Harém Reverso - Mulheres no Poder
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Capítulo 4 4

DELILAH

A viagem pela North Fork, pela região nordeste de Long Island foi tão bonita como sempre, mas as coisas pareceram surpreendentes depois de Mattituck. A estrada continuava para o leste, passando por Cutchogue, Peconic, e finalmente Southold. Intencionalmente, eu não procurei o endereço que a florista me deu. Eu queria ser surpreendida.

Puta merda...

Surpreendida não chegava nem aos pés disso.

-- Só pode ser um sonho.

Murmurei as palavras enquanto virava na longa rua arborizada, passando lentamente por baixo de um grande portão de ferro forjado. A letra "J", que deveria estar centralizada, estava ligeiramente torta. As cerejeiras de ambos os lados deveriam estar bem podadas, mas pareciam disformes e desniveladas.

Ainda assim, a propriedade era gigantesca. E com todo este terreno, no bairro exclusivo dos Hamptons? Ela poderia estar coberta de espinhos e ainda assim valeria seu peso em ouro.

A entrada terminava em um loop circular, em torno de uma bela fonte de pedra multicamadas. Não havia água e, pelo jeito, já fazia algum tempo. A fonte estava repleta de folhas, e suas paredes estavam listradas e manchadas.

Outro caminho levava diretamente até a casa, que dominava tudo, de modo impressionante. Em algum momento ela deve ter sido magnífica, com torres duplas, empenas invertidas e um grande alpendre envolvente, rodeando ambos os lados e desaparecendo em direção à parte de trás da casa. Colunas extravagantes sustentavam o beiral além do qual dezenas de janelas longas ofereciam vistas incríveis dos arredores da propriedade e do estreito de Long Island.

Surreal.

Quem quer que tenha morado ali tinha deixado o lugar se deteriorar, mas havia também novos sinais de esperança. Eu podia ouvir uma batida constante, e o som distante do que soava como uma serra elétrica. Andaimes cobriam todo o lado esquerdo da casa, e dois caminhões diferentes, ambos cheios de madeira e outros materiais de construção, estavam estacionados ao lado de um sedã preto elegante.

Parei junto à fonte, subi pela calçada e bati na porta dupla, que estava aberta. Quase imediatamente, o soar do martelo do lado de dentro parou.

Por algum motivo, o silêncio me deixou repentinamente nervosa. E eu nunca fico nervosa.

-- Olá?

A voz vinda de dentro era grave, mas agradável. Eu vi o deslocamento das sombras e então um dos dois homens do aquário surgiu no meu campo de visão.

-- É você!

Seus olhos se arregalaram com o reconhecimento imediato. Ele parecia tão profundamente chocado que não pude conter um sorriso.

-- Sim. Sou eu.

O pai barbudo da menininha loira usava a camiseta mais apertada e suja que eu já tinha visto, destacando braços esculpidos e ombros maravilhosamente musculosos, os quais estavam ainda mais cobertos de areia e sujeira do que a própria roupa.

-- O que... O que você está... como você...

-- Vim agradecer por todas aquelas flores -- disse sorrindo --, mas principalmente, para ver o menino. Eu precisava ter certeza de que ele estava bem.

-- Jace -- disse o homem, soltando o ar. -- Você está falando do Jace.

-- Este é o nome dele?

-- Sim.

-- E você é...

-- Liam -- disse ele, tornando-se ainda mais vermelho do que já estava. Ele estendeu uma mão coberta de serragem, parou e a limpou em sua perna algumas vezes antes de estendê-la novamente. -- Desculpa, eu estava...

-- Trabalhando duro -- completei. -- Eh, eu percebi isso.

Ele era maior do que eu me lembrava, mais alto, mais magro e mais imponente. Sua camiseta estava tão apertada, que chegava a estar rasgada em alguns pontos, deixando aparecer um tronco largo e musculoso assentado em numa cintura fina e estreita.

Merda.

Me obriguei a olhar novamente para cima quando meus olhos alcançaram o botão de seu jeans desbotado, mas não sem antes dar uma boa olhada em seu abdômen. Não tinha como não olhar, na verdade, eles eram proeminentes, mesmo através da camiseta. Distraidamente, eu me perguntava se ele era casado ou...

