Capítulo 9 Hemorragia grave devido a uma gravidez ectópica

Diante dos olhos dela, o rosto do Gordon começou a ficar difuso até desaparecer completamente.

A luz forte do ambiente a impedia de abrir os olhos, e o ruído provocado pelos passos e movimentos ao seu redor a deixaram zonza.

"Doutor Li, este é um caso de gravidez ectópica. Ela está com hemorragia", uma voz feminina exclamou, trazendo a Janessa de volta à realidade.

Quando tentou abrir suas pálpebras, pôde ver várias figuras pairando em torno de si, sem mencionar que se sentia tão debilitada que não era capaz de mover um dedo sequer.

"Contate a família dela e peça que assinem um termo de consentimento. É muito improvável que consigamos salvar o bebê, mas se demorarmos muito para retirá-lo, a vida da mãe pode correr grande perigo", o médico ordenou e alguém saiu imediatamente.

Depois de algum tempo, a porta se abriu novamente e uma enfermeira se aproximou apressada trazendo uma pasta em sua mão.

Olhando de relance para a pasta, o médico já estava prestes a agendar a operação, mas então notou enraivecido a assinatura do documento.

"Quem foi que assinou isto? Preciso da autorização de alguém da família dela! Você não sabe quem é o marido da paciente?", ele perguntou.

Estirada na cama, a Janessa deu um sorriso débil, sentindo uma ponta de amargura e lentamente fechou os olhos.

Ela era um mero peão para o Rayan, não exatamente a sua esposa.

Quem iria se importar com a vida ou a possível morte de um peão?

Seu coração, já tão maltratado, tinha sido devastado e transformado em cinzas, de tal maneira que uma simples rajada de vento gelado poderia varrê-lo sem deixar vestígios.

Mas a resposta dada pela enfermeira a fez estremecer.

"Como o marido dela não apareceu, foi o senhor Shen quem assinou a autorização. Além disso, ele acrescentou que se responsabilizará por qualquer coisa que acontecer com ela, mas que se não agirmos imediatamente para iniciar a cirurgia e algo de grave acontecer, irá nos responsabilizar."

"Pois muito bem. Então vamos levá-la para a sala de cirurgia."

Quando a anestesia geral fez efeito e o corpo da paciente mergulhou em um estado de inconsciência, uma lágrima rolou do canto do seu olho.

No fim das contas, havia tido que contar com o Gordon.

Depois da morte do pai dela, o Aydin começou a cobiçar a empresa e foi substituindo os altos executivos por seu próprio pessoal.

Enquanto isso ocorria, sua mãe chorava todas as noites diante da foto do seu pai, até que um dia finalmente encontrou uma maneira de salvar o patrimônio pelo qual sua família havia trabalhado tão duro: arranjar um casamento para sua filha, que fosse conveniente para os negócios.

A Janessa não nutria a menor expectativa sobre aquele casamento, na verdade, já estava preparada para ser ignorada pelo marido. Mas não tinha imaginado que seria possível sentir tanta dor e angústia nas mãos do homem com quem havia se casado.

Por outro lado, ela não pretendia ficar aborrecendo o Gordon uma e outra vez depois de ter rompido a relação com ele por motivos óbvios, mas jamais poderia imaginar que um dia estaria deitada em uma cama em seu hospital e com uma autorização para fazer um aborto assinada por ele.

Ela só conseguia pensar que as coisas tinham ido tão mal para ela como uma retribuição da própria existência por tudo de errado que havia feito em sua vida passada.

Todos aqueles problemas e dores pareciam uma enorme teia em que estava aprisionada, e quanto mais tentava escapar dela, mais parecia enredada em sua trama. Subitamente, ela sentiu que lhe faltava o ar, como se algo estivesse preso em sua garganta, e à medida em que a sensação de asfixia se intensificava, abriu os olhos notando uma figura difusa que se inclinava sobre ela.

"Sua vadia cruel!", uma voz fria e furiosa exclamou.

Seria o Rayan? O que ele tinha acabado de dizer?

Aquilo fez com que o humor da Janessa flutuasse, nervosa, ela piscou os olhos algumas vezes até vislumbrar o rosto zangado do marido. E pelo seu olhar, ele estava furioso.

