Harém Reverso - Mulheres no Poder
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Capítulo 7 7

DELILAH

Liam estava de pé entre os sofás, os braços ao lado do corpo. Pela primeira vez, observei o quanto ele estava incrível usando uma camisa apertada. Ela se agarrava ao seu corpo, acentuando cada contorno e cada músculo, não apenas de seu peito, mas também de seu ventre, até o short solto.

-- O... o que? -- rebati.

-- Mostre-nos como foi o beijo -- repetiu ele, sem transparecer qualquer emoção -- e diremos se você terá ou não um segundo encontro.

Engoli em seco. Ele estava falando sério?

-- Você está dizendo para...

-- Eu quero que você me beije -- disse ele -- exatamente como você beijou o cara com quem foi se encontrar. Não mude nada. Faça exatamente da mesma maneira.

De algum modo eu tinha dado um passo em sua direção, sem nem ao menos me dar conta disso. Era como se minhas pernas estivesse me traindo.

-- Eu não posso beijar você -- protestei.

-- Por que não?

-- Porque... bem... apenas porque não!

-- Não pense nisso como um beijo de verdade -- sorriu Liam -porque não é. Pense nisso como um experimento. E beijo em experimento não conta.

Inclinei a cabeça sem acreditar no que estava ouvindo.

-- Então estamos fazendo isso apenas como um experimento científico? -- perguntei ceticamente.

-- Claro.

Nossos corpos estavam ainda mais perto agora. Meus pés pareciam estar tomando a decisão por mim. Me peguei admirando o quanto ele era mais alto do que eu, especialmente assim, tão perto.

-- Você está falando sério?

-- Seríssimo.

Sua proposta não fazia o menor sentido. Mas era tarde. E acima de tudo...

-- Tudo bem então -- disse por fim, sem muita certeza de como as palavras saíram de minha boca. -- No entanto, você vai ter que abaixar para ficar da minha altura.

Ele se ajoelhou e, de repente, estávamos cara a cara. Achei de ele estar sonolento, os olhos semicerrados. Mas ele estava bem acordado, seus olhos azuis famintos encarando os meus.

Puta merda.

Sem pensar realmente na situação e nas possíveis consequência, decidi dar a ele exatamente o que ele queria.

-- Tudo bem -- disse manhosa --, eu beijei ele assim.

Nossos narizes roçaram um no outro, e senti um formigamento enquanto meu corpo ficava tenso. Cobrindo sua boca com a minha, fiz meus lábios deslizarem suave e deliberadamente contra os seus. Repeti o movimento uma, duas e uma terceira vez, ainda mais lentamente, antes de finalmente me afastar.

E quando eu o fiz, nossos olhos ainda estavam presos um no outro. A minha respiração ainda não tinha voltado ao normal, enquanto eu lutava para recuperar a compostura.

-- Uau -- disse ele, ecoando meu sentimento por cerca de meio segundo. -- Isso foi fraco.

Pude sentir meu estômago em um nó. E minhas sobrancelhas se juntando em meu rosto.

-- Fraco?

-- É.

-- FRACO? -- Perguntei novamente. -- Você acha que isso foi fraco?

-- Totalmente -- mas a resposta veio na voz de Julius em algum lugar perto de nós.

Eu estava com furiosa. Totalmente puta! Uma ira além de qualquer pensamento racional. Mas ao invés de me virar e ir embora eu agarrei seu rosto e o beijei novamente.

Desta vez deixei os lábios se separarem, abrindo minha boca. O beijei com mais força, com paixão, energia e até mesmo luxúria. Minhas mãos se fecharam em sua barba, o puxando mais para mim. Nossas respirações estavam sincronizadas enquanto minha mandíbula continuava se mexendo sem descanso.

Quando nos separamos, eu estava excitada e sem ar. Nossos olhares seguiam fixos um no outro, nos encarando.

-- Melhor? -- murmurei.

Lentamente Liam sacudiu a cabeça.

-- Você não está entendendo, não é?

Como ele se atrevia! Eu estava indignada. Furiosa!

-- Que merda...