-- Devo me virar?

Merda, ele me viu olhando. Nada a ser feito, mas...

-- Se você não se importar, claro.

A risada de Liam era tão fofa quanto ele e eu meio que esperava que ele se virasse e me mostrasse a bunda. Em vez disso, seus olhos desceram, encarando meu próprio corpo descaradamente. Se ele tivesse uma esposa ou namorada, nós dois estávamos agindo provavelmente como dois babacas. Mas se não...

-- Vem, entra -- disse ele. -- Os outros vão cair duros quando virem você.

Entrei no hall de entrada da casa inacreditável, coberto de serragem, ferramentas e gesso partido. Dois conjuntos de degraus elevavam-se para a esquerda e para a direita, conduzindo ambos a uma varanda ornamentada, no segundo andar. Um deles coberto com papel de parede marrom.

-- Os rapazes estão por aqui... -- disse ele, parando debaixo de um arco, enquanto puxava uma cortina de plástico.

Rapazes. No plural. Franzo minha sobrancelhas.

-- Espera, não guardei seu nome.

-- Eu não falei -- sorri --, mas é Delilah.

-- Delilah? -- Ele falou devagar, como se estivesse saboreando.

-- Isso.

-- Nunca conheci uma Delilah antes -- disse ele sorrindo, ainda segurando a cortina para mim. -- Mas é um belo nome.

Atravessamos para uma outra parte da casa, que obviamente não estava em obras ainda. Os cômodos eram cavernosos e com pouca decoração. No entanto, vi alguns quadros. Em um deles havia medalhas e, em outro, o que pareciam ser alguns emblemas coloridos. Uma bandeira americana não estava apenas pendurada na parede, mas ela se estendia sobre tudo. Tudo parecia limpo e utilitário e...

Militar.

A cozinha, no entanto, tinha sido modernizada e parecia viva. Enquanto passávamos por ela, pude sentir o aroma de algo cheiroso e então vi a panela de molho no fogão. Liam abriu um par de portas francesas do outro lado de uma mesa de cozinha alongada, as quais levavam a um pátio cheio de vegetação.

Quase imediatamente vi o menininho que voara como o SuperHomem pelas arquibancadas. Ele estava brincando na grama com a menina loira, rolando uma bola para frente e para trás com um terceiro homem que eu não conhecia.

-- Vejam quem eu achei! -- gritou Liam.

O outro homem do aquário, o que tinha uma barbicha, estava à minha esquerda, no meio da serragem de madeira. Ao me ver, ele deixou tudo cair, incluindo seu queixo.

-- Você!

Sem qualquer outra palavra ele correu até mim, me puxou para os seus braços e me abraçou até eu gritar de dor.

-- Muito obrigado por...

-- AAHHH!

O outro cara do aquário me soltou rapidamente, enquanto eu assobiava um próximo suspiro. Minhas costelas estavam queimando. Por alguns segundos a dor me consumiu.

-- Ai meu deus, você ainda está machucada!

Liam se aproximou para ajudar, enquanto, lentamente, eu recuperava minha respiração. O serrador de madeira removeu as luvas e os óculos de proteção. Ele parecia horrorizado.

-- Eu sinto muito! Eu não me dei conta de...

-- Está tudo bem -- disse o cortando, embora eles não parecessem muito convencidos. -- Estou bem, de verdade. Eu... eu só não posso ser apertada ainda.

Um braço deslizou sobre o meu ombro, e uma mão cuidadosamente tocou minha cintura para me guiar. Antes que eu me desse conta, estava sentada em um banco de madeira cercada por três homens imensos.

-- Você salvou a vida do nosso filho -- disse o que me abraçou forte. -- Devemos tudo a você!

Eu ri, me dando conta do meu erro ao sentir dor novamente. -Que tal vocês começarem me dizendo os nomes de vocês?

-- Claro -- disse o homem, em um tom de desculpas. -- Sou o Duncan.

Apertei a enorme mão que ele me ofereceu, quase do tamanho de uma luva de baseball.

-- Você já conheceu o Liam -- continuou ele. -- E aquele é o Julius.

O terceiro homem, que estava na grama, me encarou silenciosamente. Seu cabelo era mais claro e mais longo do que o dos outros dois. Além disso, ele estava barbeado e ostentava olhos penetrantes, azul-céu.

