Capítulo 4 Tarde demais

Daquele dia em diante, e por mais ocupada que Janessa estivesse, ela voltava para a mansão todas as noites.

Ela queria deixar claro para Rayan que não tinha medo de nada, e especialmente se o assunto fosse o seu casamento.

No entanto, depois do confronto violento que tiveram, o marido não tinha voltado para casa e nem ligado, parecia que tinha sido engolido pela terra.

No entanto, apesar de toda aquela situação, Janessa estava feliz porque estava sozinha em casa. Na verdade, pouco a pouco ela foi aprendendo a aproveitar a solidão, e começou a amar a paz e o sossego da sua própria companhia. Todas as noites ela podia dormir sozinha em uma cama enorme, com total conforto e se sentindo relaxada.

Uma noite, ela estava meio adormecida quando escutou o seu telefone vibrando, então franziu a testa, enquanto procurava o aparelho em algum lugar na cama. Quando o encontrou, a luz forte da tela incomodou os seus olhos, a cegando por alguns segundos.

Logo, sem verificar quem estava ligando, ela atendeu.

"Olá, você é parente de Fannie Hu?" Uma voz fria do outro lado da linha perguntou.

Fannie Hu? O que poderia ter acontecido com a sua mãe?

Depois de duvidar por alguns segundos, Janessa finalmente respondeu e disse com a voz abafada: "Sim, ela é minha mãe. Aconteceu alguma coisa com ela?"

"A sua mãe teve uma hemorragia cerebral e foi levada às pressas para um hospital. A condição dela é muito crítica, por favor, venha o mais rápido que puder."

As palavras diretas da pessoa que tinha ligado para avisá-la caíram como um balde de água gelada sobre a cabeça dela, que na mesma hora estava totalmente acordada.

Assim que rapidamente, ela se sentou na cama e colocou o telefone no viva-voz, acendeu a luminária de cabeceira, levantou e começou a se vestir, enquanto continuava falando: "Em que hospital ela está? Faça o que for preciso para salvar a vida dela. Faça a operação agora mesmo, eu pagarei assim que chegar. Eu não me importo com o quanto vai custar. Porém, salvem a vida da minha mãe!"

O pânico tinha se apoderado de Janessa, e sua voz estava tremida. Os seus olhos permaneceram secos como um deserto, mas o seu coração estava acelerado.

"Estamos preparando uma sala de cirurgia neste momento, por favor, venha assim que puder. É necessário que você assine para realizarmos todos os trâmites. Estou ligando para você do departamento de emergência do Hospital Ren Xin."

Tentando não esquecer o nome do hospital, Janessa desligou e saiu do quarto correndo.

Quando estava descendo as escadas, se lembrou de que não estava acostumada a dirigir, pois depois de tirar a carteira de motorista, ela praticamente a guardou na carteira, e se esqueceu dela totalmente.

Porém era tarde demais para pedir que a sua assistente fosse buscá-la para levá-la para o hospital, então ela teve que ligar para Rayan.

Com as mãos trêmulas, ela procurou o nome dele entre os seus contatos telefônicos e assim que achou, ligou, enquanto esperava que ele respondesse, ela se sentiu estranhamente irritada e todos os tipos de pensamentos confusos invadiram a sua cabeça.

No entanto, ele não atendia o telefone e, quando Janessa olhou para a tela, viu que ele tinha rejeitado a chamada dela.

Ela o amaldiçoou silenciosamente, e digitou o número do marido novamente, e então começou a andar de um lado para o outro, esperando que Rayan atendesse.

Naquele momento, ela sorriu de alívio quando ele finalmente atendeu, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, uma voz feminina falou do outro lado da linha.

"Quem está falando? Por que você está ligando tão tarde?" A voz desdenhosa ecoou no ouvido de Janessa.

Ela não conseguiu responder de imediato, porque estava realmente chocada. Depois de se acalmar um pouco, ela disse com um tom de voz sério: "Eu não quero discutir, só preciso falar com Rayan agora. É algo importante, diga para ele que tenho uma emergência em casa. Por favor, diga para ele voltar para casa assim que puder, ou apenas que ele me passe o número do motorista."

Se ela estava correta, o motorista dele morava perto da casa deles e chegaria na mansão em cinco minutos se dirigisse rápido.

"Ah, há uma emergência em casa? Você deve estar querendo dizer que aconteceu alguma coisa com alguém da sua família, caso contrário, não seria você quem ligaria para avisá-lo." Mesmo que Gracie não estivesse na frente dela, Janessa tinha certeza de que ela estava tendo prazer em fazer aquilo, então não demorou muito para ela ficar irritada, e então a avisou: "Eu não tenho tempo para discutir com você, Gracie! Vá chamar o meu marido, agora! A minha mãe está em estado grave no hospital, e se algo de ruim acontece com ela, juro que farei você pagar por isso!"