E então, de repente ele me agarrou, me girando em direção à parede mais próxima! Me imprensando contra ela, Liam me beijou forte, sua boca exigindo a abertura da minha, sua língua percorrendo meus lábios e dentes.

PUTA...

Um beijo intenso, molhado, totalmente onírico enquanto sua língua buscava e encontrava a mim. Juntas elas se enrolaram, dançando juntas. Explorando-se sensualmente enquanto nossos lábios deslizavam com uma lentidão estrondosa através de uma série de beijos insanamente maravilhosos.

Caralho.

Minha mente se perdeu por um mundo suave e macio só dela. O beijo tinha uma intensidade arrebatadora. A intimidade e a paixão tão profundas que, quando vi, já tinha me entregue totalmente em seus braços.

Ohhhh...

Os dedos de Liam acariciavam minhas bochechas, provocando tremores elétricos que se espalhavam pelos dois lados do meu corpo. Era como se um raio quente e maravilhoso tivesse me atingido. Como mergulhar nua em uma banheira de água quente em um dia frio, até seu cérebro ser tomado pela euforia causada pelo calor e o bem-estar.

Eventualmente nossos lábios se separaram, me deixando sem ar e atordoada. Ele sorria para mim agora, mas só com os olhos.

-- O primeiro beijo... -- repetiu ele suavemente, deixando seus dedos passarem pelo meu queixo antes de se afastar -- ...significa tudo.

Respiro fundo, agradecida pelo oxigênio entrando em meus pulmões. Meus lábios se separaram, minha boca se abriu e antes mesmo que eu soubesse o que dizer...

Estou sendo virada e beijada novamente. Desta vez, por Julius, cujos olhos azuis gelados queimavam com uma audácia interna que me chocou e surpreendeu.

Meu DEUS.

Suas mãos agarravam meu corpo, enquanto sua língua mergulhava tão fundo que podia estar à procura de minha alma. Sem conseguir pensar em mais nada para fazer, eu o beijei de volta, me surpreendendo ao ver o quanto o beijo dele era diferente do de Liam. No entanto, em tantos outros níveis, incluindo a suavidade de seus lábios, os dois eram o mesmo.

Isso... isso é...

O rosto do grande militar girou corajosamente contra o meu, inalando o ar de meus pulmões enquanto me saboreava profundamente. Minhas pernas não tinham mais forças para me sustentar. Era como se elas nem mesmo estivessem ali.

Que loucura!

Dois braços incrivelmente musculosos me apoiam, fazendo com que eu consiga permanecer em pé. Julius me segurava pela cintura em um abraço de ferro, forte, mas delicado em sua forma de me segurar contra seu corpo robusto e magnífico.

E, de repente, assim como tinha começado... acabou.

Julius me traz novamente para a terra, me colocando sobre meus pés dormentes. Sou deixada ali, sem ninguém em quem me apoiar, impotente. Meus lábios ainda franzidos e minha boca ainda entreaberta.

-- Este -- diz Julius -- é o tipo de beijo que garante um segundo encontro.

Os rapazes sorriram, se virando e se movendo juntos em direção ao corredor dos quartos. Eu ainda estava em transe, apenas assistindo eles se moverem.

-- Boa noite, Delilah -- disse Liam, sorrindo vitoriosamente. -Por favor, apague as luzes quando for para o quarto.

DELILAH

Aperto o botão STOP do velho toca-fitas que vinha entoando um heavy metal pesado, fazendo a música parar imediatamente. Um zumbido ainda persistia em meus ouvidos diante do silêncio repentino.

-- Por que você não faz uma pequena pausa?

Duncan estava a uns três metros de mim, em uma escada, tapando buracos na placa de gesso. Ele me olhou, coberto de suor.

-- Eu trouxe chá gelado.

O franzir de sobrancelhas provocado pelo silêncio repentino deu lugar a um sorriso. Ainda sem camisa, ele começou a descer a escada. Seu corpo bronzeado e musculoso coberto de salpicos de massa branca, mais ou menos seca.

-- Com ou sem açúcar? -- perguntou.

-- O que você acha?