Olhos azuis...

Por mais penetrantes que eles fossem, ainda não pareciam corresponder ao azul cerúleo do menino.

-- Os rapazes me contaram o que você fez -- disse Julius, ostentando uma voz grave. -- Você é uma heroína.

-- Você teria visto se tivesse sido mais rápido com a comida e as bebidas -- brincou Liam. -- Mas sim, ela passou voando pelo ar atrás do Jace. Os reflexos mais rápidos que eu já vi.

-- Eu apenas fiz o que qualquer um teria feito -- rebati. O menininho me encarou, pareceu me reconhecer e imediatamente correu em minha direção, sorrindo como um maníaco. -- Estou apenas feliz que ele está bem -- adicionei, bagunçando seu cabelo.

Era um pouco estranho aqueles três caras morenos tomando conta de duas crianças loiras. Aparentemente, sem o sinal de uma mãe.

-- Tentamos falar com você no hospital -- disse Liam --, mas eles não nos deixaram entrar. Disseram que você estava descansando. E quando voltamos na manhã seguinte você já tinha recebido alta.

-- Alta, você disse? -- sorri. -- É, acho que você pode dizer isso.

-- Eles não quiseram nos dar seus dados, mas conseguimos deixar as flores com uma senhora muito simpática que prometeu encaminhá-las. Acho que você as recebeu.

-- Recebi e obrigada -- disse. -- Eu também trouxe sua jaqueta de volta. Está no carro.

Eu não contei que tinha passado os últimos dias usando a jaqueta e desfrutando de seu peso no friozinho do outono. Ou que o cheiro característico do couro, especialmente com a colônia, não tinha sido indiferente para mim.

-- Já avisamos o hospital que assumiremos qualquer despesa - disse Duncan. -- Mas se você receber qualquer cobrança deles...

-- Acho que tudo foi coberto -- disse a eles --, mas obrigada. É muito gentil da parte de vocês.

-- É o mínimo que podemos fazer -- disse Julius, acenando com a cabeça.

Um breve silêncio se instalou sobre o vasto quintal. Quando olhei para baixo, Jace estava tentando me puxar em direção a um conjunto de madeira. De qualquer modo, eu não podia me mexer, já que a menininha abraçava minhas pernas.

-- Parece que você fez alguns amigos -- disse Duncan.

-- É -- eu ri --, acho que sim.

-- Courtney não costuma ir com estranhos -- disse Liam. -- O que significa que ela deve ter sentido a pessoa incrível que você é.

Tentei não corar diante de todos os elogios, mas então me dei conta de que se eu estivesse no lugar deles, estaria fazendo exatamente a mesma coisa. No entanto, aquilo ainda não fazia sentido. Eu tinha mais perguntas do que respostas.

-- A propósito, é um belo portão de entrada. Qual de vocês é sortudo o suficiente para ter um sobrenome começando com J?

Os rapazes trocaram um olhar rápido, antes de voltarem a me encarar.

-- Na verdade, nenhum de nós -- disse Liam.

Eu pisquei. Ainda sem respostas.

-- Bem, isso não é totalmente verdade -- disse Julius. Estendendo um braço muito bronzeado e musculoso ele apontou para as crianças. -- Eles têm.

Olhei para baixo, onde as crianças estavam se escondendo atrás das minhas pernas e fazendo caretas uma para a outra.

-- O sobrenome dos dois é Jackson -- disse ele, em um tom seco. -- A propriedade é deles.

-- E vocês estão renovando para eles? -- perguntei rindo. -Eles estão pagando em fraldas sujas ou...

-- Somos seus guardiões -- disse Duncan. -- Ou melhor, seus pais. Já faz quase um ano.

-- Ah.

-- Temos recebido abraços e risadinhas como pagamento -disse Liam, com um sorriso. -- Não posso dizer que me importo com isso.

-- Vocês não são prestadores de serviços, são militares, não são?

-- Como você percebeu? -- perguntou Duncan, coçando o cavanhaque e parecendo um pouco impressionado.