As veias se sobressaíam e pulsavam em sua fronte, seus lábios estavam trêmulos e ele estava com as mãos ao redor do pescoço dela, "Como você ousa abortar o meu filho, hein? Por acaso quer morrer por me desobedecer?", o homem indagou.

Ele apertava o seu pescoço com tanta força que ela lutava para tirar as mãos dele de sua garganta, já bastante avermelhada.

Como ela ainda estava sob o efeito da anestesia porque tinha acabado de sair da cirurgia, não teve condições de impedi-lo, e seus braços foram tombando lentamente para os lados, enquanto seus olhos se fechavam.

A verdade era que se a morte pudesse enfim libertá-la daquilo tudo, ela a aceitaria de braços abertos.

Mas de repente, a mão que apertava sua garganta deslizou para o rosto, como se tivesse sido impedida de estrangulá-la, e abrindo os olhos mais uma vez, ela pôde ver o Gordon agarrando o seu marido pela gola da camisa, para dar-lhe um soco na boca logo em seguida. "Rayan, seu desgraçado maldito!", ele gritou.

Pelo movimento das dobradiças da porta, percebia-se a rapidez com que ele havia entrado no local.

"Onde diabos você se meteu ontem à noite quando a Janessa precisou de você? Você não tem o direito de estar aqui! Saia!", ele gritou, empurrando o Rayan violentamente para o lado de fora.

Com um sorriso de escárnio, o Rayan limpou o sangue do canto de sua boca e, cerrando os dentes, pegou o Gordan desprevenido, revidando o soco e lançando ele contra a parede.

"Devo lhe agradecer por ter assinado o termo de consentimento? Você aprecia tanto assim a minha esposa? Acha mesmo que vale a pena? Na minha opinião parece que você está cego."

A expressão do Gordan ficou sombria e ele desferiu novo golpe no Rayan.

Completamente pálida, Janessa se sentou e apertou a campainha ao lado da cama, até que aparecesse alguém, não tinha escolha a não ser vê-los brigar enquanto ela mesma lutava para recuperar o fôlego.

As palavras duras e ofensivas proferidas pelo seu marido a tinham atingido em cheio, como uma flecha envenenada em seu coração.

Mesmo depois, quando os seguranças já haviam aparecido e apartado a briga, elas continuavam ecoando em sua mente; seria um milagre esquecê-las algum dia.

Ela piscou algumas vezes para firmar o olhar e enxergar quem era a figura que se aproximava.

"Agora que você sabe que foi ele quem assinou o termo de consentimento, que tal saber o que esta perda significou para mim? Por que não atendeu o telefone? É sério que você acha que não teve nada a ver com a morte do nosso bebê?", ela perguntou.

Mas o Rayan não a deixou terminar, interrompendo-a com visível ressentimento em seu rosto.

"Logo que cheguei ao hospital, ouvi alguém dizer que ele havia autorizado. Foi você quem permitiu que ele o matasse, sua megera."

Ela nunca o tinha visto tão sombrio como naquele momento.

Inclinando-se, o Rayan agarrou uma grande mecha do cabelo dela e a puxou para si.

"Pare com isso, Rayan!", o Gordon gritou furioso, mas no momento em que tentou correr para intervir, alguém o impediu.

Olhando para ele de soslaio, o Rayan puxou com mais força o cabelo da mulher e encarando a sua expressão de dor, pronunciou pausadamente cada uma das palavras: "A partir de hoje você vai ficar aqui e repousar. Eu quero você forte e lúcida o suficiente para ver a sua empresa ser destruída."

Terminando de pronunciar estas palavras, ele a arremessou para o lado, se virou e saiu.

Coberta pelas lágrimas, a Janessa apenas o observou partir, cerrando os punhos e dando um suspiro profundo. Subitamente, a roupa de cama foi tingida de vermelho.

"Ela está sangrando! Precisamos de ajuda aqui!", alguém gritou.

Enquanto todos corriam aturdidos para socorrer a sua esposa que se esvaía em sangue, o homem continuou andando sem nem ao menos olhar para trás.