Ele pegou um dos copos da bandeja que eu segurava, deixando o outro para mim e encostou nossos copos em um brinde, com um sorriso cansado antes de beber tudo. Seu pomo de Adão subindo e descendo em um movimento sexy enquanto o líquido fresco descia por sua garganta.

Uau.

Tentei desviar o olhar antes de ser pega encarando, mas não havia outra direção para olhar. Seu peito esculpido estava à mostra, os braços marcados, por Deus sabe quantas missões ou exercícios ou o que quer que um Comando faça. Eu estava aprendendo um pouco mais sobre seus serviços militares e suas vidas como civis, mas eu estava ocupada com os gêmeos. Exceto quando eles estavam dormindo, como agora, e então eu tinha uma pausa.

-- Delicioso -- disse ele, colocando o copo de volta na bandeja, os cubos de gelo batendo com força uns contra os outros dentro do copo. -- Tem mais?

-- Aqui -- ri --, pegue o meu. Não estou com sede.

Ele me lançou um olhar de lado, talvez estranhando o que eu tinha acabado de falar e então bebeu de uma vez só metade do corpo que eu tinha acabado de lhe entregar. Enquanto ele bebia, peguei a caixa da fita cassete e a virei em minha mão. A data no álbum dos Dokken mostrava 1984. Em silêncio me perguntei quantas vezes ele tinha sido reproduzido de lá para cá.

-- A última vez que vi uma dessas foi no sótão da casa dos meus pais -- sorri com a lembrança. -- Quer dizer que você é um cara vintage?

-- Eu tinha um primo mais velho -- explicou. -- Ele me deixou cerca de um milhão de fitas cassetes e este velho toca-fitas quando morreu.

-- Oh -- disse envergonhada.

-- Overdose por fentanila.

-- Sinto muito, Duncan -- disse, baixando os olhos.

-- Não sinta -- respondeu ele. -- Ele era bem mais velho do que eu e eu mal o conhecia. Tenho quase certeza de que ele deixou tudo isso para mim como uma piada -- disse ele, acenando para o enorme toca-fitas. -- Mas acabou que eu adorei. Alguns dos velhos álbuns de heavy metal dos anos 1980 são muito bons. Quem iria imaginar, certo?

Eu sorri, admirando sua visão positiva daquilo que a maioria das pessoas veria como uma situação triste. Ele parecia feliz, apesar de exausto. Ele tinha chegado da cidade aquela manhã e ido direto para o trabalho na casa.

-- Se você não se importar, eu gostaria de terminar esse revestimento antes de...

-- Eu beijei o Liam noite passada -- soltei bruscamente. -- E o Julius também.

Para mim, aquilo era como arrancar um curativo; ia doer menos seu eu fizesse de uma vez só. E eu realmente precisava fazer aquilo.

-- Eu sei -- disse Duncan na mesma hora.

Eu não conseguiria esconder minha incredulidade nem se eu quisesse.

-- Você sabe? -- ofeguei. -- Como?

-- Eles me contaram -- disse Duncan simplesmente, antes de agarrar o balde de revestimento e começar a despejar uma maior quantidade do composto pastoso branco em sua bacia.

Eu estava de boca aberta tamanho o choque.

-- Por... Por que eles iriam... quero dizer, como eles...

-- Eu e os rapazes não temos segredos -- explicou Duncan, de maneira simples. -- Sempre foi assim. No campo de batalha, em casa; somos totalmente abertos uns com os outros.

Houve uma pausa estranha, interrompida apenas pelo raspar da sua espátula.

-- Ah -- foi tudo o que consegui dizer.

-- Liam, Julius e eu somos um time -- continuou. -Compartilhamos tudo. É a melhor maneira.

Então você não está com raiva? -- perguntei, voltando a olhar para ele.

-- Por que eu estaria com raiva? -- perguntou, dando de ombros. -- Você é adulta. Eles são adultos. Vocês podem fazer o que bem quiserem.

-- Bem, eu estava super cansada, eles estavam embriagados -expliquei. -- Passava da meia-noite. Todos estávamos um pouco tontos e simplesmente foi como...

Ele colocou a mão no meu ombro, adicionando um sorriso torto.

-- Delilha, está tudo bem.