-- As bandeiras. As medalhas. As fardas velhas que vocês dois estão usando. -- Apontei para as calças camufladas de Julius e Duncan. -- Além disso, ele tem uma tatuagem da força aérea no ombro direito -- continuei, acenando na direção de Liam. -- Pude vêla enquanto andava atrás dele até aqui.

-- Ela é boa -- disse Lia, rindo. -- Muito boa.

-- Definitivamente ela não é ruim -- concordou Duncan.

Julius, de longe o mais estoico dos três, ainda não parecia convencido. Pelo menos não de todo.

-- Sim, somos militares -- disse Liam, cruzando os braços. -Comandos, para ser mais específico. Reservistas, principalmente, mas trabalhamos por contrato. Ou trabalhávamos. Até...

Seus olhos se fixaram atrás de mim, em Jace e Courtney. As crianças estavam novamente sentadas na grama, brincando com os cadarços de meus sapatos.

-- Você gostaria de ficar para jantar, Delilah?

O sol tinha começado a se pôr atrás de fileira de árvores distantes. Meu estômago roncou.

-- Alguma massa para combinar com o molho no fogão?

-- Ravioli caseiro. Receita de família, do Julius -- respondeu Duncan, com um sorriso amplo

Olhei para o militar de olhos azuis, com o cabelo castanho desgrenhado. Ele fez apenas um barulho com a boca, assentindo com um movimento de cabeça.

-- Bem, então contem comigo.

Eu e as crianças passamos uma meia hora ainda no gramado, rolando por ela, rindo e brincando e perseguindo-os por todo lado na parte livre do terreno, enquanto Liam e Duncan terminavam seus projetos de construção e guardavam suas ferramentas.

Enquanto isso, Julius preparava o jantar. Ele era casualmente doméstico e parecia muito confortável arrumando tigelas de ravioli, molho, e o pão quente perfumado que tirou do forno. Pelo aroma, eu podia apostar que era pão de alho e minha boca encheu d'água pensando nisso.

Mas, no geral, foi com Jace e Courtney que me diverti mais. Eles deviam ter entre um e dois anos e ainda estavam pegando o jeito de correr com as próprias perninhas gordas de criança. Descobri também que eles eram gêmeos. Liam os chamou desse jeito antes de entrar novamente na casa.

Eles me lembram tanto Rory e Luke.

Tirando o cabelo loiro platinado, as similaridades eram notáveis. Com apenas dez meses de diferença, minha sobrinha e sobrinho eram praticamente gêmeos também. E pude reconhecer em Jace e Courtney muitas das manias e gestos que meus sobrinhos costumavam ter quando tinham aquela mesma idade.

-- Venham para a mesa.

A voz de Duncan pôde ser ouvida das portas abertas e agarrei as crianças em meus braços. Claro que imediatamente senti dores na lateral do meu corpo, mas era tão bom ter bebês em meus braços de novo! Eu não conseguia parar de abraçá-los, ou de me maravilhar com o quanto eles eram mais leves do que os meus sobrinhos. Fazia muitos anos que eles não eram mais tão pequenos.

Alguns minutos mais tardes as crianças estavam presas em suas cadeirinhas ao redor da mesa. Julius cortou um pouco de massa em pedaços pequenos para eles, acompanhado do que parecia ser purê de cenoura. Ravioli, molho e pão de alho foram passados ao redor da mesa. Eu não conseguia me lembrar da última vez que tivera um jantar como aquele, Um jantar em família.

-- Parece delicioso -- disse, e realmente parecia.

-- Espere até provar -- sorriu Liam.

A conversa não parou durante o jantar, cada um de nós dando sua própria versão do incidente no aquário. Os rapazes pareciam sentidos e envergonhados por terem se distraído com Jace. Julius os repreendeu impiedosamente por deixar o menino fora de suas linhas de visão, e acabou repreendido por não estar lá em primeiro lugar.

Contei-lhes sobre minha breve estadia no hospital, e como minhas costelas estavam sarando, lentamente, mas estavam. Não queria fazer eles se sentirem mal. Eu sabia que eles já estavam se sentindo assim o suficiente.

-- De onde você é, Delilah? -- perguntou Duncan.

-- Originalmente? Queens.

-- Uau -- exclamou Liam. -- Um longo caminho até aqui só para ver como nosso menino estava.

