Capítulo 7 Ela é minha esposa

Naquele instante, alguém agarrou firmemente o braço dele, e o reflexo do relógio no pulso do homem ofuscou os olhos da Janessa.

"O que a Janessa disse pode não ter soado de maneira muito agradável aos seus ouvidos, mas não me parece que ela tenha dito nada de errado. Nós frequentamos o mesmo círculo e todos conhecem as suas intenções. Além do mais, ela é minha esposa e ninguém mais pode repreendê-la."

Dizendo essas palavras, o Rayan afastou a mão do braço do Aydin com fria indiferença no lugar de raiva.

O velho fazia um grande esforço para controlar suas emoções.

"Senhor Lu, este é um assunto de família no qual eu espero que você não interfira. Vou fingir que não ouvi o que você acabou de dizer."

Por trás da máscara de gentileza que vestia, seu rosto estava sério.

O Rayan se virou para a sua esposa e sussurrou, com um sorriso de escárnio em seu rosto: "Gostaria de ver a derrocada da empresa, se você me permitir."

Ele disse isso olhando diretamente nos olhos dela, com a voz baixa e firme; Janessa olhou para ele de soslaio, franzindo a testa.

"O que você quer dizer com isso?", ela perguntou.

Apesar de parecer uma pergunta inofensiva, seu tom de voz ríspido e o olhar fixo com que ela o encarava diziam o contrário.

Ele respondeu prontamente, em tom de zombaria: "Você sabe exatamente o que eu quero dizer."

O fato era que eles não haviam se preocupado em manter aquele diálogo com discrição, e o Aydin pôde ouvir claramente cada palavra trocada entre eles, o que fez com que sua costumeira expressão vazia se transformasse em zombaria, dirigida diretamente à sua sobrinha.

Seu casamento com o Rayan tinha sido uma imposição de sua mãe, para que pudesse assumir o controle efetivo da empresa, mas a julgar pelo andar da carruagem, esse casamento nunca tinha ido bem.

Mas sem o apoio da família Lu, a jovem estaria fadada a ser esmagada como uma formiga nas mãos de seu tio.

"A coisa de que as pessoas mais têm medo é o destino. Você não pode possuir algo que não lhe está destinado", o Aydin comentou em voz alta e sua voz estava carregada de sarcasmo.

Bufando, Janessa passeou o olhar do marido para o tio, endireitou as costas e enganchou seu braço no do homem ao seu lado propositadamente.

"Aydin, eu não consigo te entender. Já que tudo aqui está destinado a ser meu, por que você se esforça tanto para disputar isso comigo? E por acaso não sabe que as brigas de amor raramente duram muito? Você parece estar mais preocupado com isso do que nós mesmos."

Ela riu ao ver o rosto do tio se tornar sombrio, e antes que ele pudesse dar uma resposta, prosseguiu: "Você passou um bom tempo cuidando dos assuntos da minha mãe e estou certa de que ela pode ver todo o seu esforço lá do céu. Conhecendo a pessoa amável que ela é, talvez você até receba a visita dela esta noite, se eu fosse você, voltaria cedo para casa."

Além da lividez do seu rosto, a jovem falava em um tom suave e ameaçador.

Um músculo tremeu na face do Aydin, refletindo a sua fúria contida, e a barba dele foi levemente sacudida com indignação.

"Janessa, vamos deixar uma coisa bem clara. Você ainda concorda que eu seja a pessoa mais velha nesta família?", ele perguntou.

Ele já não podia recordar quando havia começado a usar aquele discurso como tática costumeira para reverter a situação e fazer com que as pessoas se sentissem culpadas em não cumprir as suas ordens.

Mas em nenhum momento, nem mesmo no passado, ela havia gostado de conversar com ele, e não ia ser agora que seria obrigada a suportar a sua presença.

Suspirando de alívio, ela endireitou as costas. "Eu devo demonstrar respeito a um ancião que está planejando me destruir?! Já está ficando tarde, é melhor você ir! Você sabe onde fica a saída."

Encarando-o com frieza, ela usou um guardanapo para limpar cuidadosamente a cadeira em que ele estivera sentado e colocou cerimoniosamente a urna de sua mãe ali.

Em seguida, sem dirigir-lhes o olhar, ocupou o seu posto de herdeira, na cabeceira da mesa.

Trêmulo de raiva, o Aydin apontou ameaçadoramente o dedo para ela, como se estivesse prestes a insultá-la.

Mas o Rayan chamou o seu assistente e pediu-lhe que escoltasse aquelas pessoas até a saída.

O ruidoso ambiente então ficou em silêncio e a tensão pareceu diminuir.

Ele se virou imediatamente para a sua esposa e a encarou com desprezo, dizendo: "Espero que você se recorde pelo resto de sua vida do que acabou de dizer. Você não pode entrar e sair da família Lu quando bem entende."

Tomada por um leve tremor, a Janessa apertou sem perceber a sua xícara de chá.

Os olhos do Rayan refletiam apenas desdém, e os cantos de sua boca se curvaram em um sorriso desagradável.

Ela pareceu se sentir intimidada pelas palavras de seu marido. Mas aquilo surpreendeu o Rayan, porque sabia que ela não era o tipo de mulher que suportaria tal abuso.

Subitamente ela cambaleou e foi amparada por ele, caindo em seus braços.

Ele a sacudiu levemente com impaciência para verificar sua condição: o rosto dela estava lívido, seus olhos estavam cerrados e o cenho franzido. Ela parecia estar desfalecendo.

Praguejando mentalmente, ele a pegou em seus braços e a carregou para fora.

O Gordon estava esperando por eles e assim que os viu, correu para carregá-la. "O que você fez com ela?", ele perguntou.

O tom de acusação dele deixou o Rayan ainda mais enfurecido, ele o encarou, apertando o corpo dela ainda mais contra o seu. "Mesmo você não querendo aceitar, ela ainda é minha esposa e o fato de estar viva ou morta não lhe diz respeito."

"Ninguém consegue dizer coisas tão terríveis quanto você!", ele gritou.

Ainda com a esposa em seus braços, o Rayan parou por um instante e acrescentou: "Você já perdeu uma vez, três anos atrás. E não vai ganhar agora de novo."

Apesar da suavidade em sua voz gélida, o tom ameaçador implícito era inconfundível.

Diante disso, Gordon permaneceu imóvel e um lampejo de tristeza cintilou em seu olhar. Só lhe restou observá-los partir, cerrando os punhos ao lado do corpo.

Recostando-se no banco de trás, Janessa esboçou uma expressão de dor e gotas de suor brotavam de sua testa. Então, com a pouca força que lhe restava, ela pressionou a sua barriga.

Naquele momento, pôde ouvir o vento sussurrando em seu ouvido.

No estado de confusão em que se encontrava, poderia jurar que tinha ouvido alguém chamar pelo seu nome e tentou abrir os olhos. Mas o que viu diante de si foi uma luz ofuscante, através da qual ela podia ver uma imagem difusa, sem poder discernir claramente o rosto da pessoa.

"Mãe?", ela chamou hesitante.

"Sua mãe está morta", uma voz baixa e soturna respondeu para ela. A luz que a ofuscava desapareceu instantaneamente, deixando em seu lugar somente uma escuridão densa e sufocante e ela foi tomada por uma dor dilacerante que começava a dificultar a sua respiração.

Quando estava a ponto de perder os sentidos pela agonia, um grito estridente e um soluço a impediram.