Eu achei que essa manhã fosse ser estranha, especialmente porque quando me arrastei para fora da cama, Liam e Julius já estavam na cozinha, depois de terem malhado, é claro. Eu me sentia extremamente culpada pela minha falta de força de vontade na noite anterior, e vê-los suados e prestes a tirarem a roupa para tomar banho, não resolvia as coisas.

Mas eles me fizeram café e ainda se desculparam pela noite anterior. Enquanto eu afirmava que não havia pelo o que se desculpar e que eu não me arrependia de nada.

A conversa poderia ter se tornado ainda mais interessante, mas Courtney escolheu aquele exato momento para acordar. Seus barulhos e choro suave começaram a emanar da babá eletrônica presa à minha cintura.

-- Você achou que eu ficaria chateado? -- perguntou Duncan. Seus olhos escuros, que de alguma forma combinavam perfeitamente com o cavanhaque, piscavam perigosamente enquanto aguardava minha resposta.

-- Não exatamente -- disse às pressas --, mas eu não queria que você se sentisse...

-- Excluído?

-- Sim.

Ele sorriu novamente, antes de se voltar para a escada.

-- Você pode me beijar se quiser -- disse, antes dele começar a subir a escada, tão casualmente como faria se estivesse oferecendo outro copo de chá gelado. -- Sabe como é? Para empatar o jogo.

A bela boca de Duncan se contorceu em um meio sorriso.

-- Sério?

Eu podia sentir meu coração disparado no peito. Que merda eu estava fazendo?

-- É justo, não é? -- disse, dando de ombros. -- Você mesmo disse que vocês três compartilham tudo. Por que não deixar as coisas iguais?

Ele ficou parado por um longo momento. E então, movendo-se lentamente eu o vi colocar a bacia no móvel misterioso coberto, que ele vinha usando como mesa de trabalho.

-- Nunca beijei uma garota para igualar as coisas -- disse ele, soando casual.

Ele estava na minha frente agora, cara a cara. O calor vindo de sua pele nua era palpável. Seus ombros eram tão grandes e imponentes que pareciam encobrir tudo mais no cômodo.

-- Bem, esta e a sua chance.

Seus olhos me analisaram enquanto ele me observava atentamente. A qualquer momento seus braços se estenderiam. Suas mão agarrariam meus ombros, ou talvez ele me puxasse pela cintura.

-- Você quer me beijar? -- perguntou.

Eu não estava pronta para a pergunta. Eu estava muito ocupada me preparando para o beijo.

-- Eu... eh... estou apenas oferecendo. Você que sabe.

Suas mãos se moveram, mas não em minha direção, mas sim por seu próprio antebraço e ele acabou por cruzar os braços, balançando a cabeça.

-- Isso não é uma resposta.

Mais uma vez meus olhos percorreram seu corpo sem camisa. Eu tinha uma vontade insana de passar minhas mãos pelo seu peito e então pelos ombros, descendo pelos braços. Eu podia fingir que estava raspando todos os pedaços de massa endurecida. Merda, o gesto poderia até mesmo ser plausível.

-- Todas as vezes que eu beijei uma garota foi porque ela queria que eu a beijasse -- disse ele. -- Nunca para igualar as coisas. Nunca para pagar algum tipo de débito imaginário.

Mordi os lábios em confusão. Aquilo não era o que eu estava esperando!

-- Eu vou ter que pensar sobre isso -- disse colocando as ferramentas sob um braço.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele começou a subir a escada.

-- Você deveria pensar sobre isso também -- disse ele, antes do barulho de raspagem recomeçar.

DELILAH

-- Courtney? Jace? -- sorri animada -- conheçam Rory e Luke!

Apontei para a tela do tablet, onde meus sobrinhos acenavam felizes para nós. A única questão era que os dois já tinham cinco e seis anos e os gêmeos apenas um ano. E essa diferença de idade fazia uma imensa diferença na capacidade de atenção.

-- Eles sabem falar, tia Delilah? -- perguntou Rory.

-- Claro -- sorri --, mas eles não falam com frequência. E não sabem tantas palavras quanto vocês dois.