-- É, mas eu gosto de fazer as coisas pessoalmente, olhando olhos nos olhos -- disse. -- Além disso, estou acostumada a dirigir pela região leste. Frequentei a Universidade Stony Brook por um tempo, com a intenção de me tornar fisioterapeuta.

-- E o que aconteceu?

Ai Deus, pensei comigo mesma. Seria melhor perguntar o que não aconteceu.

-- Basicamente eu estava indecisa demais -- admiti. -- Eu vivia mudando de curso e perdendo créditos. Algumas de minhas ajudas financeiras chegaram ao fim e acabei perdendo minha bolsa. Eu estava estudando pediatria quando o recurso financeiro acabou. Tive que procurar alguns bicos aqui e ali para continuar estudando meio-horário e... bem...

-- Você meio que desistiu -- disse Duncan.

-- É. Exatamente.

Era um pouco difícil admitir que eu provavelmente não iria voltar. Mas já tinham se passado quatro anos e eu ainda não tinha conseguido economizar um centavo para voltar e terminar meus estudos.

Não que eu tivesse tido alguma chance, infelizmente.

-- Bem, agora eu tenho um apartamento na região de Nassau. Faço transcrições médicas pelo computador em casa e sou garçonete nos finais de semana.

Encolhi os ombros, imaginando o que eles estavam pensando de tudo aquilo. Mas a reação deles não demorou muito.

-- Esperta -- disse Liam, balançando a cabeça em sinal de apreciação. -- Muito esperta.

-- É, acho que sim.

-- Gostamos de pessoas que sabem se virar -- disse Duncan, sorrindo. -- Você está em boa companhia com a gente.

Eu queria dizer que tinha dirigido até ali porque estava morrendo de curiosidade também. Durante todo o tempo que passei no hospital fiquei me perguntando se eles eram dois pais, ou um casal ou se as esposas apenas tinham ido ao banheiro quando Jace caiu. Mas ao invés disso encontrei três homens e não dois e, aparentemente, todos eles compartilhando a custódia dos gêmeos.

-- Então, o que três Comandos estão fazendo aqui em Southold? -- perguntei. -- Em uma incrível propriedade à beira mar, que deve ter... o que, pelo menos 15 ou 20 mil metros quadrados?

-- Trinta mil -- disse Duncan, com a boca cheia de pão.

Eu assobiei novamente. Mesmo sem a casa, um terreno daqueles valeria milhões. Tão grande, tão exclusivo.

-- Alguma vez você já comeu uma barra de chocolate Galaxy? - perguntou Liam, mudando completamente o assunto.

-- Fala sério! -- ri. -- Durante meu primeiro ano de faculdade eu provavelmente era viciada nelas.

-- Pois bem, você está olhando para os dois últimos herdeiros parciais da fortuna dos chocolates Galaxy.

Ele apontou o garfo para as crianças, balançando-o para frente e para trás entre eles. E como se estivesse aproveitando o momento, Jace soltou um arroto.

-- O bisavô deles fundou a receita e começou a empresa logo depois da grande depressão -- explicou ele. -- E nos anos de 1960, ele vendeu as ações restantes por milhões.

-- Uau. Mas então, com todo esse dinheiro, o que aconteceu com este lugar?

-- Vai saber -- disse Duncan, dando de ombros. -- Em geral pessoas criativas são ótimas em construir e inventar coisas. Mas não muito em administrar o dinheiro.

Olhei com atenção ao redor, imaginando há quanto tempo aquele lugar estava ali. Tentei imaginar as pessoas que moraram ali, e todos os diferentes tipos de histórias que elas poderiam contar.

-- De qualquer modo -- disse Liam --, a família se reduziu a quase nada. -- Suas palavras pareciam mais lentas agora, mais cheias de pesar. Quando voltou a falar, havia tristeza em seus olhos. -- Jace e Courtney são os únicos descendentes vivos.

O silêncio tomou conta da cozinha mais uma vez. Havia perguntas que eu queria fazer, coisas que eu queria saber. Mas ao invés disso, me aproximei de Courtney, limpando o resquício de molho em suas bochechas, causando um gritinho de animação.

-- Faz total sentido você ser a herdeira da fortuna de uma barra de chocolate -- disse suavemente para as crianças. -- Você e seu irmão são tão doces.

            
            

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