Capítulo 8 O bebê tem apenas dois meses

Ela fitou o teto com um olhar vazio, provavelmente havia sido despertada pelo seu próprio choro. Seu rosto estava banhado em lágrimas e ela sentia uma dor intensa.

Passado algum tempo, foi recuperando lentamente a compostura. Ainda que enxugasse as lágrimas que cobriam sua face, o sofrimento que a devastava não podia ser apagado ou silenciado facilmente.

Quando sua mãe estava viva, não importando o que a vida lhe reservasse, ela se sentia reconfortada pelo fato de saber que alguém a apoiava incondicionalmente.

Mas em um piscar de olhos, sua mãe havia partido, e subitamente ela se deu conta de que não teria mais nenhuma conexão com os demais pelo resto de sua vida, porque tudo o que mais amava agora tinha deixado de existir. Não haveria mais ninguém preocupado com o fato de ela estar vivendo pior ou melhor, então isso não importava mais.

Procurando se acalmar um pouco, ela respirou profundamente e fechou os olhos, o som incerto da porta do quarto se abrindo era um alerta e ela adivinhou que seria o Rayan, então fingiu estar dormindo.

"Como ela está?", ele perguntou. Sua voz baixa preencheu o silêncio do ambiente.

Tudo indicava que estava conversando com alguém.

Janessa não disse uma palavra, apenas apertou os lábios.

"O estado dela está estável, mas pode ser que tenha recebido estímulos em excesso, daí o sangramento, o bebê tem só dois meses. Este é um momento muito delicado da gravidez, por isso mesmo temos que ficar de olho nas condições do bebê."

Era com a Gracie que ele estava falando? Por que ela tinha ido parar ali?

Ela sentia uma dor aguda no peito só de ouvir sua voz, e a ironia da situação não podia ser ignorada.

Não tinha a menor intenção de ter um bebê e muito menos de dar à luz o filho do Rayan. Aquele homem terrível!

Ele havia chegado ao cúmulo do descaramento de colocar sua amante para cuidar dela! A Gracie também havia tido a honra de noticiar ao mundo a sua gravidez.

Não estava claro para ela se o Rayan estava fazendo aquilo para irritá-la ou humilhá-la na frente da Gracie.

Mas a mulher a examinava com um ar tão profissional, que era como se examinasse um paciente qualquer, ela mantinha uma expressão neutra que não revelava o menor traço do que estava sentindo.

O som dos saltos dos sapatos batucando no piso foram se aproximando até que ela parou na frente da sua cama.

Tentando controlar as suas emoções, a Janessa apertou as mandíbulas, agarrando com força o lençol que cobria o seu corpo.

"Primeiro te manipulou para que se casasse com ela, agora está esperando um filho seu, quando é que você planeja cumprir a sua promessa?", Gracie perguntou.

A voz da mulher soava cansada, como se carregasse um fardo de ressentimentos do passado em seus ombros. Mas para os ouvidos da Janessa, suas palavras soaram inevitavelmente ásperas.

"Como eu posso esquecer a promessa que te fiz? Quando o bebê nascer, tudo estará finalmente terminado."

A voz do Rayan estava estranhamente suave, apesar de suas palavras implacáveis, e a Janessa teve que controlar o desejo de provocá-lo.

Que tipo de mulher ele achava que ela era?

Por acaso pensava que seu único propósito na vida era dar-lhe um filho? Ele achava que ela era lixo? Algo descartável que podia jogar fora quando não servisse mais?

Esse mero pensamento fez com que seu sangue fervesse, e a dor em seu abdômen se intensificou, como se houvesse uma faca enterrada nele. Um suor frio cobriu instantaneamente todo o seu corpo.

Ela apertou os dentes em agonia, tentando não emitir nenhum som, mas como a dor era intensa, passou a se contorcer e com o cenho franzido abriu os olhos.

Olhar para cima serviu-lhe apenas para presenciar os corpos do Rayan e da Gracie enlaçados em um abraço íntimo.

Aquele flagrante dos dois amantes deixou a Janessa enfurecida.

Apertando os lábios, ela esticou imediatamente o braço para alcançar o vaso atrás de si e arremessá-lo com força no chão, para então, com uma expressão enfurecida, dizer para o Rayan: "Você... você está assim tão ansioso por...?" Estava tão abalada que não conseguiu concluir a frase.

Seguia com o maxilar tensionado, esforçando-se para conter a sua fúria.

Enquanto isso, com uma expressão tranquila em seu rosto, a Gracie olhava para o Rayan dando um passo para trás para se distanciar dele. Então, como se nada tivesse acontecido, ela se aproximou da cama e ajeitou a colcha sobre o corpo da Janessa.

"Você já passou por muita coisa, ficar com raiva não vai adiantar nem um pouco. Precisa cuidar do bebê."