Eu não podia acreditar que as crianças já estavam no jardim de infância! Ou pelo menos Rory estava. Luke ainda estava no último ano da pré-escola, embora parecesse tão alto e maduro quanto a irmã mais velha.

-- Estou com saudades, meninos! -- choraminguei novamente, limpando uma lágrima do canto dos olhos. -- Não acredito não quanto vocês estão grandes e...

-- Também estamos com saudades, tia Delilah -- disse Luke, soando como "Duh-lay-lah, como sempre. E eu nunca me importei em corrigi-lo. Por mim, ele poderia me chamar daquele jeito pelo resto de nossas vidas.

-- O que eles comem? -- perguntou Rory, apontando para a tela.

-- Os gêmeos? -- sorri. -- O mesmo que vocês comiam quando eram desse tamanho. Pequenos frascos de purê para bebês, cereal, arroz tufado sabor morango...

-- Eu amo arroz tufado! -- declarou Rory. Seus cachos balançavam enquanto ela cruzava os braços e fazia sua cara mais rabugenta. -- Por que não comemos mais essas coisas?

-- Porque você está crescida agora -- disse gentilmente -- e você come coisas próprias para meninas grandes.

Definitivamente aquilo não era o que ela queria ouvir e ela franziu a testa profundamente.

-- Coloque sua mãe no telefone -- disse sorrindo gentilmente -e vamos ver o que eu consigo fazer.

Eu costumava falar com minha irmã pelo menos uma vez por semana desde que ela tinha se mudado e mais ainda com as crianças. Mas nas últimas duas semanas eu tinha andado ocupada me ajustando. E fora algumas mensagens de texto contando sobre meu novo trabalho, minha nova casa e tudo mais, nós não tínhamos nos falado.

Eventualmente Patrícia apareceu na tela do tablet, parecendo cansada, mas feliz. Eu a apresentei aos gêmeos, e depois de falar sobre como eles eram fofos e de relembrar sobre Rory e Luke quando tinham aquela idade, ela finalmente foi direto ao assunto.

-- Então, como você arrumou esse trabalho de babá? -perguntou ela, soando totalmente interessada.

-- Bem, eu meio que caí nele -- disse gargalhando dentro da minha cabeça.

-- E eles simplesmente contrataram você? -- insistiu ela. -Tecnicamente você não é uma babá.

-- Tecnicamente uma mãe não é uma mãe até ela ter um filho -respondi. -- Mas você aprende sendo, não é mesmo?

-- É, acho que sim -- riu.

-- Além disso, Rory e Luke me deram experiência mais do que suficiente -- sorri. -- Você sabe disso.

-- Não posso negar -- concordou.

Conversamos um pouco mais sobre John, a nova vida deles em Maryland, suas carreiras e como as coisas estavam indo. Ela fez um novo passeio pela casa, me mostrando a nova decoração desde a última vez em que nos falamos.

Aproveitei para delimitar uma parte da sala, incluindo o sofá. Os gêmeos estavam se arrastando e correndo pelo espaço, brincando com uma dezena de brinquedos coloridos. Era difícil competir com todo o barulho e as luzes piscantes, mas eu e Patrícia estávamos acostumadas a aquilo.

-- Então... alguma chance de eu virar tia em um futuro próximo? -- perguntou ela sorrateiramente.

-- Bem, eu preciso encontrar um homem primeiro -- respondi. -Um bom, como John.

-- Bingo! -- minha irmã sorriu. -- E como está indo?

-- Mais ou menos -- disse, dando de ombros.

Passei os minutos seguintes contando a ela sobre meu encontro, desta vez, dando todos os detalhes que eu tinha deixado de fora ao falar com Liam e Julius. O cara era um cavaleiro que fez eu me sentir especial. Além disso, ele era divertido à sua maneira. No entanto, não tivemos muita química. Não uma química de verdade.

Nada como aquela química que sentimos depois de um encontro...

-- Ele era bonito? -- perguntou ela, colocando um fim ao meu devaneio.

-- Era sim -- admiti. -- Ele era até mais bonito do que em suas fotos de perfil, o que é raro. Ele tem casa própria e um trabalho decente também.

