Capítulo 2 01- Minha Primeiras Lembranças

História de um jovem que hoje tem 43 anos e nasceu no morro, foi criando entre as vielas de estrada de terra e esgoto de céu aberto.

Mesmo vivendo em condições sub humanas ainda senti falta da sua infância.

Lembra de quando chegava da escola e ia brincar na rua com seus amigos de pik latinha, você conhece esse jogo?

A gente colocava uma lata de cada lado, e cada um tinha um bastão, e tínhamos que proteger a lata, porque o lado opositor iria jogar uma bolinha para tentar derrubar nossa latinha, na época a gente usava latas de óleo, não era de plástico como hoje.

Ali a gente brincava e nem lembrava da fome. Meus Pais, saiam de madrugada para ir trabalhar, na cidade de asfalto.

Era assim que todos do morro falavam das pessoas que moravam nas ruas asfaltadas. Saiam na madrugada e chegavam tarde da noite, as vezes eu ficava a semana toda sem ver eles, a gente si via mais nos fim de semana, quando minha mãe ia lavar roupa e meu pai ia dá um de pedreiro em casa.

Ai eu ficava na cola dele, ele comprava pão com mortadela e guaraná no sábado e era aquela festa.

Éramos em 6, eu mais três irmãs meu pai e minha mãe. Durante a semana era minha tia que ajuda a gente si trocar pra ir para escola.

Ela que fazia almoço pra gente, a vida era sofrida, Porque a gente via pouco nossos pais, que trabalhavam tanto pra manter nossa casa, mas éramos felizes porque nossa família era muito unida.

Todos os Sábados nosso pai chamava a gente pra sentar na sala, e falava das coisas de Deus .

Lembro que ele falava que existia uma outra terra, sem fome, sem doenças e sem guerra, que a gente um dia ia morrar lá, si fossemos fiéis a Deus.

Eu ficava imaginando essa terra sem guerra,. sem tiros, sem mortes, sem fome...

Realmente seria um paraíso. Haaa, eu lembro de cada detalhe como si fosse hoje,.....

Meu Pai si chamava Antônio e minha mãe Maria.

Minha mãe chamava meu pai de toim, kkk...e meu pai chamava minha mãe de mãe também, vai intende ne!

Não via a hora da semana acabar, tanto pra não ter aula como pra ver meus Pais.

Eu já sabia que sábado era dia de pão com mortadela...

Dúvido que exista alguém no mundo que não goste de pão com mortadela e guaraná...só de falar já mi dá fome.

E no Domingo então!

Haaa, a gente ia pra casa da minha avó, que também morava no morro.

Era o dia da santa macarronada com muito queijo....

Penso e suspiro!

Aquela mesa farta, macarronada, salada de maionese frango assado da padaria do seu Manuel, todo bom português dono de padaria tem que si chamar Manuel, não sei porque...

Eu lembro de tal formas, que cada prato que estou falando parece que sinto até o cheiro.

Na casa da vó, nunca falta macarronada né, e não tem mãe que consiga fazer o macarrão igual da vovó, sem ofensas ta!

Depois do almoço, meu pai deitava no chão, aquele chão de concreto sem piso, mas bem limpinho, pensa em um chão geladinho naqueles domingos de 40 grau no morro.

Não não sei porque, mas pensa em um lugar quente é o morro. Não sei si é devido as montanhas e barranco ou si era por causa das minas.

Minas - Nascentes que ficavam nas partes baixa do morro.

Depois do almoço eu pedia pra minha mãe deixa eu brinca, e não precisava ir longe pra arrumar brincadeira..

Era só colocar o pé na rua, já tinha uns 30 muleque, aí a gente descia pra minas. sempre em volta fazia poças de água e ali si tornava nossa piscina.

Vírus, bactéria? Corria da gente kkk.

Nem consigo lembrar da última vez que fiquei doente .

Ali a gente brincava a tarde toda, sempre naquelas baixadas tinha pé de frutas, o morro na época não tinha asfalto, parecia mais uma fazenda que o povo foi chegando e construindo.

Tinha pé de jaboticaba, pé manga, goiaba, jaca, banana.

Acho que cada pessoa que morou ali plantava alguma coisa.

Quando era época de fruta, eu chegava da escola e corria pra lá .

Ali a gente comia fruta no pé, tomava banho na minha e bebia água.

Perigo?

A gente não sabia oque era isso kkk.

Passei muitas vezes do lado do cara com metralhadora trabalhando, e sempre algum perguntava sorrindo:

Aonde vai com essa pressa muleque?

Eu respondia - vó brincaaaa, e passava a cem por hora kkk.

Mas nem tudo era festa!

Na segunda feira a dureza começava de novo, minha tinha mi acordava muito cedo pra ir pra escola, ainda era noite e meus pais já tinha ido trabalhar, era uma sufoco...

4 crianças e um banheiro pra si arrumar pra ir pra escola.

Você consegui imaginar isso?

Era um querendo tomar banho porque tinha mijado na cama do outra querendo escovar o cabelo no espelho, outra querendo fazer número dois, que rolo todo dia pela manhã.

E não tinha moleza de falta da escola não, eu as vêzes queria dormir uns minutinhos na mais, mais minha tinha não dava moleza.

Minha tinha si chamava Lurdes. Eita mulher brava viu kkk.

Enquanto ia brigando com um, ia trocando o outro.

Lembra do seu Manuel da Padaria?

Passava em casa todo santo dia e deixava 5 pãezinhos pra nois, como não lembrar dele.

Ele era meio fechadão sabe!

Mas tinha um coração de ouro, quando a gente estava trocado, minha tia Lurdes dava um pão pra casa, i la ia nois pra escola.

Não tinha escola no morro na época, a gente tinha que ir na escola de asfalto, assim foi até meus 12 anos.

Ai abriram uma escola no morro, era tipo um projeto, tinha aula normal.

Café da manhã, ahhhh como eu adorava aquele pão de leite e aquele leite de soja com chocolate...

Eu entrava na fila umas quatro vezes, até alguém fica bravo comigo kkk.

Mas tinha muita coisa boa no projeto, vou te contar tudinho...

            
            

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