Enquanto ela falava, mantinha o olhar fixo sobre a Janessa e um sorriso se esboçou nos cantos de sua boca, como uma ameaça silenciosa.

Mas a Janessa apenas zombou dela. "Estou conversando com o meu marido, como você se atreve a se meter?", ela respondeu.

"Você deveria ir", agarrando a Gracie pelo pulso, o Rayan a puxou para si.

Só então o olhar da Janessa finalmente cruzou com o de seu marido, passando dele para a mulher.

Depois que a Gracie deixou o local, a Janessa olhou para o Rayan e disse calmamente, com um sorriso zombeteiro em seu rosto: "Parece que o senhor Lu e a senhorita Mo se amam muito. Eu deveria parabenizá-los e tornar seus desejos em realidade?" O olhar dele se tornou um tanto sombrio.

Com o rosto anuviado, o Rayan se inclinou, encarando-a. Não havia nem um traço sequer de calor ou afeto em seu olhar.

"Por acaso está me pedindo o divórcio? Como você é ingênua! Isso jamais irá acontecer até que o bebê nasça, só então você estará em posição de fazer exigências e negociar comigo. Uma mulher vinda de uma família inferior não tem direito algum de se divorciar de mim!", ele disse.

Enquanto falava, ele mantinha um sorriso de escárnio em seus lábios, e a crueldade em seus olhos não dava a ela a chance de refutá-lo.

Janessa já esperava que ele reagisse daquela maneira, seus lábios se curvaram levemente e o seu olhar passeou pelo rosto dele, dos olhos até os lábios finos. Quando seu olhar cruzou com o dele, ela procurou decifrá-lo cuidadosamente.

"Se você continuar insistindo que eu não tenho o direito de negociar, serei obrigada a fazer um aborto na primeira chance que tiver. De qualquer forma, eu não sinto afeto algum por você. A ideia de ter um filho seu, nunca me entusiasmou mesmo. Posso te prender e te deixar cativo pelo resto da sua vida!", ela disse.

"Como você se atreve!", ele gritou.

O Rayan tinha uma expressão selvagem em seu rosto, então ele se inclinou e a encarou diretamente nos olhos. Com uma voz perigosamente baixa, ele disse: "Se você se atrever a abortar, vou garantir que perca tudo! A sua mãe já foi, estou curioso para saber se você consegue suportar mais uma perda."

Ele tinha uma expressão sinistra em seu rosto ao dizer essas palavras, então saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.

Janessa suspirou aliviada e fechou os olhos, recostando-se na cabeceira da cama, ela estava exausta após aquela conversa.

Conforme o nervosismo foi passando, a dor aguda em seu abdômen começava a se tornar mais insuportável, e em um reflexo, ela apertou os dentes e se deitou em posição fetal. Agarrando com força a própria barriga, ela tentou respirar fundo sucessivamente, e depois de alguns longos momentos de dor excruciante, sentiu uma onda de calor, que amenizou parte da dor.

No princípio, a Janessa se sentiu grata pelo alívio, mas ao perceber o que havia acontecido, levantou lentamente o lençol.

Havia uma poça de sangue em torno do seu corpo e momentos depois, a roupa de cama estava toda manchada de vermelho, do sangue que fluía dentro dela.

A dor percorria seu corpo desde a base da coluna até o couro cabeludo, ela sentia o corpo formigar intensamente, então pegou o telefone rapidamente e discou o número do Rayan.

Depois de chamar por algum tempo, a chamada não foi atendida, então ela tentou novamente, mas sem obter resposta.

"Rayan Lu! Seu desgraçado!", Janessa gritou para o telefone, e então não lhe restou alternativa a não ser ligar para o Gordon para pedir ajuda.

Assim que ela explicou o que estava se passando, o Gordon desligou e saiu apressado. Quando ele chegou, seu rosto trazia uma expressão nervosa e ele a avaliava com olhos ansiosos, então ligou imediatamente para o hospital. Quando a ambulância chegou aos portões da mansão, eles a carregaram com o corpo ensanguentado.

Com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, a jovem agarrava com força a mão do Gordon. Seus lábios tremiam ferozmente, enquanto ela tentava lidar com a dor lancinante.

Pouco importava o quanto o Gordon estava chateado com o Rayan, naquele momento ele tinha que controlar a sua frustração e se concentrar no bem-estar da Janessa.

No estado em que se encontrava, não faria nenhum bem a ela se lembrar de seus problemas.

Antes de ser levada para a sala de cirurgia, a jovem agarrou a mão do Gordon e disse com voz áspera: "Diga ao Rayan que se ele quiser ver o filho, é melhor que venha imediatamente, Gordon, eu ainda tenho muito o que fazer..." Sua voz estava trêmula quando disse isso.

E as suas palavras foram suprimidas de tal forma pelos soluços, que o Gordon teve dificuldades para entender o que ela estava tentando lhe dizer.