-- Então saia com ele de novo! -- incentivou Patrícia. -- Não o descarte simplesmente porque você não sentiu borboletas no estômago de cara. Dê uma nova chance a ele. Talvez fosse apenas o nervosismo do primeiro encontro.

-- É, talvez -- disse. -- Ou talvez ele não tenha sentido borboletas no estômago também.

-- Impossível.

-- Bem, na verdade ele ainda não ligou e o encontro foi há dois dias, então...

Uma nova mensagem surgiu e por reflexo eu a removi da tela. Mas no milésimo de segundo em que olhei para ela, vi quem era o remetente.

-- Puta merda é ele! -- disse nervosa, cobrindo a boca.

-- O que?

-- Ele acabou de me enviar uma mensagem de texto! -exclamei. -- Nesse minuto. Enquanto falávamos sobre ele!

-- Viu? -- gritou minha irmã, com os olhos arregalados. -- Talvez seja o destino!

-- Fala sério -- ri. -- Você não acredita nessas coisas.

-- Mas você acredita -- respondeu ela -- e isso é o que importa.

Ela suspirou quando fiz uma careta.

-- Delilah, você sempre partiu do princípio de que ao enviar bom carma para o universo, ele lhe devolveria. Então talvez seja exatamente isso. Ele está lhe enviando de volta.

Nem nesse momento o alarme de meu telefone tocou, indicando a hora do almoço. Além disso, um dos gêmeos precisava trocar a fralda.

-- Algo melhor está vindo -- murmurei, me despedindo. -- E quanto mais cedo melhor.

-- Na seca em que você se encontra? -- brincou Patrícia. -- Já passou da hora de deixar esse deserto para trás.

LIAM

-- Tem certeza de que a operação é legítima? -- perguntei pela terceira vez. -- Eles fizeram tudo corretamente, de acordo com...

-- Sim -- disse Julius, acenando com a cabeça do outro lado da mesa. -- Eles são tão legítimos e de acordo com as regras como poderíamos exigir. Mesmo lá embaixo.

Eu sempre ficava surpreso com o quanto ele mantinha sua mesa limpa e prática, sem qualquer tipo de coisa inútil ou desnecessária. Dois monitores pretos dividiam perfeitamente a mesa, colocados diante de um teclado sem fio e um mouse correspondente. E era só. Nenhum porta-retrato, papel de rascunho ou até mesmo uma caneta.

-- E temos os recursos?

-- Para o que pretendemos fazer, sim -- respondeu ele. -Enviaríamos três homens e Wraith também, formando uma equipe de seis. Uma equipe pequena, mas eficiente, para uma inserção fácil.

Olhei para cima, pelas janelas que se erguiam do chão ao teto, com vista para o resto da Toca. As janelas eram necessárias para garantir a transparência de toda a área de escritórios superior. Aquilo assegurava a boa-fé das cinco empresas de mercenários que operavam no edifício, dividindo os espaços e criando uma forma de intimidade. Outra ideia de Julius.

Agora estava tarde e tudo estava escuro. Havia três homens levantando peso na área de baixo, formada por um vasto ginásio e centro de treino. Para um observador casual, operávamos o clube fitness mais exclusivo da Upper Manhattan. Mas para os iniciados...

-- Há quanto tempo o alvo está sumido? -- perguntei.

-- Estamos chegando a noventa e quatro horas -- respondeu Julius, olhando para o relógio.

Deixei escapar um longo assovio.

-- Você sabe que muito provavelmente ele já virou comida para os leões, certo?

-- Eu sei disso, você sabe disso -- observou ele --, o líder da Wraith também sabe. Mas o cliente está desesperado com a perda e insiste. Não há limite de gasto, foi o que ele nos disse.

-- Eu gosto dessa parte -- admiti. -- Quase tanto quanto odeio esta missão.

-- Eu também -- concordou Julius. -- Em ambos os casos.