Naquele momento, todo o sangue do corpo dela subiu para a cabeça em uma única batida do coração, a fazendo se sentir tonta.

"Rayan está aqui, mas ele já está dormindo. Ele esteve bebendo, se for tão urgente assim, talvez você deveria vir até aqui e acordá-lo você mesma. Eu gostaria de ver se ele vai se levantar e ir embora com você."

A voz provocadora de Gracie apenas enfureceu Janessa ainda mais.

Então, cerrando os dentes, ela desligou o telefone e voltou rapidamente para o quarto para procurar as chaves do carro, e depois de encontrá-las em uma das gavetas, as pegou e saiu correndo, ela não tinha mais tempo para perder. Apesar do medo de dirigir, ela entrou no carro e se apressou para chegar no hospital o quanto antes. Embora estivesse um pouco nervosa porque teria que dirigir sozinha, ela decidiu não pensar muito sobre isso e tentou se acalmar.

Porém, quando estava passando por um cruzamento, de repente se sentiu tonta, e naquele momento, ela não podia se dar ao luxo de parar em um sinal vermelho. Então, ela cerrou os dentes e pisou no acelerador, esperando que pudesse chegar a tempo no hospital.

No entanto, uma luz branca atingiu a janela do lado do motorista a cegando na mesma hora, e antes que ela pudesse levantar a mão para tentar se proteger, outro carro já estava se chocando contra o seu.

Cacos de vidro se espalharam por todos os lados, atingindo o seu rosto, enquanto o air bag se abria. Mas no impacto ela bateu a cabeça com tanta força, o seu corpo foi lançado para fora do carro pela janela destroçada.

Todos os tipos de sons estrondosos invadiram os seus ouvidos, a deixando totalmente atordoada, naquele momento, Janessa se sentiu muito cansada, ela não tinha energia o suficiente para abrir os olhos.

"Janessa?" Alguém a chamou.

Ela não sabia por quanto tempo tinha ficado dormindo, mas as suas pálpebras se moveram no momento em que ela escutou alguém que a chamava. Então, ainda sem abrir totalmente os olhos, Janessa notou quando alguém a pegou no colo e sentiu um perfume familiar, o que a tranquilizou um pouco.

Quando ela abriu os olhos lentamente de novo, uma brancura cintilante a envolveu, e o cheiro forte de desinfetante quase saturou os seus sentidos.

"Ei, como você está se sentindo?" Aquela voz clara e suave soava como música para os ouvidos dela.

Então, Janessa franziu a testa e olhou para Gordon, que estava parado do lado da cama. "Gordon? O que aconteceu?" Ela perguntou nitidamente confusa.

"Você ultrapassou um sinal vermelho ontem à noite e colidiu com o carro que estava passando no cruzamento naquele momento, você perdeu a consciência na mesma hora, assim que trouxe você para cá. Você está se sentindo melhor agora? Beba um pouco de água", Gordon disse, pegando um copo de água que estava perto da cama e o entregando para ela.

Janessa hesitou por um momento e depois estendeu a mão para pegar a água. Ela estava sentindo como se tivesse se esquecido de alguma coisa importante, mas não conseguia se lembrar do que era.

Gordon parecia saber o que ela estava pensando. Em seguida, ele apontou para o prato de mingau que estava sobre a mesa e disse: "Não pense em nada agora, apenas..."

"Onde está o meu telefone? Me dê ele agora! Anda logo!" Janessa disse olhando para ele em pânico. "A minha mãe foi levada às pressas para o hospital, eu preciso saber como ela está."

Finalmente, ela se lembrou e embora a sua voz estivesse firme, os seus olhos começaram a se encher de lágrimas, ela estava sentindo o coração vazio, mas de alguma forma, ele ainda batia e seguia adiante.

Naquele momento Gordon ficou com uma expressão triste no rosto, ele hesitou por alguns segundos e finalmente entregou o telefone para Janessa.

Enquanto ele a observava digitando um número, uma expressão de pena apareceu no rosto dele. Então ele respirou fundo e disse a verdade para ela: "A senhora Fannie faleceu ontem à noite, ela morreu enquanto você estava a caminho do hospital."

Janessa parou por alguns segundos e ficou muda, para depois aparecer uma expressão de profunda e sincera tristeza no seu rosto.

E mesmo sabendo que ninguém atenderia o telefone, ela continuou ligando para a mãe.

As lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto e banhavam a tela do telefone dela.

Ela finalmente começou a soluçar, depois jogou o telefone contra a parede e o seu choro passou a ser histérico.

"Eu já não tenho mais ninguém nesse mundo! Ninguém! Eu deveria estar do lado dela. Por que me casei? Por quê? Que sentido tem tudo isso agora? Ela se foi e eu não pude fazer nada para salvá-la!"

Os gritos de desespero de Janessa partiram o coração de Gordon, que ao vê-la submersa naquele mar de lágrimas, sentiu também as lágrimas brotarem nos seus olhos, e elas não demoraram a cair.