.

-- Vamos, cara, vamos perdê-los de vista!

A ambulância tinha virado à nossa frente alguns quarteirões adiante. Eu não tinha muita certeza do quanto estávamos longe do hospital Southampton, mas definitivamente era isso que a ambulância tinha escrito em sua lateral.

-- Dá para calar a boca um pouco? -- disse Julius, no banco de trás. -- Ele sabe para onde está indo!

-- Sim, mas...

-- Além disso -- interrompeu Julius --, não deveríamos estar indo tão rápido. Temos crianças no carro, lembram?

Olhei para o banco de trás, onde Jace e Courtney estavam sentados, quietinhos. Eles pareciam mais desapontados do que chateados com nossa partida tão precipitada. Jace parecia mais abalado por perder o show dos leões-marinhos do que por sua experiência de quase morte.

Quase morte. Puta merda!

Eu não podia acreditar na nossa sorte ou no quanto tínhamos sido descuidados! Jace poderia ter morrido ou ter se machucado gravemente. Foi tudo tão rápido! A coisa toda tinha acontecido em uma fração de segundos...

Se aquela mulher não estivesse lá...

Sentia um arrepio só de pensar em completar o pensamento. E ainda assim, a mulher estava lá. Aquela mulher incrível, linda e rápida como um flash, com instinto maternal suficiente para evitar uma tragédia impensável.

-- Dois segundos -- Duncan murmurou para si mesmo. -- A gente deixou de vigiar ele por dois segundos.

-- Dois segundos é o necessário -- resmungou Julius.

-- Você nem mesmo estava lá -- rebati. -- Estava comprando cachorro quente.

Meu amigo resmungou de novo, relutante ou talvez incapaz de se defender, ali sentando entre as duas crianças. Courtney estava prestes a cair no sono. Enquanto Jace, se entretinha brincando com as fivelas do cinto de sua cadeirinha.

Pelo menos ele está bem, pensei comigo mesmo. Ele nem vai se lembrar disso.

Quanto a mim, isso seria outra história.

-- Ele correu tão rápido -- murmurei --, em um segundo estávamos fazendo cosquinhas em Courtney e no segundo seguinte...

No segundo seguinte Jace estava voando pelo espaço aberto da grade, saltando para o nada em um dos lados da arquibancada de concreto.

E então ela estava voando também, bem ao lado dele.

Graças a Deus.

A mulher tinha caído girando o corpo para proteger Jace da queda. Ela atingiu o concreto com um barulho oco que eu não poderia esquecer enquanto vivesse e então, de repente, Duncan estava puxando Jace de seu abraço protetor. Rapidamente uma multidão se formou ao redor, enquanto fazíamos tudo o que podíamos para mantê-la consciente. Mas o impacto da queda tirou todo o ar de seus pulmões. Sem conseguir respirar e ainda tonta, provavelmente por ter batido a cabeça, ela desmaiou nos meus braços.

Foram cinco minutos de puro caos, enquanto Julius retornava da área de alimentação. Ele deixou cair a bandeja de cachorrosquentes e correu em nossa direção, enquanto eu colocava minha jaqueta de couro debaixo da cabeça dela, para mantê-la fora do concreto frio. Mas antes que qualquer um de nós pudesse fazer o procedimentos para reanimá-la, o pessoal da ambulância já estava lá. Dois paramédicos materializaram-se do nada, trabalhando juntos para prendê-la a uma maca e a levarem.

-- Ali! Ela está parando!

Seguimos a ambulância direto na rampa de emergência, de onde rapidamente fomos expulsos. Dois seguranças nos apontaram a direção da área de estacionamento para visitantes e em minutos estávamos no balcão da sala de emergência, arrastando as crianças junto conosco.

-- A ambulância acabou de trazer uma mulher -- disse Duncan apressadamente. -- Ela... ela salvou nosso filho de...

-- Nome?

-- O que?

-- Você sabe o nome dela? -- a recepcionista voltou a perguntar.

-- Bem, não, mas...

-- Nesse caso é melhor sentar e esperar -- disse ela. -Informaremos o que está acontecendo assim que pudermos.

Vinte minutos se passaram. Uma hora. Depois de noventa minutos estava escuro do lado de fora e a sala de emergência cada vez mais cheia. Não muito longe, à nossa esquerda, uma mulher de cabelos grisalhos e olhos vermelhos tossia pela décima sexta vez.

-- Não gosto disso -- resmunguei.

-- Nenhum de nós gosta -- suspirou Julius. Ele estava sentado o mais longe possível dos outros pacientes, os braços protetoramente ao redor de um Jace extremamente sonolento. -Mas não podemos fazer nada.

-- Vá perguntar de novo -- implorei --, talvez eles...

-- Já perguntei três vezes -- reclamou ele. -- Duncan duas. Eles estão cansados de nós. Talvez seja a sua vez.

Duncan acenou, concordando e estendeu os braços para pegar Courtney. A pequena anjo loira tinha adormecido em meus ombros quase instantaneamente quando chegamos aqui.

Passei nossa filha para ele e me aproximei do balcão. Dessa vez, tinha uma pessoa diferente atrás dele. Um homem com cerca de metade da idade da outra recepcionista.

-- Olha, eu sei por quem vocês estão esperando e só agora tivemos notícia. A mulher do aquário está bem. Está estável, mas os médicos ainda estão examinando ela. Nesse exato momento ela está sendo transferida para um quarto, onde passará a noite.

-- Podemos ao menos vê-la? Talvez por um minuto ou... -perguntei franzindo as sobrancelhas.

-- Acredito que não seja possível. Me disseram que ela está descansando.

O homem parou, me encarando de cima a baixo. Quando voltou a falar, sua voz era mais suave, quase compassiva.

-- Olha, não tem nada que vocês possam fazer esta noite. Por que não voltam amanhã de manhã, com todo mundo descansado? Vocês poderão vê-la amanhã.

Eu me virei e quase na mesma hora a mulher idosa tossiu outra vez. Dessa vez, o homem sentado ao seu lado tossiu também... sem cobrir a boca.

Merda.

Duncan e Julius pareciam cansados e as crianças estavam exaustas. Na pior das hipóteses, estávamos todos pegando um monte de germes novos. O homem atrás do balcão estava certo, não havia mais nada que pudéssemos fazer ali. Por mais que quiséssemos ver e agradecer nossa heroína, permanecer mais tempo ali só pioraria as coisas.

-- Certo, vamos para casa -- concordei pegando uma das canetas em uma caneca em sua mesa. -- Só mais uma coisa. Você pode me dizer o nome dela?

A expressão em seu rosto se tornou estranha.

-- Eu... eu temo não poder fazer isso também.

-- Por que não? -- resmunguei.

-- Faz parte do regulamento. Regras de confidencialidade do paciente e...

-- Tá bom -- rosnei, mais irritado com as regras do que com o recepcionista em si. -- A que horas começa as visitas amanhã?

-- Às oito da manhã.

Enfiei a caneta de volta na caneca do recepcionista com tanta força que ela tombou, espalhando canetas para todos os lados.

-- A gente se vê, então.

            
            

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