Aquela tinha sido uma ideia de gênio; reunir os recursos de cinco diferentes grupos mercenários em um único local central. Compartilhávamos informações tanto quanto o espaço de convivência, e podíamos recorrer a um conjunto muito maior de habilidades quando se tratava de montar missões. Tínhamos até mesmo um cofre de armas no subsolo, atrás do nosso campo de tiro subterrâneo, sobre o qual apenas um punhado de funcionários subornados da cidade sabiam. Ele continha arsenal suficiente para tomar metade da cidade, se fosse preciso.

-- Olha, a missão é realmente uma merda -- disse Julius. -Tudo leva a crer que só há um fim para ela.

-- Então por que aceitá-la? -- pressionei.

-- Porque ainda existe uma chance, mesmo que remotíssima -disse Julius. -- Se as chances de recuperação fossem zero, eu teria recusado sem nem ao menos te contar sobre isso. Mas o cliente quer saber... seja como for.

-- Merda.

-- Sim -- disse Julius. -- Mas pelo menos assim ainda estaríamos fazendo alguma coisa.

Me movi para o seu lado da mesa, onde um mapa detalhado do Sul de Uganda estava expandido entre as duas telas. Pelo o que eu sabia, o filho do cliente tinha sido raptado perto de Mukono, pelos poucos remanescentes do Exército de Resistência do Senhor. Os senhores da guerra da África Central eram cruéis e brutais, perambulavam pelas selvas, recrutando à força crianças das aldeias e cometiam todo o tipo de violações dos direitos humanos, permanecendo impunes.

Resumindo, a pior merda possível.

-- E eles não tentaram pedir um resgate? Nesse tempo todo? -perguntei.

-- Não que saibamos. O que se imagina é que provavelmente eles não sabem quem ele é.

Balancei a cabeça, aquilo simplesmente não fazia sentido.

-- O garoto teria dito -- respondi. -- Ele teria feito de tudo para que eles soubessem de quem ele é filho e para que eles entrassem em contato.

-- Depende do estado em que ele estava quando foi pego -disse Julius. -- Essas pessoas são terrivelmente brutais. E não são conhecidas por serem muito inteligentes.

Baixei os olhos, sentindo um arrepio ao pensar na ideia de ser feito prisioneiro por um grupo tão violento e irracional. Eles eram conhecidos por mutilar cidades inteiras com facões, apenas como mensagem. Por causar estragos entre o povo inocente do Congo Central, apenas pela notoriedade.

-- Voluntários? -- perguntei finalmente.

-- Demarco já está dentro -- disse Julius. -- Okeyo também, porque ele conhece a região.

-- Os dois são boas escolhas -- concordei. -- Eles sabem ser discretos.

-- Eu queria enviar Sondo, mas ele ainda está em missão. Assim como Arrigo. Nelson está em algum lugar da América do Sul e Griffin está fora de batalha por uma perna quebrada. Então nos restam...

-- Gibson e Vasquez -- concluí.

Julius negou com a cabeça, um ar sombrio.

-- Ou um de nós.

Deixei suas palavras ecoarem pelo escritório vazio por um instante. Houve um tempo em que a ideia de entrar em um avião e me enfiar em uma missão como aquela teria me animado e entusiasmado. Quem eu estava tentando enganar, eu teria me voluntariado há muito tempo.

Mas agora...

Agora eu tinha motivos para ficar. Os gêmeos. A casa. E, de repente, algo a mais veio se juntar à lista.

Alguém a mais, na verdade.

Merda.

-- Vamos falar com os outros. Ver o que eles pensam.

Julius coçou o queixo, me olhando com o mesmo olhar de entendimento que eu estava tentando evitar.

-- Se você está perguntando se eu estou fora, a resposta é não -- disse a ele. -- Mas também não estou ansioso para me juntar a isso. Vamos ver o que os rapazes mais novos dizem. Eles também precisam ser informados antes que possam tomar qualquer tipo de decisão.

-- Já cuidei disso -- respondeu meu amigo. -- Eles já estão a caminho e pelo jeito isso entrará noite adentro. Nelson está trazendo pizza, caso você esteja com fome.

Quando Julius terminou de falar eu já estava com o telefone em mãos, digitando.

-- O que está fazendo?

-- Enviando uma mensagem para o Nelson -- respondi displicentemente. -- Dizendo a ele para trazer duas pizzas. Pelo menos.

                         

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